Kaito Além do Horizonte Brasileira

Autor(a): Carlos Jesus


Volume 1

Capítulo 11: A Psicose dos Espinhos (3)

 

 

Finalmente, vislumbrei uma abertura entre as árvores à minha frente. Sem hesitação, mergulhei através dela, sentindo os galhos arranharem meu rosto enquanto eu corria para a liberdade relativa do outro lado. A floresta continuava a ecoar com os sons da perseguição, mas a distância entre mim e a criatura aumentava gradualmente.

Ofegante e tremendo de adrenalina, continuei correndo até que finalmente alcancei uma clareira aberta além das árvores. Olhei para trás, esperando ver a criatura emergir da escuridão da floresta, mas tudo o que encontrei foi o silêncio opressivo e a quietude da natureza.

— Se não fosse minha resistência e experiências passadas, creio que hoje seria meu fim.

“Algo me dizia que não era para lutar com aquelas criatura. Resolvi fugir. Às vezes, temos que saber a hora certa de desistir. Não é um sinal de fraqueza, e sim de sabedoria.”

Parei para recuperar o fôlego, deixando a realidade do que acabou de acontecer se instalar lentamente. Eu havia escapado por pouco, mas sabia que a floresta de Thuda ainda guardava muitos segredos e perigos.

Com um olhar cauteloso para trás, observei atentamente a floresta de Thuda. Não havia sinais da criatura que havia me perseguido implacavelmente momentos antes. Uma mistura de alívio e inquietação se misturava dentro de mim enquanto ponderava sobre o que poderia significar sua ausência.

Talvez a criatura tivesse desistido da perseguição, satisfeita por ter defendido seu território. Ou talvez estivesse simplesmente esperando pacientemente, pronta para atacar se eu me aventurasse novamente em seu domínio. Não importava a razão, uma coisa era clara: eu não queria ficar para descobrir.

Com um suspiro de alívio contido, virei-me novamente para a frente e continuei minha jornada através da floresta. Cada passo era tomado com cuidado, agora mais consciente do perigo oculto que podia surgir a qualquer momento. A luz do sol filtrada pelas copas das árvores parecia oferecer um vislumbre de esperança, um lembrete de que eu ainda não estava completamente perdido naquela terra sombria e enigmática.

O cheiro da floresta mudou, tornando-se menos opressivo à medida que me afastava da clareira onde havia enfrentado a criatura. Minha mente ainda ecoava com as imagens do encontro, mas o instinto de sobrevivência me impulsionava para frente, determinado a encontrar uma rota segura para fora daquele lugar hostil.

À medida que o tempo passava e a distância aumentava entre mim e a clareira perigosa, uma sensação de esperança começou a brotar dentro de mim. Eu não sabia o que mais encontraria, mas estava determinado a continuar lutando pela minha sobrevivência, um passo de cada vez.

Comecei a notar mudanças no ambiente. As árvores, antes opressivamente densas, começaram a se espaçar, deixando mais luz solar filtrar pelas copas. O chão da floresta tornou-se menos irregular, e o som distante foi substituído pelo canto dos pássaros, uma melodia que trazia um certo consolo.

Por fim, avistei um pequeno bosque à frente. No centro dele, havia um lago cristalino, suas águas refletindo o céu acima. A cena era quase surreal, um oásis de tranquilidade no meio daquela floresta ameaçadora. Caminhei até a beira do lago, ajoelhando-me para beber da água fresca e revigorante.

Enquanto bebia, minha mente começou a relaxar, as tensões e medos anteriores se dissipando lentamente. O lago parecia oferecer um refúgio seguro, um lugar onde eu poderia recobrar minhas forças e planejar meus próximos passos. Sentado à beira da água, permiti-me alguns momentos de descanso, refletindo sobre a jornada até ali e as provações que ainda poderiam estar à minha frente.

Depois de um tempo, decidi explorar a área ao redor do lago. As margens estavam cobertas por uma vegetação exuberante, e pequenos animais se moviam furtivamente entre os arbustos. Enquanto observava, avistei uma trilha discreta que se estendia pela floresta, aparentemente levando para fora daquele oásis magnífico.

 “Essa trilha... talvez seja um caminho que leva mais fundo. Devo seguir por ela.” 

“Não vou ficar enrolando aqui neste oásis. Poderia ficar aqui relaxando para sempre, mas não tenho tempo.”

Comecei a seguir a trilha. Cada passo era dado com cuidado, atento a qualquer sinal de perigo. A floresta de Thuda ainda guardava muitos segredos, mas agora eu estava mais preparado para enfrentá-los.

Conforme a trilha se desenrolava à minha frente, um sentimento de otimismo começou a crescer dentro de mim. Eu não sabia o que encontraria adiante, mas estava determinado a sobreviver e explorar ainda mais a floresta misteriosa e traiçoeira.

