Kaito Além do Horizonte Brasileira

Autor(a): Carlos Jesus


Volume 1

Capítulo 13: O Colapso Que Mudou Tudo (5)

 

 

— Não! Espera um pouco, é isso mesmo que estou vendo? — disse ele, a voz trêmula de incredulidade, enquanto fixava os olhos à sua frente, sem piscar nem por um instante.

"Devo seguir!? Devo parar!?”

"Isso é um absurdo... um completo absurdo!”

Minha mente não parava. Pensamentos e mais pensamentos se entrelaçavam, num turbilhão que me fazia questionar minha própria sanidade. Estava à beira de um colapso, e em questão de segundos, a loucura parecia inevitável.

 Paff! Paff!..............

Bati com as duas mãos no rosto, tentando dissipar o desespero. Respirei fundo, lutando para me recompor. Sabia que não adiantava sucumbir. Precisava me manter firme, mesmo em meio a essa loucura.

Com os nervos à flor da pele, comecei a atravessar a ponte. Mas então, ruídos misteriosos surgiram das profundezas abaixo de mim. Parei bruscamente, cada músculo do meu corpo em alerta. Meus olhos varreram a escuridão em busca de perigo.

"Deve ser nada...!” murmurei para mim mesmo, tentando me acalmar.

"Mas, nesta carverna, o 'nada' pode se transformar em tudo!”

Foi então que percebi algo que havia ignorado. Meu olhar se voltou para cima, e o que vi me congelou. Um enxame de morcegos pendia do teto da caverna. Mas não eram morcegos comuns. Eram criaturas horrendas, adormecidas, como se aguardassem o momento certo para despertar.

"Droga... isso está longe de ser 'nada'...”, pensei, enquanto a realidade começava a me envolver.

"Qualquer barulho alto poderia despertá-las.”

"Merdaaaaaaa!”

"Merdaaaaaaa!”

"Espero que elas não acordem agora. Estou em uma posição nada agradável." 

"Tenho que ficar em silêncio."

Meu suor começou a escorrer pelo rosto e a pingar. Eu não podia deixar nenhuma gota cair no chão. Precisava manter a calma, pois aquelas criaturas poderiam sentir meu cheiro, e também qualquer barulho fora do normal, e eu não queria que isso acontecesse.

"Vamos lá, Kaito! Um passo de cada vez," pensei, enquanto pisava atentamente no chão, cada movimento cheio de cautela.

Cada passo que eu dava fazia com que eles se mexessem. Podia ouvir seus barulhos, como se estivessem tentando captar qualquer som. Eles eram os caçadores, e eu, a presa fácil naquela situação obscura.

Quem passasse por ali desatentamente talvez nem percebesse a ameaça; quando fosse perceber, já seria tarde demais. Apenas os mais habilidosos notariam o perigo, mas lidar com essas criaturas não seria uma tarefa fácil.

Em um momento, comecei a escutar barulhos bem distantes, mas a cada segundo, eles pareciam se aproximar mais. A caverna começou a estremecer levemente, com os ecos reverberando pelas paredes úmidas e escuras.

"Eita! Cacete, agora não! Espero que esse barulho não chegue até aqui." 

"Estou quase saindo desse inferno sombrio... Pelo menos, é o que parece aos meus olhos. Mas essa preocupação me consome."

"Espere... Senti uma brisa leve de ar. Algo não está certo".

"Não! Não... O chão está rachando. Cada passo que dou só piora a situação. Como fui tão descuidado? Não prestei atenção nesse detalhe crucial."

"Ah, não! Eu não esperava por isso. Merda!" pensou ele, enquanto a adrenalina começava a tomar conta do seu corpo.

A brisa começou a aumentar, trazendo consigo um tremor que reverberava por todo o ambiente. Em um deslize, perdi o equilíbrio e caí, mas, por sorte, consegui cravar a espada na rocha, impedindo uma queda completa. A lâmina se firmou, mas minha engenhosidade teve um preço: a ponta da espada fez a ponte rachar ainda mais rapidamente.

"Essa não! Só o que me faltava... Mais adrenalina! Se eu ficar moscando, este será meu túmulo," pensou ele, lutando para se sobressair dà situação.

Com um esforço, consegui subir novamente, ofegante e em choque. Um alívio tomou conta de mim ao perceber que os morcegos não haviam notado minha queda. Eles pareciam entorpecidos, acostumados ao som da brisa e aos tremores da caverna. Somente ruídos diferentes e inesperados pareciam atraí-los, como um imã chamando a atenção deles.

