Kaito Além do Horizonte Brasileira

Autor(a): Carlos Jesus


Volume 1

Capítulo 18: O Vazio que Resta (10)

 

 

Sem pensar duas vezes, joguei tudo o que tinha a meu favor. Ativei a explosão na minha perna direita, focado em um único objetivo: obliterar a cabeça principal e encerrar aquela luta de uma vez por todas. Corri em direção ao inferno. Com um salto carregado de loucura, desferi meu golpe com uma das pernas com toda a força, mirando direto na criatura, determinado a destruí-la sem piedade.

Mas ela foi mais rápida. Uma das cabeças se colocou no caminho, recebendo o impacto da explosão. Minha perna se desintegrou no processo, e antes que eu pudesse me recuperar, senti a força brutal da criatura me atingindo; era como se eu fosse um espelho trincando pelo impacto instantaneamente.

Fui lançado como um boneco de pano, voando pelo ar até colidir com uma rocha enorme. O impacto foi devastador, e o gosto metálico de sangue encheu minha boca enquanto eu tossia violentamente. O mundo ao meu redor parecia girar, e eu não sentia nada — só não conseguia me mexer.

"Droga... O que aconteceu? Ah, é mesmo, tomei um impacto em cheio e fui todo destroçado."

A criatura avançava lentamente, como se saboreasse cada instante da minha derrota iminente, suas múltiplas cabeças rindo de meu estado deplorável.

— Você é um verme insignificante, rastejando por aí como se fosse forte, mas não passa de mais um dos muitos tolos que devoramos. Egoísta e perdido, sem nem saber o seu devido lugar.

As vozes das criaturas se fundiram em um coro sombrio, ecoando pela escuridão com desprezo e um sorriso sinistro. — Vamos ensinar onde é o seu verdadeiro lugar.

— Tolos que invadem nosso território sem serem convidados estão destinados a se tornarem nossa próxima refeição. Esta floresta é nossa casa, e nós cuidamos muito bem dela.

As vozes das criaturas soaram com um tom ameaçador, como se a própria floresta sussurrasse junto, reafirmando seu domínio e o destino sombrio reservado a qualquer intruso.

Eu podia sentir o chão tremer à medida que elas se aproximavam, e a realidade do meu estado se tornava insuportável. Estava à mercê delas, sem condições de lutar. Olhei para meu corpo, todo coberto de sangue, meus braços mal conseguindo se mover. A única coisa que me restava era aceitar meu destino, uma rendição amarga diante da inevitabilidade que se aproximava.

Mesmo diante daquela casca agora vazia, algo surgiu em minhas lembranças enquanto observava a situação, impotente. Uma promessa ecoava em minha mente, inabalável e vital: eu precisava voltar para casa. Prometi a mim mesmo que não desistiria, que não quebraria aquela promessa. 

"Cumprir minha promessa é tudo. Não posso decepcionar as duas. Preciso tentar, mesmo sem braços e pernas. Não importava o quão fraco eu estivesse; a ideia de falhar nunca foi uma opção..."

— Vocês acham... — tentei falar, cuspindo sangue enquanto forçava meu corpo a se mover. — Vocês acham que podem decidir meu destino...?

Lutei para me levantar, apoiando-me no que restava do meu corpo, com o braço direito tremendo sob o peso da fraqueza. O sangue escorria incessantemente do braço esquerdo, o que restava dele; mas, estranhamente, já não me importava mais. A dor havia se tornado uma sombra, um espectro psicológico que não poderia me deter. O vazio crescia, alimentando a urgência e a impulsividade de cumprir minha promessa e desafiar o destino que aquelas criaturas tentavam impor a mim.

— Eu posso ser um verme, posso ser insignificante, mas... — forcei-me a continuar, cada palavra um esforço. 

Mesmo com aquela criatura despejando aquelas provocações, eu não iria me deixar levar por palavras de desprezo.

"Minha condição está péssima; ultrapassei todos os meus limites," refleti, encarando meu corpo destroçado. "Fiz uma escolha, e agora preciso seguir adiante."

