Kaito Além do Horizonte Brasileira

Autor(a): Carlos Jesus


Volume 1

Capítulo 20: O Golpe que rompeu o Inferno (12)

 

 

"Tenho que resistir."


"Tenho que aguentar."


"Por mais perturbador que isso seja... sei que tudo isso vai me deixar mais forte."

Cada respiração ardia dentro dos meus pulmões. O solo se abria em fendas que exalavam fumaça e lava. As árvores se despedaçavam, seus troncos estalando como ossos sob tensão. O ar vibrava com uma energia que parecia rasgar o próprio espaço. A atmosfera estava densa, asfixiante, e eu podia sentir a própria realidade tremer.

"Isso está piorando... Ele não vai parar."

Mas meu corpo permanecia intacto e resistente até aquele momento, como se já não pertencesse mais à fragilidade humana. A dor existia, mas eu não estava acostumado a ela; cada movimento parecia pesar toneladas.

“Será mesmo que isso é dor? O que estou sentindo?”

Um aviso de que eu precisava subjugar aquilo antes que fosse tarde demais.

— Onde isso vai parar? — murmurei, observando as chamas que engoliam tudo ao redor. — Esse poder... Ele não quer apenas destruir... Ele quer devorar tudo.

A energia pulsava dentro de mim — viva, faminta — como uma fera enjaulada que agora corria solta, rosnando dentro da minha carne. Se eu não a dominasse, ela me dilaceraria até não restar nada além de vazio e cinzas.

Meus pensamentos se alinharam. Lembrei-me das promessas que fiz, das batalhas que enfrentei, do motivo de estar ali. Um objetivo claro surgiu: eu não podia ceder. Não naquele momento, nem nunca.

“Droga! Vamos lá, Kaito... eu preciso conseguir controlar isso.”

Respirei fundo, cada vez mais fundo, enquanto flashes do meu passado surgiam na minha mente, mostrando tudo o que enfrentei... e o que eu realmente desejava.Tudo se tornava mais claro. Eu estava travando uma luta mental contra aquela coisa dentro do meu próprio corpo.

Aos poucos, o calor começou a ceder — sutil, quase imperceptível, mas inegável. O fogo ao meu redor, antes selvagem e indomável, agora parecia curvar-se diante da minha vontade.

— Meu braço ainda queima..., mas eu... estou no controle. — murmurei, sentindo cada músculo pulsar com força latente.

E então, do meio da destruição, a sombra surgiu. Olhos cheios de ódio me atravessaram como lâminas.

Ela me disse que eu podia ter algum controle, mas que isso nunca seria suficiente. Que, cedo ou tarde, todo o meu corpo seria dela, e eu seria apagado desta realidade para sempre — como se nunca tivesse existido, como se eu nunca tivesse respirado.

Não recuei. Encarei aquela presença invisível que sussurrava promessas de destruição e retruquei com cada gota de força que ainda me restava: ela podia tentar, mas meus objetivos eram maiores, mais poderosos que qualquer sombra que pudesse me assombrar. Lutaria até o último suspiro, atravessaria limites que ninguém ousaria atravessar, faria o impossível para jamais ceder.

Então, como fumaça que se desfaz na escuridão, ela se dissipou, mas deixou suas palavras cravadas em minha mente — afiadas, frias, inevitáveis:

“Um dia você vai ceder!”

Rapidamente voltei minha atenção para o momento presente a certa distância, aquela aberração tentava entender o que estava acontecendo.

— Você ainda está vivo, maldito? — rugiu a criatura, sua voz carregada de fúria e desprezo.

Ela avançou sem hesitar. Eu sabia que estava vulnerável, imóvel, incapaz de reagir. Ela também sabia. Esta era sua chance, e não a desperdiçaria.

— Droga... Eu não consigo me mover.

“Consegui recuperar o meu estado mental, mas ainda preciso recuperar meus movimentos.”

O tempo pareceu desacelerar. Cada passo da criatura ressoava como trovões em minha mente. Mas então, algo mudou. Algo que eu jamais esperava.

Minha arma começou a vibrar.

O metal negro começou a se transformar. O brilho escuro se dissipou, substituído por uma translucidez fantasmagórica. Veias rubras surgiram na lâmina, pulsando como sangue vivo correndo por dentro dela. Um poder ancestral despertava, algo que eu nunca havia presenciado.

—  Que diabos aconteceu com essa arma? — murmurei, fascinado.

O peso desapareceu. Meu braço se ergueu sozinho, como guiado por uma força desconhecida. Então veio o rugido. Uma rajada de fogo e cristal explodiu da lâmina, rasgando o ar e deixando um rastro de lava fumegante por onde passava.

“Caramba! Foi eu? Não fiz isso! Ele saiu sozinho e foi na direção da criatura!”

— Que ataque intenso foi esse? — exclamei, surpreso.

A criatura não hesitou, lançou um feixe denso de energia que parecia destrutiva.

Os ataques colidiram com uma força avassaladora. O chão tremeu, ventos violentos varreram a área, e uma explosão de luz cegante iluminou o verdadeiro inferno que se formava. O impacto reverberava como marteladas que estremecia tudo.

