Kaito Além do Horizonte Brasileira

Autor(a): Carlos Jesus


Volume 1

Capítulo 17: Metamorfose (9)

 

 

 

— Ahh! Que dor desgraçada — resmunguei, lutando pra recuperar meu fôlego, enquanto a água fria escorria pelo meu rosto.

Levantei-me com dificuldade, preparando-me para o próximo ataque, enquanto as criaturas riam de mim, escondidas entre as árvores. Elas se divertiam, mas eu sabia que precisava agir mais rápido do que tudo.....

"Ainda bem que consegui recuperar um pouco do meu fôlego; estava ficando sem ar. Essas pragas poderiam atacar sem se preocupar, mas para elas eu sou uma presa saborosa que precisa ser curtida a cada momento..."

— Que merda!... Agora estou ferrado. Minha espada quebrou, e como vou atacar? Meus punhos não vão ser suficientes, e eles estão todos machucados por causa daquele impacto — murmurei, segurando o que restava da espada quebrada, mesmo com as mãos todas fudidas.

— Acham que podem me derrubar tão facilmente? — desafiei, a determinação queimando em meus olhos. — Não vou desistir tão fácil, nem que eu tenha que me arrastar. Vou usar até a última gota da minha essência.

Ao observar ao redor, era impossível encontrar uma arma naquela lama e entre os corpos espalhados. Os relâmpagos não iluminavam o suficiente, e a escuridão era opressiva e densa. Cada vez pior, eu não teria tempo suficiente para procurar em toda aquela área.

"Mesmo que eu não tenha tempo, tenho que encontrar algo logo. Não há outra solução no momento, nem que seja só uma olhada breve; é melhor que nada..." 

— Preciso pensar em um plano que dê certo... não posso vacilar aqui. Se eu apagar de exaustão, pode-se dizer que pra mim já era — disse ele, enquanto tentava formular um plano, mesmo diante daquelas abominações...

Comecei a formular meu plano. Precisava de algo eficaz, algo que pegasse essas criaturas de surpresa. Tinha que ser extraordinário, pois sua astúcia era perspicaz.

— Vamos ver quem ri por último — sussurrei aos ventos, enquanto a chuva caía incessantemente. Meu foco estava mais afiado do que nunca.

"Já sei! Vou usar as pedras explosivas como distração, pelo menos," pensei, tentando manter a sanidade enquanto observava o chão. "Preciso encontrar uma arma assim que os raios iluminarem a área."

— Pelo que observei, pode haver cinco criaturas escondidas nas árvores ou até mais — murmurei, avaliando a situação diante de mim.

— Se tiver mais, não sei. Tem muitos corpos por todo canto, e eu poderia estar sendo ingênuo, pois é difícil entender se só foram elas que fizeram todo esse estrago. Espero que minha intuição esteja correta...

Meu plano estava em movimento; eu só precisava de mais tempo para enrolar as criaturas antes que decidissem me devorar. Era uma corrida contra o tempo. Eu era o prato principal, e elas só precisavam me colocar na mesa. Eu tinha que usar a visão aguçada, mesmo que fosse por um breve momento.

A chuva continuava a cair, e eu estava determinado a virar o jogo. Cada segundo contava; o vento soprava como gritos angustiantes. Meu corpo gelava e se misturava com a dor; era uma enxurrada de sensações.

— Agora é hora de eu me vingar em peso! — declarei, ativando a magia Olhos de Coruja.

A visão dos Olhos de Coruja iluminou a cena com uma clareza impressionante. Eu me movia com uma agilidade renovada, observando cada movimento das criaturas e localizando as pedras espalhadas. Cada segundo era crucial; não podia hesitar. Meu plano era acumular as pedras no centro, sem que elas percebessem.

— Esse maldito! Como ele ficou tão rápido? Estava nos enganando! — rosnou uma das criaturas, furiosa, e lançou vários ataques com suas garras.

— Eu nunca disse que ia me deixar virar um banquete especial no meio do nada! — respondi, desviando habilmente dos ataques que vinham de todas as direções.

Elas estavam confusas e frustradas, e eu usei isso a meu favor. Com a magia Olhos de Coruja, cada movimento era visível, e eu agia com precisão. As pedras se acumulavam no centro como planejado, e eu sabia que o momento decisivo estava se aproximando.

Tentavam me acertar, vindo todas de uma vez, mas eu conseguia esquivar de cada golpe. Tudo estava indo conforme. Juntei todas as pedras rapidamente e, com um gesto preciso, ativei a magia de explosão.

Em um instante, o momento se transformou. Ativei o impulso e me lancei para cima com precisão e, enquanto o raio iluminava a área, vi as criaturas avançando ao mesmo tempo, tudo se movendo em câmera lenta. Olhei para cima; a visão era bela. As gotas de chuva caíam pesadas no meu rosto, mas abaixo, um inferno se desenrolava.

"Como essa visão é surpreendente! Tudo está tão calmo; que sensação boa estou sentindo, mesmo com todas as adversidades," pensei, ao mesmo tempo que observava atentamente cada detalhe, ciente de que talvez seria a última coisa que poderia ver...

