Volume 1

Capítulo 2: Chamas da Curiosidade (2)

 

 

Eles permaneceram imóveis na água gelada, por mais alguns minutos, garantindo que a criatura realmente tenha desistido de persegui-los. Finalmente, quando se sentiram seguros, sairam da água e continuaram, andando pela floresta, aliviados por terem escapado do perigo .

— Que alívio! Chegamos! — suspira Lyria, antes de desmaiar de exaustão, com a roupa cheia de sangue e lama,e o braço ferido.

— Acorde! Foi culpa minha — murmura Kaito, sacudindo levemente Lyria, preocupado com seu estado.

— Por pouco vocês dois não morreram. Senti uma presença maligna — explica Isolde, com uma expressão séria.

Ele compartilha todos os detalhes com Isolde, levando-a a perceber o rápido passar do tempo.

Após esses acontecimentos, Lyria recebeu os devidos cuidados, enquanto Kaito enfrentava um sermão da a vó.

Passaram-se alguns dias desde então, e por enquanto, a calma reinava naquele lugar.

Ei! Moleque, aparece aqui, preciso falar contigo — chamou Isolde.

Ele, todo nervoso, respondeu na hora: — Tô indo!

Poxa! Essa velha não me deixa dormir, o que será que ela tá querendo logo cedo?”

"Após ter acontecido aquele acidente,  ela não esquece daquele dia" 

Descendo as escadas da casa, encontrou com sua avó. 

Com um olhar sábio, anunciando a chegada de uma nova fase na vida dele.

— Chegou a hora, moleque! Você já tem idade suficiente para começar um treinamento completo. Vou transmitir todo o conhecimento que possuo: magia, feitiços, técnicas de defesa pessoal e até mesmo como tomar decisões sábias nos momentos de dificuldade.

— Preciso repetir ou está com soninho ainda? — perguntou Isolde com ironia.

Hahaha! Muito engraçadinha sua velha. Espero que eu não morra.

— Parem com essa frescura, logo cedo! — disse Lyria com um tom autoritário.

O sol despontava radiante no céu, banhando a vila com seus raios dourados, enquanto os dois se preparavam para iniciar uma jornada de aprendizado e descobertas.

Eaí! Pronto pra começar?

Ele, empolgado.

— Claro que sim, Estou mais do que pronto! —  chega dessa enrolação.

O treinamento teve início na clareira próxima à casa, onde a natureza silenciosa testemunhava o vínculo especial entre avó e neto. Isolde, com toda sua experiência e paciência, guiava Kaito através dos fundamentos basicos da magia, ensinando-lhe os gestos precisos e as palavras encantadas que desencadeavam o poder oculto no mundo ao seu redor.

Ao cair da tarde, a clareira se transformava em um cenário mágico, envolto por uma aura de mistério e encanto. Isolde, orgulhosa reconhecia o potencial brilhante que emanava dele.

— Você possui um talento único, moleque. Mas lembre-se sempre, a magia é uma responsabilidade tão grande quanto um presente. Use-a com sabedoria e compaixão — aconselhou Isolde, seus olhos refletindo a sabedoria acumulada ao longo dos anos.

Kaito, com os olhos brilhando de gratidão e determinação, respondeu.

— Pode confiar em mim, velha. Usarei a magia para proteger e ajudar aqueles que precisam.

O abraço afetuoso que compartilharam naquele momento não apenas selava o término de um dia de treinamento, mas também o início de uma jornada que moldaria o destino de Kaito e o levaria além dos limites da vila que ele tanto esperava.

O moleque estava todo ansioso, dava pra ver nos olhos dele enquanto saía correndo lá fora, com a noite linda do jeito que estava e ele brincando com os vagalumes...

— Nossa! vovó, olha como ele tá feliz.

— Pois é, esse garoto não para quieto. Era questão de tempo. Olha ele lá correndo.

— Acho que ele vai fazer muita coisa bacana — disse Isolde com um olhar vibrante.

