Volume 1
Capítulo 9: O Vale de Thuda (1)
Em um novo dia, enquanto caminhava pelo vilarejo, avistei um velho encapuzado apoiado em uma bengala, com um cachimbo que exalava um cheiro forte de fumaça. O capuz do velho cobria seu rosto, tornando impossível ver suas feições.
— Ei, meu jovem, ouvi dizer que você foi aprovado no grupo dos exploradores — disse o velho, com uma voz rouca.
“Quem é esse estranho que apareceu do nada?”
— Como ficou sabendo? Eu não te conheço. Quem é você? — perguntou ele, encarando o velho encapuzado com muita desconfiança.
— Ah, sabe como é, né? Um cochicho aqui, outro ali, a gente fica sabendo de muita coisa.
Hahahahahaha...
— Eu não sou ninguém, sou só um pobre velho que precisa da ajuda dos mais jovens.
“Ninguém? Corta essa, velho. Eu sei que quer alguma coisa. Isso me faz lembrar daquele maldito corvo”
— Eu vi que você tem potencial. Tenho um trabalho para você, algo que só alguém com suas habilidades pode fazer.
— Hum, estou sem fazer nada no momento, e vai demorar um pouco até o dia da expedição. Além disso, estou sem grana — respondeu Kaito, com uma mistura de curiosidade e cautela.
— O que eu tenho que fazer? Ajudar velhinhas, escoltar uma princesa, matar monstros, ou casar com a filha de alguém?
— Vamos apenas dizer que é uma tarefa... incomum.
— Incomum? Tá de sacanagem! Meu senhor, quer pregar uma peça em mim? — disse Kaito, irritado.
— Hahahahaha! Os jovens de hoje em dia são tão impacientes — disse o velho, rindo. Em seguida, ele bateu suavemente a bengala na cabeça de Kaito.
— Olha, meu senhor, estou de saco cheio de estranhos aparecendo no meu caminho, dizendo que querem ajudar, e no final, quem se ferra sou eu.
Estreitei os olhos, claramente irritado.
— Só vou aceitar essa tarefa porque estou entediado. Então vamos ao que interessa e sem enrolação.
— Boa, meu garoto! Eu sabia que poderia contar com você. — O velho sorriu, mostrando dentes amarelados pelo tempo.
— É fácil. Estou à procura de um fruto que cresce no Vale de Thuda. Se você conseguir trazer esse fruto, vou pagar bem.
— Nada é fácil neste mundo, aprendi isso da pior maneira possível. Mas enfim, vou entrar na sua onda.
— Certo, vou pegar esse fruto para você, mas só farei isso se me contar tudo sem esconder nada. Abra o bico — disse ele firmemente.
— Relaxe, vou contar tudo o que precisa saber e como conseguir. Só não sei exatamente onde esse fruto nasce; você terá que procurar.
“Sabia que podia contar com esse jovem. Ninguém jamais conseguiu pegar esse fruto. Estou confiante nesse jovem aventureiro, mas ele não precisa saber dessa informação”, pensou consigo mesmo, ocultando verdades dele.
— Vamos logo ao que interessa — disse Kaito, fazendo um gesto indicativo com o olhar para baixo.
— Excelente! — O velho esfregou as mãos com satisfação.
— O fruto fica localizado no Vale de Thuda...
— O Vale de Thuda fica a um dia de viagem daqui, ao norte. O fruto que estou procurando é chamado Fruto do Amanhecer. Ele é pequeno, de um azul-violeta vibrante e emite um brilho suave no escuro. Só cresce em uma árvore singular.
Um arrepio percorreu minha espinha ao ouvir as palavras do velho, mas eu estava determinado a explorar o Vale de Thuda.
— Estou ansioso para descobrir que tipo de criaturas encontrarei e os desafios que me aguardam por lá.
— Mas cuidado, o caminho não é fácil, e o vale tem suas próprias... particularidades.
— Vou me preparar e partir o quanto antes. Espere aqui que vou trazer seu maldito fruto... — Kaito declarou com determinação, olhando diretamente para o velho.
“Essa eu quero ver! Vou aguardar ansiosamente pelo seu retorno.”
Hahahahahahaha...
O riso do velho ecoou pelo ar, enquanto ele desaparecia diante dos meus olhos, sua figura se dissipando aos poucos.
“Estou sentindo um cheiro de emboscada, mas que se dane, vamos ver o que essa minha escolha vai me proporcionar. Além disso, conhecimento a mais é sempre melhor que menos.”
