Kaito Além do Horizonte Brasileira

Autor(a): Carlos Jesus


Volume 1

Capítulo 16: Uma Presa Sobre a Mesa (8)

 

 

 

Quando alcancei a saída, me puxei para fora com um último esforço, rolando para longe. A respiração estava pesada, e todo o corpo tremia de exaustão, mas eu tinha conseguido sair de lá.

— Droga! Preciso encontrar uma maneira de lidar com essa criatura; ela está subindo rápido!

— Já sei, vou usar a magia de explosão. Ela vai se ferrar — disse ele, com uma expressão de astúcia enquanto se levantava do chão rapidamente.

Com um movimento rápido, agarrei uma pedra do chão e concentrei a magia de explosão nela. Sem hesitar, lancei a pedra diretamente no buraco, onde a criatura ainda estava.

O impacto foi instantâneo. Uma explosão violenta sacudiu o terreno, iluminando a escuridão com um brilho feroz. O grito da criatura ecoou no ar, um som gutural de dor e fúria, mas foi logo abafado quando as paredes do buraco começaram a desmoronar.

A terra se fechou sobre a criatura, enterrando-a novamente sob toneladas de escombros. O som das pedras caindo e o eco distante de seu grito foram os últimos sinais de sua presença.

— Que criatura era aquela? — murmurei para mim mesmo. Eu mal consegui enxergar direito, mas parecia ser metade metálica e o corpo todo gosmento e frio, com uma aparência bizarra. Era como se tivesse saído de um pesadelo, uma mistura grotesca de coisas que eu nunca tinha visto. Mas, sinceramente, não tava a fim de ficar ali pra descobrir mais.

— Eu... consegui... — sussurrei, tentando acreditar que realmente havia escapado. 

O vento frio da noite, misturando-se com a chuva que continuava a cair. Olhei para o horizonte, a visão ainda turva pelo cansaço, mas eu sabia que precisava continuar. Não podia ficar ali parado nem por mais um segundo.

"Ai, ai, ai... meus sentidos estão mais alertas do que nunca. Não posso nem respirar por um segundo, e essa fome ainda tá me apertando," pensei, enquanto segurava a barriga com um gesto de dor.

Acabei entrando em um balaio de gatos. A tempestade levou meus suprimentos, e agora, no meio desse caos, preciso agir rápido, ou vou morrer de fome.

— Floresta! Eu vou mostrar pra você que o seu teste não vai me derrubar! — gritou ele, levantando a espada sob os relâmpagos, a luz refletindo na lâmina.

— Eu desafiei o vale e, em seguida, ele respondeu à altura, lançando raios pelo chão. Era como se ele quisesse me dizer: "Eu vou com tudo que tenho. Quero ver você tentar."

Uma resposta rápida da floresta me atingiu como um soco no estômago. Eu percebi que ela faria de tudo pra me derrubar. "Só os iludidos acham que têm alguma chance aqui", pensei, enquanto sentia o peso do desafio se aproximar. Era só uma questão de tempo até ela jogar mais uma bomba no meu caminho.

— Vamos lá, floresta! Você acha que eu vou desistir assim? —  gritei, mesmo sabendo que a única resposta seria o sussurro do vento entre as árvores.

Seguindo o fluxo, só fazia tudo ficar mais intenso. Meus ossos começaram a doer, e as articulações estavam tão rígidas que eu mal conseguia me mover direito. 

Estava me esforçando e ultrapassei meus limites. E, se eu fosse sincero, nem sei se há um limite quando se tem determinação e um objetivo claro, como o meu até agora.

— Hum... parece que cheguei a uma área isolada. Essa chuva não para; é uma cortina de água bruta e fria que cai dos céus escuros, parecendo querer cortar minha pele, como lâminas afiadas caindo sobre mim.

Essa área era diferente de todas as outras. Tinha algo de estranho, como se estivesse se estendendo para além da lógica. Não havia vegetação; o solo parecia desolado. Eu conseguia ver a vegetação densa se estendendo um pouco mais à frente, mas ali... era um vazio inquietante.

As breves rajadas de luz dos relâmpagos me dão uma visão um pouco mais clara dessa área. Só tenho que chegar até o outro lado.

Foi quando, ao dar mais alguns passos, o chão traiçoeiro me fez escorregar. Caí de joelhos, a lama fria se infiltrando na minha roupa. Tudo estava escuro. Mas foi aí que um relâmpago rasgou a noite como se estivesse criando raízes por toda aquela escuridão, iluminando o chão à minha frente.

Diante de mim, uma caveira, vazia e inerte, olhava diretamente pro meu rosto. Meu coração disparou. O choque me fez perder o fôlego, e eu tremia enquanto encarava aquele crânio que parecia surgir do nada.

— Ah! Gritei, instintivamente me jogando para trás.

"Que susto de merda foi esse? Tudo que enfrentei até agora foi bem pior, e eu fui logo me assustar com uma caveira?" pensei, colocando a mão no rosto e balançando a cabeça de um lado para o outro.

