Volume 1
Capítulo 3: Trilha de Sangue
Havia se passado uma eternidade de dias desde que comecei essa busca insana. Cada vila que surgia no meu caminho era como uma caixa de surpresas pronta para se abrir.
E sabe aquela sensação de esperar o pior, mas encontrar apenas maravilhas? Era exatamente isso que eu sentia.
As vilas por onde passei tinham sua própria atmosfera única, com crianças animadas pela presença de forasteiros. Foi então que percebi que esse mundo pode me proporcionar sensações muito profundas.
— Cara! Tô começando a me sentir perdido aqui, pensei que essa estrada levaria a algum lugar.
— O sol tá quase se pondo e eu tô há horas nessa caminhada sem rumo.
— Nenhuma vila à vista até agora. Tô começando a me preocupar. Acho que vou ter que me virar e encontrar um lugar qualquer para passar a noite. Só espero que seja seguro.
À medida que seguia por um caminho estranho, percebi que o clima mudou, tornando-se mais pesado. Foi então que, nesse momento, escutei gritos vindos de longe.
— Socorro! Alguém me ajuda!
Respirei fundo, tentando me acalmar, mas meus nervos estavam à flor da pele. Diante desse momento, qualquer pessoa na minha situação sentiria o mesmo.
“Que diabos foi esse grito?”
Meus instintos me diziam para seguir em frente em direção ao grito angustiante. A cada passo que eu dava, via rastros de sangue pelo chão, aumentando ainda mais minha inquietação. A neblina do ambiente dificultava minha visão; não conseguia ver adiante, apenas os rastros.
“Vou precisar manter a calma”
Quando me aproximei com muita cautela, vi algo perturbador que me deixou petrificado. Meus olhos se arregalaram diante dessa visão horrenda à minha frente.
“Será que é hoje que vou morrer”? — disse ele, com medo tomando conta de seus pensamentos.
Uma criatura selvagem devorava a carne de um homem indefeso, seus movimentos rápidos e vorazes causando calafrios por todo o meu corpo. O sangue jorrava, criando uma cena macabra enquanto eu permanecia ali parado, esperando minha vez.
“Tenho que agir rápido”
Foi então que recobrei parte da minha consciência. Sabia que precisava encontrar uma solução para escapar antes que a criatura percebesse minha presença. Comecei a dar passos cautelosos para trás, tentando não fazer barulho.
No entanto, antes que pudesse formular um plano, cometi um erro. Tropecei em uma pedra e fiz um barulho involuntário.
Screeeeech! Screeeeech! Screeeeech!
Acabei alertando a criatura. Ela virou-se para mim, a boca cheia de sangue escorrendo. Todo o plano que eu queria desenvolver num curto período de tempo foi por água abaixo. Fui muito imprudente.
“Estou ferrado! Sinto o desespero me invadir, que sensação ruim e essa tomando conta de mim”.
“Eu preciso sair daqui o mais rápido possível, mas minhas pernas estão tremendo tanto que mal consigo dar um passo adiante.”
A criatura avançou instintivamente na minha direção, suas garras afiadas prontas para me rasgar ao meio. Seu instinto assassino era intenso, e fiquei imaginando o que aquele pobre homem havia sofrido.
Grrrraaarrr! Grrrraaarrr! Grrrraaarrr!
O rugido da criatura reverberou pelo ar. Nesse momento, ela avançou tão rapidamente que não tive tempo de reação. Suas garras encontraram meu peito, causando uma dor lancinante. Enquanto via meu sangue jorrar, tentei recuperar o equilíbrio após o impacto, mas foi tarde demais.
— Ahhhhhhhhhhhhh! Nãooooo..
O impacto da investida da criatura me lançou para fora da estrada, e comecei a rolar descontroladamente pela ribanceira abaixo. Cada batida contra o terreno áspero aumentava minha agonia, até que finalmente minha cabeça colidiu violentamente com o tronco de uma árvore, deixando-me momentaneamente atordoado.
No entanto, ao abrir os olhos, encontrei-me em um ambiente surpreendentemente amplo e sereno. Tudo estava tão silencioso.
" Não tenho mais salvação?" — pensou ele, enquanto sua visão ainda estava embaçada.
“Achava que poderia sair por aí.”
“Eu fiz promessas e não vou conseguir cumprir” — lamentou-se, sentindo o peso de suas escolhas erradas e do medo.
Enquanto tentava me orientar e superar a dor, percebi que a criatura ainda me perseguia.
“Nem consigo me arrastar”… Droga! Droga! Droga! — murmurou, sentindo a frustração e o desespero se acumulando dentro dele.