Eu estava num beco sem saída. Se fosse morrer, que fosse levando aquelas maldita comigo. Tinha que acabar com elas.

Antes de me levantar, plantei outra bomba atrás da grande pedra. A intenção era que ela se aproximasse.

— Olha só, já se conformou com seu destino? — a criatura disse, o sorriso satisfeito se alargando. — Você foi o humano mais divertido até agora. Os outros apenas gritavam e corriam em desespero. Hahaha!

— Maldita... — murmurei, fixando meu olhar nela enquanto se aproximava, seus olhos cravados em mim. Ela avançou com um golpe, mas usei meu impulso. A pedra estilhaçou-se ao ser atingida, e tudo explodiu.

Porém, ela foi rápida. Antes que pudesse fugir, recebi outro golpe e fui arremessado contra as árvores. O impacto ecoou em meu corpo, fazendo cada osso parecer que estava se despedaçando.

— Desgraçado! Esse truque barato não vai funcionar! — rosnou ela, os olhos brilhando de fúria enquanto começava a se regenerar, como se desafiasse a própria morte.

Eu a observava, mas não sentia mais nada. Era como se tudo houvesse perdido significado. Raios cortavam o céu, enquanto a chuva pesada manchava o solo com meu sangue. O vento assoprava forte, abafando minha consciência e levando tudo ao silêncio.

Fiquei prensado contra uma árvore, o corpo em frangalhos. A única coisa que conseguia fazer era olhar para onde meus membros deveriam estar... mas eles não estavam mais lá. Jogado naquele chão encharcado, sentindo a chuva se misturar com o sangue que escorria pelo meu corpo. A sensação de estar à beira do abismo se intensificava, e cada gota de chuva parecia carregar um peso insuportável, lembrando-me da fragilidade da vida e da luta que ainda ardia em meu peito, apesar da desolação ao meu redor.

Meus olhos turvos percorriam a cena ao meu redor, o caos da batalha ainda pulsando nas sombras da floresta. O som distante dos trovões ecoava, mas, para mim, o mundo parecia ter mergulhado em um silêncio absoluto. Cada respiração se tornava um esforço monumental, e o peso da derrota era quase insuportável.

Aquela criatura havia me despedaçado sem piedade. Meu corpo, agora uma sombra do que foi, não respondia mais. Estava caído, imóvel, como se a vida já tivesse me abandonado, e a escuridão se aproximava, ameaçando me engolir. A única coisa que restava era uma centelha de consciência, lutando contra o tudo, enquanto eu aguardava a última chamada do destino.

"Quero apenas pedir desculpas às pessoas que mais amo neste mundo... Sei que prometi voltar, mas essa parte eu não sei se poderei cumprir."

Foi então que, com um último olhar para aquela cena horrenda, vi um raio poderoso rasgar o céu, atingindo o chão com uma força que nunca havia presenciado. Era como se a própria natureza estivesse tentando me mostrar algo... algo no meio daqueles corpos espalhados. 

A luz do raio iluminou o campo devastado por um breve momento, revelando algo no meio dos destroços.

Entre os corpos caídos, parecia uma arma que eu nunca tinha notado antes. Era como se o raio tivesse destacado sua presença de propósito, um brilho metálico em meio à escuridão. Algo estava diferente ali... uma sensação palpável de que aquela coisa poderia ser a chave para virar a maré. O desejo de me levantar e alcançá-la pulsava dentro de mim, desafiando até mesmo o vazio que ameaçava me consumir. 

"Ahm? O que é aquilo no meio? Algo estranho... preciso tentar chegar mais perto."

"Será que é algum tipo de arma lendária ou mística? Não sei, só vou descobrir quando chegar lá."

A criatura, agora quase totalmente regenerada, soltou uma risada estrondosa que ecoou pelos arredores, enquanto gotas de chuva escorriam por sua pele distorcida. O som ressoava como um triunfo grotesco, um riso que reverberava nas sombras da floresta, alimentando a atmosfera de desespero. 