Vários relâmpagos começaram a surgir, iluminando toda a área, e me permitindo ver claramente tudo ao meu redor. E não foi uma visão muito agradável...

Corpos... espalhados por todo o chão. Não eram só ossos. Eram restos, alguns ainda frescos, testemunhas silenciosas de um massacre que eu não podia imaginar. O cheiro de carne em decomposição tomou conta do ar, me revirando o estômago.

"Mas... o que...?" observei, tentando entender o horror diante de mim.

— Nossa! Que cheiro forte, não estou aguentando — disse ele, começando a vomitar enquanto a náusea tomava conta.

— Espera... que barulho é esse? — sussurrei pra mim mesmo, congelando no lugar. Algo estava sendo rasgado... parecia carne. O som de algo devorando sua presa me arrepiou até a espinha.

"Parece que alguém tá no meio do jantar," pensei, enquanto me aproximava lentamente, com passos leves, mal respirando. A cada movimento, o som ficava mais nítido, mais perturbador. Tentei focar minha visão entre as sombras, tentando descobrir de onde vinha aquele ruído sinistro.

Enquanto eu fazia todas aquelas articulações elaboradas para não atrair a atenção indesejada, um trovão forte, acompanhado de relâmpagos, iluminou toda a área à minha frente, revelando o que eram aqueles sons que eu estava escutando antes.

"An? Que coisas horrendas são essas? Acho que chamei a atenção delas; era tudo o que eu menos queria" pensei, enquanto estava  paralisado, como se aquelas criaturas estivessem me segurando com sua pressão maligna.

Algo se mexia: algum tipo de criatura semi-humana, com olhos famintos. Elas se alimentavam dos corpos, suas bocas sujas de sangue. O som de algo que poderia ser riso escapou de uma delas, mas logo se transformou em um eco distorcido e tenebroso que reverberou por toda a área, revelando o prazer macabro em suas ações.

"Não... Isso não pode estar acontecendo." 

"Não... É real. Não faz nem meia hora que escapei de um terror, e já dei de cara com outro. Maldita floresta!"

— Quem... quem são vocês? — perguntei, com a voz tremendo, mas com uma determinação desesperadora. Eu precisava entender o que estava acontecendo, por mais aterrorizante que fosse.

As criaturas pararam por um instante, seus olhares fixos em mim, como se eu fosse uma iguaria à espera de ser devorada. Suas bocas se contorciam em risadas macabras, prontas para saborear uma nova presa. Os olhos delas pareciam perfurar minha alma, enquanto sorrisos grotescos se esticavam em rostos deformados, como máscaras de um prazer distorcido. A atmosfera se tornou pesada, e eu senti um calafrio percorrer minha espinha. Estava claro que a diversão delas estava apenas começando.

— Hahahaha... hahahahaha.............

A risada reverberava, cada vez mais alta e perturbadora. Uma das criaturas, mais próxima, se aproximava lentamente, seus olhos insanos fixando-se nos meus.

— Somos o seu pior pesadelo — respondeu ela, com a voz baixa e cheia de malícia.

— Vamos devorar seus medos... por inteiro... até não sobrar nada.

"Essas criaturas são muito perigosas. Estou no território delas, uma situação séria que devo analisar por inteiro. Vou ter que enfrentá-las, não há escapatória... pelo menos por agora."

Então, de repente, como se tivessem recebido um comando silencioso, dispararam para as copas das árvores, suas formas sombrias se misturando à tempestade, enquanto os relâmpagos iluminavam suas silhuetas monstruosas.

— Estamos apenas nos preparando para o banquete... — sibilou uma delas, sua voz flutuando na brisa úmida como um veneno invisível.

Meus joelhos vacilaram, enfraquecidos pelo pavor. O peso dos olhares delas me esmagava, e cada segundo se estendia como uma eternidade. Permaneciam ali, imóveis, observando-me com uma fome doentia, como se eu fosse o prato  de um ritual.

— Não se preocupe — sussurrou outra, com uma risada sufocada e perturbadora — temos um gosto especial por medo.

Era um jogo. Eu era a presa, a diversão delas. Meu coração martelava no peito enquanto a escuridão ao meu redor se fechava mais e mais. 

— Hoje, vamos nos divertir muito! — disse outras, lambendo os dentes afiados com sua línguas bifurcada, os olhos brilhando com um desejo sádico.

A risada que veio a seguir era metálica, como o rangido de correntes enferrujadas, carregada de uma alegria perversa. O som reverberou pela noite, distorcido pelos trovões, enquanto cada fibra do meu ser gritava para correr.Eu não era mais um observador. Eu era a caça.

— Isso não é bom... — murmurei pra mim mesmo, sentindo a urgência crescer enquanto a cena grotesca se desenrolava diante de mim. As criaturas se moviam de uma árvore pra outra com uma precisão assustadora, preparando-se para um banquete macabro. E eu, definitivamente, não queria ser o prato principal.