“Este será meu fim!”
Lágrimas escorriam pelo rosto enquanto soluçava, tentando lidar com a dualidade entre o perigo iminente e a beleza inesperada ao meu redor.
“O que é aquilo?” — indagou, observando os aventureiros emergirem das sombras , vestindo armaduras robustas e portando armas afiadas.
O coração pulsava acelerado, uma batida rítmica de adrenalina ecoando em meus ouvidos, enquanto percebia que talvez minha sorte tivesse mudado.
Os caçadores, hábeis e coordenados, agiram em perfeita sincronia. Seus ataques se assemelhavam a um balé mortal, movimentos calculados e precisos direcionados à criatura que ameaçava me devorar enquanto eu estava em péssimas condições.
Em um momento de engenhosidade estratégica, um arqueiro lançou várias flechas explosivas.
Boom! Boom! Boom!
O estampido ecoou pela paisagem, causando uma desorientação momentânea na criatura. A luz intensa da explosão destacou suas feições grotescas, revelando dentes afiados e garras letais.
Enquanto outros guerreiros voavam velozmente em seus cavalos, investindo com suas lâminas em golpes violentos.
Ele testemunhava a batalha se desenrolar diante de seus olhos. Seu coração batia descompassado, uma sinfonia de emoções intensas misturadas com o rugido dos combates. A criatura, ferida e momentaneamente repelida, recuava sob a pressão combinada dos caçadores.
O cheiro acre da explosão pairava no ar, misturando-se com o aroma metálico do sangue derramado. Cada som agudo das armas e cada flash de luz contribuíam para uma experiência intensa e surreal. O terreno vibrava sob os passos pesados dos combatentes, ecoando a energia selvagem da batalha.
Enquanto os caçadores mantinham a criatura à distância, um deles se aproximou, oferecendo ajuda.
— Garoto! Garoto! Está vivo? — perguntou o caçador preocupado.
— Que drogaa! Quanto sangue você está perdendo, desse jeito não vai aguentar muito. — disse ele reconhecendo a gravidade da situação.
— Mas hoje é seu dia de sorte! Vou te levar para uma vila aqui perto — anunciou, ajudando-o a se levantar rapidamente para receber cuidados.
Passaram-se dias após os acontecimentos com aquela criatura, e então fui levado para a vila mais próxima. Passei todo esse tempo desacordado; não sei o que aconteceu depois que um caçador me ajudou e apaguei completamente.
Aaaahhhhhhhhhhhhhh!
— Onde estou!? — exclamou ele, visivelmente assustado ao despertar.
— Calma, meu jovem. Você está seguro — tranquilizou-o a jovem com voz suave.
— Everdawn! — murmurou ele, confuso.
— Nunca ouvi falar dessa vila.
— Aqui é uma pequena vila cercada por densa vegetação — explicou ela, com um sorriso tranquilizador.
— As casas são construídas principalmente com madeira e pedra, formando um emaranhado de vielas estreitas. Algumas delas têm lanternas na entrada.
— Os habitantes são tranquilo.
— Nossa! Mal posso esperar para sair por aí e explorar — disse Kaito, animado.
— Estou aliviada, por pouco você não escapou. Se o ferimento fosse mais profundo, teria sido fatal — comentou a jovem, aliviada.
— Eaí, garotão, como está se sentindo? — perguntou o caçador, curioso.
— Oi, Thorian, quanto tempo! Como vai? Pensei que você tivesse morrido — disse a jovem, expressando surpresa e alívio ao reencontrar ele.
— Tô ótimo, Astrid! E olha, aqui não sou tão fácil de tirar de cena, não é mesmo? Hahaha. — Thorian respondeu com um largo sorriso.
— Eu sei, não vou dizer nada. Você conhece bem como são as coisas lá fora.
— Foi uma situação tensa, quase não conseguimos salvá-lo — acrescentou Thorian.
— Ainda bem que deu tudo certo — disse Astrid.
— Por pouco eu não me tornei comida daquela abominação — falou Kaito, sentindo um arrepio percorrer sua espinha.
— E qual é o seu lance, se aventurando por essas bandas sozinho?
— Sou só um cara que decidiu cair na estrada em busca de descobertas.
— Hum… parece meio suicida. Viajar sozinho por essas bandas tanto de dia quanto à noite, tem umas criaturas bizarras que fazem a gente tremer na base — comentou Thorian, preocupado.
— Eu senti isso na pele. Como se chama aquela criatura?
