Kaito Além do Horizonte Brasileira

Autor(a): Carlos Jesus


Volume 1

Capítulo 14: O Silêncio à Flor da Pele (6)

 

 

— Sobrevivi ao pesadelo, mas vejo que os sonhos continuam.

— Agora, acho que o fruto está mais perto, hahaha. Tomara! Não posso ficar perdendo tempo, senão Khalak vai me deixar para trás...

Mas o alívio foi brevemente interrompido quando percebi que o cristal começou a brilhar intensamente, esquentando tanto que quase queimei a mão.

— Droga! — exclamei, jogando-o no chão com um movimento rápido.

O cristal rolou alguns centímetros antes de parar, irradiando uma luz pulsante que iluminou o ambiente ao redor. De repente, um grupo de figuras encapuzadas emergiu da luz, como se o brilho do cristal as tivesse convocado.

Suas roupas eram feitas de peles e tecidos antigos, desgastados pelo tempo e adornados com símbolos estranhos. Seus rostos estavam ocultos nas sombras dos capuzes, mas seus olhos brilhavam com uma intensidade quase sobrenatural.

— Quem são vocês? — perguntei, tentando entender o que estava acontecendo. — O que querem de mim?

As figuras não responderam imediatamente. Em vez disso, uma delas deu um passo à frente e estendeu a mão, fazendo um gesto que fez o cristal levitar do chão.

— Achamos que esse dia demoraria uma eternidade, mas vemos que as coisas estão evoluindo rápido demais — disse a figura com uma voz grave e enigmática.

— O cristal é apenas o começo — continuou, enquanto o cristal flutuava entre eles, sua luz refletindo nos rostos ocultos. — Ele contém um poder que você ainda não compreende.

— Como assim, um poder que não compreendo ainda? — questionei, sentindo a confusão crescer dentro de mim.

— Para usar o verdadeiro poder do cristal, você terá que enfrentar o que está por vir — declarou a figura, sua voz ressoando como um eco profundo. — Você foi o escolhido, e seu destino já está traçado.

Antes que eu pudesse reagir, as figuras começaram a desaparecer, suas formas se dissipando na luz do cristal, como se fossem apenas fumaças.

— Espera aí, não estou entendendo nada! Me explica melhor! — gritei, estendendo a mão em desespero, mas já era tarde. As palavras se perderam no vazio, e o silêncio tomou conta do ambiente.

— Ahhh! Deve ser sobre aquelas duas divindades.

Fiquei ali, sozinho, com o cristal ainda flutuando à minha frente, sua luz diminuindo até que tudo voltasse à escuridão. O que quer que tivesse acabado de acontecer, eu sabia que isso poderia tornar meu caminho ainda mais difícil.

— Até que enfim consegui sair da caverna! Aquele lugar era tão misterioso quanto perigoso — eu respirei fundo, sentindo o alívio misturado ao temor.

Mas, antes que pudesse saborear essa vitória, a visão à minha frente me fez estremecer. Eu ainda não tinha percebido, estava distraído com o cristal.

— Ahhh, não! Essa floresta de espinhos nunca acaba! — exclamei, o desespero se instalando rapidamente. — Pensei que, ao passar pela caverna, tudo iria acabar...

A esperança que havia começado a florescer foi esmagada. As sombras dos espinhos gigantes se estendiam por todo o horizonte, como um mar de garras afiadas, esperando para me capturar.

Um som sutil de estalos à minha volta me fez congelar. Meus olhos vasculharam a escuridão, buscando qualquer sinal de perigo.

— O que é esse cristal? — murmurei para mim mesmo, segurando o objeto brilhante com firmeza. Ele ainda pulsava com uma energia estranha. — Parece ser muito importante... Preciso guardá-lo. Ele estava protegido bem no fundo do abismo da caverna.

