Ladrão de Poderes Brasileira

Autor(a): Crowley


Volume 1

Capítulo 22: Último Dia

A noite estava, como sempre, perigosa. Enquanto um Dretch, sobre as duas patas, andava igual humano, um galho atrás de si quebrou. Ao virar, deparou-se com a ponta de uma lâmina indo na sua direção.

Tentando usar suas garras para se proteger, as teve ultrapassadas facilmente e perdeu dedos no processo. Com raiva, ignorou a dor e concentrou-se no atacante.

Um humano de cabelos escuros camuflando facilmente na noite e olhos azuis fortes, só tinha um manto todo rasgado e sua espada. Ele se mantinha sério, esperando a melhor chance para dar outro ataque.

Irritado, o monstro aproximou sua cabeça, indo dar uma mordida no pescoço do inimigo. Quando fechou a mandíbula, tendo certeza de ter conseguido, percebeu o humano abaixando. Antes de poder se afastar, a ponta da espada ultrapassou sua boca e perfurando a pele até o cérebro.

“Já é o terceiro nesses dias, tão se aproximando cada vez mais.” San pensou, agachando no cadáver. Tirou uma faca da bota e arrancou as orelhas do monstro caído.

Tudo resolvido, seguiu o caminho na mata até alcançar a uma clareira repleta de flores roxas brilhando ao anoitecer.

Caminhando tranquilamente, uma movimentação nas flores aconteceu. Fingindo não notar, seguiu em frente. Depois de uns passos, sua perna foi mordida, nada muito forte, só incomodava.

Olhando para baixo, encontrou o filhote cão do inferno. Já passaram sete dias desde que entrou na clareira. Nesse tempo, pôde ver o quanto o pequeno se curava rapidamente; no momento, já tava sem bandagens, nem pontos, só precisava esperar e curaria o resto sozinho. Ao abaixar-se, tentou tirá-lo dos seus pés, porém, prendeu forte e recusava a soltar.

— Qual é, carinha, me deixa ir. — falou balançando o pé.

Como ele permaneceu na mesma, San seguiu em frente, arrastando-o pela grama, até chegar na sua pequena base de pele de animais. Dentro, Mavara permanecia deitada.

— Tá melhor. — afirmou de olhos fechados.

— Tá ficando fácil, seus golpes também são previsíveis.

— Bom. Pegou as orelhas?

— Sim, são meio nojentas. Para que serve?

— Considere uma recompensa; servem de ingredientes em umas poções.

Sentando-se no chão, falou numa voz séria:

— Estão próximos, tá ficando suspeito.

— Está tudo bem, são apenas servos pequenos. Só estou fazendo você derrotá-los para ganhar experiência.

Mesmo querendo falar que alguma coisa iria acontecer, que se tornava perigoso, ficou quieto. Nas últimas vezes, ao tentar conversar sobre esse assunto, era cortado dizendo não ser problema dele.

Deitando-se no chão, olhou o céu, deixando-se adormecer. De manhã, o sol nascendo, acordou com o filhote deitado ao seu lado. Levantando sem emitir barulho, viu Mavara parada observando a floresta. Ao se aproximar, ela disse:

— Está na hora de você ir.

— Achei que ficaria até seu filhote estar curado completamente.

Sendo sincero, o filhote estava praticamente curado, dava para ver a formação de uma cicatriz de garras no seu peito, nada a preocupar. Mas San queria ficar durante uns dias, aprendia tanto e sentia a melhora.

— Ele está bem, pegue quantas flores quiser e espere. Me prepararei e te levarei.

Sem esperar uma resposta, entrou mata adentro. “Já era, vou ter que ir”, procurando, achou a mochila marrom jogada no chão.

Pegando as plantas do chão, encheu-a, continuando por minutos; estranhou os bolsos nunca encherem. Curioso, deu uma olhada dentro, era como se pudesse colocar o que quisesse e continuava o de sempre.

— Espera, ele tinha me dito que esse era um item especial. — murmurou para si. — Será?

Realizando testes, pegou galhos grandes e pedras; tudo entrava facilmente no bolso e o peso aumentava levemente.

— Caralho! To realmente assegurando uma mochila de armazenagem. Tá vendo Sacro?

— Sim, é realmente estranho aquele maluco ter isso.

— Boa pergunta. Você me disse que o poder do Floki era classe épico, talvez tenha roubado usando seu teleporte.

— Tome cuidado, San. Duvido que seja somente um dono de uma lojinha qualquer.

Assentindo, voltou para se sentar com o filhote e esperar pela sua mãe, pondo vários itens dentro, testando o limite.

***

Em alta velocidade, Mavara passava animais e nem era percebida. Em um ritmo constante por minutos, parou e cheirou o ar.

Para outros, sentiriam o cheiro das plantas, monstros, animais e cheiros normais de uma floresta. Para ela, tendo um olfato melhorado, sentiu uma pitada de enxofre.

Seguindo-o, parou na entrada de um buraco, numa descida feita de escada de pedra. O interior, o cheiro ficava pior.

Descendo, as paredes eram blocos, nem uma tocha ou fonte de luz podia ser vista, felizmente conseguia enxergar no escuro facilmente.

