Volume 1

Capitulo 5: Procure Por Élo

Não importava para onde olhasse, tudo que via era escuridão. O jovem Ky se sentia sem forma, como se fosse nada e, ao mesmo tempo, fosse tudo. Uma estranha calma o envolvia, e ele não queria despertar daquela sensação familiar, embora não se lembrasse de quando, em sua vida, havia sentido aquilo.

De súbito, despertou. Uma grande enxaqueca se apoderou de sua cabeça. Notou que estava em uma cama improvisada, com os braços enfaixados. Olhou ao redor e viu outros no mesmo estado, sendo tratados pelos curandeiros.

Sentou-se na cama e, em seguida, se levantou. Caminhou em direção à saída, aproveitando-se da distração dos curandeiros. Sua cabeça pulsava e seus braços enfaixados doíam, mas precisava se certificar de algo.

A voz de Avan era a última coisa de que se lembrava. Procurou-o pelo acampamento, chegando ao centro, onde encontrou corpos enfileirados, cobertos por um pano branco.

Aproximou-se de um dos responsáveis por organizar os cadáveres, reunindo coragem para perguntar:

— Com licença — disse com a voz trêmula. — Por acaso encontraram um homem chamado Avan?

— Não encontramos o Avan — revelou. — Nem entre os mortos, nem entre os vivos.

— Como isso é possível? — indagou, preocupado.

Atrás dele, ouviu a voz familiar de Kanala dizendo:

— Ele deve ter desertado.

Ky se virou, notando as faixas e cicatrizes da garota. Embora fosse grato por ela tê-lo salvo anteriormente, o garoto não pôde deixar de se ofender.

— Ele não faria isso — bufou. — Avan era um bom homem e comprometido com a causa.

— Isso já não importa — seus olhos focaram em Ky. — Baru está à sua espera.

— Eu? Por quê? — perguntou, receoso.

— Apenas vá. Ele espera por ti perto do rio — ordenou, recusando-se a olhar diretamente para Ky.

Ky se apressou e iniciou sua caminhada até o rio. Kanala permaneceu parada, segurando suas palavras. Por um momento, desejou intervir, porém sentiu a mão de Tritan em seu ombro.

— Isso é mesmo necessário? — perguntou Kanala, suspirando.

— Não podemos arriscar. Aquele menino com certeza não é normal — respondeu, sem sentimento na voz.

O garoto seguia pela margem do rio, acompanhando a correnteza até encontrar Baru. O senhor esperava encostado em uma árvore, quase cochilando. Então, virou-se para Ky, portando seu machado.

— O senhor me chamou? — perguntou, fazendo uma reverência.

Antes de qualquer resposta, Baru balançou o machado, quase atingindo o tórax de Ky. Por reflexo, o garoto se abaixou e disparou na direção oposta. Confusão e desespero estampavam seu rosto.

Ky tropeçou em uma pedra, caindo à margem do rio. Baru se aproximou lentamente, com um olhar sem emoção.

— Achou que esconderia isso de nós? — indagou. — Irei perguntar pela última vez: quem é você?

— Do que você está falando?

Uma machadada vinda de cima por pouco não acertou seu pescoço. O machado ficou preso no chão. Baru levantou o garoto pelo pescoço, olhando diretamente em seus olhos.

— Na batalha anterior, muitos viram o que você fez — explicou. — Você não é mago. Como conseguiu fazer aquilo?

— Por favor, eu não sei do que você está falando.

— Vai continuar dizendo isso? Eu podia quebrar seu pescoço agora mesmo! — bufou, impaciente. — Me diga agora: como derrotou aquele mago? Como você não tem pontes?

— Eu não sei! — gritou. — Eu não sei de nada. Talvez eu só seja uma aberração.

Por um segundo, Baru afrouxou o aperto e, logo em seguida, o soltou. O silêncio se espalhou pelo ar, enquanto o velho ponderava sobre suas ações.

— Aprenda a controlar e venha para a batalha — ordenou. — Não posso desperdiçar jovens guerreiros.

O velho virou as costas e se afastou. Ky permaneceu no chão. A dúvida se apoderava de seus pensamentos. Que poder seria esse? Ele é possível de controlar? Sem qualquer resposta, levantou-se e percebeu a faixa de seu braço solta. No momento em que foi amarrá-la novamente, seus olhos se arregalaram ao notar letras escritas em sua carne com alguma lâmina.

