Volume 1

Capítulo 13: Tratos, Quedas e Ascensões.

Na capital, protegido pelas paredes do castelo, Errand procurava sua imperatriz com amargo na boca, tudo que desejava era a batalha. Ele se dirigiu para a sala do trono e lá nada encontrou. Sentiu uma estranha sensação e olhou com suspeita para todos os cantos da sala. 

— Ela não está aqui — disse Astagry atrás de Errand.

Ele se virou com a aparição surpresa, notou a maga ao lado de Yuni. O menino mantinha o olhar baixo, seus olhos estavam com um dourado em sua pupila e vestia roupas nobres de linho azul, apenas o colar de selamento em sua garganta revelava sua real posição. 

— O que você quer aqui? Não notou que estamos sob ataque? — bravejou Errand.

— A Armada está recuando — explicou. 

A fala morreu na garganta de Errand, mas logo se recompôs e toda arrogância retornou a seu corpo.

— Sabia, sabia que aqueles selvagens não resistiriam à nossa força.

— Não festeje ainda, Boreali. Os magos escravos fugiram, metade da cidade foi destruída e… A imperatriz morreu. 

A expressão de Errand se moldou no mais alto desespero, sua mão tremeu como nunca antes e apenas insegurança veio à sua mente. Seus pensamentos são interrompidos por um estrondo, quando se virou, viu o Grão-mestre sentado no trono.

— Como ousa! — A insegurança deu lugar à fúria. — Dessa daí imediatamente, mago desgraçado.

— E por que deveria? Esse é meu lugar — disse Aeolus em tom neutro. Retirou um pergaminho e o abriu para que todos vissem. — Afinal, a imperatriz está morta e eu sou o regente declarado.

Errand aproximou-se para ler, viu que era verdade, o selo real no canto do pergaminho não mentia. Sua fúria não cessou, mas suspirou tendo em mente a lei que teria que seguir.

— Você está adorando isso, não é? — Olhou firme para o Grão-mestre.

— A dor toma conta de cada pedaço de meu ser, mas não temos tempo para luto, Vice-comandante — O Grão-mestre mantinha-se firme, porém por baixo da máscara, seus olhos lacrimejavam. — Devemos reunir as tropas de todo o império.

— Devemos nos preparar para outro ataque? — indagou Astagry.

— Não exatamente. Os rebeldes pareciam querer não só a vida da finada imperatriz, mas também os magos escravos. Devemos esperar que eles recuarão para algum lugar e irão esperar.

— E como saberemos onde estarão? — questionou Errand.

— Tenho meus métodos, Boreali.

Levantou-se e imediatamente encapuzados surgiram das sombras, entre eles Mavet. A presença da mulher repleta de queimaduras assusta até mesmo Astagry. Errand põe a mão na empunhadura de sua espada, atento a qualquer movimento nos estranhos invasores.

— Acalma-se, Boreali — Caminhou na direção de Mavet. — Já deve conhecer a dama.

— Todo nobre conhece a lunática selvagem de pele queimada. 

— Em tempos posteriores, ela era mesmo a assassina selvagem, porém potencial é potencial e após oferecer um lugar em meu império, ela agora responde a mim — O Grão-mestre segurou o queixo da dama queimada que mantém sua face neutra. — Não é mesmo, Mavet?

— Sim, meu senhor, pertenço apenas a ti — disse com rouquidão.

— Me diga aonde eles estão indo?

— Baru não me disse, precisarei de mais tempo.

— Não me faça perder tempo, vá logo — ordenou.

Mavet reverenciou e com seus filhos sumiu nas sombras. Errand virou as costas, cansado de ficar entre tantos magos, seu orgulho parecia abalado, tendo agora que ser leal a Aeolus. Astagry observou a saída do Vice-comandante com um sorriso triunfante. Agora a sós, Astagry curvou-se ao Grão-mestre.

— Sempre um passo à frente, meu senhor. Não acredito que tenha conquistado até mesmo aquela lunática.

— Bastou oferecer a cabeça de seu antigo dono e a garantia de que nunca conheceria a dor novamente — Sentou-se novamente. — Foi até fácil demais.

— Chegou nossa vez, meu senhor — Fascínio tomava conta de sua fala. — O tempo das espadas enfim acabou. Agora o império está sob domínio da magia.