— Aquilo! É um Carnífice Sanguinário — Uma criatura aterradora com um corpo esquelético coberto por uma pele pálida e putrefata. Seu rosto de caveira com olhos vazios e dentes afiados se contorce em um sorriso macabro enquanto ele se lança sobre sua presa. Seus membros esqueléticos se esticam em direção à vítima, agarrando-a com força letal.
— Ela não tem piedade, apenas a sede insaciável de sangue fresco, e a cena macabra é um testemunho de sua natureza grotesca e aterrorizante. Já matei alguns, são difíceis de matar. Eles andam em grupos, e aquele estava sozinho.
— Vou levar isso comigo, pois deixou uma marca profunda no meu peito.
— Sim, realmente deixou uma bela marca de lembrança. — comentaram os dois, enquanto olhava para Kaito.
— Estou determinado a seguir em frente com meu objetivo. Não vou desistir facilmente — afirmou ele, com confiança.
— Gostei de você, muito determinado, mas isso que você viu é só o começo. — comentou Thorian, admirando a determinação.
— Me desculpe pela minha falta de educação, deixa eu me apresentar. Eu me chamo Kaito Stonehaven. — disse ele, buscando corrigir sua falta de etiqueta.
— Hum, nome de guerreiro, Kaito. “Oceano Vitorioso”, representando força e determinação. Que incrível.
Sua expressão ficou séria, sugerindo que o verdadeiro desafio estava além do que o jovem tinha enfrentado até agora.
— Tem coisas bem piores que os Carnífices Sanguinários. Já vi de tudo um pouco — disse Thorian alertando.
Por um momento, como se relembrasse de experiências sombrias e desafios superados. Seus olhos, por um instante, revelaram a complexidade de um passado marcado por lutas e descobertas aterradoras.
— Mas confesso que tem coisas que não vi totalmente. Esse mundo tem muitos mistérios e segredos, e coisas bizarras — Thorian revelou, sugerindo que mesmo um caçador experiente como ele ainda enfrentava desafios.
— Nós, caçadores, ficamos surpresos… Há rumores de que quanto mais fundo se vai, pior fica.
— Você pode entrar no meu grupo temporário até pegar o jeito? — perguntou Thorian, oferecendo ao jovem uma nova oportunidade de se juntar a eles em uma nova jornada. A dinâmica do grupo parecia ser moldada pela confiança mútua e pela disposição de aceitar novos membros.
Ciente de suas habilidades e limitações, refletiu sobre sua experiência anterior e a orientação de sua avó: “A humildade e a prontidão em aprender.”
— Eu poderia ter enfrentado aquela criatura, mas hesitei e quase paguei com a minha vida. — confessou Kaito, com um peso no tom de sua voz.
— Aceito! Se eu quiser aproveitar esta segunda chance, preciso me aprimorar.
Ele reconheceu a importância da experiência que poderia obter ao se juntar ao grupo. Thorian, satisfeito com sua decisão, assentiu e indicou os próximos passos.
— Certo, vou avisar o grupo assim que você se recuperar. Nos vemos na guilda.
— Obrigado, de verdade, Thorian.
— Fique à vontade para passar um tempo aqui enquanto se recupera — disse Astrid, com um sorriso caloroso.
— Caramba! Não sei como posso agradecer pela hospitalidade — Kaito respondeu com expressão de felicidade.
— Hahaha! Relaxa, você pode começar se recuperando primeiro — disse ela, suspirando fundo.
Após toda essa situação, Astrid, a filha de Liora, explicou tudo o que tinha acontecido, já que sua mãe não estava presente. Ela acabou de retornar e assumia a responsabilidade pela casa de cura.
O ambiente era permeado pela suave luz de velas mágicas, criando uma atmosfera serena e reconfortante. O cheiro de ervas e poções flutuava no ar, indicando a presença constante da cura e da magia medicinal. Liora, uma curandeira experiente, dedicava-se incansavelmente a cuidar daqueles que buscavam alívio para suas feridas e aflições.
A sala principal estava decorada com tapeçarias coloridas que retratavam cenas de cura e magia. A mobília de madeira polida transmitia uma sensação de calor e tranquilidade. Ao centro, uma mesa de trabalho exibia frascos cuidadosamente etiquetados contendo uma variedade de poções e remédios.
Astrid compartilhava o dom da magia de cura e auxiliava nos cuidados com os aventureiros e caçadores. Seu olhar amigável e sorriso acolhedor refletiam a dedicação da família em proporcionar o bem-estar àqueles que buscavam seus serviços.
Enquanto eu me recuperava sob os cuidados atenciosos de Liora e Astrid, podia sentir a energia curativa do ambiente ao meu redor. A magia entrelaçada nas poções e nos gestos habilidosos das curandeiras contribuía para acelerar o processo de recuperação.
