Volume 1

Capitulo 4: A Batalha Dos Ferreiros e Artesãos

Ky ofegava encarando o corpo caído. A batalha ainda ardia em sua volta. Kanala se aproxima e sem remorso retira a lança do peito do cadáver. Seu olhar transborda desdém ao ver Ky paralisado.

— Mexa-se ou vai morrer — disse Kanala.

A garota virou-se ao notar uma certa presença. O mago inimigo caminhava em sua direção com tranquilidade. Kanala se posiciona, apontando sua lança para ele.

— Não se aproxime. — Ordenou.

O mago sussurrou palavras desconhecidas. Sua energia começa a tomar forma. Kanala sente algo surgindo.

— Duinna, conceda-me seus filhos — A tatuagem em seu pescoço brilha em cinza-escuro. Uma criatura espectral semelhante a um lobo dourado se forma. — A caçula. Lady.

A criatura prende os dois jovens. Ky arregala os olhos, se forçando a levantar. Kanala mantinha seu olhar feroz e movimentava sua lança. A criatura dispara na direção da lanceira.

Kanala desfere um golpe diagonal, porém a loba desaparece de sua visão. Ela grita com as garras de Lady arranhando profundamente suas costas. A lanceira caiu de joelho, se apoiando no cabo de sua lança.

Em um ato desesperado. Ky arremessa a enxada que tinha em mãos na criatura. O ser nota o garoto, rosnando em sua direção. Kanala aproveita a distração e crava sua lança na garganta da loba. A lança atravessou seu corpo como se atravessasse fumaça, não havia sangue e a criatura sequer notou o golpe.

O sangramento e a dor atingem finalmente Kanala. Suas forças se esgotam e seus olhos fecham. A criatura começa a se aproximar de Ky. O garoto desesperado arremessa pedras e tudo que consegue achar no chão. O ser fareja seu medo, se aproximando cada vez mais.

Com um salto, a loba mordeu o ombro de Ky, seu grito se ouve por todo campo de batalha. Um pequeno resquício de energia espiritual penetra o garoto. A dor logo é esquecida quando uma forte aura é emanada do garoto, arremessando Lady para trás.

O garoto olha para o nada. Lembrança contaminam sua mente, brigando com suas memórias de infância. Um mundo invisível, seres sem forma, diversas coisas que para ele não fazem sentido, mas em um estalo, retorna tudo de uma vez, seus olhos são tomados por energia, ficando totalmente azuis.

Ky virou as costas para Kanala. O mago estranha a energia que emana do menino e sua mudança de comportamento. Lady recua, ficando ao lado de seu invocador.

— Irei matar sua amiga, garoto — Fitou a face de Ky. — Não fará nada?

Ignorando as falas do mago, Ky continua a caminhar. Irritado, mago comando Lady para o ataque. Apesar de receosa, a loba disparou, saltando, dessa vez mirando no maxilar de Ky. O olhar do garoto se volta para a criatura. 

Ele desaparece da visão do mago. Sua aura se sente atrás dele, contudo o mago paralisa.

— Estou tentando ir embora — A voz de Ky parecia ecoar na mente do mago. — Pare de mandar um ser tão baixo me atacar.

— O que diabos é você? — Engoliu seco. — Não tem como ser um mago, não sinto uma ponte vindo de você.

— Nomes humanos não me definem — Ky notou a batalha ao seu redor. — Você é um daqueles que usa seres espirituais menores para seus fins? Me diga, conhece um homem ou mulher que se pareça comigo?

O mago salta para trás, a loba consegue morder o braço de Ky, o agarrando com sua mandíbula.

— Então isso é dor? — Continuou com um olhar apático. — Realmente não consigo entender Setdro. 

A criatura continuou pressionando seus dentes na carne de Ky. Faíscas surgem ao redor dele, elas se intensificam e a loba é atingida por uma forte corrente elétrica, reduzida a nada. 

— Se não sabe responder minha pergunta, não tenho nada a resolver contigo. — Virou as costas novamente.

— Não posso deixar você sair assim. — Suas tatuagens brilham. — Venha filhas do meio, as gêmeas, Drazar e Zadrar.

O garoto sentiu a presença se formando. Olhou curioso, apesar de não demonstrar. Duas águias sombrias de tamanho anormal surgem, seus olhos vermelhos não desprendem de Ky.

— A linhagem de Duinna decaiu — Movimentou seus punhos fechados para frente. — Talvez eu tenha que educar seus filhos.

Seus punhos eletrificam, exalando energia azulada. As águias voam para frente em lados opostos. Prestes a atacar na diagonal. O corpo de Ky se dissolve em eletricidade pura, aparecendo atrás das duas aves.

Um rastro de dois raios é formado a partir de seus punhos. Cortando uma das asas de Zadrar. Antes que se recuperasse, Ky a ataca novamente, desferindo um raio em seu peito. Seu corpo de sombra se desfaz, soltando um último assobiar de desespero.

Drazar sobe aos ares, mergulhando na direção de Ky. Ela agarra suas costas e o pressiona contra o chão. O garoto grunhiu com sangue saindo de sua boca. As garras da águia o perfuram ainda mais, desejando alcançar seus órgãos vitais.

