Volume 1

Capítulo 6: Contra o Tempo e o Destino (1)

 

 

Enquanto avançava pela floresta exausto, cada passo era uma batalha, cada respiração uma vitória. Mas sabia que precisava encontrar um refúgio, um lugar para descansar e recuperar as energias.

“Parece que estou no fim da linha. Um rio seria um verdadeiro alívio agora, não só para limpar esses ferimentos, mas também para conseguir algum alimento.”

As lembranças da batalha recente ainda ecoavam na minha mente: cada golpe, cada esquiva, cada momento de desespero. Por um instante, senti o peso da fadiga ameaçar dominar-me, mas resisti.

— Aquela luta quase me levou para o outro lado. 

— Mas parece que a tempestade está finalmente se acalmando. Que alívio, haha.

Como se respondendo a um chamado silencioso, meus olhos pousaram sobre a corrente serena de um rio à minha frente.

— Olha só, um rio! Um verdadeiro presente dos céus. 

 Sem hesitar, fui às margens, ansioso para me banhar nas águas cristalinas que refletiam os raios do sol.

A sensação da água fresca acariciando minha pele, a música suave da correnteza acalmando a mente agitada. Voltei minha atenção para as riquezas que o rio tinha a oferecer.

— Incrível, que água revigorante. Não consegui resistir a um mergulho. E parece que há peixes aos montes por aqui. Que cena reconfortante. Claro, pegar alguns não será fácil, mas como dizem, estômago vazio não tem considerações. Hora de acender uma fogueira e preparar os peixes.

ROAOROAORAOR!.........

— Parece que a fome está me atacando mesmo, minha barriga não para de roncar.

“Sabe que hora é essa? É hora de saborear esses peixes.”

— Estou tão cheio que, se uma criatura me atacar agora, eu nem hesitaria, hahaha! Claro que estou brincando — disse ele, permitindo-se um momento de humor diante da situação.

Após o banquete improvisado, fiquei revigorado e pronto para enfrentar os desafios que estavam à minha espera além da floresta. Com passos firmes e determinados, segui adiante.

Algumas horas se passaram e avistei um vilarejo aninhado entre as árvores, como um refúgio acolhedor no coração da natureza.

— Uau, que sorte encontrar um lugar para passar a noite.

— Que nome curioso — comentou ele, enquanto lia a placa de identificação.

“Vilarejo Dandara”

— Olha só aquela agitação lá na frente! Vou perguntar o que tá rolando.

— Ei, senhor, o que está acontecendo ali? — perguntou Kaito, intrigado.

— Você não é daqui, né? Nunca te vi por essas bandas — respondeu o homem, olhando Kaito de cima a baixo.

— Não, sou só um aventureiro que resolveu explorar o mundo…

— Ah, tá explicado. Aquele grupo ali na frente é de exploradores. Estão recrutando gente para uma  grande expedição.

 — Expedição? — indagou Kaito, arqueando uma sobrancelha enquanto observava o grupo de exploradores à frente.

— Sim, uma expedição.  — respondeu um dos aldeões, com um brilho de fascínio nos olhos.

— O que eles estão procurando? — questionou Kaito, curioso com a atividade frenética que se desenrolava diante de seus olhos.

— Coisas raras, ingredientes exóticos, criaturas místicas. Em poucas palavras, são caçadores de relíquias, exploradores destemidos em busca de tudo o que possui valor e segredos ocultos nas entranhas da terra — explicou o aldeão, com um tom de admiração na voz.

 Absorvi as palavras com interesse, imaginando as aventuras e perigos que poderia vivenciar.

— Uau, isso parece interessante. Talvez eu devesse me juntar a eles.

— Com certeza, jovem. Eles são muito experientes e habilidosos, já que os lugares que exploram são extremamente perigosos.

— Parece uma oportunidade única — disse Kaito, com os olhos brilhando de excitação. 

— Como posso me juntar a eles?

— Você precisa falar com o líder do grupo, ali naquela tenda — explicou o aldeão, apontando.

 — Ele se chama Khalak. É um homem justo, mas exigente. Se você mostrar que tem coragem e habilidades, ele te aceitará.

