Volume 1 – Arco 1
Capítulo 7: Desconexa
Após colidir com mastro do navio vizinho, a visão nebulosa de Lâmina começou a se ajustar ao ambiente. Voava do outro navio, uma garota jovem de cabelos prateados presos em um rabo de cavalo, trajada em uma roupa marcial vermelha-escura sob uma armadura leve de couro. Usava uma bandana preta na cabeça.
Em sua cintura, um largo sabre preso ao cinturão, ele tinha grandes similaridades com o de Heinrich. Contudo, não parecia ter a mesma ameaça.
Lâmina levantou-se, ofegante. Ele havia recebido um golpe certeiro, resultando em uma tontura e abalo físico nas pernas.
— Golpe de sorte… — murmurou, cuspindo sangue.
— Recomendo que abandone a missão que pegou, velhote.
Ela se parecia com a mulher que pilotava o navio no qual veio, talvez um pouco menos mística em aparência? Lâmina se lembrou do que Heinrich havia falado sobre “as vices” dele, logo notou que a similaridade se tratava de gêmeas.
Recuperou um pouco sua postura, e começou a observar a oponente. Não exalava uma Aura visível, mas havia algo em sua presença que fazia o ar pesar.
— Não largo mão de meus deveres tão fácil assim…
— Leve esse juramento ao seu túmulo — Mirele analisou a posição de luta de Lâmina. — Não vai usar sua espada? Que assim seja.
A vice capitã desacoplou o sabre de seu cinto, jogando-o ao chão.
— Você é indigna, é claro que não usarei… — Lâmina agarrou sua espada pelo cabo e fincou ela no chão.
No instante em que o espadachim encostou no cabo da arma para desarmar-se, um instinto, no fundo do ser de Mirele implorou para que ela desse meia volta. A mesma manteve a posição, apesar do aviso de seus instintos de sobrevivência.
O vapor gélido emanava da espada presa ao convés, lentamente se desfazendo dos poderes místicos do portador.
Mirele saltou acrobaticamente para acertar um chute com o calcanhar, que foi facilmente bloqueado pelos antebraços cruzados do espadachim. A vice deu uma pirueta para trás e começou a fazer uma troca a curta distância com Lâmina.
Mesmo tendo o dobro do tamanho e massa muscular, Lâmina não conseguia acompanhar a velocidade surpreendente de Mirele, suas mangas curtas também mostravam um corpo definido, que passou por um treinamento intenso. Tentava agarrar os braços, mas a percepção de Lâmina também era superada pela menina desviando a trajetória de seus golpes com as articulações dos braços.
— Sua Aura enorme não me assusta, grandão. Vou ganhar de você… sem misticismo… — disse Mirele num tom animado e determinado.
“Um golpe de direita…” pensou Lâmina
Contudo, a destreza imprevisível de Mirele fez com que ela transformasse o bloqueio do espadachim em um enquadramento para a figura de seu rosto sendo amassado por um soco direto no nariz, que começou a sangrar.
Lâmina é afastado pela potência do soco. “De onde vem tanta força? Ela me obrigou a ficar na defensiva até agora, mas…”
— Nem doeu.
— O quê?!
— Bate mais forte, essa nem fez cócegas — respondeu Lâmina com um sorriso arrogante. Ele arrastou seu polegar pelo nariz, cauterizando o sangramento do golpe.
Mirele se lembra das palavras de Heinrich, para que ela não seja provocada com facilidade. Deveria apenas continuar num ritmo estável e um crescimento linear.
Ela sacou duas facas das costas, arremessando-as nas cordas ligadas ao mastro do navio. Um titã de madeira robusta, e cheio de armadilhas.
Uma das velas do navio começa a cair em cima de Lâmina.
“Agora, ele não tem saída a não ser me encarar”
A estratégia de Mirele não poderia ter resultado de maneira pior. O semblante de Lâmina estava inalterado, ele saltou, fazendo o navio tremer. Após isso, com um grunhido de esforço, esmurrou a verga que segurava a vela arriada.
A vice-capitã não conseguia conter sua surpresa, sua tentativa de distração foi transformada em um contra-ataque perfeito para Lâmina. O homem quebrou a viga de madeira ao meio, agarrou uma das metades e atirou-a como uma lança na direção de Mirele.
A menina deu um simples passo para o lado, vendo o pedaço de madeira congelar ao quebrar o piso do convés.
— Vai precisar de mais do que isso pra…
Crack!
Ela virou-se para Lâmina, apenas para notar uma enorme sombra pairando sobre sua cabeça.fora ouvidos
— O mastro?!!
Poeira e vapor de gelo subiram quando o mastro atingiu o convés e o píer. Fajilla parecia estar um pouco agitada, alguns gritos de pânico foram ouvidos quando o navio estava sendo destruído.