— “Encontre Élo” — leu em voz alta, se perguntando quem teria escrito aquilo.

Fragmentos de memórias perturbavam sua mente. A visão de seres sem forma, mas familiares. Sussurros de uma ordem clara:

— Sem vento, não há tempestade. Encontre Élo.

Ajoelhou-se com extrema dor de cabeça. Faíscas se manifestaram à sua volta. Sua respiração ficou pesada, e tudo que ele queria era gritar. Concentrou-se em respirar e sua mente se acalmou, gradualmente.

Distante, nas matas que tudo escondem, onde muralhas se erguem grandiosas: o coração do Império Dracena. A capital.

Uma figura caminhava entre as flores do jardim real. Era o Grão-mestre dos magos imperiais. Sua face era coberta por uma máscara branca com seis olhos. Suas vestes eram elegantes, uma manta dourada que se dobrava em seu corpo com perfeição.

O homem encarava as rosas com melancolia, sendo interrompido pela presença de Errand — sem sua armadura habitual, mas sempre com sua espada.

— Não deveria perder tempo admirando rosas — aconselhou o vice-comandante.

— O valor da beleza — disse para si mesmo. — Se elas não fossem belas, seriam arrancadas como qualquer erva daninha. — Virou-se para Errand com serenidade. — Me responda: se não tivesse Boreali em seu nome, acredita que teria algum valor?

— Claro que não. Meu sangue me torna grandioso. Sem isso, seria apenas mais um plebeu — respondeu sem hesitar. — Agradeço aos deuses por ser um Errand Boreali.

— Os deuses? — silenciou-se, olhando para os céus. — Acho que não veio aqui para conversar com seu velho amigo.

— Eu não sou seu amigo, mago — disse de forma ríspida. — A imperatriz o convoca.

— E isso te irrita, não é? — virou as costas e iniciou sua caminhada com calmaria.

— Mago maldito — murmurrou, raivoso.

O Grão-mestre se deslocava pelos corredores do castelo. Os servos o saudavam com respeito enquanto ele seguia até a sala do trono.

Adentrando o local, seus olhos foram iluminados pelo grande trono de cristal vermelho — um tanto exagerado, em sua opinião. Notou de imediato a figura que se aproximava pelas costas, porém não sentiu perigo.

Uma mulher pulou em suas costas, a fim de assustá-lo. Seu nome era a imperatriz Cilia. Estava vestida de vermelho, decorada com brincos e outras joias. Seus cabelos eram loiros como o ouro, e os olhos azulados como o céu.

— Vejo que acordou animada como sempre, majestade — disse, sem perder o decoro.

— Você é difícil de surpreender — disse a imperatriz, ainda agarrada às suas costas. — Mas isso é esperado do Grão-mestre. — Desvencilhou-se e caminhou até seu trono desconfortável, porém deslumbrante. — Gostaria de me acompanhar no próximo torneio? Aposto que será divertido.

— Me chamou para isso? — indagou, não muito surpreso. — Adoraria te acompanhar — reverenciou, pronto para se retirar.

— Outra coisa — mencionou, com a face fria. — Soube que o ataque à base rebelde foi um fracasso.

— A estratégia não foi bem coordenada — explicou. — Imagino que logo irão partir para um novo local.

— Na próxima, quero que você lidere o ataque — ordenou. — Magia é sempre mais eficiente que espadas. — Levantou-se de seu trono, ficando a centímetros do Grão-mestre. — Sinto saudades de olhar em seus olhos.

— Apenas mais um dos pesos que carrego como Grão-mestre — ajeitou a máscara. — Mas acredite: não está perdendo muita coisa — tentou ironizar.

— Meu pai dizia que você se tornaria um grande homem, e posso dizer que se tornou — virou as costas. — Você me prometeu o mundo, Aeolus. Não me decepcione.

O mago reverenciou novamente e se retirou. Sua mente vagava enquanto caminhava entre os corredores. Olhou através dos grandes vitrais e percebeu as nuvens de tempestade ao longe. Ao som do trovão, seu corpo se arrepiou.

— Então você chegou — disse para si mesmo. — Não é mesmo, Talake?



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