Agradeci ao homem pela informação e fui até a tenda indicada, onde várias pessoas se aglomeravam, algumas ansiosas, outras apreensivas. Ao chegar perto, ouvi uma voz firme dando ordens.

— Precisamos de pessoas que saibam se cuidar em situações extremas. Se você não tem experiência, melhor nem tentar — dizia Khalak, um homem alto e robusto, com uma expressão séria.

— Com licença, eu sou Kaito. Sou aventureiro e gostaria de me juntar ao seu grupo — disse ele, tentando soar confiante.

— E o que você tem a oferecer? Já enfrentou perigos reais antes? — perguntou Khalak, cruzando os braços enquanto o avaliava de cima a baixo.

— Sim, já estive em várias situações complicadas. Sou bom com uma espada e sei me virar em ambientes hostis — respondeu Kaito, com confiança.

— Vamos ver do que você é capaz. Amanhã ao amanhecer, faremos um teste. Se passar, pode se juntar a nós. Se falhar ... bem, pelo menos tentou — disse Khalak, com um leve sorriso no rosto.

— Entendido. Não vou decepcionar.

Passei o resto da noite me preparando mentalmente para o teste. Sabia que essa era uma chance de provar meu valor e talvez encontrar respostas para as perguntas. 

Enquanto descansava, percebi que estava ficando sem dinheiro e que teria que fazer alguns trabalhos para me sustentar.

— Que merda, hein! Minhas reservas já eram. Perdi um pouco durante meus confrontos. Se ao menos pudesse aprimorar aquela magia — disse ele, visivelmente preocupado, enquanto olhava para o teto.

— Depois me preocupo com isso. Tenho preocupações maiores, inclusive o teste.

Quando o sol finalmente começou a nascer, já estava de pé, pronto para o que viesse. Cheguei ao ponto de encontro, onde Khalak e os outros exploradores estavam reunidos.

— Só vai entrar no grupo quem passar nos testes — anunciou Khalak, sua voz firme ecoando pelo espaço. — Aguardo todos até o final. Boa sorte!.

— Pronto para o teste? — perguntou Khalak, com um olhar desafiador.

— Sempre pronto — respondeu Kaito, confiante.

— Então vamos lá, pessoal. Que todos consigam dar o seu melhor!

Seguimos para a floresta próxima, onde Khalak explicou a primeira prova: meu teste era duplo. Primeiro, atravessar um trecho perigoso, cheio de armadilhas naturais e animais selvagens, e chegar ao outro lado antes do pôr do sol. Depois, escalar um penhasco íngreme, coletar um raro cristal azul no topo e retornar com ele.

— Boa sorte — disse Khalak, antes de partir com os outros exploradores, deixando Kaito para enfrentar o desafio sozinho.

Cada um dos candidatos recebeu uma tarefa diferente, adaptada para testar suas habilidades e coragem.

Entrei na floresta com determinação, cada fibra do meu corpo preparada para enfrentar os desafios à frente. Avancei cuidadosamente, atento a cada detalhe ao meu redor. A densa vegetação dificultava minha visão, e o terreno irregular tornava cada passo uma possível armadilha.

De repente, ouvi um estalo sob os pés. Antes que pudesse reagir, um laço de corda apertou em torno do meu tornozelo, puxando-o para o ar. Fiquei pendurado de cabeça para baixo, balançando suavemente.

— Droga! — exclamou Kaito, balançando-se para tentar se soltar.

Nesse momento, me vi em uma enrascada, pois observei atentamente que outra corda estava prestes a se soltar e uma enxurrada de lanças voaria em minha direção. Para me soltar, eu tinha que alcançar a lâmina em meu cinto.

 Com um movimento preciso, consegui pegá-la, mas tudo aconteceu tão rápido que, no momento exato em que cortei a corda, as lanças se soltaram e vieram em minha direção com toda velocidade. Por sorte, caí antes e uma passou entre meus braços, caindo no chão.

— Uma armadilha logo de cara... preciso ser mais cuidadoso — murmurou ele, levantando-se e esfregando o tornozelo dolorido.

— Foi por pouco, hein? Hahaha. Eu percebi que aquelas lanças tinham veneno.