O garoto novamente se desfaz em eletricidade e surge nas costas de Drazar, pisando em suas costas. Seu dedo indicador aponta para a cabeça da criatura alada, um fio de eletricidade vindo de seu dedo e atravessa o crânio da criatura. Seu corpo físico some da existência.

O olhar de Ky desviou para o mago, uma mistura de frieza e irritação. Andou até ele, sem tirar seus olhos dele. O mago se desespera e se força a lembrar de seus feitiços mais poderosos.

— Se afaste! — bravejou. — Não ouse chegar perto… Sua abominação, seu demônio. — Tentou se afastar, tropeçando e caindo para trás.

— Pedi que me deixa-se partir e mesmo assim me atacou — Apontou seu dedo indicador. — Não tolerarei esse tipo de desrespeito.

— Duinna, me conceda-me seus filhos! — implorou. — Venha o filho mais velho, Karmin!

Apenas o silêncio responde suas súplicas. Ky parecia decepcionado, porém, não surpreso. Sem hesitar, atravessa a cabeça do mago com seu raio.

Sem mais distrações, se põem a partir, porém, sente seu corpo adormecendo.

— Eu preciso… — Utilizou seus raios para marcar algo em seu próprio braço. — Encontrar… — Seu corpo cede, despencando no chão. 

A batalha ao redor continua. Os soldados massacrando os homens do acampamento. Em meio a confusão, Avan utiliza sua faca de esfolar como arma. Os soldados de Dracena começam a recuar com a perda de seu mago. Ao notar isso, Avan lutou com mais fervor, inspirando seus colegas.

Os ferreiros usavam seus martelos para esmagar seus inimigos, os carpinteiros usam escudos e lanças como podem, apesar da falta de treinos e os curandeiros salvam os caídos, os carregando em suas costas para fora do campo de batalha.

Avan percebe Ky caído próximo de Kanala. Disparou de súbito para protegê-los dos soldados próximos.

— Levem eles para longe daqui — Ordenou para os curandeiros enquanto certificava a segurança de ambos.

Os dois jovens foram arrastados por um curandeiro robusto. Um soldado carregando um machado se esgueirou pela batalha, a fim de matar o alvo fácil. Seu rosto e armadura estavam cobertos de sangue, Avan se põem entre ele e os curandeiros.

— Não se envergonha de ir atrás de crianças feridas? — Apontou sua lâmina para o grande soldado.

— O que um velho acha que vai fazer para me impedir — desdenha. — Poupe meu tempo e sai da frente.

— Me faça sair. — provocou.

O soldado balança seu machado, o corte vinha de cima. Com um salto para trás, Avan se salva, embora sua camisa tenha rasgado.

Com a parte da frente da camisa já aberta, ele a retira para não atrapalhar seus movimentos. Seu corpo demonstra marcas de lâminas, queimaduras e chicotadas, além de indícios de infecções já tratadas. A visão grotesca impressiona o soldado.

— Vejo que restou um guerreiro nesse acampamento. 

— Não, sou só um humilde armeiro — fixou seu olhar no soldado. — Eu só nunca fui bom em seguir ordens e é claro que meus opressores não gostavam nada disso. 

— Decepcionante. — Disparou para frente.

O soldado tentou cortar suas pernas, Avan pulou a tempo e perfurou seu braço. Sem demonstrar dor, o soldado o golpeia com o seu antebraço, jogando arremessando o homem a uma curta distância. 

A dor de suas costelas quebradas não o impede de levantar. Limpou o sangue de seu nariz e olhou ao redor, sorrindo ao perceber que o curandeiro tinha fugindo com os jovens.

— Agora não importa. — Guardou a faca em seu bolso.

Estranhando aquela ação, o soldado se aproxima atento.

— Não tentará lutar?

— Seria inútil — Suspirou e puxou um cigarro de palha, o pondo entre seus lábios. — Faça o que quiser.

— Vejo que tem pouco amor à vida.

— Eu apenas sei que um homem como eu não se compara ao potencial dos jovens nessa guerra — acendeu com um fósforo. 

O soldado riu e moveu seu machado, o cravando no abdome de Avan. Em um último movimento, o armeiro pegou sua faca e perfurou o pescoço do guerreiro do sul.

— Um homem de cada vez — comentou com dificuldade.

Tentando estancar o sangramento, o soldado se ajoelha com a confiança em seus olhos sumindo, antes de se apagar qualquer resquício de vida.

Avan consegue retirar o machado de seu abdômen. Ele cambaleia e cai para trás. O armeiro sente o sangue quente, mas essa sensação vai desaparecendo, assim como todas as outras. Seu cigarro é tragado, apesar da dificuldade de respirar. Sua visão estava turva, porém ainda podia olhar para o céu. 

Nomes vêm à sua mente, uma memória de pessoas rindo em uma mesa, seguida da memória de correntes, pessoas enfileiradas para serem marcadas com ferro. O som dos cães o seguiram na floresta enquanto fugia. Frechas acertando seus companheiros em fuga, em especial uma mulher da qual nunca esqueceu o nome.

— Nia… — O cigarro cai de seus lábios.   

Seus olhos escurecem. Não antes de ouvir os gritos de recuar dos inimigos, o dando uma paz de espírito antes do fim. 

 

 

 




















 

 

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