Volume 1

Capitulo 6: Primeiro Contato

O dia começa agitado no acampamento da Armada. Ky já treinava logo cedo, sob os olhos vigilantes de Tritan, que corrigia sua postura como Nair um dia fez. Era quase nostálgico retomar os treinamentos, embora não visse progresso.

Kanala olhava da fresta de sua tenda, encarando o treinamento de Ky. Suspirou e voltou seus olhos para Baru, que afiava seu machado.

— Achei mesmo que fosse matá-lo — tomou sua lança em mãos, pronta para sua patrulha. — Acha mesmo que ele pode ser útil?

— Por enquanto, vejo um menino assustado. Porém, poderes assim não podem ser jogados fora — explicou Baru. — Por que pergunta?

— Nem sabemos que poderes são esses.

— Teme ele ou teme por ele? — indagou.

A conversa é interrompida com a entrada do cuidador dos facões, que estava ofegante e levava consigo um pergaminho.

— Um falcão chegou agora há pouco — tomou ar. — É a resposta do acampamento das Terras Amarelas.

Baru se levantou com expectativas e abriu o pergaminho. Leu para si mesmo, ficando pensativo por instantes.

— O que disseram? — indagou Kanala.

— Eles aceitaram a convocação — revelou. — Só faltavam eles.

— Isso significa…

— Sim, estamos prontos — a esperança toma conta de seus olhos. — Partiremos pela noite.

— Não ouse me deixar para trás novamente — expressou sua revolta.

— Precisarei de todas as nossas forças, mas peço que tome cuidado em batalha, minha Kanala — disse em tom suave, nunca antes demonstrado.

— Eu sou forte, fui treinada pra isso — comentou. — Você me deu uma lança, seu nome e um motivo pra lutar. Agora, irei retribuir.

O velho guerreiro se levantou e pôs sua mão no ombro da jovem. Seus olhos se recusaram a vê-la como qualquer outra coisa além de sua criança. Porém, sua razão prevaleceu e, com um beijo em sua testa, consagrou-a como guerreira da Armada dos Não-Servos.

As mãos de Kanala apertaram o haste de sua lança. Forçou os olhos a não chorar e apenas acenou em concordância. A quietude se manteve por alguns instantes, antes de Baru se retirar para convocar seus guerreiros.

Em meio à mata, Ky acompanhava os movimentos suaves de Tritan — quase uma dança. O mago demonstrava os exercícios de respiração e as posições corretas.

— Sempre se mantenha em movimento. Deixe a energia percorrer seu corpo — doutrinou.

Sua concentração se esvaiu ao ouvir a movimentação no acampamento, fazendo-o virar o olhar em direção ao barulho. Tritan nota a distração do garoto e chama sua atenção com um leve tapa na nuca.

— Concentre-se. — Antes que continuasse com os ensinamentos, Kanala apareceu, vinda do acampamento. — O que foi agora?

— O último acampamento respondeu. Devemos partir.

Tritan expressa surpresa, antes de voltar à sua face neutra.

— Deixemos isso pra depois — foi em direção ao acampamento.

— O que está acontecendo? — indagou Ky.

— Todos os acampamentos da Armada responderam à convocação — explicou. — Isso significa que está na hora de atacar a capital?

— Capital? — perguntou, sem saber ao certo o significado dessa palavra.

— É o centro do Império, a base do governo, e onde a maioria dos escravos passa, cedo ou tarde.

A excitação toma conta de Ky. Sabia que, provavelmente, Nair estaria lá. Observou o horizonte com determinação.

— Finalmente — disse, com esperança na voz.

Antes do meio-dia, o acampamento se desfez. A caminhada começou, seguindo pelas margens do rio. O sol era escaldante, porém eram protegidos pelas sombras das árvores. As aves alçavam voo com a aproximação das quase setecentas pessoas lideradas por Baru.

Atrás do bando, Kanala mantinha os olhos vigilantes. Ky ficava ao seu lado, querendo companhia. Enquanto caminhavam, o garoto pensava em como puxar assunto.

— Você disse que já passou pelo Vale Frio e Quente — mencionou. — Pensando bem, me lembro de ver um povo nômade em certas épocas, mas eles nunca mais vieram.

Kanala se manteve em silêncio, não conseguindo esconder a melancolia nos olhos. Tomou um suspiro e começou a contar:

— Nos chamavam de Duins — suspirou novamente. — Há muitas gerações, andávamos por todo o norte. Certo dia, estávamos indo mais ao sul e encontramos com... — Não ousou dizer mais nada sobre isso. — Dois anos depois, meu Baru me achou e me salvou. Desde então, carrego seu nome.

Ky compreendeu e não fez mais perguntas, percebendo a dor que Kanala carrega.

Ao anoitecer, enquanto todos armavam acampamento para dormir, Ky retomou seu treinamento com Tritan. Seguiu seus movimentos como sempre: respirou, se concentrou, e nada parecia mudar. Começou a questionar se aquilo seria eficaz. Sua mente em branco foi tomada pela dúvida. Tentando se concentrar, pensou em Nair, nos sofrimentos que ela passou e, sem perceber, começou a exalar energia.

— Isso, mantenha — ordenou Tritan. — Segure isso e dispare.

Seus pulmões se encheram de ar e ele sentiu a eletricidade se mover pelo corpo. Direcionou dois de seus dedos para o céu. Uma linha de eletricidade foi lançada, parecendo um raio saindo de seus dedos. Diferente das outras vezes, Ky estava consciente.

— Eu consegui! — disse, animado. Mas, ao se virar para Tritan, notou-o paralisado. — Tritan?

Olhou em volta. Os pássaros no céu pareciam congelados no ar. As ondas do rio e até mesmo a brisa da floresta já não se mexiam.

— Quem é você? — indagou uma voz, vinda de trás de Tritan.

Ky sentiu-se sem ar. Saindo de trás do mago, surgiu uma criatura sem forma, parecendo eletricidade pura. Ela encarava o jovem, ficando em silêncio por alguns segundos.

— Então você é o motivo de eu ter ficado adormecido por tanto tempo — disse de forma ameaçadora. — Escute bem, garoto: irei lhe permitir usar meus poderes, mas saiba que, cedo ou tarde, devemos cumprir nossa missão e retornar para nosso mundo.

Ky caiu de joelhos. A presença sumiu diante de seus olhos e, aos poucos, as coisas voltaram a se mover. Tritan olhou para o garoto, notando seu espanto.

— O que houve? — perguntou, cruzando os braços.

— Nada — mentiu, ofegante. — Acho que é meu corpo se adaptando.

O garoto se levantou com dificuldade. Milhares de perguntas vieram à sua mente, contudo, decidiu guardá-las para si. Ambos foram descansar sob a proteção do céu estrelado. Embora deitasse, Ky não conseguiu pregar os olhos, ainda assombrado pela criatura.

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