Após um tempo, consegui sair da trilha. O que vi adiante era verdadeiramente magnífico. Diante dos meus olhos se estendia uma enorme floresta de espinhos. Fiquei surpreso, incapaz de calcular sua verdadeira dimensão. Olhando ao redor, não encontrei outro caminho. Ao me aproximar, senti-me insignificante diante da grandiosidade intimidante da floresta à minha frente.

Observando atentamente a entrada da floresta, vi alguns restos mortais de criaturas no chão. Pareciam ser vítimas dos espinhos que caíam das árvores como frutos maduros, acertando seus alvos implacavelmente. Entre os espinhos, pude ver os sinais da devastação.

“Esse será um grande desafio entrar nessa floresta; a pressão dela é esmagadora.”

Minha visão começou a turvar. Por um breve momento, perdi o equilíbrio, enquanto a pressão esmagadora me envolvia. Firmei-me e recuperei a estabilidade. Antes de me aventurar no pesadelo, decidi me preparar. 

Havia reunido mantimentos essenciais: água fresca e comida suficiente para a jornada. Acendi uma fogueira, suas chamas crepitando e lançando uma luz suave sobre a clareira. Enquanto preparava algo para comer, senti a necessidade de me concentrar na tarefa em mãos, mas não conseguia ignorar a estranha sensação que me envolvia. 

A floresta parecia estar viva, sussurrando através das folhas e galhos, como se estivesse ansiosa por minha presença, chamando-me com uma urgência quase palpável. O calor da fogueira contrastava com a sensação gelada que emanava da floresta, criando um ambiente carregado de tensão e expectativa.

— Os espinhos caindo no chão da floresta fazem barulhos altos e estranhos, acompanhados de gritos profundos.

— Devem existir coisas estranhas lá dentro. Em breve, vou explorar algo mais intenso; ainda estou curioso sobre os desafios que vou encontrar.

Exausto e com o corpo pesado, deitei no chão. Meus olhos começaram a fechar involuntariamente, e em poucos minutos fui vencido pelo cansaço. Minha respiração se tornou lenta e regular, e meu corpo relaxou completamente. Logo, estava em um sono profundo, alheio ao mundo ao meu redor, mergulhado em sonhos que me afastavam da realidade assustadora da floresta.

 “É uma visão impressionante, não é?” — A voz surgiu ao meu lado. Virei-me abruptamente e encontrei um velho, seu rosto marcado pelo tempo e pela sabedoria, observando a floresta com fascínio e preocupação.

 “Você já viu alguém atravessar esta floresta?”

 “Muitos tentaram, poucos retornaram. Os espinhos são traiçoeiros, mas não são o único perigo. Há algo mais, algo que os faz perder o rumo, enlouquecer.”

Engolindo em seco, senti um calafrio percorrer minha espinha.  “E por que você não me dissuade de continuar?” 

 “Porque, jovem aventureiro, sei que sua jornada vai além. Esta floresta esconde segredos antigos, poderes adormecidos. A escolha é sua, mas esteja preparado para enfrentar não apenas os perigos físicos, mas também os que se ocultam nas sombras da mente.”

— Ahhhhhhh!! O que foi isso?

Recuperei os sentidos, olhei ao redor e não vi ninguém. Era apenas um sonho. Adormeci e agora acordei com uma tremenda dor de cabeça. Olhei para o meu braço e vi marcas de arranhão; havia sido envenenado, mas era apenas por alucinógenos. Por sorte, as criaturas não se aproximaram.

Após todo aquele rebuliço no sonho, decidi entrar na floresta. Quando coloquei os pés nela, um vento forte soprou. O que mais me perturbou, porém, foi quando olhei para trás e não vi mais a entrada.

— Ué? Já me perdi pelo caminho que entrei, ou a floresta está mexendo com o meu psicológico?

Parecia que eu estava muito além da floresta. Era sinistro, como se eu estivesse em um purgatório onde as almas são penalizadas.

Eu sei que isso mexeu comigo, mas, enfim, segui meu caminho adiante. Só sei de uma coisa: tenho que continuar, mesmo diante das adversidades.

— Agora não há mais o que fazer. Sem poder voltar, o jeito é ir além do que meus olhos podem alcançar.

— Mas aqueles olhares estão sempre me observando — disse ele, após olhar para todos os lados.

A floresta fazia barulhos estranhos: sons de espinhos se estalando e vultos aleatórios aparecendo entre as árvores.

Minha mente estava instável, mas não me deixei ser abalado pelo momento. A floresta tinha uma vegetação peculiar, com caveiras espalhadas pelo chão e pegadas de criaturas por todos os lados.