Mas, ao olhar ao meu redor, uma sensação de inquietação me invadiu. O cristal parecia atrair algo; era como se todo o ar pesado da floresta tentasse capturá-lo.

— Tenho que descobrir. Não posso contar para ninguém; minha intuição me diz para manter a boca fechada.

— Azar ou sorte a minha? Hahaha — murmurei, olhando para o céu encoberto.

— E agora? Está começando a escurecer.

Os olhos da coruja estavam quase no limite; eu havia gasto muita energia naquela escuridão. Se eu a convocasse novamente, meu tempo restante seria curto.

— Preciso tomar muito cuidado agora...

— Um passo de cada vez. Dependendo de onde eu pisar, pode haver uma armadilha.

Enquanto caminhava, os sons da floresta se intensificavam, como se as sombras estivessem se aproximando, juntando-se ao meu redor, à espera do meu próximo movimento.

— Hahaha! Nem sei mais se essa floresta é mais perigosa de dia ou à noite! — brinquei, tentando aliviar o clima.

Com muita cautela, segui adiante, os olhos atentos a todas as direções, tentando prever qualquer situação que pudesse surgir no meu caminho. Cada estalo parecia se mover, e cada sussurro do vento trazia a promessa de perigo.

À medida que avançava, cheguei a uma área mais densa, onde os últimos raios de sol se despediam do dia. A luz dourada iluminava o espaço, mas uma sensação crescente de que um novo desafio se aproximava tomou conta de mim.

Senti um alívio ao perceber que havia deixado a floresta de espinhos para trás. A área à minha frente marcava o fim daquele pesadelo espinhoso, mas logo se revelava uma nova ameaça: uma região densa, onde a visão se tornava quase impossível.

— Finalmente! — exalei, o alívio misturado com a tensão. — Mas agora é só o começo. Esta área parece ainda mais traiçoeira.

À medida que avançava, o som das árvores balançando e rangendo ao vento se intensificava, criando um ambiente sinistro. Cada passo parecia ecoar, e a sensação de ser observado tornava-se cada vez mais intensa.

— Essas árvores estão vivas com uma energia estranha, — murmurei, tentando me manter alerta. — Se eu não tomar cuidado, posso ser atacado de qualquer lado.

O terreno à frente parecia se desfigurar à medida que me aproximava, e a sensação de claustrofobia se intensificava. As árvores balançavam de forma ameaçadora, como se estivessem planejando algo sinistro.

— Não posso baixar a guarda. Se há alguma coisa aqui, vou encontrá-la. — Decidi, mantendo a vigilância constante.

Com cada passo, a densa floresta parecia envolver-me em um abraço sufocante. O medo do desconhecido me acompanhava, e o silêncio, interrompido apenas pelos estalos das árvores, tornava o ambiente ainda mais inquietante.

— Tentei sair de um desafio e fui pego por outro, mas estou satisfeito com minha evolução — refleti, deixando as palavras ecoarem na minha mente.

— Depois daquele conflito com o Carnífice Sanguinário, percebi que sempre devo buscar melhoria e me aprimorar — continuei, os pensamentos pesando em minha mente, mas também me fortalecendo.

— Cada passo que dou parece tornar o caminho mais difícil — respirei fundo, deixando a realidade da jornada me envolver por completo.

Uma ideia passou pela minha cabeça: fazer uma fogueira. Mas, em um instante de clareza, percebi que aquele não era o momento nem o lugar ideal. Eu poderia me tornar um alvo fácil.

— Imagina só! Uma criatura espertinha que adora fogo se aproximando! Hahaha! — tentei afastar o medo que começava a se infiltrar, mas o riso foi breve, logo substituído por um silêncio.

— Mas é bom não abusar da sorte... — comentei, olhando para o céu, onde a noite se aproximava rapidamente.

"Está chegando a hora de enfrentar o que habita na escuridão. Então é isso, não tem jeito, pensava ele, enquanto continuava a observar a noite se aproximando."