— Vai dar um nó no meu coração quando chegar o dia dele partir, numa jornada de descobertas.

— Mas ele tem muito o que aprender; vou ensinar tudo.

Isolde chamou ele para entrar, sua voz carregada de autoridade, mas também de preocupação.

— Entra logo! Amanhã é um novo dia, e precisamos estar prontos para ele.

Kaito hesitou por um momento, mas respondeu com determinação.

— Ah! deixa de ser rabugenta! Só mais um pouquinho. Prometo que não demoro.

Isolde suspirou, reconhecendo a teimosia do neto, mas também seu desejo de explorar.

— Tudo bem, mas não exagere. Amanhã temos muito o que fazer.

Lyria, com um sorriso gentil, interveio, seu tom suave contrastando com a autoridade de Isolde.

— Aproveite para descansar um pouco. Seu corpo precisa recuperar as energias.

Os dias se transformaram em semanas, e as semanas em anos, mas o entusiasmo de Kaito permanecia inabalável. Cada dia trazia consigo novas lições, desafios e descobertas, moldando-o gradualmente em um feiticeiro habilidoso e determinado.

Isolde, com sua vasta experiência, compartilhava não apenas o conhecimento mágico, mas também os valores essenciais que regiam a prática da magia responsável e ética. Kaito absorvia cada ensinamento com reverência, compreendendo a importância de usar seus poderes para o bem e proteção daqueles ao seu redor.

A cada feitiço dominado, uma nova porta se abria para Kaito, revelando-lhe um universo de possibilidades e maravilhas. A grama balançava suavemente ao som de suas palavras mágicas, enquanto o vento sussurrava segredos ancestrais em seus ouvidos.

Lyria, embora não compartilhasse do dom da magia, desempenhava um papel fundamental , oferecendo apoio moral e amizade inabalável. Sua presença calorosa e sua determinação inspiravam , a enfrentar qualquer desafio que surgisse em seu caminho.

À medida que os anos se passavam, se via cada vez mais confiante em suas habilidades mágicas. Ele dominava feitiços complexos, manipulava os elementos com destreza e desenvolvia técnicas de defesa pessoal para proteger aqueles que amava.

Mas a vó, apesar de ser uma bruxa de respeito, tava meio relutante em deixar o Kaito sair ,e explorar o mundo lá fora. Só que essa decisão tava na iminência de ser tomada, já que ele havia completado seus 18 anos.

Encarando o horizonte, o Kaito soltou com determinação.

— Chegou a hora de encarar os desafios. Nada vai me segurar — disse ele ao vento.

Opa! Opa! Tinha me esquecido. Está na hora de voltar.

As duas, cientes de que havia chegado a hora, resolveram comemorar o aniversário dele com uma refeição. Durante a comilança, a Lyria soltou animada.

— Aproveita aí, Kaito! Vovó e eu caprichamos nas suas comidas favoritas hoje. É o seu dia, então se joga!

Ele , emocionado, não se aguentou e despejou com gratidão.

— Caramba!  Muito obrigado, amo vocês demais. Valeu por tudo.

O jantar estava repleto de emoção, refletindo a conexão única e amorosa entre eles, enquanto o horizonte aguardava, pronto para testemunhar os próximos passos de Kaito em direção ao desconhecido.

No meio da refeição, sentiu que era hora de abrir o coração.

Ai! Velha, já decidi. Quero sair numa aventura pra descobrir mais sobre o mundo, desvendar uns mistérios, achar uns tesouros perdidos e entender qual é a minha missão nesse mundão.

A vó, entendendo a vibe do Kaito mas também ligando o alerta de perigo, falou com preocupação.

— Ohh Moleque! Sei que cê tá ligado nos perigos, mas essa parada lá fora é osso. Te ensinei o que pude, mas ainda assim pode dar ruim, sacou?

A Lyria, cheia de apoio, botou pra frente.

— Deixa o moleque ir, vó. Foram longos anos vendo ele se esforçar. Acredito demais nele.