— A era da magia talvez tenha sido meu primeiro plano. Agora tenho uma ideia melhor — explicou.

— E qual seria seu novo plano, meu senhor?

— O tempo dos homens, sem espíritos, sem adorações, cujo único nome venerado seja o meu — discursou. — É fato que os selvagens são os que mais veneram os espíritos, por isso eles serão os primeiros a cair.

A chuva caiu, lavando o sangue derramado das ruas da capital, deixando apenas os destroços e cadáveres caídos como prova da batalha que ocorreu. Longe do ambiente desolado, a Armada parte, escondida nas florestas.

Ky acorda em uma tenda com a cabeça latejando, ao seu lado estava Nair com os olhos quase adormecidos.

— Nair? — O garoto tentou relembrar dos acontecimentos recentes. — Eu… O que aconteceu? Eu me sinto tão…

— Descanse, terá tempo para pensar depois — aconselhou.

— Aquilo que aquele homem disse — comentou. — Eu sou um…Kumara, você sabia disso?

— Já ouvi falar de lendas, mas não imaginava que seria seu caso — disse Nair. — Mesmo que seja um Kumara, isso não muda o que você é. Você ainda é meu Ky.

Kanala adentra a cabana com os cabelos molhados pela chuva. Ela esboçou alívio ao encontrar Ky acordado, porém não tinha tempo para isso.

— Querem falar com você.

— Ele precisa descansar — Nair olhava para a garota com incômodo.

— Está tudo bem — Ky se levantou, mesmo meio manco, ele seguiu Kanala. A chuva caiu sob seu corpo e, ao observar os arredores, notou olhares direcionados a ele, alguns com fascínio, outros com medo. — Por que eles estão me olhando assim?

— Você matou a imperatriz, achou mesmo que não ficariam impressionados?

— Eu matei? — indagou.

Baru se aproximou de Ky, seu corpo tinha algumas faixas, fruto da batalha anterior. Ele olhou profundamente os olhos do garoto e pôs a mão em seu ombro.

— Sabia que era especial, garoto. Agora sei o motivo dos espíritos terem mandado você até nós — Baru pegou no pulso de Ky e ergueu seu braço — Escutem todos, aqui está aquele que matou a carrasca Cilia, Ky de Nair, enviado dos espíritos para nos guiar para a liberdade! 

Murmúrios se espalham pelo acampamento recém-montado, uma esperança nunca vista penetra os corações da Armada. Era isso que sempre esperavam, um ser superior vindo para os libertar. Ky abriu a boca para tentar esclarecer as coisas, porém percebeu que o tempo não se movia.

— Humanos amam acreditar que serão salvos — disse a presença aparecendo entre a multidão. — Olá, casca de carne, parece que ficaremos juntos por um bom tempo.

— O que você quer agora? — bravejou.

— Para que tanta agressividade? — A voz tornou-se desdenhosa.

— Eu não confio em quem tira vidas como se não fossem nada. Você irá nos destruir no momento em que perdemos a utilidade para você!

— Escuta aqui, tudo que desejo é retornar para onde eu pertenço, infelizmente tenho que trazer o idiota do meu irmão junto. — explicou. — Vamos nos ajudar, casca de carne, tudo que quero é banir Élo do plano terreno, mas para isso preciso chegar até ele e esse tal império parece estar entre mim e ele.

— Tudo que eu quero é viver em paz — Ky acalmou-se. — Te ajudarei, mas não matarei inocentes pelos seus objetivos, criatura.

— Meu nome é Talake.

O tempo retornou a se mover. Os rebeldes gritam com animação, comemorando a vinda de seu salvador. Ky observa todos esperançosos e seu peito enche de angústia. Ele respirou profundamente, pensando no que dirá e se estava apto para assumir esse papel. Lembrou-se por um segundo do desejo de seu amigo, Avan, tudo que ele queria era ter uma boa vida no norte. Talvez agora ele pudesse realizar esse sonho para todos os libertos. 

— O norte — Todos se calaram com as palavras de Ky. — Devemos retomar o norte, lá será nosso refúgio — Se silenciou novamente, apesar de querer paz, não poderia deixar uma nação tão poderosa escravizar ao seu bel-prazer, além de ter que cumprir com o trato que fizera com Talake. — E depois retornaremos e acabaremos com Dracena! — declarou, seguido pelos gritos animados da Armada.

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