— Uau, era tudo o que eu precisava nesse momento... — resmunguei com sarcasmo, observando as formas monstruosas que se escondiam entre as árvores. 

— Cercado por criaturas, numa tempestade gelada, com o vento cortando meu rosto, no meio de uma floresta desconhecida. Perfeito!.......

A cada clarão, suas expressões se tornavam mais nítidas. O jogo havia começado, e eu sabia que não tinha muito tempo. Qualquer movimento em falso, e elas avançariam com tudo.

"Preciso ficar atento... essas coisas adoram brincar com suas presas", pensei, enquanto observava em todas as direções e percebia que estava cercado.

— Isso me dá uma chance... talvez 10%? Melhor que nada!

— O que eu faço? — Kaito se perguntava, tentando pensar em uma solução. — Nem tudo está perdido.

A exaustão começava a me dominar, como se a tempestade estivesse drenando o que restava da minha energia. Mas a vontade de sobreviver gritava mais alto.

— Nem sei se sou eu mesmo ou se meu corpo está se movendo por instinto — murmurei, tentando manter a consciência. A cada segundo, a luta interna para não desmaiar ficava mais difícil.

As criaturas continuavam me observando das árvores, como predadores à espreita, apenas aguardando o momento perfeito para o ataque. Seus olhos brilhavam entre as sombras, calculando cada movimento meu.

— Drogaaa! — gritei, minha voz rasgando o barulho da tempestade, misturando desespero e força em um só som.

Era tudo ou nada. Eu tinha que jogar o jogo delas, entrar na onda. Se quisessem sair, então eu ia dançar conforme a música. Não havia escolha. Ou eu me adaptava, ou seria devorado.

Cada experiência que enfrentei até agora vem me preparando para encarar o impossível. As palavras do santuário ecoavam em minha mente: "Abandone tudo o que já foi um dia e se transforme em uma nova pessoa." O medo era real, mas também a chave para me tornar mais forte. Eu não podia falhar agora.

— Suas malditas! Eu não vou arregar pra vocês. Um vai cair aqui e agora, mas esse um não sou eu. Vai ser vocês! — gritei, minha voz se fundindo aos raios que atingiam todo aquele solo podre.

Uma das criaturas soltou uma risada maligna, tão fria quanto o vento cortante que serpenteava pela aréa, reverberando nas árvores como um presságio de morte.

— Hum... esse humano parece interessante — sibilou ela, seus olhos famintos me devorando à distância. — Vai ser divertido brincar com ele... e depois saborear sua carne.

Minha raiva cresceu, inflamando-se. "Essa praga acha que pode brincar comigo?" pensei, com os punhos cerrados.

— Olha bem pro meu rosto e vê se tô brincando — gritei o mais alto que pude, tentando intimidar aquelas bestas.

Com o foco renovado, me preparei para o confronto. O peso da lama não importava mais. Eu estava no limite da minha paciência, e a adrenalina começava a crescer mais e mais, me mantendo alerta.

Uma das criaturas aproveitou a escuridão e disparou na minha direção. Seus movimentos foram rápidos e imprevisíveis, saltando de um lado para o outro como um vulto nas sombras, tentando me desorientar. Mas, naquele instante, a chuva parou brevemente, e o clima se acalmou, quase como se o mundo tivesse parado pra ver o que estava por vir.

"Lá vem ela... de novo não tô conseguindo prever," pensei, com os sentidos aguçados pela adrenalina.

"Caramba! Com meus sentidos aguçados, eu ainda não tô conseguindo acompanhar ela! Que merda!!"

Ela avançou, suas garras cortando o ar com um silvo mortal, mirando meu rosto. O ataque foi rápido, mas minha reação foi instintiva. Com uma agilidade desesperada, senti o vento das garras roçar meu rosto e, por uma fração de segundo, desviei do golpe fatal. Aquelas garras afiadas teriam me despedaçado, e eu nem queria imaginar as consequências desse erro.

— Não vai ser assim tão fácil... — murmurei, sentindo o coração martelar no peito.

— Quase fui de base! Foi por pouco, isso quase me matou...

Eu não podia permitir cometer mais erros. A criatura estava determinada a me pegar, e eu estava igualmente decidido a revidar. A tensão no ar era palpável; cada movimento era crucial. Era hora de lutar com tudo o que eu tinha.

"FUI PEGO! CACETE, NÃO VAI DAR TEMPO DE REVIDAR!!" pensei, enquanto tentava me virar pra não levar o golpe nas costas.

Mas a criatura era maliciosa. Pegou-me de surpresa e desferiu um golpe brutal. Tentei bloquear com minha espada, mas a força do ataque foi tão devastadora que a lâmina se despedaçou em minhas mãos. O impacto foi violento; uma dor lancinante atravessou minha barriga, e eu fui lançado, rolando pelo chão lamacento. A dor se intensificava, quase me descontrolando, até que finalmente parei, a respiração pesada. A chuva voltou a cair, misturando-se com meu sangue e com a lama ao meu redor.

 


 



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