Quando os destroços pararam de ruir, Lâmina sai de cima do mastro que derrubou, procurando por algum sinal de vida.
“Se ela forte como imaginei, isso não era o suficiente para matar”
O espadachim fez uma força tremenda para levantar o mastro, apenas para ver um buraco para o nível inferior do navio sem ninguém lá, apenas uma pequena mancha de sangue.
Mais uma vez, ele é pego desprevenido. Sentiu algo pontiagudo perfurando suas costas. Antes que pudesse sofrer algum dano letal, ele se virou com um soco, que faz Mirele recuar.
“Esse cara… congelou o coração dele para que eu não conseguisse perfurá-lo!”
— Você está conseguindo se manter na luta… Me diga: eu já conheço sua irmã, mas qual é o seu nome?
— Mirele… Mirele Cahrazan! É bom que guarde esse nome, pois eu sereia marinheira mais forte de toda a costa oeste, e sem misticismo!
O espadachim puxou um pedaço de madeira afiado dos destroços, logo após o discurso da vice-capitã.
— E eu sou Lâmina Gélida, e eu serei o guerreiro mais forte do oeste… além do Abismo Revolto, além dessa ilhazinha. E se você tentar me parar, vou quebrar todos os ossos no seu corpo.
Eles se enfrentavam com convicção cega — e por motivos errados.
Lâmina lutava para proteger a bebê. Mirele lutava para impedir o que achava ser uma ameaça à amiga de seu pai.
Era um duelo alimentado por suposições. Nenhum deles tinha toda a verdade. E, mesmo assim, nenhum hesitava. Desejavam por esse momento.
Lâmina empunhando uma lasca de madeira da viga, e Mirele, seu valioso e afiado sabre. Um momento passa com o vento carregando flocos de neve. A madeira do navio rangeu antes dos dois ajeitarem suas posturas no pé e partissem em uma investida um contra o outro, para finalizar o combate de uma vez por todas.
As armas colidiram, uma onda de choque para o vento por um instante onde Mirele extravasou uma leve risada, certa de que seu ataque acertou.
A vice-capitã não ouviu seu oponente caindo no chão. De costas um para o outro.
O sabre estava… leve.
O sorriso de Mirele desmanchou e sua risada morreu. Ao erguer a arma, boa parte da lâmina estava lascada, quebrada… inútil.
Seria possível que seu oponente também não tinha um misticismo? Mirele nunca havia presenciado algo assim. Um poder bruto, que serve de força mística até quando Lâmina está parado.
“Sempre é assim…”
A vice-capitã estava paralisada. Heinrich de fato avisara que os alvos não eram simples pessoas, mas indivíduos poderosos. Mesmo treinando mais que todos da sua idade jovem, a menina sabia que nunca teria chance contra um usuário de misticismo.
“As bênçãos dos deuses realmente só se direcionam aos afortunados. Papai só é forte por conta daquela arma desgraçada… minha irmã sabe bruxaria… mas e eu?”
— Você deixou cair isso. — Lâmina soltou o pedaço do sabre no chão. O tilintar do metal doía no fundo do ser da garota, sentia que todo seu esforço foi em vão. Não conseguiu proteger a amiga de Heinrich, nem matar o alvo que ameaçava concluir a missão de caça.
Lâmina, por outro lado, tem uma consideração por qualquer um que consegue fazê-lo usar uma arma, mesmo que seja uma lasca de madeira.
— Entenda, não posso abandonar minha missão. Mas você é forte… — disse o espadachim. Ele removeu a sua espada do chão, colocou-a nas costas, e botou a mão no ombro de Mirele, que ainda estava paralisada pelo peso da derrota. — Vou só ver se sua irmã não matou a minha companheira…
“É, claro. Como se isso sequer importasse, você nem suou…”
Ele pula do convés para o mastro caído, usando-o como uma ponte.
— Ei, Vaia, você está viva?!
Sem resposta.
…
— Socorro!!
Um grito familiar, não de Vaia, foi ouvido do navio ao lado. Lâmina e Mirele reconheciam bem os gritos de Milene.
Mirele se desfez do transe ao ouvir os berros da irmã, e, sem nem pensar duas vezes, corre para a nau-capitânia, empurrando Lâmina no caminho.
O espadachim a segue, mas ao chegar lá, se deparam com uma visão terrível: Vaia, com seu manto rasgado e queimado aos trapos, estava sem seu capuz.
Um par de longos chifres negros saíam da testa de Vaia, suas presas estavam mais afiadas do que nunca. De suas costas, saía uma cauda de demônio. Os braços e pernas tinham feridas profundas, nelas, o sangue borbulhava a medida que o corpo era restaurado.