A tarefa não seria simples, mas a recompensa valia o risco. Com um objetivo claro e a determinação que sempre me guiou, preparei-me para a jornada ao misterioso Vale de Thuda, onde o Fruto do Amanhecer me aguardava.
Chegou o dia finalmente de partir em busca do Fruto do Amanhecer. Segui na direção norte, rumo ao misterioso Vale de Thuda. Durante minha caminhada, fiquei impressionado com a beleza natural que se desdobrava diante de mim. Os raios de sol filtravam entre as copas das árvores, sobre o caminho coberto de folhas secas. Passarinhos cantavam em uma sinfonia alegre, e uma brisa acariciava meu rosto, trazendo consigo o perfume das flores silvestres.
Enquanto avançava, eu estava conectado à natureza, admirando cada detalhe ao meu redor. Parei brevemente para apreciar uma cascata cristalina que se precipitava sobre rochas cobertas de musgo.
— Que lugar incrível... — murmurou ele para si mesmo, maravilhado com a serenidade do ambiente.
Ao longo do dia, encontrei uma vegetação exuberante, repleta de formas e cores que pareciam sair de um quadro. Flores silvestres em tons vibrantes salpicavam o verde das folhagens, enquanto borboletas dançavam graciosamente entre as plantas.
“Caminhando, notei uma peculiaridade nas árvores ao redor.”
— Essas árvores são diferentes... O tronco delas é negro como a noite, mas suas folhas têm um tom azul cintilante. É como se estivessem iluminadas mesmo durante o dia — comentou ele consigo mesmo, fascinado pela singularidade da flora local.
À medida que o sol começava a se pôr no horizonte, pintando o céu com tons dourados, encontrei um lugar ideal para acampar, junto a um pequeno riacho de águas cristalinas. Enquanto preparava minha refeição, continuei a refletir sobre a jornada e o desafio que estava por vir.
— Este é apenas o começo... Amanhã, adentrarei o Vale de Thuda. Espero que o Fruto do Amanhecer esteja à altura de toda essa beleza e mistério — ponderou ele, sentindo-se grato pela oportunidade de explorar um lugar tão especial.
Com esses pensamentos, ele adormeceu sob o brilho suave das estrelas, envolto pela paz e pela energia revitalizante da natureza ao seu redor.
Amanheceu, abri os olhos lentamente, despertando para um dia que prometia ser desafiador. No entanto, não estava preparado para a presença das travessas criaturas chamadas Nefim. Essas pequenas criaturas, semelhantes a gnomos, eram conhecidas por sua travessura e habitavam as florestas exuberantes. Cobertos por uma casca de árvore marrom, com olhos verdes brilhantes e cabelos que lembravam grama, alguns deles calvos e todos barrigudinhos, os Nefim eram mestres em se camuflar entre as árvores e arbustos.
À medida que eu acordava lentamente, sem perceber que havia entrado no território dessas criaturas, me vi de repente envolto por várias raízes de árvores que os Nefim habilmente usaram para me prender. Antes que pudesse compreender o que estava acontecendo, fui suspenso no ar e pendurado em uma árvore próxima.
“O que está acontecendo aqui?” murmurou Kaito, confuso e surpreso ao ver as travessuras das criaturas.
Os Nefim, por sua vez, não pareciam ter pressa em explicar. Eles riam entre si, divertindo-se com a situação.
— Olha só o que pegamos desta vez! Um humano bobo se aventurando em nosso território — zombou um dos Nefim, enquanto os outros riam alto.
HAHAHAHAHAHAAHAHAHA.........
Tentei se soltar, lutando contra as raízes que me mantinha preso. Com um esforço concentrado, eu conseguiu libertar um braço e depois o outro, finalmente se desvencilhando das amarras improvisadas.
— Vocês vão pagar por isso! — exclamou ele, irritado com a situação. Ele correu na direção das criaturas, que rapidamente se dispersaram entre as árvores, desaparecendo na vegetação densa.
— Voltem aqui, seus pestinhas! Não vão escapar tão facilmente! — Kaito gritou, perseguindo os Nefim enquanto eles se esgueiravam habilmente pelos troncos e se escondiam nas folhagens.
Apesar de seu tamanho pequeno, os Nefim eram ágeis e astutos, tornando a perseguição uma verdadeira corrida de obstáculos através da floresta. Kaito não estava disposto a desistir, determinado a capturar pelo menos um deles como prova de sua travessura.
