Volume 1

Capítulo 4: Olhos de Malícia (1)

 

— Ei, Thorian, já esteve nesse lugar oculto antes?

— Nunca pus os pés lá, mas ouvi histórias. Coisas estranhas acontecem por lá.

— Estranhas como o quê?

— Sussurros, sombras que dançam sob a luz da lua, dizem que aqueles que se aventuram por lá nunca mais voltam

— Uau, isso soa assustador e intrigante ao mesmo tempo.

— Assustador mesmo. Se for, vá com cuidado, Kaito. Nunca se sabe o que pode estar espreitando nas sombras.

— Certo, estou avisado. Mas a curiosidade é mais forte que o medo, sabe?

— Não sei se isso é uma coisa boa ou má. Só espero que saiba o que está fazendo.

— Acho que só o tempo dirá. 

hahahahahah........

— Agradeço o aviso, Thorian.. Um dia a gente se vê em algum lugar qualquer, ou até mesmo em um paraíso, se é que existe um, hahaha.

— Garoto! Cuidado para não morrer, este mundo é cruel. Seja sempre forte, independente da situação.

— Opa, é claro. Aprendi muito com você. Isso será algo que vou levar para o resto da minha vida. Não sou a mesma pessoa de antes, eu mudei.

— Sim, com certeza. Sempre tem chances de mudar pra algo novo e melhor, e nessa jornada, você vai sacar o que tô falando.

— Bem, acho que você está certo. — disse ele, olhando para Thorian e os outros membros do grupo.

— A vida parece ser um labirinto sem fim de mistérios esperando para serem desvendados. — Thorian deu um suspiro, como se estivesse contemplando não apenas as montanhas à sua frente, mas também os enigmas que a vida tinha reservado para o jovem.

— Espero que nos encontremos novamente algum dia.  — disse Elara, com um aceno.

— Vou sentir falta de vocês, com certeza. — murmurou Kaito, com um nó na garganta.

— Boa sorte aí, Kaito. E lembre-se, se precisar de uma mão amiga, pode contar comigo.  — disse Astrid, com um aceno gentil.

— Obrigado, pessoal. Vou seguir em frente, mas levarei cada momento vivido aqui comigo. Até mais! —  despediu-se ele, com um sorriso de gratidão no rosto, antes de se afastar em direção ao horizonte.

“Próxima parada: Glimmerwind. Só espera que estou quase chegando! — murmurou ele consigo mesmo enquanto avançava pela estrada empoeirada.”

Enquanto seguia pela estrada rumo a Glimmerwind, de repente avistei um santuário perdido na densa floresta que cercava meu caminho.

— Oxi, o que um santuário está fazendo no meio do nada? Parece estar abandonado, como sou lesado. Até parece que alguém vem aqui, lugar sinistro do caramba — além disso não consigo passar está  fechado.

— Talvez haja uma pista sobre como abrir os portões. Como eu não percebi tá na minha cara.

— O que diz a mensagem?

"Aqueles que desejam passar além deste santuário deverão derramar seu próprio sangue. Somente assim poderão ultrapassar os portões. A partir desse momento, esqueça tudo o que você já foi. Abandone seu passado e torne-se uma nova pessoa."

— Só vou passar se eu derramar meu sangue, nossa senhora, mas vamos lá, isso não é nada — disse Kaito, instigado.

As palavras entalhadas no arco de entrada ecoavam em minha mente: “Apenas com o sacrifício de sangue os portões se abrirão.” Com um nó na garganta, olhei para minhas próprias mãos, percebendo a terrível escolha diante de mim.

Respirei profundamente e fechei os olhos, a lâmina fria da faca contra a pele. Um corte rápido, mas profundo, e o sangue começou a fluir, pingando no chão empoeirado. Cada gota que caía parecia ecoar pelo ambiente, carregada com o peso da decisão que estava tomando.

Houve um momento de hesitação, um instante de silêncio, e então o solo começou a vibrar sob meus pés. O símbolo mágico inscrito no chão começou a brilhar com uma intensidade sobrenatural, suas linhas entrelaçadas ganhando vida com o calor do sangue recém-derramado.

Com um rangido grave, os portões se moveram lentamente, como se despertassem de um sono profundo. O som metálico ecoou pela paisagem desolada, anunciando a abertura dos portões. Observei com uma mistura de temor enquanto os portões se afastavam, revelando o que estava além deles. Sabia que havia feito o que era necessário, mas o custo da decisão ainda pesava em minha mente.

