Volume 1
Capitulo 2: Os Homens Do Sul
A marcha dos cavalos se ouve de longe. Ky estranha, presumindo ser tremores da terra. Nair desloca-se para fora da cabana, se prontificando para qualquer conflito.
Os soldados se revelam entre as árvores, cercando os dois. Nair se bota na frente de seu protegido. Os guerreiros os encaram, esperando a ordem de seu comandante.
— O que querem nessas terras, homens do sul? — indagou.
Errand puxou um pergaminho de seu bolso e abriu com cuidado.
— Sobre autoridade do reino Dracena, declaro a tomada dessas terras sem donos, assim como os selvagens que aqui vivem. — declarou.
— Não reconheço a autoridade de seu império — Levantou os punhos. — E não permitirei que profane minhas terras.
De súbito, correntes espectrais se enrolam nos braços de Nair, a fazendo ajoelhar. Dentre os homens armadurados, Astagry se revela com sutileza.
— Suas tatuagens são interessantes, sem muito padrão — comentou com voz rouca. — Vamos, mostre seu poder.
Os guerreiros recuaram alguns passos, receosos. As chamas de Nair fazem uma barreira circular, impedindo o acesso dos soldados. Ky se prepara para defender sua protetora.
— Não se envolva — ordenou Nair enquanto quebrava suas correntes. — Eu cuidarei disso.
O corpo de Nair se incendeia, não ferindo sua pele. Correntes espinhosas quase transparentes se formam nas costas de Astagry, se lançando em direção à Nair. Um desvio desesperado a salva, contudo seu ombro é ferido.
A dama em chamas murmura baixo em um idioma desconhecido. Uma esfera de fogo começa a se formar acima de sua cabeça, pronta para atingir seu alvo.
Errand atravessa as chamas sacando sua espada. Com um corte preciso, o braço de Nair cai no chão. Ela grita de forma atormentada e se ajoelha, tentando estancar o sangramento com seu fogo.
O círculo de fogo é desfeito. De forma covarde, Astagry enrola Ky em suas correntes.
— Você se importa com esse garoto? — disse enquanto puxava o cabelo de Ky. — Recomendo não tentar nada.
Por um momento cogitou resistir, mas logo abaixou a cabeça temendo por seu protegido. Uma gargalheira com runas gravadas em seu metal é colocada no pescoço de Nair por Errand. A mulher sentiu seu poder se dissipar.
— Que profanação é essa? — indagou em fúria.
— Um selo — revelou Errand. — Não importa quanto tente, não poderá usar suas dádivas.
Ky se debate, tentando escapar de suas amarras. Astagry forçou o rosto do garoto para perto de sua face, avaliando com indiferença.
— Os selvagens não cansam de me surpreender — comentou. — Já vi muitas coisas, mas um garoto sem nenhuma ponte é a primeira vez.
— O que está dizendo? — perguntou confuso.
O comandante se aproxima do garoto com olhar mortal. Ele aproxima sua espada do pescoço do menino, mirando para decapitá-lo. Nair tenta impedir, contudo, com um simples movimento de mãos de Astagry, seu corpo cai no chão com uma insuportável dor de cabeça.
Errand balança sua lâmina em direção ao pescoço do garoto. Em um piscar de olhos, antes de cortá-lo, todos presenciam o corpo do garoto se dissolvendo em eletricidade, subindo aos céus como um raio azul e desaparecendo no horizonte.
Os soldados, Astagry e até mesmo a própria Nair ficam boquiabertos. O silêncio toma conta da floresta. Errand é o primeiro a se recuperar do evento incomum.
— Levem ela e queimem a cabana — ordenou sumindo em seu cavalo. — Não falaremos sobre isso para a rainha.
A ordem é obedecida. Nair vê sua casa ardendo enquanto era trancada em uma carruagem-jaula de madeira. Astagry se manteve pensativa sobre o que viu, olhando para o céu em dúvida.