"Ufa!............"  

O peso da situação começava a dissipar lentamente, mas a precariedade da ponte não podia ser ignorada. Olhei ao redor; as sombras dançavam, e a escuridão parecia me observar, como se estivesse à espera do momento certo para se revelar.

"Ainda bem que os olhos de coruja estão sendo muito úteis. Se eu não pudesse ativá-los, com certeza me ferraria e muito."

"Preciso ir rápido, antes que os morcegos percebam minha presença, " pensava ele, enquanto tomava cuidado para não fazer ruídos.

Com um novo foco, avancei, atento a cada passo, enquanto a brisa continuava a soprar, como um lembrete constante de que a segurança era apenas uma ilusão.

"Na próxima brisa de vento, preciso correr rápido. Eu não posso hesitar."  

"Na próxima trepidação, a ponte vai ceder. Todas as outras caíram assim. Esta é a única que sobrou. Tenho que sair daqui antes que seja tarde demais." 

A próxima brisa se aproximava, como um aviso. Quando a sensação do vento se fez sentir, não hesitei mais.

— Agora! — gritei, e então comecei a correr.

A ponte começou a desabar sob meus pés. Corri como se minha vida dependesse disso, cada passo ressoando como um tambor. As criaturas, agora despertas e famintas, vinham em minha direção, aumentando a urgência da minha fuga.

— Não! — exclamei, enquanto o chão se fragmentava atrás de mim. Corri o mais rápido que pude, sabendo que cada segundo contava na luta para escapar daquele pesadelo.

Com um salto desesperado, lancei-me para frente, caindo em um local que também estava prestes a desmoronar. O impacto foi violento. A poeira me envolveu, e eu me debati para encontrar um ponto de apoio. O som do desmoronamento ainda ecoava nas cavernas, e os gritos abafados das criaturas se tornavam mais próximos.

"Isso não pode estar acontecendo!"  pensei, tentando me recompor rapidamente, com o corpo tremendo de adrenalina. Olhei para cima e vi a ponte, agora reduzida a escombros, desmoronando e desaparecendo no abismo.

— Elas não! Vão me pegar!..................... 

A área onde eu havia aterrissado parecia instável, com rachaduras se formando sob meus pés. O chão continuava a ruir ao meu redor, e eu sabia que o tempo estava se esgotando.

Com um olhar furtivo, percebi uma passagem estreita à minha frente, uma possível saída do caos que me cercava. As criaturas me seguiam, suas sombras se alongando na escuridão, e o som de suas asas ágeis ecoava como um aviso.

Sem hesitar, comecei a avançar por ela, cada passo meticulosamente calculado. A passagem era apertada e sinuosa, com as paredes rochosas parecendo se fechar ao meu redor. Um momento de silêncio, e então ouvi novos gritos.

— Não! — gritei, ciente de que as criaturas estavam tentando me alcançar pelo caminho apertado.

O espaço se tornava cada vez mais claustrofóbico, mas não havia tempo para hesitar.

— Preciso sair daqui! — sussurrei, pressionando-me contra as paredes estreitas enquanto continuava. Os gritos das criaturas se tornavam mais distantes, aliviando a tensão.

A passagem transformava-se em um labirinto de incertezas. Se continuasse em frente, talvez encontrasse uma saída, uma chance de escapar do horror que me perseguia.  Eu sabia que a única maneira de sobreviver era manter o curso.

— Não posso parar agora...........

— Eita! Parece que elas fizeram muito barulho, e a passagem desmoronou em cima delas, porque os gritos finalmente pararam. 

Finalmente, depois de uma eternidade de caminhada angustiante, a passagem se abriu em uma caverna maior e aparentemente mais estável. O silêncio era quase absoluto, quebrado apenas pelo som ocasional de gotas d'água caindo de estalactites.

— Preciso de um momento para respirar — murmurou ele, encostando-se em uma das paredes, com o corpo ainda em choque. — Mas não posso ficar aqui por muito tempo. Tenho que encontrar uma saída.

Olhei ao redor, observando a caverna em busca de qualquer sinal  de um caminho que me levasse para fora desse pesadelo subterrâneo.