Dediquei-me intensamente ao treinamento durante o período de recuperação. Cada dia era uma oportunidade para aprimorar minhas habilidades, fortalecer o corpo e aperfeiçoar técnicas de combate. O ambiente da vila, agora familiar, tornou-se o cenário da minha busca pessoal por excelência.
Consciente de que o mundo à frente continha desafios ainda maiores, compreendi que a hesitação não tinha lugar em meu novo caminho. Internalizei esse conhecimento como uma verdade inegável, uma lição vital que moldaria minhas próprias escolhas e ações futuras.
Durante minha estadia na casa de Liora Sunfire, não apenas encontrei a cura para as feridas físicas, mas também testemunhei a harmonia entre a ciência das poções e a magia curativa. Esse período de convalescença não só restaurou meu corpo, mas também fortaleceu minha determinação em prosseguir cada vez mais.
— Todo esse tempo, você, meu jovem, não poupou esforços. Sua recuperação foi incrível — disse Liora, surpresa.
— Verdade, ele é muito forte — indagou Astrid.
— Ahh! Eu não sou tudo isso não, mas agradeço pelos elogios.
— Então, chegou a hora, chega de moleza. Vou me jogar nesse mundo com tudo — disse ele, dando gargalhadas.
— Calma! Calma! Agora você deve tomar cuidado, excesso de confiança não é bom — disse Liora, preocupada.
— Sei bem, hahah! Vou tomar e muito agora...
Recuperado dos ferimentos, dirigi-me à guilda em busca de aventureiros para me unir ao grupo. Ao adentrar a guilda, uma sensação de camaradagem e atividade preenchia o ambiente. A atmosfera estava carregada com o zumbido de conversas animadas e o tilintar de equipamentos.
Cling-clang! Clank! Clatter! Jingle! Rattle!
♪♪♪♪♪♪♪♪♪♪♪♪♪♪♪♪......
— Ei! Aqui na mesa, olha só quem chegou — acenou Thorian, com um sorriso estampado no rosto.
— Olha só, não é que você veio mesmo. Pensei que já tinha desistido — falou Thorian, num tom irônico.
— Ahh! Sabe como é né? Se acha que eu vou perder uma aventura… — disse Kaito, depois de soltar uma risada.
— Toma um gole aí, moleque. Vai dizer que não bebe? Se tá de sacanagem, hahaha.
Glug!… Glug!… Glug!… Glug!… Glug!…
— Olha só, pessoal, o moleque já tá puxando o barco, hahaha.
— Caramba, ele está bêbado! — comentou Kaito, entre risos.
— Garoto! Essa aqui é Elara. Você deveria conhecê-la, ela curte jovens como você.
— Uau! Que jovem rapaz lindo... — Que tal me acompanhar? Vamos nos divertir um pouco? — disse Elara, enquanto sorria.
— Não posso, tenho que manter o foco no meu objetivo e não quero distrações — respondeu Kaito, com um tom mais sério.
— Como você é decidido, gostei de você. Quem sabe um dia — murmurou Elara, inclinando-se para perto dele.
— Que medo, hein, lindinho! — Sempre tão centrado, você tem muita classe. Assim, não vou resistir mais — comentou Elara, com um sorriso brincalhão.
— Chega de papo furado, seja bem-vindo... A partir de hoje, você está conosco em nossas jornadas — afirmou Thorian aos demais.
— Estou muito ansioso por isso.
— Vamos aproveitar! — exclamou Thorian.
— Hoje tudo é por minha conta!
“Olha, bartender! Encha o copo aí e coloque na conta dele.”
“Uau, isso foi do caralho! Nunca aconteceu antes? Vamos aproveitar, hahaha!”
— Sua fama é boa em... — disse Kaito, de forma irônica.
Mergulhei de cabeça no grupo, entrelaçando laços com Thorian e os demais membros. Histórias de batalhas se mesclavam com risadas ao redor do fogo, enquanto compartilhávamos segredos e aprimorávamos habilidades.
Juntos, enfrentamos desafios e perigos constantes, forjando memórias que ecoariam em nossas vidas para sempre. A guilda tornou-se meu porto seguro, uma família de corações intrépidos navegando por terras desconhecidas.
Com o passar do tempo, amadureci em força e habilidade, pronto para embarcar novamente em uma jornada solitária.
No entanto, antes de partir, Thorian sussurrou sobre uma cidade chamada Glimmerwind, envolta em mistérios e maravilhas.
Ele explicou que lá eu poderia encontrar respostas e descobrir mais sobre um local oculto que guardava segredos ancestrais, talvez as respostas que tanto buscava.