Volume 1

Capítulo 7: O Penhasco das Maravilhas (2)

 

 

— Ufa! Ainda bem que o primeiro teste ja foi agora tenho que pegar aquele cristal.

Estava determinado a completar o desafio, mas o destino tinha outros planos. À medida que me aproximava do penhasco íngreme, nuvens escuras começaram a se aglomerar no céu. A tempestade se aproximava rapidamente, trazendo consigo um vento feroz que cortava a pele como lâminas afiadas.

— Caramba! Olha lá aquele penhasco! Que gigante! Parece que vai além dos céus.

Ao chegar à base, comecei a escalada com cada movimento meticulosamente calculado. O suor escorria pelo meu rosto enquanto subia, minhas mãos e pés encontrando apoio nas rochas ásperas.

Enquanto subia pelo penhasco, uma serpente repentinamente saltou de uma fenda próxima, sua pele escamosa brilhando ao sol. Seus olhos fixos emanavam um veneno mortal. Com reflexos afiados, saquei a espada, pronto para o confronto.

— Uma serpente! — exclamou Kaito, mantendo sua guarda.

A serpente silvava, sua língua bifurcada provando o ar em busca do cheiro de sua presa.

— Você não vai me pegar tão facilmente! 

— Logo agora essa maldita! Aparece? Se eu não me apoiar direito, posso cair. Ainda bem que ela apareceu nessa base. Dá para atacar. Se fosse quando eu estava pendurado, estaria ferrado.

A serpente avançou rapidamente, sua boca se abrindo para revelar presas afiadas. Desviei habilmente de seus ataques, procurando uma abertura para contra-atacar.

— Você é rápida, mas não rápida o suficiente! — disse Kaito, concentrado em seus movimentos.

Com um golpe preciso, consegui cortar a cauda da serpente, fazendo-a recuar com um sibilo de dor.

A serpente, enfraquecida, deslizou para trás. Com um último olhar penetrante, ela se afastou, desaparecendo nas fendas rochosas do penhasco.

— É melhor você correr! — exclamou Kaito, observando a serpente se afastar.

 — Eu não serei tão misericordioso da próxima vez!

Com a ameaça afastada, retomei a escalada, ainda vigilante quanto a possíveis perigos que pudessem surgir no caminho. A tempestade estava começando a atrapalhar e poderia piorar. Eu precisava ser rápido.

— Ufa! Consegui chegar no topo, mas cadê a tempestade? Só vejo nuvens normais — exclamou ele, surpreso ao alcançar o topo do penhasco.

Olhei atentamente e só via o sol brilhando forte, sem conseguir ver o que havia embaixo das nuvens que rodeavam o penhasco. 

Fiquei surpreso ao testemunhar com meus próprios olhos uma beleza intensa: no topo do penhasco, uma vasta floresta se estendia. Mal podia acreditar quando vi isso. Percebi que poucas pessoas devem ter subido até aqui, ou talvez eu seja o primeiro.

— Caraca, que coisa absurda! Nem imaginei algo assim, mas chega de enrolação, tenho que entrar logo nela.

Adentrei na floresta e senti uma atmosfera surreal, onde o verde exuberante das árvores se entrelaçava formando um dossel que filtrava a luz do sol, criando padrões de sombras dançantes sobre o chão coberto de folhas e musgos. 

O ar estava impregnado com o aroma fresco de plantas e a terra úmida. Cada passo que eu dava ecoava suavemente, como se a própria floresta estivesse sussurrando segredos milenares.

Ao avançar mais, deparei-me com um lago enorme que brilhava com uma luz azul intensa. Cheguei mais perto e pude ver no fundo do lago o tal cristal raro.

— Incrível... Este deve ser o cristal que procuramos. Preciso mergulhar e pegá-lo — disse em voz baixa, avaliando a profundidade do lago com cautela.

Antes de entrar para pegar o cristal, devo usar a Magia da Respiração Aquática. Embora ela seja limitada, vai ser o suficiente até que eu consiga alcançar o cristal.

 Entrei na água e segui mais fundo, sentindo o frescor do lago envolver meu corpo. A luz azul do cristal no fundo criava reflexos hipnotizantes na superfície.

— Cuidado, não sabemos o que mais pode estar escondido lá embaixo — sussurrei para mim mesmo.

A medida que mergulhava mais fundo, percebia a pressão aumentando e a visibilidade diminuindo. Sombras se moviam ao redor, criando uma sensação de inquietação.