— A partir desses portões, eu prometo que me tornarei uma nova pessoa.  

APÓS ESSA FALA, OS PORTÕES SE FECHARAM, COMO SE ESTIVESSEM ESCUTANDO O QUE EU TINHA ACABADO DE DIZER.......

Um tempo depois de provar meu valor e me afastar do santuário, fiquei perdido. Sem saber para onde ir, olhei ao redor em busca de algum sinal de orientação.

Foi então que um corvo estranho, com uma aparência bizarra e penetrantes olhos negros, pousou diante de mim. Ele me encarava com um ar de malícia.

— Está perdido, humano? 

Confuso e inseguro, olhei para todos os lados, incapaz de discernir de onde vinha a voz, começando a questionar minha própria sanidade.

— Que voz é essa? Será que estou ficando louco?

“será que foi aquele corvo ali parado na minha frente?”

— Que humano burro! Está doido da cabeça? Claro que falei! Tem mais alguém aqui além de mim e você? — respondeu o corvo com um tom de deboche.

— Então foi você que falou, hahaha. Preciso chegar em Glimmerwind, mas não sei se este é o caminho.

— Se quiser, posso te guiar ate seu destino! Já ajudei muitos aventureiros, hahaha.

— Não sei se devo confiar, mas estou perdido nesse momento.

Percebi que não tinha muita escolha e decidi seguir o corvo, ainda desconfiado de suas intenções.

— Olha, se estiver me enganando, vai se ver comigo!. — advertiu Kaito, endurecendo o olhar.

hohohohohohoho!.........

“Não se preocupe, humano. Esta será sua última viagem” — pensou o corvo, enquanto guiava Kaito por um caminho perturbador através da floresta.

“Uma vila abandonada no meio do nada? Devo ficar alerta, isso está estranho.”

— Ei! Passarinho, que lugar é esse?

— Passarinho?! Tá me tirando, seu humano?

— Hahaha, calma aí.

— Esse é o caminho, relaxa. Você vai chegar ao destino. 

— Esse local é uma vila abandonada. Temos que passar por ela se quisermos chegar em Glimmerwind.

— Sei, assim espero mesmo.

“Só que o seu destino será outro, hahaha.”

Apesar da aparência tranquila da vila, a presença do corvo estranho continuava a perturbar-me. Não conseguia tirar da cabeça as palavras sinistras e ameaçadoras do pássaro, e uma sensação de inquietação se instalou em meu peito.

— Cadê o corvo? Pra onde ele foi? Aquele desgraçado estava me enganando. — disse ele enquanto olhava ao redor tentando encontrar o pássaro.

Enquanto caminhava pela vila, percebi que estava sendo observado. Sussurros e olhares furtivos lançados na minha direção confirmaram minhas suspeitas: algo estava errado.

Foi então que o corvo reapareceu, pairando sobre minha cabeça com um olhar maligno e um sorriso sinistro.

 HOHOHOHOHO!..........................

— Parece que você chegou ao seu destino. Mas acha mesmo que está seguro aqui? — provocou o corvo, suas palavras carregadas de malícia.

— Sai de cima da minha cabeça, seu verme maldito! — falou Kaito enquanto sacudia os braços para afastar o corvo.

Antes que eu pudesse reagir, uma emboscada foi desencadeada. Figuras emergiram das névoas e me cercaram por todos os lados.

— Hahaha, parece que a surpresa chegou mais cedo do que o esperado. 

— Os jogos acabaram de ficar ainda mais interessantes.

— Vocês realmente acham que podem me enfrentar? — Eu diria que estão prestes a cometer um erro terrível.

Um dos bandidos, com uma cicatriz sinistra no rosto, deu um passo à frente e apontou uma lâmina afiada na minha direção.

— Parece que você pisou no nosso território, moleque! Agora vai ter que pagar com a própria vida.

Com uma postura firme, sabia que não tinha escolha a não ser matar aqueles bandidos se quisesse continuar.

— Não tenho tempo pra conversinha fiada. Saiam do meu caminho ou vão se arrepender! — respondeu Kaito, com sua voz elevada e um brilho desafiador nos olhos.

HAHAHAHAHA!..................

— Ta se achando muito maldito! — exclamou um dos bandidos com raiva, avançando com sua espada.

Com uma velocidade impressionante, desembainhei a espada e decapitei o bandido num movimento certeiro, sua cabeça rolando ao chão enquanto o sangue jorrava em câmera lenta.