— Mas sabe de uma coisa? — perguntou ele, sentindo uma leveza inesperada em meio ao caos. — Toda essa experiência está valendo a pena. Está me moldando e me transformando de maneiras que eu nunca imaginei.

Eu podia sentir as mudanças dentro de mim, e eram gigantescas. Cada obstáculo, cada momento de desespero, estava me tornando mais forte, mais resiliente. A jornada não era apenas sobre sobreviver; era sobre crescer, evoluir.

O que antes me parecia insuportável agora era uma prova do quanto eu havia avançado. Cada passo, cada decisão, estava me levando para mais perto de me tornar quem eu precisava ser. E, por mais difícil que fosse, sabia que no final, tudo isso faria sentido.

"Foi por esse motivo que resolvi sair em uma aventura e conhecer melhor este mundo. Já vi bastante coisa desde que entrei nele, mas ainda há muitas experiências que quero viver, e isso só depende de mim."

Enquanto andava e refletia sobre minhas escolhas, deparei-me com algo estranho que capturou minha atenção. Havia uma criatura parada, coberta de espinhos, bloqueando o caminho.

— Mais uma surpresa... Que merda é essa? — murmurei, perplexo. — Essa criatura não tem olhos!

Minha mente girava em busca de uma solução. "Talvez eu consiga passar por ela suavemente, sem que me note...” pensei, tentando entender a situação em que me encontrava.

— Eu ainda não sei se ela consegue me enxergar de outras maneiras, como por sons, calor, movimento, odores ou magnetismo. Preciso analisar isso.

Me aproximei cautelosamente, com os músculos tensos, pronto para reagir. A criatura permanecia imóvel, como se estivesse em um estado de espera. Mas, de repente, um barulho próximo a fez reagir. Num instante, ela disparou uma chuva de espinhos em todas as direções, e eu me desviei instintivamente, o coração martelava no peito.

— Que susto! — gritei, o som escapando antes que eu pudesse contê-lo. A visão dos espinhos voando por todo lado foi aterrorizante. Percebi naquele momento que, se quisesse passar por aquele caminho, precisaria de uma estratégia bem pensada.

No entanto, meu grito foi um erro grave. A criatura escutou o som e se virou na minha direção, seus espinhos eriçando de forma ameaçadora. Meu sangue gelou quando percebi que ela estava vindo direto para mim.

"Droga, o que eu fiz?", amaldiçoando minha impulsividade. Sem ter escolha, me escondi rapidamente atrás de uma pedra próxima, tentando me acalmar.

Coloquei minhas mãos na boca e prendi a respiração, enquanto a criatura farejava o ar, rastreando o som que havia feito. A saliva que escorria de sua boca atingiu a pedra, e o som do ácido corrosivo começou a corroer a superfície sólida, soltando fumaça.

Zzzzzzzzzzzzt.........................

"Por que essa praga não se afasta logo? Não consigo me mexer."

"Ela pode tanto ouvir por sons quanto detectar por cheiro, mas parece que a capacidade de olfato é limitada. A audição dela, por outro lado, é muito boa."

Eu estava encurralado, sem saída.  A tensão era insuportável, e eu só podia esperar que a criatura perdesse o interesse e se afastasse, dando-me uma chance de escapar, pelo menos era o que eu achava.

Por sorte, a criatura se afastou ao ouvir um barulho vindo do outro lado da pedra. 

“Não posso enfrentar essa coisa sem minha magia. Os Olhos de Coruja estão quase no limite, e eu não posso falha.”

“Ao menos que eu encontre uma saída, qualquer movimento em falso pode ser fatal.” 

Olhei para o chão, peguei uma pedra e a lancei em direção à criatura. A pedra a atingiu, e ela imediatamente se enfureceu, disparando espinhos em todas as direções com tanta violência que quase pude sentir o impacto. Reagi instintivamente e me escondi atrás de uma árvore.