Enquanto recuperava o fôlego, examinei a caverna. As paredes estavam cobertas por musgo e líquenes que brilhavam suavemente sob a luz das estalactites, conferindo um ar de vida ao ambiente. O chão estava repleto de pedregulhos e rochas soltas, evidenciando que o lugar havia enfrentado muitos colapsos no passado.

Explorei a caverna com cautela. Cada passo era cuidadosamente calculado, atento a qualquer sinal de instabilidade. À medida que avançava, notei marcas estranhas nas paredes.

 — Símbolos antigos? talvez de uma civilização esquecida ou de um grupo que já tinha passado por aqui. 

As marcas não eram apenas decorativas; pareciam contar uma história ou talvez servir como um guia.

— Talvez essas marcas possam me mostrar o caminho — disse ele, tentando decifrar seu significado. 

Os símbolos eram complexos e enigmáticos, mas alguns pareciam apontar em uma direção específica, para um corredor mais estreito na parte oposta da caverna.

Seguindo os símbolos, entrei em um túnel estreito que parecia se aprofundar infinitamente. O ar estava impregnado com um cheiro úmido e de mofo, e a atmosfera tornava-se cada vez mais densa. A passagem parecia não ter fim, mas voltar atrás não era uma opção. A sensação de estar sendo observado persistia, e a tensão era palpável.

De repente, ouvi um som diferente do habitual: uma espécie de murmúrio distante, quase como uma voz sussurrante, ecoando nas paredes da caverna. O som era sutil, mas fez meu coração acelerar.

 "Não posso perder a calma agora," pensei, forçando-me a continuar apesar do medo crescente.

Finalmente, o túnel se alargou e deu origem a uma pequena câmara subterrânea, iluminada por uma luz suave que parecia emanar das próprias rochas. No centro da câmara, havia um pedestal, e em cima dele repousava um objeto que parecia ser um cristal antigo, com detalhes intrincados e misteriosos.

"Vem, chegue mais perto," a voz sussurrou, sedutora e envolvente, como um mistério a ser desvendado.

Cada palavra parecia pulsar em harmonia com o brilho do cristal, despertando uma curiosidade insaciável dentro de mim.

Eu hesitei por um instante, ciente dos perigos que poderiam estar escondidos, mas a atração do cristal era mais forte do que minha própria vontade.

Senti meu coração acelerar enquanto dava um passo à frente, atraído pelo brilho hipnotizante. 

"O que estaria esperando por mim ali?" 

À medida que me aproximei do cristal, pergaminhos antigos chamaram imediatamente minha atenção. Decidi lê-los, intrigado com o que poderiam revelar.

— Milhões de anos atrás, o mundo era pacífico e calmo, habitado por uma civilização peculiar — comecei a ler em voz alta. — Mas nem tudo era o que parecia ser. Um ser divino desceu à Terra, determinado a controlar a civilização a todo custo. Ele travou uma batalha devastadora com os habitantes, trazendo morte e desastres naturais.

As palavras pareciam ganhar vida enquanto as lia, desenhando imagens vívidas em minha mente. Continuei:

— A humanidade, cansada de ser massacrada, fez um pacto com um ser misterioso que vivia entre a vida e a morte, um ser cujo nome ninguém conhecia. Ciente da destruição iminente, esse ser sabia o que aconteceria com a humanidade, mas se deixou enganar, fazendo-os acreditar que ele os ajudaria sem custo algum.

— Que tipo de ser faria algo assim? — murmurei, sentindo um arrepio na espinha.

O pergaminho continuava:

— A proposta do ser foi a seguinte: ele pediu para a humanidade selecionar seus guerreiros mais fortes, prometendo lhes conceder poderes mágicos, algo desconhecido até então. Assim foi feito. Esses guerreiros, agora dotados de poderes extraordinários, tornaram-se conhecidos como os Lendários.

— Lendários... — repeti, fascinado.

— O ser divino, ficou furioso sabendo que a humanidade não abaixaria as cabeças diante dele. Ele desceu novamente à Terra e travou uma guerra sangrenta contra os Lendários. Enquanto a batalha se desenrolava, o ser entre a vida e a morte observava tudo, sabendo que a colisão de energias traria uma nova era. A batalha culminou em uma explosão de poder que derrotou o ser divino e o selou, destruindo tudo ao seu redor e dando origem a um novo mundo, repleto de magias e criaturas bizarras.