Os cavalos partem em retirada, indo em direção à vila dos Chonos. O batalhão se aproxima cada vez mais. Corpos pendurados em árvores são vistos. O cheiro de fumaça e sangue se espalha pelo ar. Casas queimadas são vistas ao longe.
Eles adentram na vila. Os moradores estavam aglomerados no centro do vilarejo, cercados pelas lanças dos homens do norte. Astagry avaliava as crianças Chonos, procurando por alguém promissor.
Sentado em uma pilha de corpos, Travos, um velho homem de grandes cabelos brancos e altura avantajada, cantarolava tranquilamente enquanto limpava seu machado.
— Vejo que ainda não soube se controlar, velho homem — comentou Errand. — Devo pedir que se contenha um pouco mais. — Descia em seu cavalo se aproximando da pilha de incontáveis corpos.
— Devo pedir que não me encha a paciência nessa bela noite, pequeno Golden. — Saltou da montanha de cadáveres e guardou seu machado em seu cinto.
— É vice-comandante para você — bufou. — Mesmo a besta decapitadora deve obedecer seus superiores.
— E está certo — comentou. — Matarei quem ordenar, lutarei dia e noite se quiser, mas nunca terá meu respeito, pequeno Golden.
Os dois guerreiros se encaram com inimizade. Astagry se aproxima de um pequeno garoto da tribo que se encolhia de medo, mantendo um sorriso gentil.
— Qual seu nome? — indagou, ficando na altura do garoto.
— Yuni — revelou receoso.
— Que nome belo — comentou. — Onde estão seus pais?
Ele aponta para o monte de corpos mortos. Astagry não demonstra interesse e mantém seu sorriso.
— Que pena, mas essas coisas acontecem. Me diga, esses selos em seu umbigo, foram botados por quem? — perguntou.
— Pela madame Nair, ela é a serva dos espíritos da floresta.
— Você é um garoto muito sabido — Tocou no nariz da criança. — Eu vou ficar com esse aqui. — elevou a voz para que Errand ouvisse.
— Faça como quiser, bruxa — disse Errand subindo novamente em seu cavalo.
Os homens, mulheres e crianças da tribo Chono são colocados um por um nas carruagens-jaulas, exceto por Yuni que cavalga junto de Astagry. O batalhão se move indo em direção ao sul.
Tão longe quanto se pode imaginar, em meio a um bosque, cai um raio. O estrondo é ouvido pelos animais que correm de lá. Do local da queda, deitado em posição fetal, estava Ky.
O menino se mantinha adormecido. O grama cutucava sua pele e o sol batia em sua face, logo o acordando. Ele se levantou desorientado, olhando para os arredores.
Uma sensação de angústia toma conta do garoto. Tentava raciocinar o que fazer de agora em diante. Antes que pudesse tomar qualquer conclusão, uma flecha passa a centímetros do seu rosto.
Homens e mulheres de aparências distintas saem das moitas e de cima das árvores. Eles o cercam com lanças e arcos. Suas peles eram marcadas por uma queimadura em formato do símbolo do reino Dracena, se mantendo firmes perante o garoto.
— Você é filho de que terra? — indagou uma jovem de cabelos negros e olhos verdes.
O garoto se encolheu e engoliu a seco. De início não entendeu a pergunta, mas logo respondeu:
— Minha terra não tem nome — começou. — Eu sou do norte. Sou Ky de Nair, fui atacado por homens estranhos de pele de ferro.
Os homens e mulheres abaixam suas lanças ao ouvir o garoto, exceto pela menina que o encara com desconfiança.
— Como sei que não é um espião de Dracena? — Aproximou mais sua lança. — Você está longe do norte, não foi marcado e muito menos parece um escravo.
O garoto parecia confuso. A garota manteve seus olhos fixos nele. Antes que cortasse sua garganta, uma voz rouca e dura a impede:
— Pare, Kanala — disse um homem de longa barba e face idosa. — Não pode matar um homem por não conhecer as amarras — Caminhou até os dois enquanto acendia um cachimbo. — O levem para o acampamento.
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