— Aqui está mais escuro do que eu esperava. Onde diabos está esse cristal? — murmurou ele, buscando na penumbra.

De repente, avistei um brilho intenso entre as rochas. Com um último impulso, estiquei a mão e agarrei o cristal, sentindo sua textura suave e fria.

— Consegui! Agora, sair daqui antes que algo mais apareça!

À medida que envolvia o cristal em minhas mãos, um leve tremor percorreu meu corpo. O lago, antes tranquilo, começou a agitar-se enquanto eu lutava para subir à superfície. Bolhas subiam rapidamente ao meu redor, distorcendo a luz azul que ainda brilhava suavemente.

— Droga, algo está acontecendo! Preciso sair daqui rápido! — gritei para mim mesmo, lutando contra a correnteza que parecia se intensificar.

Consegui emergir, ofegante e com o coração disparado. Olhei ao redor, buscando qualquer sinal de perigo iminente. A floresta ao redor parecia ainda mais densa e sombria, como se estivesse observando.

— Este lugar é mesmo cheio de surpresas. Melhor eu não ficar por aqui muito tempo — disse ele, enquanto guardava cuidadosamente o cristal em um compartimento seguro.

— Está na hora de voltar, estou quase sem tempo.

Com o cristal em mãos, comecei a descida. A volta parecia ainda mais desafiadora. Eu sabia que precisava retornar antes do pôr do sol.

— Espero sinceramente que a serpente tenha de fato se retirado, mas se não, ela não vai escapar.

“Vamos lá, só mais um pouco.”

Enquanto descia, a tempestade se intensificou de maneira feroz. Raios cortavam o céu em ziguezagues brilhantes, e trovões estrondavam como o rugido de uma fera colossal. Senti as primeiras gotas de chuva baterem em meu rosto, mas em questão de segundos, uma torrente furiosa desabou do céu.

As rochas que eu usava como apoio ficaram traiçoeiramente escorregadias. Cada passo se transformava em uma luta desesperada contra a gravidade. As mãos, antes firmes, agora deslizavam nas superfícies molhadas, e meus pés vacilavam a cada nova tentativa de encontrar um ponto seguro.

— Droga! Essa chuva não podia esperar um pouco? — resmungou ele, tentando manter o foco.

A ventania uivava, sacudindo como se fosse uma folha ao vento. O cristal azul brilhava intensamente, um lembrete constante do que estava em jogo.

“Tenho que me apressar… Não posso falhar agora!”

Um trovão ensurdecedor ecoou, um som assustador de pedras se deslocando. Olhei para cima e vi uma série de rochas enormes se soltando do penhasco, caindo na minha direção.

— Cuidado! — gritou ele para si mesmo, instintivamente se jogando para o lado. As rochas caíram onde ele estava segundos antes, quebrando-se em pedaços menores que deslizaram em direção ao vale.

Consegui desviar de algumas rochas, mas a chuva e o vento tornavam tudo mais difícil. Em um momento de descuido, meu pé escorregou em uma pedra lisa, e perdi o equilíbrio, começando a cair descontroladamente.

— Não, não agora! — gritou, enquanto sentia seu corpo ser arremessado contra várias pedras. A dor explodiu em seus ombros, costas e pernas, mas ele sabia que uma queda brutal seria fatal.

Em um ato de desespero, puxei a espada e a cravei na primeira rocha que encontrei. A lâmina segurou por um momento, retardando minha queda. Aproveitei esse instante para me estabilizar e procurar outro ponto de apoio, enquanto mais pedras soltas caíam ao meu redor, ameaçando me derrubar novamente.

— Aguenta firme, espada! — murmurou, cravando a lâmina em outra rocha. Com um esforço tremendo, conseguiu desacelerar sua descida, cravando a espada repetidamente em pontos estratégicos até chegar a uma saliência segura.

Finalmente, encontrei um apoio firme e consegui parar a queda. Respirava com dificuldade, sentindo meu corpo todo doendo, mas estava vivo. Abaixo, o penhasco parecia um abismo sem fim.

— Isso foi por pouco... — disse para si mesmo, tentando recuperar o fôlego.

Com cuidado, continuei a descida, cada movimento sendo calculado e meticuloso. Quando finalmente alcancei a base do penhasco, exausto mas triunfante, o sol ainda estava visível no horizonte, uma promessa de que havia vencido mais um desafio.