As chances de um monstro aparecer ou transformar-se repentinamente durante o dia eram baixas. Mas nunca zero.
Vaia segurava o corpo de Milene, com a veste de seda laranja um pouco abaixada ao ombro, onde Vaia preparava-se para morder o pescoço. Mirele e Lâmina já sabiam de alguns monstros, mas aquilo era diferente, uma mistura de diversos tipos… vampiro, morto-vivo, demônio… Uma aberração da natureza.
Vaia não parecia ser ela mesma, tomada por um instinto assassino e feroz, ela deixou Milene de lado e focou a visão para Lâmina. Ela começou a babar, arfar como um animal. De sua boca, ela tentou falar:
— Grão… nobre…
— Mocinha, se afaste. Essa mulher aí não é brincadeira… Vice? — A voz de Lâmina estava impaciente e irritada.
Mirele não estava mais ao seu lado, ao se virar para a plataforma do leme, Lâmina viu a garota agarrando algumas coisas no chão.
Apesar de estar devastada pela derrota e pela quebra de seu sabre, ela não podia deixar sua irmã morrer, muito menos deixar um monstro entrar no navio de Heinrich.
Lâmina saltou para o convés do navio de Heinrich que estava coberto do sangue de Vaia. Ela estava agachada, em uma posição de bote. Os olhos carmesins viam o espadachim como uma presa especial, um alvo de alto valor.
— E justo quando falei que você não era um monstro… Saia de perto da vice Milene! — protestou Lâmina apontando o dedo, calmo. Ele suspeitava que teria que fazer isso uma hora.
Vaia saltou em direção ao espadachim, mostrando as garras, afiadas como navalhas.
Lâmina tentou desviar, mas ela era rápida demais. Seu ombro foi rasgado com o cordão que prendia sua capa.
— Sangue — Vaia preparava para lamber o sangue de Lâmina de sua mão.
Até que ela é cortada fora. Vaia não se importou com a dor, mais preocupada com a mão decepada, lançada para o outro lado do convés.
— Milene tem certeza de que é um demônio! Um contrato incompleto… não faz sentido! Poderes de vampiros? Milene pede para que você se afaste dela! — A vice-capitã estava com círculos azuis brilhando sobre a palma das mãos. Um claro indicador de bruxaria.
O misticismo de deveres e patronos. Milene tinha um contrato firmado com um poderoso usuário de misticismo. Seus olhos azuis cintilavam junto da Aura própria.
— Tem algum jeito de conter ela, sem matar?
— Quer deixar ela viva? Por quê?!
— Só me ajuda a controlar ela!!
A mão de Vaia regenerou-se em instantes, abalando tanto Lâmina quanto Mirele. O espadachim se despreocupou um pouco, agora que não precisava se conter no combate. “Então você se regenera fácil desse jeito?”
Vaia avançou mais uma vez, com a boca aberta para uma mordida no pescoço de Lâmina. O ataque é abruptamente interrompido pelo homem agarrando o rosto da aberração. A luva de couro preta congelava a face de Vaia, e com uma força enorme, Lâmina arremessou-a contra o chão.
A aberração tentou atacá-lo com as garras, só para Lâmina segurar o braço com a outra mão e quebrá-lo como um graveto. A criatura não gemia de dor, ignorava-a completamente.
— Vice, segure ela!
Milene movimenta os braços com os pentagramas da arte bruxa para fazer cordas que saem dos vãos do convés, e seguram Vaia. Ela se debatia fervorosamente, rosnando e tentando acertar mais mordidas em Lâmina.
A maneira mais eficiente para matar um monstro seria destruindo seu coração — apesar de haver outras formas —, mas prender Vaia funcionaria por hora.
As amarras e o gelo seguravam bem, mas estalos e rachaduras eram audíveis quando Vaia começou a brilhar em vermelho. Algo diferente… a Aura monstruosa de Vaia era lentamente substituída por uma presença verdadeiramente maligna. Raios carmesim emanavam e queimavam o ambiente ao redor.
Lâmina foi forçado a recuar, parte do seu gelo era desintegrado ao entrar em contato com o raio.
A energia de Vaia era transmutada de monstro para Demônio, Milene era capaz de perceber isso, mas não conseguia explicar. Era algo impossível na sua concepção.
— Mirele, cade você?! Não consigo segurá-la por tanto tempo.
— Ela vai se soltar!! — exclamou Lâmina, tomando cobertura na bagagem jogada no chão.
Vaia ficou ereta, apontou com os dedos para Milene que tentava conter os fios restantes. De sua mão, um raio vermelho ganhava potência, estava prestes a atirar. Mas um assovio vindo de cima a distrai.
A aberração olhou para cima, vendo um frasco se aproximando, ela o golpeou esmigalhando o vidro. Um cheiro forte penetrava suas narinas, deixando-a confusa.