Via cadáveres presos nos galhos, como se tivessem sido arremessados com força descomunal. A atmosfera era opressiva e sinistra, mas continuei meu caminho, determinado a não ser vencido pelo medo.

— Prevejo situações inesperadas. Várias pessoas morreram aqui.

— Agora entendi aqueles testes de Khalak. Ele deve ter presenciado coisas bem piores — refleti, lembrando dos desafios árduos.

— Estou ficando empolgado. Esse mundo pode ser maravilhoso e também tão cruel..

No entanto, percebi uma presença se aproximando, não pela frente, mas por trás. Virei rapidamente, e algo sumiu tão depressa que nem tive tempo de ver.

— Nossa, algo estava se aproximando... O que pode ser? Provavelmente algo sorrateiro — observei, tentando controlar a inquietação.

Um calafrio percorreu meu corpo. Eu estava atento, mas o que eu não esperava era que algo estivesse me olhando das árvores. Tive um breve vislumbre e consegui ver uma sombra negra, mas ela sumiu rapidamente.

— Que coisa foi aquela parada nas árvores? Foi rápido, mas bizarro. Estava me encarando! — exclamou ele, com o coração acelerado.

— Que horrível! Estou paralisado, foi um grande choque.

As árvores começaram a balançar violentamente, e à frente, o som dos espinhos caindo ecoava. Num instante, vários espinhos começaram a chover sobre mim. Ágil, consegui desviar, mas logo percebi um padrão: os espinhos miravam exatamente onde eu estava, como se tivessem vida própria e uma malícia calculada.

— Hum... Então é assim que muitos foram pegos. Árvores traiçoeiras do inferno! — murmurava entre respirações rápidas.

O chão começou a tremer sob meus pés, rachaduras se abrindo rapidamente em meu caminho.

— Além do tremor, agora tenho que lidar com os espinhos! 

— Esta floresta está me testando. Ela está fazendo de tudo para me devorar.

— Mas não vou cair nessa armadilha.

E então, algo me deixou profundamente assustado: várias garras começaram a emergir do chão, algo tão bizarro que eu nunca tinha presenciado antes na minha vida.

— Que diabos é isso? Estou morto e não percebi? Parece um verdadeiro inferno.

“Devo ficar preocupado? Não, Kaito, isso é apenas sua imaginação.”

Hahahahah....................

— Que lugar maldito é este? A floresta está me sacaneando? — gritei, olhando em volta enquanto meus olhos subiam para as copas das árvores, momentaneamente esquecendo da situação imediata ao meu redor.

As criaturas revelaram suas feições ao emergirem das rachaduras. Seus rostos, embora humanos, estavam distorcidos por uma fusão grotesca com ossos salientes, espinhos que se entrelaçavam na pele como uma armadura natural e garras afiadas que reluziam à luz fraca da floresta. Seus gritos eram agudos e penetrantes, cortando o ar com uma intensidade que fazia os pelos da nuca se arrepiarem. Cada movimento era uma dança macabra, enquanto avançavam em minha direção com uma determinação que misturava fúria e selvageria primal.

— Cara, essas criaturas saíram do chão. Parecem mortos-vivos. Elas estão vindo. Tenho que me preparar.

  "Só não posso vacilar olha os espinhos,  podem cair a qualquer momento.”

À medida que se moviam, suas formas grotescas revelavam uma agilidade sinistra, cada passo deixando marcas profundas no solo úmido. O ar ao redor parecia pesar com a presença delas, como se a própria floresta estivesse impregnada com o medo que elas inspiravam. Seus olhos brilhavam com uma intensidade selvagem, fixos em mim como predadores prontos para o ataque.

Sem uma palavra, apenas seus gemidos estridentes cortavam o silêncio, preenchendo o ar com uma tensão palpável. Estava claro que aquelas criaturas não eram simples animais da floresta; eram algo muito mais antigo, muito mais sombrio, e eu estava completamente à mercê delas.

— Então estou no seu território, né? Hahaha, vamos ver quem sai vitorioso, sua maldita floresta. Traga tudo o que você tem.

— Só os fracos sucumbirão ao seu poder, mas eu não sou um deles.

Com um grito de fúria e determinação, ergui minha arma acima da cabeça e avancei contra todas as criaturas que se aproximavam. Uma delas investiu na minha direção com garras estendidas, mas antecipei seus movimentos. Com um movimento rápido, desviei do golpe e usei a força do meu corpo para girar e desferir um golpe devastador.

— Seus vermes! Não hesitarei sabendo que minha vida está em jogo — disse ele, após chutar a cabeça da criatura.

— Já estive em combates frenéticos que quase me custaram a vida. Não vai ser hoje que vou morrer.

— Não tenho escolha. Venham todos de uma vez! — gritava ele, brandindo a espada em direção às criaturas.

 


 



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