Continuando o caminho, encontrei um rio de águas rápidas. A correnteza era forte, e as pedras pareciam escorregadias, o que poderia tornar a travessia perigosa. Sabia que teria que ser rápido e ágil. Escolhi um ponto onde as pedras pareciam mais estáveis, pulando de uma para outra, equilibrando-me com destreza.

No meio da travessia, uma das pedras cedeu sob meu peso. Quase caí na água, mas consegui me agarrar a outra próxima. O que eu não esperava era que aquele rio abrigava peixes ferozes, com dentes afiados. Eles habitavam rios assim e eram muito fortes; na maioria das vezes, saltavam e atacavam quem passasse por ali.

— Puta merda! Vou ter que atravessar com esses peixes. Khalak me deu o teste mais difícil, aposto. Ainda bem que o livro da minha avó tinha informações importantes, mas creio que não tem tudo.

Após ter me equilibrado de volta, tive que me concentrar. O rio era barulhento e os peixes podiam pular de qualquer direção. Segui em frente, bem atento, e quando o peixe pulava, eu o cortava ao meio. Seu sangue fedia muito, mas assim consegui atravessar.

— Ainda bem que consegui. Olha lá, um monte deles apareceu. Se eu estivesse lá ainda, estaria ferrado  — disse ele, enquanto observava um monte de peixes pulando nas pedras por causa do sangue.

Depois de atravessar o rio, entrei em uma área onde o ar estava pesado com o cheiro de decomposição. Ao investigar, encontrei o corpo de um animal grande, parcialmente devorado. Ao lado dele, pegadas enormes indicavam a presença de uma criatura perigosa nas proximidades. Segui adiante com ainda mais cautela.

— O que será que vem agora? Esse lugar não me parece muito agradável. O chão está coberto por um líquido viscoso, cheio de larvas e decomposição.

De repente, um rugido ecoou pela floresta. No exato momento, virei a tempo de ver uma besta enorme, com presas afiadas e olhos famintos, avançando em minha direção. Não tive tempo para pensar; saquei a espada e me preparei para o combate.

A criatura avançou com uma velocidade surpreendente, suas garras veio em minha direção. Consegui desviar por pouco, rolei para o lado e me levantei rapidamente. Pulei em cima de uma árvore, mas ela acabou derrubando. Ao cair no chão, a criatura lançou seu chifre em minha direção. Tive apenas tempo suficiente para acertá-lo com a espada antes que me atingisse. Em seguida, ela me deu uma cabeçada, lançando-me entre as pedras. A criatura não parou e veio novamente com tudo. Rolei para o lado e ela acertou a pedra.

— Eita, caramba! Ainda bem que ela tinha lançado aquele chifre antes de me dar uma cabeçada —  disse ele, observando a criatura se preparar novamente.

Ela veio correndo na minha direção e eu corri até uma árvore próxima. Subi nela e dei um salto mortal. A criatura acertou a árvore enquanto eu cravei a espada em suas costas. Fui lançado para cima e repeti o mesmo golpe, mas desta vez ela me arremessou para o lado enquanto gritava de dor. Era uma questão de quem aguentaria mais a dor, eu ou ela.

— Vou ter que ir com tudo se quiser acabar com ela de uma vez — disse ele determinado.

Mas eu sabia que precisava acabar com a luta rapidamente. Com uma sequência de movimentos rápidos e precisos, consegui esquivar dos ataques da besta e desferir golpes certeiros. Finalmente, encontrei uma abertura e, com todas as minhas forças, cravei a espada no ponto vital da criatura.

O monstro soltou um último rugido agonizante antes de cair imóvel no chão. Eu respirava pesadamente, suado e exausto, mas sentia a adrenalina correndo nas minhas veias.

— Merda! Todo esse sangue e fedor... foi tudo pra cima de mim. Que azar! — reclamou Kaito, tentando limpar o rosto e as roupas ensanguentadas.

— Consegui! — murmurou ele, retirando a espada do corpo da besta.

E finalmente avistei a clareira que marcava o fim do primeiro teste. Corri os últimos metros, sentindo uma onda de alívio ao emergir da floresta.

 

 

 


 



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