Volume 1
Capitulo 8.5: O Mago
A chuva se recusava a cessar, limpando a sujeira que cobria a capital. No alto do castelo, Aeolus, o Grão-mestre observava a chuva cair enquanto folheava um livro. A janela de súbito abriu pelos ventos fortes, antes que pudesse fechá-la, ouviu um alto trovão.
Seu corpo estremece, logo fechando a janela. Ouviu um risinho familiar vindo da porta do quarto, quando se virou para trás, percebeu Cilia observando.
— Sério que ainda tem medo de trovões? — Soltou mais um riso. — Isso que estou falando do Grão-mestre.
— Não temo o trovão e sim o que ele trás. — Guardou seu livro e se voltou para a imperatriz. — Deseja algo, majestade?
— Apenas queria ver como você está — Pegou na mão de Aeolus. — Esteve meio aflito nesses últimos dias.
O Grão-mestre sentiu a preocupação na voz de Cilia, virou as costas disfarçando seu abalo.
— Talvez esteja trabalhando demais — disse em um tom leve. — Juro que me cuidarei, apenas preciso terminar certos assuntos.
— Você e seus mistérios — cruzou os braços com um sorriso desdenhoso. — Você foi de uma criança quieta para um homem mudo. É irritante — Se sentou em um banco próximo, fixando seu olhar no mago. — Ainda sou sua imperatriz. Fale comigo, é uma ordem.
Suspirou de forma que ela não conseguia ouvir. — Pois bem, estou com mau pressentimento, sinto algo vindo e devo me preparar. — Encarou a chuva. Seus olhos cerraram de incômodo.
— Está falando dos rebeldes? — indagou. — São só escravos fugitivos, um incômodo qualquer e logo serão esmagados.
— Todo mal menor esconde um mal muito maior — Desviou seu olhar de volta para a imperatriz. — Estou criando um mundo, apenas para mim e para você e acho que os deuses querem me punir.
— Por que os deuses puniram seus iguais? — Acariciou o rosto de Aeolus, quase retirando sua máscara. — Somos o império Dracena, já temos nosso lugar ao lado dos deuses.
— Talvez tenha razão — Ajeitou a máscara. — Sempre soa sábia em suas palavras, majestade, desde de criança. — Aproximou-se da porta — Preciso cumprir meus deveres — Olhou rapidamente para trás. — Obrigado pela conversa.
Continuou a caminhar, ouvindo a chuva que caia com fervor. Chegou na grande biblioteca real, uma sala gigante com montanhas de livros guardados com cuidado. Tinha talhado no chão de mármore o brasão da Divisão Mágica de Dracena.
Procurou entre as prateleiras, olhando com calma cada lombada. Parou sua busca após achar o que desejava. Antes que pudesse pegar, foi interrompido pela entrada de uma jovem donzela. A garota caminhava com nervosismo, olhando com reverência e fascínio.
— Com licença — A garota gaguejou — Sou Liria Auxiliar… — Se atrapalhou — Digo, sou Liria, sua nova auxiliar.
Olhou novamente para o livro que desejava, contudo, o deixou onde estava, não desejava que vissem o que iria ler. Ele analisou a garota, sua ponte espiritual não era tão impressionante, porém era uma conexão estável.
— Sim, sim, desculpe, esqueci que me encaminharam uma auxiliar.
— Desculpa por entrar sem ser anunciada, eu estava animada em conhecê-lo, Senhor — Reverenciou novamente. — Eu estudei muito suas teses e admiro muito suas contribuições para Dracena.
— Admirável — aproximou-se da garota, a deixando ainda mais nervosa. — Tem ficado mais difícil formar magos decentes ultimamente.
— A maioria das famílias nobres ainda tem dificuldade em aceitar a magia.
— Você não fala como uma nobre — A olhou com interesse.
— Sou uma camponesa, espero que não tenha problemas com isso — Olhou para baixo com vergonha de sua origem. — Madame Astagry me encontrou e disse que eu tinha potencial.
— Astagry tem essa mania, fico feliz que ela te usou para algo mais interessante do que uma rata de laboratório. — Sorriu por debaixo da máscara. — Sente saudade de casa?
Liria se manteve em silêncio por alguns instantes. Pensando seriamente na pergunta de Aeolus.
— Nunca fui muito boa em trabalhar na terra e nem muito bonita para casar — Liria suspirou — Eu odiava aquele lugar e não sinto nada por lá.
A chuva cessou, apesar da ausência de vento, a janela se abriu com uma forte brisa. Liria estranhou o silêncio do Grão-mestre, mas não se atreveu a interromper seus pensamentos.
— É fácil dizer — disse Aeolus — Me diga, acha que consegue ser leal apenas a mim e ao império?
— Claro que sim — Respondeu de imediato. — Esse é o motivo de todo meu estudo, de toda minha vida.
Ao dizer isso, sentiu seu corpo voar como se fosse arrastada por um furacão, seus olhos secaram pelos ventos, então os fechou. Nada viu e só podia ouvir os fortes ventos ao seu redor enquanto sufocava.
Seus pés pisaram em solo firme e sua respiração retornou. Ao abrir os olhos, conseguiu ver de longe a meia dúzia de casas que costumava ser seu lar, os ventos sumiram e, ao olhar para o lado, notou o Grão-mestre encarando.
— O que foi isso? — indagou assustada.
— Uma habilidade muito útil — respondeu com tranquilidade. — Era aqui seu lar? Bem rústico devo dizer.
— Eu não entendo — Olhou para a vila, sentindo uma certa nostalgia com os camponeses trabalhando na terra e as crianças brincando despreocupadas. — Por que me trouxe aqui?
— Um teste — Ao centro de sua mão, se formou uma pequena esfera de ventos. — Me diga, acredita mesmo no que diz? Que será leal até o fim?
Repensou com nervosismo, suor frio escorria de sua testa e suspirou a resposta:
— Sim senhor, com todo meu coração.
A esfera é arremessada ao centro da vila, ao tocar o chão, a esfera se expandiu. Os ventos cortantes devastaram casas, os moradores sentiam como se estivessem no centro de um tornado. Após poucos minutos, não restava mais nada.
Liria ajoelhou, lágrimas caíram de seus olhos, não pensou que sentiria isso. Sua visão se direcionou para sua antiga casa, uma pequena cabana de madeira que agora foi reduzida a madeira estilhaçada.
— Isso não te fez mudar de ideia? Não é?
— Não — gaguejou forçando um sorriso — Eles eram apenas camponeses mesmo.
Dos céus, um corpo caiu no chão. Era uma jovem moça, da mesma idade que Liria, podia ser ela se não tivesse sorte de ter uma fonte um pouco maior. A garota vomitou vendo o cadáver.
— Parece que você também é só uma camponesa — A olhou com desprezo. — Decepcionante.
Ao se virar, Liria percebe que foi deixada, o Grão-mestre sumiu. Sua respiração fica irregular, todas as noites em claro, milhares de livros lidos, tudo tinha sido em vão. Ela soltou um grito rasgante, emanando desespero pelo cenário desolado.
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