A força da minha rajada começou a superar a dela. Gritos de desespero rasgaram o ar enquanto sua pele grotesca derretia diante da energia que emanava do impacto. A dor a obrigou a recuar, mas ela não estava derrotada. Seu corpo mutilado tremia de ódio, e sua voz ecoava em agonia:

VOCÊ VAI PAGAR POR ISSO, MALDITO!

Eu a encarei friamente, sem recuar um centímetro.

— Pagar? Tsk… não me venha com esses argumentos vazios.

O ódio dela crescia a cada segundo. Partes do corpo ainda derretiam lentamente, exalando um cheiro nauseante de carne queimada misturado com um fedor pútrido. Seu chiado respiratório parecia um motor falhando. Mesmo em frangalhos, ela permanecia de pé.

Seus olhos semicerrados brilhavam com fúria. Um som gutural escapava de sua garganta, como se ossos estalassem e músculos se tensionassem em sincronia. Ela me encarou com um brilho assassino dos olhos famintos.

— Eu... vou despedaçar você...

As garras cravaram o chão, provocando tremores que se espalhavam como ondas, fendas abertas como lava sangrando pelo solo. O calor aumentou, tornando o ar ondulante e pesado. O cheiro de enxofre era sufocante.

Então, eu percebi que mais uma vez ela tentava se regenerar.

— De novo não!!

Mas não era normal. A pele queimada borbulhava, retorcendo-se como carne viva tentando se fundir novamente. Novos membros brotavam das feridas abertas. Ossos estalavam, formando articulações extras. Seus músculos se expandiam e se contraíam de maneira grotesca, como se desafiassem qualquer lógica. Cada mutação tornava a criatura mais assustadora, mais imprevisível.

“Essa regeneração foi mais eficiente… ela está se preparando para contra-atacar.”

A arma em minhas mãos parecia reconhecer minha intenção, vibrando com uma energia própria. Ela me impulsionou em direção à criatura. Foi tudo rápido, imprevisível — eu não tinha controle total dos meus movimentos.

A batalha prosseguiu. Cada golpe que desferia, explosões de lava e energia cristalina se espalhavam como tempestades, arrasando tudo em um raio de centenas de metros. Meu corpo queimava, meus músculos se expandiam, minha mente lutava para manter a sanidade em meio à loucura.

A chuva começou a cair novamente, gotas frias misturando-se à lama e à fumaça. Cada impacto era ampliado pelo reflexo das labaredas e da luz pulsante da arma. Eu podia ver cada detalhe: a saliva da criatura pingando, cada músculo tenso, cada articulação mutante se expandindo, seu olhar alternando entre ódio e medo.

— Que negócio é esse?! — exclamei, vendo a lâmina em minhas mãos pegar fogo. Não um fogo comum, mas negro e roxo.

O calor irradiava em ondas, evaporando a chuva, criando nuvens de vapor. Meu braço parecia ferro incandescente, cada gota que o atingia sibilando e explodindo em vapor. A dor era intensa, mas estranhamente revigorante. Eu sentia que aquela energia, se controlada, poderia ser a chave da vitória.

E então entendi: aquilo diante de mim já não era mais uma criatura comum. Era um pesadelo que recusava morrer, um abismo de ódio, regeneração e força bruta.

A batalha poderia estar no fim, e a vitória não seria apenas sobre a carne, mas sobre a essência de ambos.

Os golpes eram tão devastadores que rasgavam a pele grotesca da criatura, dilacerando carne e arrancando pedaços do seu corpo a cada impacto. Cada ataque ecoava como trovões, espalhando energia pura e destruição por onde passava.

— Merda… o cheiro de carne podre me invade como uma lâmina quente, sufocante, misturando-se ao ferro e à fumaça. Cada respiração é um tormento, e meu estômago revida com náusea, mas não posso recuar agora.

E no centro de tudo, eu sabia: eu não era mais o mesmo. A sombra dentro de mim, o poder recém-descoberto, a fúria contida — tudo isso me havia transformado. Quem seria digno de reclamar a vitória?

O ar ao redor tremia. A criatura, embora mutilada, parecia ainda ter forças para um último ataque. Seus olhos injetados em sangue brilhavam com um ódio desesperado. Ela avançou com velocidade sobrenatural, garras rasgando a terra, deixando sulcos profundos enquanto o chão tremia sob seu peso. Cada passo era acompanhado por estalos de ossos e um chiado grotesco de carne regenerando.

— Agora... acabou! — gritei, sentindo a energia pulsar em minhas veias como um tambor de guerra.

Meu corpo finalmente respondeu. A sombra que habitava meu ser parecia ter despertado por completo, conectando-se com a arma que eu empunhava. O machado, antes pesado, agora fluía como extensão de minha própria força. As lâminas pulsavam com fogo negro e roxo, irradiando calor suficiente para evaporar a chuva ao redor. A chuva se misturava ao vapor e à fumaça da destruição, criando uma névoa sobrenatural que cobria o campo de batalha.

