Juiz Rúbeo
Capitulo 3: PREPARATIVOS
Na aurora seguinte, conforme o combinado, Talles, representante do Clã dos Juízes, foi até a casa do casal.
Como tinha outras atividades urgentes a realizar, ele apenas entregou um pergaminho, que continha uma lista de tarefas que Pietros e Niria precisavam cumprir.
Juntamente com ele, havia outro pergaminho a ser preenchido, com informações adicionais.
Talles também explicou que havia enviado um mensageiro com pergaminhos selados, informando ao Clã dos Juízes sobre a revelação de um futuro juiz e todos os detalhes de como o evento se desenrolara.
Como parte do processo, ele entregou também uma esfera de cristal místico, um artefato capaz de gravar ou copiar memórias de eventos recentes, caso fosse necessário.
Ele ainda mencionou que haveria outras apresentações em um templo fora da cidade de Zelanes, e que ele precisaria se ausentar por algumas auroras.
Pietros e Niria concordaram com as informações, e a visita foi breve.
Talles montou seu cavalo e partiu, seguindo para um destino desconhecido pelo casal.
Os dois leram atentamente os pergaminhos e começaram a cumprir as orientações do primeiro documento.
Os filhos mais velhos estavam em seus respectivos clãs, treinando, enquanto Rubreos, o filho caçula, brincava em seu quarto.
O tempo passou: Pietros e Niria cumpriram o que estava ao alcance deles em relação às tarefas solicitadas no pergaminho.
Quanto ao segundo pergaminho, que exigia mais preenchimentos, eles aguardavam o retorno de Talles para a conferência dos documentos e daquilo que havia sido solicitado.
Em uma manhã cedo, um som de batidas na porta do sobrado os fez parar.
Niria, com seu olhar atento, usou seu poder místico e percebeu que era Talles, o representante do Clã dos Juízes.
— PIETROOOOSSS, o representante do Clã dos Juízes chegou!! — ela gritou, enquanto se dirigia para a porta.
Pietros estava atrás da casa, fazendo um treinamento leve com Rubreos.
Ela abriu a porta para receber Talles.
— Bom dia, senhora Niria. Como estão todos? — cumprimentou Talles com um sorriso cordial.
Neste momento, Pietros e Rubreos chegaram onde Niria estava.
— Bom dia! — os três responderam ao mesmo tempo.
Niria ainda completou, com um sorriso acolhedor:
— Estamos todos bem e o senhor, como foi de viagem? — já o convidando a entrar.
Talles agradeceu com um gesto positivo de cabeça e adentrou pela linda e modesta casa.
Ele respondeu:
— Foi um pouco cansativo. Esperava que tudo ocorresse mais rápido, mas infelizmente não foi o caso.
Pietros observou curioso:
— Foi revelado mais algum futuro aprendiz de juiz?
Talles fez uma pausa e, com um tom sério, respondeu:
— Este foi mais um ponto negativo. Apenas o seu filho foi revelado.
Pietros e Niria se entreolharam, visivelmente aflitos com a resposta.
O silêncio que se seguiu foi denso, até que Talles, percebendo a reação do casal, rapidamente tentou acalmá-los:
— Fiquem tranquilos, isso não vai interferir nos procedimentos que precisamos fazer com seu filho. Está tudo sendo arranjado pelo Clã dos Juízes de Etedras.
Pietros, aliviado, fez um gesto para que Talles o seguisse para uma sala maior onde poderiam conversar mais à vontade.
Enquanto caminhavam pela casa, Talles notou o quão bem organizada e limpa era a residência.
Mesmo sendo modesta, havia um cuidado evidente com os detalhes. Os espaços estavam bem decorados, com vasos de plantas floridas e ervas aromáticas espalhadas por vários pontos da casa, perfumando o ambiente.
Ao entrarem na sala, Talles reparou que ela era grande, bem iluminada e decorada de maneira simples, mas com um toque de sofisticação rústica.
No centro, uma mesa de madeira rústica, de dimensões moderadas, estava posicionada.
Em cima dela, os dois pergaminhos que ele havia trazido estavam dispostos ao lado de outros documentos que o casal deixara para serem entregues ao representante do Clã dos Juízes.
Talles puxou uma cadeira de madeira rústica, com assento acolchoado, e se sentou.
Desenrolou o pergaminho que precisava ser preenchido e começou a ler com calma, absorvendo cada detalhe das instruções.