A vó, pensando na situação toda, finalmente resolveu.

— Acho que cê tá certa. Tenho que soltar o passarinho, senão ele não aprende a voar.

Mostrando que tava ligado no risco.

— Entendi os perigos, não vou me esquecer daquele dia , velha. Mas não dá pra ficar na mesmice. É uma parada que tenho que fazer, sacou? Vou usar tudo que aprendi contigo pra me virar.

A vó, toda orgulhosa e emocionada.

— Sei que cê vai dar conta —Tô orgulhosa da sua coragem.

Agradecendo pela moral, fez uma promessa.

— Valeu pela preocupação, hahah. Prometo voltar um dia e deixar vocês orgulhosas.

A Lyria, cheia de fé, completou.

— Manda bala. Tamo aqui na torcida.

No dia seguinte, já tava tudo pronto pra partida. As despedidas eram inevitáveis.

Ei! Moleque, trouxe seus presentes. 

Um livro cheio de feitiços e magia, uma faca super afiada e uma espada pra guardar de lembrança. 

— Cuida bem delas — tenho certeza de que você vai tirar o máximo proveito. Tem umas magias ali que até eu não consegui dominar, quem sabe um dia você consiga.

— Nossa! Valeu mesmo. Esses presentes são demais, e sempre vão me fazer lembrar de vocês duas. — Kaito segura o livro na mão.

— Já é isso.

A vó, com um misto de preocupação e carinho, se despediu.

— Se Cuida moleque e volta inteiro, tá?

— Relaxa! Velha rabugenta — não vou morrer na primeira viagem — disse ele sorrindo.

Com sua determinação e coragem, o jovem partiu em sua jornada, levando consigo não apenas os ensinamentos da avó, mas também o amor e respeito das duas. A incerteza pairava no ar, pois ele sabia que agora teria que trilhar seus próprios caminhos .

Enquanto caminhava pelas estradas, o sol brilhava sobre sua cabeça, aquecendo seu rosto jovem e promissor. Ele observava atentamente as nuances da natureza ao seu redor, absorvendo cada detalhe . As árvores altas balançavam suavemente ao sopro do vento, enquanto pássaros cantavam melodias de encorajamento.

Em um momento de pausa, ele se encontrou diante de um riacho sereno, suas águas cristalinas refletindo o céu azul acima. Sentando-se à beira do riacho, ele fechou os olhos e respirou fundo, deixando que a tranquilidade do ambiente o envolvesse. Era como se o mundo inteiro estivesse em harmonia consigo mesmo, e ele se sentia parte desse equilíbrio.

De repente, uma voz suave quebrou o silêncio, fazendo-o abrir os olhos, uma figura desconhecida se aproximava. Era uma jovem com um sorriso gentil e olhos cheios de curiosidade.

— Desculpe incomodar, mas estou perdida — disse ela, com sua voz carregada de preocupação .

— Claro, estou indo na mesma direção. Mas não conheço muito esse lugar, posso estar perdido também — respondeu ele sorrindo enquanto olhava para o rio.

— Eita! Estamos no mesmo barco, quase afundando, hahahah.

— Já sei, então é por isso que você está aí sentado igual um monge.

— Agora você me pegou. Mas vou ficar feliz em te ajudar.

— Muito obrigado mesmo... Aliás, me chamo Naida... e você?

— Eu me chamo Kaito... Prazer em te conhecer.

Enquanto caminhavam lado a lado, trocaram histórias e risadas, compartilhando a jornada por um breve momento no tempo. Ele percebeu que havia beleza na conexão humana e na simplicidade de ajudar o próximo.

— Finalmente chegamos na cidade. Muito obrigado.

— Bem, acho que é hora de seguir em frente.

— Quem sabe, em algum momento, nossos caminhos se cruzem novamente...

— Até mais — disse Kaito, acenando para Naida.

Ele não estava apenas trilhando seu próprio caminho, mas também construindo pontes com aqueles que cruzavam o seu. 

 


 



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