Percebi que, além dos desafios naturais da jornada, agora tinha encontrado inesperadamente uma dose extra de diversão e adrenalina graças às travessuras dos Nefim.
Os Nefim, travessos como sempre, começaram a atirar frutas em Kaito enquanto ele os perseguia pela floresta.
— Ora, ora! Parece que vocês querem brincar de atirar frutas agora? — exclamou Kaito, esquivando-se de uma maçã verde que passou zunindo perto de sua cabeça.
Os Nefim riam entre si, balançando suas cabeças, desafiando-o enquanto continuavam a zombar e atirar frutas em sua direção.
— Que humano lento, parece uma lesma! Hahahaha...
— Vocês são rápidos, pequenos diabretes! Mas vou pegar vocês! — gritou ele, correndo por entre as árvores enquanto as frutas continuavam a voar ao seu redor.
Precisaria de um plano para capturar um dos Nefim. Parei por um momento para recuperar o fôlego, observei as árvores ao meu redor, tentando pensar em uma estratégia para capturar uma das criaturas travessas.
“Se eu pudesse apenas antecipar o próximo movimento deles…”
Os Nefim continuavam a zombar e a jogar frutas, suas risadas ecoando pela floresta enquanto se moviam com agilidade entre os galhos e folhas.
— Vocês são bons nisso, mas acho que posso ser ainda melhor — disse ele em voz alta, sorrindo enquanto começava a formular seu plano.
Peguei um punhado de pequenas pedras e frutas caídas ao redor, preparando-me para atrair os Nefim para uma armadilha improvisada.
— Vamos ver quem vai rir por último! — murmurou Kaito, determinado a capturar um deles.
Lá estava eu, nos arredores da floresta, enfrentando as travessuras dos Nefim. Determinado a capturar um dos pequenos seres para me ajudar, improvisei uma armadilha usando galhos e folhas próximos. Observava atentamente os movimentos rápidos e ágeis das pequenas criaturas, esperando pelo momento certo.
Um dos Nefim, curioso e despreocupado, aproximou-se de um ramo baixo para pegar uma fruta, e eu agi rapidamente. Com um movimento preciso, puxei suavemente o Nefim para dentro da armadilha, prendendo-o sem machucá-lo.
"Gotcha!" — exclamou ele com um sorriso, enquanto segurava-o pelo cabelo.
O pequeno ser se debateu inicialmente, surpreso e assustado, mas fui gentil para não assustá-lo ainda mais.
— O que você vai fazer comigo? — perguntou o Nefim, olhando com olhos grandes e curiosos.
— Calma, não vou te machucar — respondeu Kaito, mantendo sua voz suave e tranquilizadora.
— Eu preciso da sua ajuda. Se você me mostrar o caminho onde posso encontrar o Fruto do Amanhecer, eu prometo te soltar em segurança.
O Nefim ainda estava um pouco nervoso, mas, vendo que eu não representava ameaça imediata, concordou em ajudar.
— Está bem, eu te mostro — disse o Nefim, resignado.
— Mas você tem que prometer que vai me deixar ir depois.
— Eu prometo — assegurou Kaito, decidido a cumprir sua palavra.
Com a colaboração relutante da criatura, eu fui guiado pelas trilhas ocultas e passagens secretas. O Nefim, com sua habilidade natural de se movimentar, passou pelos caminhos mais difíceis, apontando para uma trilha estreita que se afastava do caminho principal.
— Por aqui! — chamou ele. — É por aqui que você vai encontrar o Fruto do Amanhecer.
— Mas tenha cuidado, nós nunca ultrapassamos além disso, há muitos perigos adiante — disse o Nefim, visivelmente preocupado.
Eu agradeci à pobre criatura e, cumprindo minha promessa, soltei-o suavemente no chão. Ele olhou para mim por um momento, seus olhos verdes brilhando com gratidão e talvez um pouco de surpresa.
— Sou um homem de palavra. Já que vocês me ajudaram.
— Obrigado por me deixar ir — disse o Nefim antes de desaparecer nas sombras da floresta.
Ao sair da trilha estreita, fiquei horrorizado ao deparar-me com uma cena absurda diante dos meus olhos. A vastidão do Vale de Thuda se estendia diante da imensidão, revelando segredos que o velho não mencionou.
Olhei ao meu redor, meus olhos percorrendo as paisagens deslumbrantes e assustadoras que se estendiam além do horizonte distante.
— Eu já suspeitava que aquele velho malandro estava escondendo algo, mas não tem problema. Vou mostrar a ele que não sou qualquer um.