As últimas palavras do pergaminho eram sombrias:

— Diz a lenda que esse ser divino retornará, trazendo uma guerra entre divindades, muito pior do que a que aconteceu milhões de anos atrás. No entanto, a verdade sobre esses eventos permanece oculta, pois ninguém daquela época sobreviveu. O mundo passou por mudanças significativas, e novas raças surgiram. E até hoje ninguém sabe onde o ser divino está selado; sua localização não foi encontrada até hoje.

Fechei o pergaminho, sentindo o peso da história que acabei de descobrir. O cristal no pedestal brilhava com uma luz enigmática, como se aguardasse meu próximo movimento.

— Que maldito ser divino! Aposto que, se algum dia ele voltar, a desgraça cairá sobre todos nós. Quem será esse outro ser que vagueia entre a vida e a morte? Ele foi extremamente astuto; tudo parece ter sido meticulosamente planejado. Deve ter um plano em mente ou ainda estar tramando algo.

— Esse cristal... será que é a chave para tudo isso? — perguntei em voz alta, o eco da minha voz reverberando pela câmara. — Preciso descobrir mais.

— Estou vendo vários símbolos que não conheço, parecem ser um tipo de proteção. Acho que alguém estava escondendo este lugar muito bem.

Peguei o cristal, sentindo uma energia pulsante em sua superfície. Parecia que meu destino estava entrelaçado com essa antiga lenda, e que grandes desafios ainda estavam por vir.

— Estou pronto — sussurrei para mim mesmo, determinado a enfrentar o que quer que o futuro reservasse.

Enquanto segurava o cristal, a câmara começou a estremecer. As paredes tremiam e o som de rachaduras se intensificava.

"Ótimo! Agora o lugar também está desmoronando," pensei, enquanto tentava encontrar uma rota de fuga.

Com o cristal nas mãos e o coração acelerado, procurei uma saída rápida. A única maneira parecia ser um pequeno túnel no canto da câmara, quase escondido pela escuridão. Sem perder tempo, segui por ele, o cristal firmemente agarrado, enquanto o som do colapso atrás de mim se tornava ensurdecedor.

— Preciso encontrar a saída antes que este lugar me engula — disse ele, avançando com determinação, guiado pela esperança de encontrar uma resposta para escapar daquele labirinto subterrâneo.

Corri rapidamente até chegar a outro local onde os desabamentos pararam. Examinando o ambiente à procura de uma saída ou de um caminho que indicasse para onde deveria ir, deparei-me com um grande lago no centro da caverna. Não havia sinais óbvios de uma saída.

— Isso é um sonho? — murmurei, enquanto observava atentamente o lago.

A água do lago refletia a luz suave emanada pelo cristal. De repente, percebi algo estranho: a superfície da água começava a brilhar intensamente, criando um caminho de luz que conduzia a um ponto específico no fundo do lago.

"Só pode ser isso." 

— Bem, não tenho nada a perder — falei, tentando reunir coragem. Respirei fundo, segurei o cristal com força e mergulhei na água fria.

Enquanto mergulhava seguindo o caminho iluminado, senti a pressão da água aumentando ao meu redor. O cristal parecia guiar-me, brilhando cada vez mais forte. Ao chegar ao fundo, vi uma abertura estreita em uma das paredes submersas.

"Vamos lá, é agora ou nunca," pensei, enquanto me espremia pela abertura.

Emergi do outro lado em uma câmara ainda maior. Lá, no centro, havia um pedestal semelhante ao primeiro, mas desta vez, havia uma inscrição em uma língua antiga que parecia se mover e mudar diante dos meus olhos. Aproximando-me, observei as palavras se organizarem em uma mensagem compreensível:

"Aqueles que buscam a verdade devem provar sua coragem e determinação. O cristal deve ser colocado no pedestal para revelar o próximo caminho."

— Parece que o teste ainda não acabou...........

Com cuidado, coloquei o cristal no pedestal. A câmara começou a vibrar novamente, mas desta vez, uma passagem secreta se abriu na parede oposta, revelando uma escada que subia em espiral.

— Será que é uma saída? Então vamos lá — disse ele, após seguir em direção à escada.

Subi a escada, deixando para trás o lago e as câmaras subterrâneas. Cada passo era um triunfo sobre o medo e a incerteza. Ao chegar ao topo, a luz do sol banhou meu rosto. Finalmente, eu estava livre, mas sabia que a jornada estava apenas começando.

 


 

 



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