O monstro começa a se debater e gritar como se estivesse cega. Mirele saltou com uma vela desprendida do mastro, cobrindo Vaia por completo.
— Uma corda, rápido. — gritou ela.
Vaia não conseguia rasgar o tecido grosso com tanta facilidade. Lâmina jogou uma corda que encontrara para Mirele. Que fez um laço rapidamente e jogou sobre a criatura.
“Sem misticismo… que se lasque! Ninguém mexe com minha irmã!” Mirele usa todas as suas forças para puxar Vaia coberta pela vela.
“Heinrich, papai, você nunca desistiu de mim…”
— Veja bem, senhor. Temos aqui duas figuras interessantes, elas são gêmeas, mas apenas uma conseguiu desenvolver um potencial místico…
Heinrich olhava Mirele e Milene brincarem do outro lado da janela de vidro. Aquele orfanato em Arquoia, foi onde ele adotou essas duas figuras. Analisava com calma. Brincavam com blocos de construção. Enquanto Milene tentava mexer nos blocos com uma força mística recém-adquirida, Mirele usou de alguns elásticos e alavancas para fazer uma catapulta. Isso o assustou um pouco, o que o fez retornar à conversa com o gerente.
— E daí? Não tem problema não ter misticismo. Esta dependência na benção dos deuses apenas afasta as pessoas de uma determinação própria. Os verdadeiramente esforçados sempre dão a volta por cima. Como acha que ando ao lado dos governantes de um reino mágico?
— A-Acho que tem razão… general Cahrazan… Se quiser entrar para vê-las…
Heinrich abriu a porta ao lado e se agachou perto das meninas.
— O que é isso que você está fazendo? — disse ele, apontando para a engenhoca de Mirele.
— É o meu tipo de misticismo… já que minha irmã tem bruxaria. Eu chamo esse de… Uh… — Ela se perdeu um pouco nas palavras e começou a olhar para cima.
— Engenharia? Haha!!
— É, senhor. Vai ser um ótimo pai. — “Já tem até as piadas” pensou o gerente do orfanato.
— Essa aqui tem um grande futuro…
Eles pensavam que Mirele não guardaria uma memória tão antiga. Mas quando Heinrich virou capitão. Quem mais para fazer os diversos mecanismos do navio?
Para finalizar: Mirele golpeou Vaia com força total enquanto coberta, sua pequena Aura se alterou, impulsionando o soco e concedendo uma potência digna do respeito de Lâmina.
O vento parou mais uma vez, para abrir espaço para o golpe da vice-capitã. Quando Vaia caiu no chão. Mirele puxou mais algumas adagas da cintura.
Ao lançar a primeira, a corda cortada abre um alçapão sob Vaia, dele, saiu uma rede que envolveu o corpo da aberração ainda mais.
Quando a segunda atinge uma alavanca. Um compartimento sobre a porta da cabine de Heinrich se abre, dele, saem diversos cabos de ferros como boleadeiras.
Elas atingiram Vaia, que ficou presa no mastro.
— Nem as garras dela vão cortar essa prisão. Se ela quiser usar raios, vai só se queimar.
Lâmina não sabia o que dizer. Ela conteve Vaia como se caçasse monstros há anos. Bloqueou o sentido de odor, visão. Atordoou com um golpe e paralisou.
Milene estava boquiaberta, sua irmã, uma desconexa, conteve um monstro poderoso.
Agora, com Vaia presa como um casulo, tentando respirar. Os três poderiam se acalmar por um momento. Lâmina acalmou sua Aura, Milene desfez os círculos de bruxaria.
— Alguém consegue explicar o que foi isso?! — perguntou Lâmina. — Eu suspeitava que ela era um monstro, mas os raios… O que eram?
— Milene suspeita que seja um demônio — respondeu — mas isso não explica como ela não foi tomada imediatamente… agia como um animal, mas Milene lembra que demônios são seres racionais.
— Seu plano para fazer a missão de extermínio saiu do controle, não? — indagou Mirele, olhando para Lâmina.
— Extermínio?! A minha missão é de escolta! Por que acharam que eu queria matar essa tal Jasmyne?!
— Papai Heinrich mandou que Milene e sua irmã matassem vocês… Disse que eram alvos de prioridade máxima.
— Vocês são… filhas do Heinrich? — os olhos de Lâmina pesavam o sangramento do golpe de Vaia era intenso ainda junto com a perfuração de Mirele. — Você é forte… garota…
O espadachim desaba no chão de exaustão, após usar tanta energia para congelar Vaia, era a primeira vez que ele se cansava assim em alguns anos.
— Cálix… Talyra… a bebê… Heinrich vai matá-los… não posso deixar…
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