— O que foi, humano? Está vendo sua morte se aproximar? Ou será que está se agarrando a alguma ilusão de última hora? — zombou ela, avançando mais uma vez, suas palavras carregadas de desprezo.

Mas eu não conseguia desviar o olhar daquela luz distante. Sem perder tempo, mesmo com cada movimento sendo uma tortura insuportável, forcei-me a rastejar em direção. Eu precisava descobrir o que era aquilo, a única esperança que brilhava no meio do caos.

A luz parecia me chamar, prometendo respostas e talvez até uma chance de reverter a situação. Cada centímetro que avançava se tornava uma vitória, um passo mais perto da possibilidade de lutar novamente.

— Você ainda não desistiu? — rugiu a criatura, sua voz transbordando de frustração. — Então vou acabar com isso de uma vez!

Com um movimento ameaçador, ela se preparou para atacar, a determinação em seus olhos refletindo o desejo de eliminar qualquer vestígio de resistência. O ar ficou pesado com a tensão, e eu sabia que o tempo estava se esgotando. Mas a luz continuava a brilhar na distância, um farol de esperança em meio à escuridão que me cercava.

Ela se lançou em minha direção, mas, dessa vez, eu estava pronto. Minha mente estava afiada, focada naquele único objetivo. Eu me impulsionava como um sapo pulando, ignorando tudo em volta, em direção àquele estranho objeto entre os corpos.

"Estou quase chegando lá, só mais um pouco. Estou perdendo muito sangue; não sei se vou conseguir chegar a tempo."

Nesse momento, a criatura começou a bater no chão com uma força brutal, e a terra tremeu sob o impacto, como se um terremoto estivesse se desenrolando. Rachaduras se abriram, jorrando lava e chamas, enquanto o calor começava a se intensificar ao meu redor. A chuva continuava a cair, misturando-se com o vapor que subia em nuvens espessas, criando uma atmosfera de desafio e determinação, onde a luta pela sobrevivência se tornava cada vez mais intensa.

O chão se estilhaçou, e a lava brilhante serpenteava entre os corpos, iluminando o cenário infernal. O calor era insuportável, mas a urgência me impulsionava. "Não posso parar agora," repeti para mim mesmo, cada palavra se tornando um mantra. 

Com um último olhar para a luz pulsante à distância, me arrastei pelo chão, movendo-me como um sapo em um salto desesperado. Meu corpo estava em pedaços; sem o braço esquerdo e com a perna esquerda me sustentando, cada movimento era uma tortura. O terreno sob mim era traiçoeiro, com lava escaldante ameaçando queimar tudo ao toque, e fissuras se abrindo como bocas famintas, prontas para engolir qualquer um que se aproximasse.

Encontrei obstáculos pelo caminho: um tronco caído bloqueava minha passagem. Com um impulso forçado, empurrei-me para o lado, usando a perna esquerda como apoio. O peso do meu corpo quase me fez perder o equilíbrio, mas consegui desviar para a esquerda, deslizando sob o tronco.

Continuei a me arrastar, os braços tremendo sob o esforço. Mais à frente, um jato de lava subiu, criando uma barreira de calor intenso. O calor era insuportável, quase me fazendo desistir. Mas a luz brilhante à frente me chamava, e eu sabia que não podia parar. Eu precisava arriscar tudo.

Com um impulso, rolei para o lado, evitando as chamas que ameaçavam me consumir. A lava quase tocou minha pele, mas escapei por pouco, sentindo o cheiro de queimado no ar. A cada movimento, eu lutava contra o vazio, determinado a não deixar que isso me desencorajasse.

Finalmente, a visão da luz tornou-se mais clara, seu brilho intenso guiando meus movimentos. Mas a criatura, percebendo minha aproximação, rugiu de raiva e disparou em minha direção. O tempo estava se esgotando, e eu precisava chegar até aquela aréa antes que ela me alcançasse.

"Estou quase lá."

"Falta pouco."

Concentrei toda a minha força e me arrastei o mais rápido que pude, pulando e rastejando, a luz da esperança brilhando à minha frente como a única salvação.....

 

Foi ai....................................................

 


 

 



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