Os degraus terminaram em pouco tempo. Embaixo, um corredor espaçoso e grande se estendia, feito de pedra polida e bonita.

— Saia, ou irei derrubar tudo aqui! — gritou ecoando em todo o lugar.

Sem demora, sons de garras andando pelo chão eram ouvidos. Alguns metros, um segundo cão do inferno, a diferença era que ele era maior, suas garras eram afiadas e suas presas enormes exibidas.

— Então era só você, um classe inferior, esperava mais.

— Sou o suficiente para uma traidora.

— Veremos.

— Muito ousado da sua parte vir até aqui.

— Já disse, não tenho com o que me preocupar.

— Que mãe incrível, deve ter muita confiança no seu filhote.

Arriçando os pelos, perguntou:

— Como assim?

— Bem, dessa vez, o próprio mestre decidiu vir.

Os olhos arregalados, se virou e foi direto as escadas, porém foram tapadas por uma parede de chamas.

— Já quer fugir? Espere, quero te estripar ainda.

Com a fúria nos seus olhos, as garras das suas patas começaram a crescer e ficar afiadas, seus dentes ficaram pontudos, fumaça saiu da sua boca e seus olhos brilhavam no escuro.

— Te darei uma chance, saia, ou morra.

***

Correndo com um graveto na boca, o filhote se aproximou de San e deixou nos seus pés. Quando o pegou, antes de jogar de novo, falou:

— Que tal Jack? — falou jogando o graveto. — Não, humano.

— Pra que se incomodar pensando em um nome? A mãe dele disse que vai escolher um digno ou algo assim.

— To dando ideias, me deixa.

Com o graveto na mão, disse:

— Pedro. — Jogou de novo o pedaço de pau. — Humano demais, pensa, é um nome legal.

Em uma velocidade surpreendente, o pequeno chegou sem o pedaço de pau.

— O que houve? Perdeu?

Vendo que voltou rápido e se escondeu atrás de si, San ficou olhando a frente.

— E Fire de nome? — uma voz veio da floresta.

Depois da voz aparecer, um homem veio junto. Usava um terno elegante, olhos amarelos e um cabelo liso jogado para trás.

— Quem é você? — falou com a mão na espada.

— Direto ao ponto, gostei. Sou Bezaliel, amigo da Mavara. Sua vez.

— Santiago.

— Como a cidade?

— Quê? Tenho certeza de nunca ouvir uma cidade de nome assim.

— Deixa quieto, não é da sua geração.

Mantendo a guarda levantada, disse:

— Mavara saiu, volta depois.

Revelando um sorriso, falou:

— Qual é, fiz um longo caminho até aqui. — enquanto falava, aproximava-se.

— É uma pena. — terminou por desembainhar a espada.

— Opa, opa, calma aí. Espera, tá sentindo esse cheiro?

Virando a cabeça, começou a cheirar o ar, se aproximando cada vez mais de San. Com alguma distância, falou:

— É você.

— To há uns dias sem tomar banho, foi mal.

— Não, é outra coisa. — deu uma fungada — Diz aí, é humano?

— Obvio.

— Estranho, nunca senti um cheiro assim, é como se tivesse duas almas no mesmo corpo, mas é impossível, a pessoa morreria.

Ouvindo sobre as almas, San gelou, e uma lembrança de Ramon falando do devorador de almas sugar o espírito de quem mata apareceu na sua mente. Havia até esquecido isso, teve um pesadelo por isso, e achou ser fruto da sua imaginação.

No entanto, por algum motivo, quando esse cara falava, uma sinceridade clara na voz era ouvida.

— Interessante, opa! Quase me distraí, meu tempo tá acabando e tenho de me apressar. Fala aí, o que quer?

— Cê é maluco?

— Dinheiro, fama, poder, mulheres, é só pedir.

Considerando ser apenas um doido, revelou:

— …E se eu pedisse para trazer uma pessoa de volta dos mortos?

— Viiishi, aí me pego, infelizmente nem eu consigo reviver uma pessoa. Acredite, muitos tentaram, e todos falharam.

— Então some daqui, não quero nada.

Se assegurando para evitar cara feia, fez um sorriso forçado e disse:

— Tá legal, mas eu quero, me dá o filhote.

— Bem, primeiro vai ter de passar por mim, e depois a mãe.

— Entendi, pena, queria fazer um acordo contigo, tô curioso do que iria acontecer, se é assim.

Chegando com as mãos no bolso, dava um ar de tranquilidade. Desde o começo que o viu, San suspeitou, como um cara iria caminhar na floresta de terno e sem um machucado?

Partiu para cima com tudo, mirando direto no coração. Bezaliel ficou parado, só o encarando. Prestes a tocar no terno, sumiu.

— Espada legal, do que é feita? — falou perto do seu ouvido.

Fazendo um corte para o lado, acertou somente o vento.

— Lentinho demais, garoto — Dessa vez atrás.

Cortando atrás de si, ao invés de errar de novo, a espada foi assegurada com os dedos.

— Precisa continuar treinando, porém, vejo potencial.