Com uma determinação feroz, peguei a pedra que tinha em mãos e me virei para baixo, aplicando um poder explosivo maior. Lancei-a em direção ao chão, onde as outras pedras estavam acumuladas. Quando acertou, a explosão foi intensa e ensurdecedora, um estrondo que reverberou pela floresta, iluminando a noite com uma luz brutal e ofuscante.

— Toma suas maldições... A jornada de terror de vocês acaba aqui e agora...

O impacto foi devastador. As criaturas foram arremessadas, suas formas distorcidas e confusas se dissipando na explosão intensa de luz e fumaça. O choque as atingiu em cheio, transformando o campo de batalha em um cenário apocalíptico.

Senti uma rajada de vento forte me atingir, e fui lançado pela explosão, caindo entre escombros e corpos que se acumulavam.

— Que loucura foi essa? A explosão quase me despedaçou em mil pedaços! — gritei, tentando processar o que acabou de acontecer.

No meio do tumulto, percebi que o confronto havia chegado ao fim. Consegui virar a maré a meu favor.

Enquanto lutava para sair dos escombros, a dúvida começou a me assolar: será que realmente haviam morrido?

O caos da explosão começou a se acalmar, e por um breve momento, a cena parecia tranquila. Mas a sensação que eu tive foi de que algo estava errado.

— Droga! Que som é esse? Será que é elas? Caramba, fui com sede ao pote — disse ele, ao se deparar com um som que vinha da criatura que se aproximava lentamente, enquanto os raios se lançavam ao chão.

A adrenalina ainda corria pelas minhas veias quando percebi que uma criatura não estava morta, mas faltava parte dela. Ela estava toda fudida, e era o que ela merecia por tentar ser gananciosa.

— Desgraçado! Como ousa fazer isso com a gente? Agora você vai morrer, e acabou a brincadeira. Vamos devorar você lentamente enquanto escutamos seus gritos de angústia e sofrimento, até não restar mais nada — gritou ela, ao se aproximar cada vez mais.

Eu percebi que ela parou quando os relâmpagos iluminaram ainda mais. Vi que o resto das outras criaturas estava pelo chão, e a criatura parou bem ali, como se estivesse planejando algo.

E o ser maligno começou a devorar as outras quatro que estavam caídas no chão. Cada mordida não era apenas um ato de consumo, mas um ritual grotesco de absorção de poder. Eu assisti, horrorizado, enquanto ela engolia os corpos, e seu corpo começava a mudar de forma.

— O que... o que está acontecendo? — murmurei para mim mesmo, com os olhos arregalados diante da cena grotesca.

"Será que ela está se transformando igual àquele corvo bizarro? Aquele verme era muito forte; quase morri. Mas essa criatura está me dando trabalho demais."

A criatura devoradora começou a crescer de forma absurda, seus músculos se expandindo e seus dentes afiados se alongando. O que era uma monstruosidade já formidável se transformava em algo ainda mais horrível. Sua pele parecia se esticar, contorcendo-se em uma nova forma.

— Isso não pode estar acontecendo... — sussurrei, tentando processar a visão diante de mim.

As quatro criaturas consumidas começaram a se reanimar, surgindo da grande criatura como se fossem cabeças de cobras, se esticando e se alongando de maneira quase impossível. Elas se contorciam e se entrelaçavam, tornando-se parte da nova forma monstruosa que surgia.

— Olhem pra isso! Ela está se transformando em algo ainda mais terrível! — gritei, com um tom de pânico e excitação.

A nova entidade parecia ter quatro cabeças que se moviam independentemente, cada uma com uma expressão de fúria e fome insaciável. A cena era uma mistura de pesadelo e horror, uma amalgama de formas e dentes afiados.

"Agora, eu realmente estou em apuros," pensei, o medo se misturando com a determinação. “Se essa coisa chegar até mim, não vou ter chance alguma."

Eu precisava agir rápido. A transformação ainda estava em andamento, e a nova criatura estava ganhando poder a cada momento. Minha mente corria para encontrar uma estratégia, algo que pudesse usar para enfrentar essa nova ameaça.

— Não vou deixar que isso me abale. Preciso encontrar uma maneira de derrotar essa abominação — murmurei, com a voz firme apesar do medo.

— Realmente pensei que toda aquela explosão seria suficiente... Que raiva!

 As palavras escaparam dos meus lábios, carregadas de frustração. "Se aquela coisa me acertar, meus ossos vão se estilhaçar."

Enquanto observava a criatura terminar sua grotesca transformação, tudo ao meu redor parecia parar. O vento cessou, o som da chuva diminuía, e era como se o próprio mundo estivesse prendendo a respiração, aguardando o desfecho. Dentro de mim, flashes de todas as lutas que enfrentei começaram a passar, como cenas rápidas de uma vida repleta de desafios.

Por um momento, uma sensação de impotência me envolveu. "Será que tudo isso foi em vão?", pensei, quase me entregando à dúvida. Mas rapidamente sacudi aquele pensamento.