— Embora eu não tenha encontrado a morte lá em cima, parece que meu sangue quer sair todo pela boca com uma urgência impressionante. 

Rapidamente lancei uma magia de contenção para conter o sangramento interno. Concentrei a energia, sentindo-a fluir por todo o meu corpo. Com mãos trêmulas, posicionei sobre o ferimento, focando na área afetada. Fechei os olhos e respirei profundamente, visualizando uma aura brilhante envolvendo a lesão. Com determinação firme, canalizei a magia, sentindo-a se manifestar como um calor reconfortante que irradiava das minhas palmas.

A aura luminosa começou a envolver o ferimento, formando uma espécie de barreira protetora. Imaginei essa barreira agindo como uma compressa mágica, aplicando uma pressão suave para conter o fluxo de sangue. Concentrei-me na sensação de cura, canalizando a magia para estancar o sangramento interno e promover a cicatrização dos tecidos danificados.

À medida que continuava a canalizar a magia, a aura ao redor do ferimento se intensificava, brilhando com uma luminosidade suave. Senti uma sensação de alívio ao perceber que o sangramento estava diminuindo, e a pressão em meu peito começou a se dissipar lentamente. Mantive minha concentração, permitindo que a magia trabalhasse seu efeito de cura até que o ferimento estivesse completamente estabilizado.

— Preciso ter mais cuidado. O que usei não é uma cura real, é apenas superficial. Não posso usá-lo a todo momento, é só em último caso.

— Mas isso resolve o problema até eu conseguir tomar uma poção de cura. A minha acabou, hahah... agora que lembrei como sou imprudente.

— Consegui... Eu realmente consegui! Agora é hora de ir antes que o dia acabe.

Eu sabia que tinha enfrentado e superado um desafio monumental. Agora, estava pronto para qualquer coisa que Khalak e os exploradores pudessem lançar em meu caminho.

Quando o sol estava prestes a desaparecer no horizonte, vários exploradores conseguiram chegar ao ponto de encontro. No entanto, nem todos conseguiram. Muitos haviam caído, vítimas das armadilhas naturais e dos animais selvagens.

Khalak estava lá, aguardando os sobreviventes com um olhar sério, mas respeitoso. Ele observava atentamente cada explorador que chegava, marcando mentalmente aqueles que haviam demonstrado verdadeira coragem e habilidades.

— Bem-vindos, sobreviventes — começou Khalak, sua voz firme ecoando entre os presentes. — Hoje, vocês enfrentaram perigos inimagináveis e superaram obstáculos que testaram não apenas suas habilidades físicas, mas também suas mentes e espíritos. Cada um de vocês que está aqui agora, provou seu valor de maneiras que vão além do que podemos medir.

Os exploradores restantes, exaustos e feridos, ergueram a cabeça, sentindo um orgulho e alívio.

— Aos que não estão aqui, devemos nosso respeito e honra. Eles também deram tudo de si, e suas memórias serão lembradas por nós. A coragem que demonstraram é um lembrete do quão perigosa nossa missão realmente é.

Khalak então voltou seu olhar para Kaito, que estava entre os que haviam completado a jornada. Ele caminhou até ele, seu semblante suavizando um pouco.

— Sua determinação e coragem foram excepcionais. Não foi apenas sua força que o trouxe até aqui, mas também sua inteligência e resiliência. Você superou desafios que poucos teriam conseguido.

Ainda ofegante e com dores pelo corpo, tentei esboçar um sorriso. Sentia o peso das palavras de Khalak e a responsabilidade que vinha com elas.

— Obrigado, Khalak. Fiz o melhor que pude — respondeu Kaito, sua voz carregada de cansaço, mas também de orgulho.

Khalak colocou a mão no meu ombro, com um gesto de reconhecimento e respeito.

— E foi mais do que suficiente. Parabéns, Kaito. Você provou que é um verdadeiro explorador. Agora, vamos todos descansar e nos preparar para o que vem a seguir. Nossa jornada está apenas começando.

Os sobreviventes se reuniram, compartilhando suas histórias e curando suas feridas. O sentimento de camaradagem crescia entre eles, uma força invisível que os uniria nas futuras aventuras que estavam por vir. E assim, sob o manto do crepúsculo, eles se prepararam para enfrentar o próximo desafio, mais fortes e determinados do que nunca.

 

 


 



Comentários