A criatura rugiu, um som tão profundo e visceral que parecia ecoar através da própria terra. Ela desferiu um ataque direto, avançando como uma tempestade viva, suas garras cortando o ar com precisão mortal. Mas eu estava pronto. Ou melhor, não apenas pronto: eu era a arma.

O impacto inicial fez o chão tremer, mas eu consegui absorver a força do golpe, girando o machado com velocidade impossível. As lâminas cortaram o ar, criando um arco de energia que colidiu com as garras da criatura. Faíscas negras e vermelhas explodiram em todos os lados, e o som era ensurdecedor, um rugido de metal contra carne, energia contra energia.

A criatura recuou, mas não por medo — por impulso. Ela avançou novamente, desesperada, e cada ataque subsequente se tornava mais caótico e destrutivo. Mas eu sentia algo novo: controle absoluto sobre cada movimento. Mas cada músculo, cada fibra parecia sincronizada com a arma, com a sombra, com a própria força que fluía através de mim.

E então, percebi o ponto fraco. Não era físico; era espiritual. A sombra dentro de mim sussurrou, conectando-me à essência da criatura. Eu podia sentir o medo escondido em seu ódio, a vulnerabilidade por trás da fúria. Era minúscula, quase imperceptível, mas suficiente.

— É agora ou nunca. — murmurei.

Respirei fundo, absorvendo a energia da chuva, do fogo e da sombra. Em um movimento contínuo, desferi um golpe em arco, esmagando a criatura com o peso combinado de meu corpo, do machado e da escuridão que agora fluía como lava dentro de mim. A explosão resultante iluminou a noite, criando um espetáculo de luz negra e vermelha que parecia rasgar o céu.

A criatura gritou, um som que misturava dor, desespero e ódio puro. Seu corpo começou a desintegrar-se, não em pedaços comuns, mas em energia pura, como se sua própria essência estivesse sendo devorada pela força que eu liberava. Ossos estalavam, músculos se derretiam, e seu grito final ecoou na floresta devastada como um lamento ancestral.

E então, silêncio.

O mundo parecia parado. A chuva ainda caía, mas agora fria, misturando-se ao vapor e à fumaça. Meu corpo ainda tremia, exausto e vibrante, carregado de energia pura. O machado caiu em minhas mãos, pesado novamente, mas de uma forma confortável, como se reconhecesse minha maestria sobre ele. Olhei para o chão: crateras fumegantes, árvores partidas, lava solidificada e fragmentos de energia negra espalhados. O campo de batalha era um cemitério de destruição, mas a ameaça havia sido neutralizada.

Minha respiração estava descompassada, cada inspiração queimando em meus pulmões. O coração batia forte, mas não com medo — com triunfo e compreensão. Eu não era o mesmo. Meu corpo, coberto de marcas sombrias, garras e cicatrizes incandescentes, não era humano. Mas a força, a percepção e o controle que agora possuía eram além do que eu poderia imaginar.

— Eu... sobrevivi. — murmurei, ainda em choque, tocando o machado, sentindo a energia pulsar em sintonia comigo. — E... eu ganhei.

Mas a vitória tinha um gosto estranho. Olhei ao redor, observando a destruição e sentindo a sombra que ainda residia dentro de mim. Ela não se dissipou. Pelo contrário, parecia satisfeitamente enraizada, conectada à minha alma. Eu havia sobrevivido, mas a transformação era profunda. Algo dentro de mim havia mudado para sempre.

A floresta ao redor estava devastada. Árvores carbonizadas, lava solidificada e crateras fumegantes contavam a história da batalha. Nenhum som de vida permanecia, apenas o chiado do calor residual e o eco distante da energia liberada. Eu podia sentir a presença da criatura ainda em fragmentos, mas agora impotente, contida pelo poder que eu dominava.

— É estranho... — murmurei. — Eu sinto medo, mas não o mesmo de antes. É diferente. É... controle.

“Mas será que eu realmente consegui controlar? Há tantas dúvidas, tantas incógnitas que ainda precisam ser resolvidas… não posso permitir que isso aconteça, não agora, não enquanto ainda há tanto em jogo.”

Meus olhos ardiam de peso, minha força se esgotava a cada respiração. Do nada, desabei de joelhos, encarando o céu noturno como se buscasse respostas — ou uma última esperança no meio do caos que me consumia.

Então, sem forças para me sustentar, meu corpo tombou para frente. Meu rosto afundou na lama fria e úmida, o cheiro fétido penetrando cada sentido. O frio da terra grudava na minha pele enquanto o mundo ao redor se tornava um borrão de sons distantes — o estalo do fogo, o vento — tudo desaparecendo lentamente.

Cada respiração se tornava mais difícil, cada batida do coração mais lenta. A consciência me abandonava aos poucos e enquanto o caos que ficou ao meu redor, só restava a escuridão e meus olhos se fecharam....

 


"Olá, caros leitores! Estive um pouco off, mas estou de volta com novidades. Aguardem os próximos capítulos!"

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