— Olha só, eu avisei que não tinha tempo — disse ele, com uma expressão de raiva.

— Hahaha, quem se achava era ele — observou enquanto, jogava a cabeça no chão.

— Que magnífico esse moleque. Queria aproveitar dele, mas pelo visto não vai dar, alguém vai gostar muito de saber disso! — indagou o corvo, com um tom sinistro.

Enquanto a cena se desenrolava, o corvo permanecia observando atentamente, seus olhos penetrantes fixados em tudo. Sua expressão, por trás da penugem escura, era de malícia pura, como se estivesse se deleitando com a situação. As asas negras do pássaro permaneciam semiabertas, estava pronta para voar a qualquer momento, mas ele optava por ficar ali, imóvel, como um espectador sinistro de um espetáculo macabro. Seu olhar parecia acompanhar cada movimento, como se estivesse à espera de algum desfecho sombrio para aquela própria emboscada.

— Esse maldito não vai conseguir sair com vida! Peguem-no!

Com um olhar firme e determinado, me preparei para o embate iminente. Sem hesitar, avancei, transformando meus punhos e pernas em armas letais.

Cada soco que desferia era como um relâmpago, cortando o ar com velocidade impressionante. Os bandidos, surpresos pela ferocidade dos ataques, tentavam revidar com suas armas, mas eu estava tão focado que desviava dos golpes com graça e precisão, meus movimentos fluíam como água.

O som de metal contra metal preenchia o ar, enquanto os bandidos tentavam encurralar contra as árvores. Com uma força inabalável,  contra-atacava com golpes rápidos e certeiros, derrubando os adversários um a um.

A batalha prosseguia, os golpes trocados ecoavam pela floresta como trovões distantes. O sangue manchava o solo, os ossos se quebravam sob o impacto dos golpes. Mas eu não fraquejava. Tornei-me um guerreiro implacável, determinado a vencer a qualquer custo.

Após uma troca intensa de golpes, emergi vitorioso, meus adversários todos derrotados e sangrando no chão. Limpei o sangue do rosto.

— Pô, já tá ficando escuro. Levei tanto tempo, lidando com aqueles bandidos que nem percebi a noite chegar — comentou ele, enquanto observava a escuridão se espalhando ao seu redor.

— EI! Corvo maldito, agora é sua vez!  — Kaito rosnou, com sua voz firme como um trovão.

— Idiota! Acha que consegue me vencer? — perguntou o corvo com desdém, antes de transformar em um bicho gigante das sombras.

O corvo, antes uma presença sinistra e intrusiva, agora se metamorfoseava diante dos meus olhos. Sua figura negra se contorceu e se distorceu, como se fosse uma sombra ganhando vida própria. A escuridão que o envolvia pareceu se solidificar, tomando forma e volume, até que se erguesse diante, como uma criatura dos pesadelos.

A transformação foi rápida e terrível. O corvo cresceu, expandindo-se em uma monstruosidade sombria que desafiava qualquer lógica ou explicação. Seu corpo assumiu proporções grotescas, uma amalgama de escuridão pura e sinistra. Olhos rubros brilhavam como brasas ardentes em meio às trevas, emitindo uma aura de malícia e perigo iminente.

As asas estendiam-se como sombras gigantes, envolvendo o ambiente ao redor em uma escuridão sufocante. Garras afiadas surgiram de suas extremidades, prontas para dilacerar qualquer oponente com sua crueldade impiedosa. Cada movimento era acompanhado por um arrepio na espinha e uma sensação de opressão, como se o próprio peso das trevas estivesse pressionando contra Kaito.

O corvo havia se transformado em uma manifestação viva do terror que habita as sombras, uma aberração que desafiava a compreensão e instigava o mais profundo medo em quem o encarasse.

— Que droga! Ele se transformou em um monstro gigante. Isso vai ser um problemão! — exclamou Kaito, percebendo a gravidade da situação.

“Porra! É um Guinomor mesmo! Minha avó falou dessa lenda quando me ensinava sobre criaturas da noite.”

— Cara, não fazia ideia de que existia essa criatura de verdade. Fui totalmente ingênuo. Isso é muito mais sério do que eu imaginava.

“Então quer dizer que tudo o que ela me disse era verdade! Tudo o que vi aqui é só o começo. Que bagaça.”

— O Guinomor é o menor dos meus problemas. Mas se eu encontrar aquela coisa, eu não sei o que vai acontecer — indagou Kaito com medo, sua voz ecoando pela escuridão como um sussurro temeroso.

 


 

 



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