Tentando puxar ou empurrar, nada acontecia, era como se tivesse ficado presa. Bezaliel com a palma da mão-aberta, empurrou o peito de San, o jogando longe, deixando a espada no chão.

— Deu de brincadeira.

Aproximando-se indefeso do monstrinho, ele não conseguia se mexer, paralisado pelo medo.

Alguns metros dali, San só conseguia ver sem fazer ajudar. Mesmo treinando dias, melhorando seu corpo e habilidade, sentia que se usasse sua habilidade, perderia de qualquer jeito.

Vendo o filhote tremendo, sendo obrigado a ir embora seja lá pra onde, e sem sua mãe perto, a raiva cresceu dentro de si, e teve uma ideia.

— Sacro, é impossível eu ganhar dele assim, né?

— Infelizmente, sim. Recomendo se afastar e procurar a mãe.

— E deixar ele ser levado? Nunca. Me diz, tem consequências permanentes em ficar completamente esgotado de essência?

— Depende, da pessoa e do poder.

— Bem, vamo ver então.

Ficando de pé, concentrou-se no seu interior, nos poderes copiados guardados no cérebro, concentrando em cada um, os fez irem para seu coração. Não sabia se daria certo, muito menos se aguentaria, no entanto, preferia arriscar a ficar parado.

Sentiu seu peito ardendo e mudando. Primeiro, seus olhos ficaram vermelhos e parecidos com os de um gato, garras surgiram das mãos e seus sentidos melhorando.

Depois, o ar ao redor esquentou e um calor encheu seu interior. Por último, sua cabeça doeu.

Parando a centímetros do filhote, Bezaliel olhou para trás e soltou um assobio agudo de surpresa.

— Caraca, escondeu um poder desses?

San permaneceu imóvel, sem conseguir mexer um dedo.

— Puts, o garoto pifou.

Em um vulto, San pegou a espada e chegou perto do seu inimigo apontando ao seu olho, tudo em segundos. Errou por pouco, tentando frear, seus pés derraparam na grama.

Sua mente, uma bagunça, um calor o preenchia e o som ao redor enchiam seus ouvidos. Encarando de novo Bezaliel, não soube a forma, só se imaginou na frente dele.

Em um piscar de olhos, sentia o corpo no ar e parou no meio da clareira. Superando o enjoo, se virou de novo ao inimigo, que olhava surpreso, processando o que acontecia.

Dessa vez, San focou o olhar na sua frente. De repente, tava onde olhava. Sem hesitar, levantou a espada em direção à barriga do homem.

Pulando para trás, Bezaliel achou estar longe o suficiente. Estendendo a mão, San deixou sair, nem tentando controlar. Igual um lança-chamas, se espalhou por todo lugar, acertando em cheio sua presa.

Ficando animado e continuando, ficou tonto e se ajoelhou, San percebeu seu nariz sangrando.

Das chamas, um homem saiu, seu terno carbonizado e uma expressão furiosa.

— Acha que o fogo faz algo?! EU NASCI NO FOGO!! Humano idiota, te dei uma chance, e é assim…

Antes de terminar a frase, San estava na sua frente, a espada atravessando seu estômago. O teleporte era realmente uma habilidade útil.

Sem dar oportunidades ao seu inimigo, tirou a espada e se afastou, quando o fez, Bezaliel surgiu na sua frente, a mão diretamente no seu rosto e jogando-o no chão.

— HÁ! Quero ver agora.

Virando a cabeça para o lado, seus olhos vagaram ao topo de uma árvore e se teleportou, levando o adversário junto. Os dois caíram e quebraram inúmeros galhos até atingir o chão.

— Pare!! — falou Sacro — Vai morrer.

Indo contra, San levantou e ia cravar a espada no peito dele. Tomado pela raiva, o inimigo se jogou e agarrou com as mãos nuas a lâmina.

Ao invés de atacar, Bezaliel agarrou fortemente a espada, e com um sorriso, tudo ao redor aqueceu, principalmente suas mãos.

A espada, de uma prata reluzente, mudou para um alaranjada, em questão de segundos, dobrando e derretendo. Sabendo que a perdeu, se afastou, mas tomou um chute o jogando-o longe.

Deitado no chão, San tentou levantar de novo, porém, havia atingido o limite, seus olhos se tornaram normais, as garras sumiram e o calor dentro de si acabou.

Sua consciência, prestes a esvair, contudo, recusou, manteve-se acordado. O filhote, vendo o amigo machucado, foi à sua frente, latindo contra o homem chegando.

Na sua frente, Bezaliel encarou o caído, impressionado na determinação do jovem.

— Eu ganhei garoto, não fica triste, era óbvio, sou mais velho e forte. Para sua sorte, nem estou na minha forma verdadeira.

Antes de conseguir se aproximar, uma presença cobriu o lugar todo, fazendo até o ar pesar. De dentro da floresta, Mavara andava com um fogo negro atrás.

Tinha sangue por toda parte e somente alguns arranhões eram vistos na sua pele.

— Mavara, que bom nos encontrar aqui. — Bezaliel abriu os braços.

— Saia de perto deles. — Sua voz carregando somente raiva.



Comentários