— Que tolice! Eu ainda nem tentei lutar de verdade contra isso! Essa coisa, por mais horrível que fosse, não iria me vencer tão facilmente.

— Eu tenho que tentar — sussurrei, apesar do terror. — Mesmo que isso signifique o fim, vou usar cada gota de força que me resta. Não vou ser derrotado sem ao menos tentar lutar até o último fôlego.

Levantei a cabeça, firme, e encarei a abominação. Minhas mãos tremiam, mas minha mente estava clara. Este era o último confronto. Talvez o desfecho fosse trágico, mas o medo não me imobilizaria e nem importava mais.

— Chegou a hora de cortar o mal pela raiz e queimar suas sementes — murmurei para mim mesmo. A adrenalina pulsava em minhas veias. — Custe o que custar, eu vou com tudo.

Com um grito de fúria, corri em direção ao inferno à minha frente. O ar parecia pesar mais a cada passo, mas eu não podia parar. Reforcei minha resistência ao máximo e ativei a magia Olhos de Coruja mais uma vez. Minha velocidade aumentou de forma absurda.

— Eu nunca tinha levado meus limites tão longe. Este tinha que ser o golpe de sorte, o ataque mais devastador que eu fosse capaz de realizar. Sem hesitação. Sem medo. Algo extremo.

— Vai ser agora! — murmurei entre os dentes.....

Numa loucura impensada, ativei a magia de explosão no próprio braço esquerdo. Sabia que era um sacrifício... mas não havia escolha. A intenção era simples e mortal: explodir a cabeça principal da criatura com um único impacto. Um golpe final.

— Se for pra morrer, que seja com tudo! — gritei enquanto me lançava para o alto, num impulso desesperado.

Saltei com toda a força que me restava, voando em direção à criatura monstruosa. Num instante que parecia eterno, desci com tudo, o golpe carregado de energia explosiva. Quando atingi a criatura, o chão tremeu violentamente, e o impacto ecoou como um trovão. Tudo ao meu redor parecia desmoronar, mas nada se comparava ao que estava por vir.

Meu braço... desintegrou-se diante dos meus olhos.

"Não sinto nada... pensei, enquanto observava o que restava do meu corpo. Parecia que minhas emoções haviam me abandonado completamente. O mundo ficou em silêncio."

A criatura começou a se despedaçar, suas partes grotescas se espalhando por todos os lados, como se estivesse sendo dilacerada por dentro. Fechei os olhos por um momento, como se tudo tivesse terminado. A explosão foi tão intensa que as árvores ao redor foram arrancadas do chão, lançadas pelo ar com uma força brutal.

"Acabou..."

"Será...?"

Minha respiração ficou pesada, sem saber se o que restava de mim ainda estava vivo ou não.

Após todo aquele impacto, senti meu corpo sendo arrastado pela onda de choque, lançado como uma folha ao  tambor da tempestade. Segurei-me desesperadamente a uma rocha para não ser levado pelo vendaval que se intensificava, mas a força era esmagadora. Fui arremessado ao chão, a lama fria cobrindo meu rosto e as roupas já ensopadas. O gosto amargo de terra e chuva se misturava.

"Eu apostei tudo nesse sacrifício; era a única solução que tinha em mente..."

Aquela aberração que deveria ter sido aniquilada pela explosão se regenerava diante de mim. Seus membros voltavam a se formar, e as cabeças deformadas emergiam novamente de seu corpo grotesco. Enquanto lutava para me levantar. Com o braço direito, apoiei-me no chão, trêmulo, enquanto o que restava do meu braço esquerdo jorrava sangue, criando uma poça escura na lama contaminada...

— Não... de novo... — sussurrei, sem forças para acreditar no que via.

Eu não sentia dor, apenas uma ausência completa de tudo, como se minhas emoções tivessem sido arrancadas junto com meu braço. O vazio era desconcertante, mas não havia tempo para lamentações. A criatura se erguia novamente, suas cabeças serpenteando no ar, prontas para terminar o que haviam começado.

Sem hesitar, apliquei a magia de contenção no que restava do meu braço esquerdo, estancando o sangramento antes que fosse tarde demais. O calor da magia me envolveu, mas a exaustão pesava sobre mim como uma montanha.

— É com esse poderzinho que vai me derrotar? Hahaha! — zombou a criatura, com um sorriso cruel se formando em seu rosto deformado, as várias cabeças se movendo em minha direção.

O som de sua risada ecoava pela floresta, misturando-se ao vento e aos trovões, carregado de deboche. Meu corpo estava em frangalhos, mas a chama das emoções havia se apagado.

"Nada do que aquela criatura fala me afeta mais. Tudo havia esfriado; não sentia mais nenhuma hesitação em meu corpo."

Eu não podia parar. Mesmo com o corpo se desfazendo, continuei meu ataque, chutando pedras em minha direção e desferindo golpes cruciais contra ela. Suas cabeças serpenteavam, tentando me pegar, e eu desviava de cada investida com a ultima gota de agilidade que restava.

 


 



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