Volume 1

Capitulo 12: O Jardim

Os exércitos se digladiam nos portões da capital. A fúria da Armada se despeja sob os armadurados, mesmo com suas armas e defesas melhores. Era nítido o conforto dos Não-Servos em lutas rápidas e violentas. O som metálico das espadas se chocando é cessado após ouvirem o som dos trovões ao fundo. Baru avistou as luzes azuis ao fundo, porém retornou sua atenção à batalha. Ele e Kanala guardavam as costas um do outro, lutando como se dançassem em sincronia.

— Parece que seu amado está lutando com vigor — disse Baru.

— Ele não é meu amado — disse enquanto atravessava um Draceniano — E duvido que seja ele. Ele não é do tipo que gosta de batalhas.

— Podem se concentrar na batalha? — berrou Gori.  

Casas se desfazem com a força da tempestade, os dois irmãos trocam socos furiosos que emanam o som de trovões. Talake no corpo de Ky se afastou e disparou sua primeira rajada elétrica, porém Aeolus saltou para o lado, escapando por pouco. Outras rajadas foram disparadas, uma seguida da outra, devastando as ruas.

O Grão-mestre balançou os braços como se fossem leques e cortou a pele de seu irmão com seus ventos cortantes. O Kumara encostou em sua ferida, sentindo seu sangue viscoso pela primeira vez.

— Corpo inútil — O garoto manteve um ar de grandiosidade — Tenho que admitir, irmão, seu lugar é mesmo entre esses ratos, mas nosso pai ordenou que eu o levasse para casa e é isso que farei — Talake tornou-se energia e ricocheteou entre as casas, se recompondo no alto. — Vamos fazer os céus brilharem — Uma energia azul se espalhou pelos céus. Por alguns segundos, tudo se silenciou, um momento de paz antes que as chuvas de raios caíssem entre as ruas. 

A destruição atraiu os olhares dos Dracenianos e da Armada, todos admirados e assustados. Aeolus desviava de forma absurdamente rápida, entretanto é acertado no peito por uma das rajadas que cortavam o céu.

Os raios cessaram, enquanto Talake descia dos céus com elegância. Aeolus grunhiu, seu irmão o olhava com desdém e apontou seu dedo indicador. 

— Acabou, irmãozinho — disse Talake.

— Só acaba quando perecemos. 

— Morrer? Pare de brincar, isso seria impossível — riu.

— Eles não te contaram? Parece que o papai não lhe conta tudo, não é mesmo? — Aeolus sorriu com ironia.

— Do que está falando?

— Nos tornamos mortais assim que encarnamos nesses corpos — explicou. — Recomendo que estanque esse sangramento, se não quiser morrer.

A expressão de Talake mudou, sua face se tornou de desespero e olhou com horror para a ferida que estava ignorando. Aproveitando a distração, Aeolus afastou Talake com suas ventanias. 

A visão do garoto começou a ficar turva e o corte em seu corpo escorria vermelho. Ky cambaleou para trás e se sentou no chão ofegante.

— Maldita casca de carne — grunhiu. — Você realmente é um idiota, Élo.

— Meu nome é Aeolus — disse, enquanto se levantava. — A mortalidade humana, até mesmo isso, eu dominei, querido irmão. Você sempre teve tudo, claro que teve, afinal você é o herdeiro da tempestade, mas eu… eu moldei tudo isso, o plano de expansão, a revolução mágica, tudo fui eu! — gritou com glória. — Continuarei meus planos e governarei ao lado de Cilia.

— Cilia, você fala da tal imperatriz, não é? — Talake sorriu e se levantou. — Ela é o motivo de tudo isso, não é? — O garoto desapareceu em forma de raio e partiu em direção à arena.

O Grão-mestre se desesperou ao notar o plano de Talake e soprou seus ventos, fazendo-se voar na mesma direção.

Na Arena, os dois magos estavam exaustos demais para se mexer, a imperatriz se mantinha em pé e de cabeça erguida, admirando os céus que acreditava pertencer a ela. Talake se materializou na frente de Cilia, a encarando com um olhar assassino. 

— Não se aproxime, selvagem — ela recuou.

— Isso vai dar uma boa história para quando eu voltar — apontou seu indicador. — Uma humana, uma mera humana, Élo não podia ser mais patético.

— Não! — Aeolus alcançou Talake, se pondo entre ele e a imperatriz.

— Você perdeu a noção, irmão. Esqueceu que está lidando com humanos, eles fazem suas extravagâncias e então morrem, eu pergunto: de que adianta?

— A vida humana pode ser curta, mas nosso império vai ser eterno.

Talake sentia suas forças enfraquecerem, seu golpe tinha que ser perfeito, ele se desmaterializou em um raio e ficou ricocheteando nas paredes da arena. Os olhos humanos não podiam acompanhar, mas Aeolus via o rastro de energia por todos os lados, ele tentava prever onde ele iria atacar.

— Cilia, fique perto de… — Aeolus se virou e paralisou, viu os olhos da imperatriz se encontrar com os seus. Ao olhar para baixo, viu a mão de Talake atravessando seu peito. Sua alma pareceu gritar e ele se ajoelhou. 

Talake retirou sua mão e deixou o corpo da imperatriz cair aos seus pés. Aeolus correu, ignorando o irmão. O Kumara dos raios caminhou na direção de Nair e desmaiou em seus braços. Travos recompuseram-se e correram para a saída, Nair seguiu segurando Ky em seus braços.

Aeolus não teve reação, ele ajoelhou-se e ficou ao lado de sua imperatriz. A memória de quando foi acolhida pelo imperador e criado ao lado dela. Seus dias felizes e sem preocupações pareciam tão distantes, mas ele ainda lembrava quando ficavam horas dentro do jardim.

— Aeolus — Cilia murmurou com a voz rouca. — Você disse… você disse.

— Não fale, vai ficar tudo bem — disse, gaguejando. 

— Você disse que iria me dar o mundo — grunhiu com sangue escorrendo de sua boca.

— Eu vou, eu vou, todo o mundo vai ser nosso jardim, eu jurei, né?

Toda luz sumiu dos olhos da imperatriz, seu último suspiro se foi junto de suas ambições. Aeolus se calou e levantou, olhando para o vazio. Os ventos gritavam e gemiam, porém, o Grão-mestre manteve a expressão fria.

— Obrigado, irmão — Ajeitou a máscara. — Talvez você tenha razão, humanos são apenas humanos. Criarei um jardim para mim e não para os outros e depois… — Desenhou três riscos que remetiam aos ventos com o sangue de sua imperatriz em sua máscara. — Apagarei você e o nome de todos os espíritos da história.

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