“Droga, devo tomar muito cuidado. Olha o tanto de espinhos voando por todo lado. É um absurdo.”

Mas o que eu não esperava foi o seguinte: um espinho disparou diretamente na minha direção. Ele atingiu o chão ao meu lado, e a explosão de estilhaços me fez saltar para trás. Um pedaço de espinho voou direto para o meu rosto. Reagi rápido, levantando a mão para me proteger.

“Que dor! Enquanto o espinho se cravava em minha mão, quase atingindo meu olho.”

“Nossa, foi por pouco... quase fiquei cego!” senti o pânico se misturar com a dor pulsante. A ferida ardia intensamente, e a preocupação se instalava à medida que eu lutava para controlar a dor e a situação. A situação estava crítica, e eu precisava encontrar uma forma de escapar antes que a próxima ameaça se manifestasse.

“Essa dor não para... Espero que não seja venenoso!” 

Com a mão machucada, a cada movimento, a dor se intensificava. Era um teste de resistência, e eu precisava me concentrar se quisesse sobreviver.

Olhei para minha mão enquanto o sangue quente escorria pelos meus dedos, tingindo o chão. Com um impulso de dor, arranquei o espinho que estava cravado em mim. A dor foi absurda; a vontade de gritar era imensa, mas eu precisava manter a postura se quisesse sair daquela situação perturbadora.

“Droga, preciso agir rápido!” 

Observei a criatura se retraindo, seus espinhos se recolhendo. Por enquanto, ela havia abandonado sua postura de combate.

“Posso usar os Olhos de Coruja por um breve momento. Com isso, vou ficar incrivelmente veloz e jogar várias pedras; ela não saberá de onde vêm. Esse será meu momento.”

Ativei os Olhos de Coruja, sentindo a energia invadir meu corpo. Com um movimento ágil, comecei a lançar as pedras enquanto passava rapidamente perto dela, sem olhar para trás. Ouvi o som dos espinhos disparando atrás de mim, mas já estava em movimento, evitando os ataques com uma destreza impressionante.

— Isso é um espetáculo digno de um mestre! — disse, admirando minha própria habilidade em esquivar dos espinhos.

À frente, avistei um terreno com uma descida. A esperança começou a florescer dentro de mim. Mas antes que eu pudesse avançar, a criatura se lançou em minha direção e me atingiu com um golpe brutal. Eu não percebido a tempo.

— Não! — gritei. O impacto foi brutal, reverberando pelos meus braços e quase fazendo meus ossos se partirem, com sangue saindo da minha boca.

Senti meu corpo ser arremessado ladeira abaixo, rolando de forma descontrolada e violenta. A dor explodiu em cada parte de mim, misturando-se com a escuridão e o caos da queda.

“Não, não!” pensava, enquanto tentava desesperadamente recuperar o controle. A gravidade parecia me arrastar para um pesadelo sem fim, e a sensação de perda de controle era esmagadora.

O chão se aproximava a uma velocidade aterradora, e a única coisa que eu conseguia fazer era me proteger, tentando minimizar o impacto.

Finalmente, após um impacto brutal na cabeça, o mundo ao meu redor se apagou. O chão plano em que parei parecia um alívio momentâneo antes da escuridão consumir meus sentidos.

Horas mais tarde, ao abrir os olhos, um frio gelado caiu sobre mim. Era a chuva, escorrendo pelo meu rosto e misturando-se com a adrenalina que ainda pulsava nas minhas veias.

Olhei ao redor e percebi que estava em uma área que começava a se alagar, com a água subindo lentamente e ameaçando me cobrir por inteiro.

— Onde estou? — murmurei, a mente ainda turva e a realidade começando a se ajustar. — Não é o melhor momento para uma enchente...

O som da chuva caindo e a água se acumulando ao meu redor eram constantes, enquanto eu lutava para me levantar e avaliar a situação. 

 

 


 



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