Nesse meio tempo, Niria, sempre atenciosa, trouxe um delicioso chá em uma xícara delicada, colocando-a sobre a mesa diante de Talles.
— Por favor, sirva-se! — ela disse suavemente, sorrindo com gentileza.
Talles agradeceu e, com um gesto, pegou a xícara.
O calor do chá parecia aliviar um pouco o cansaço da viagem.
Ele deu um pequeno gole antes de voltar sua atenção para os pergaminhos.
O aroma do chá se espalhava suavemente pela sala inteira, criando uma atmosfera acolhedora.
Junto ao bule, havia um pequeno prato com deliciosos biscoitos caseiros, cujo perfume agradável completava o ambiente.
Niria se retirou da sala, deixando seu marido e o representante do Clã dos Juízes para discutir os próximos passos.
Ela precisava cuidar de Rubreos e da casa, além de aproveitar o momento para realizar algumas tarefas místicas.
Como Feiticeira do Quarto Nível, ela usava encantamentos simples para auxiliar algumas atividades cortidianas.
Isso também era uma maneira de continuar praticando suas artes místicas.
Na sala, Talles estudava os pergaminhos que os pais de Rubreos haviam separado.
Pietros o observava atentamente, notando que a expressão do rosto de Talles indicava que tudo estava conforme esperado.
Após um curto período de leitura, Talles levantou os olhos e, com um sorriso de satisfação, disse:
— Muito bom excelente! Vindo de vocês, está perfeito!
Com um sorriso de alívio, Pietros se sentiu grato, pois soubera que ele e Niria haviam dedicado bastante tempo e esforço para ajustar todos os detalhes.
Talles se levantou da cadeira, ajeitou a postura e falou com determinação:
— Vou entrar em contato imediatamente com o Clã dos Juízes de Etedras para agilizar o quanto antes. Principalmente a indicação de um mestre para o seu filho!
Pietros ficou surpreso com a notícia. Ele pensou consigo mesmo: “Um mestre para meu filho? Ele não vai para uma escola?”
Antes que pudesse questionar, Talles antecipou sua dúvida e continuou:
— Seu filho já começou suas aulas básicas nas artes místicas desde os cinco ciclos de vida, certo?
— Sim! — respondeu Pietros, ainda surpreso, mas já começando a entender o que estava acontecendo.
— Por sua esposa ser uma Feiticeira de Quinto Nível e você um Guerreiro de Sexto Nível, o treinamento básico poderia ser dado por vocês dois. — explicou Talles com calma. — Inclusive, seu filho, que já está sendo preparado para a Classe de Heróis, e sua filha, que se destina à Classe de Maga, poderão ensinar-lhe o básico. Como eu vi que o tio e a tia dele são um casal de Gládios de excelentes níveis, eles também poderão ajudá-lo, em momentos oportunos. O mestre indicado, no entanto, deverá focar no treinamento específico para o aprendizado de um Juiz.
Por curiosidade, Pietros perguntou:
— De que nível seria esse provável mestre?
— Tentarei mandar o maior que tivermos à disposição! — respondeu Talles, com um tom de comprometimento.
Pietros, ainda curioso, questionou:
— Não pode ser o senhor?
Para surpresa de Talles, ele respondeu rapidamente:
— Infelizmente não! Ficaria até honrado se fosse possível, mas há mestres mais qualificados para essa tarefa. Isso não significa que eu não contribuirei para o crescimento de Rubreos em todos os sentidos.
Pietros sorriu satisfeito, sentindo que seu filho estaria sendo encaminhado para um bom mestre, o que o deixou mais tranquilo.
— Bom, eu preciso ir! — disse Talles, já se preparando para se despedir.
— Espere, fique para almoçar conosco! A comida da minha esposa é excelente. — convidou Pietros, com um sorriso acolhedor.
— Deixe para uma próxima ocasião. Preciso encaminhar todas as informações coletadas o quanto antes. — respondeu Talles, com um sorriso educado. — Agradeça a sua esposa pelo chá e os biscoitos, estavam ambos deliciosos.
Pietros sorriu, mais uma vez agradecido pela visita de Talles.
— Vou precisar desses pergaminhos para realizar meu relatório. Quando terminar, os devolverei. — informou Talles.
Com um gesto positivo de cabeça, Pietros autorizou o recolhimento dos pergaminhos.
Talles reuniu tudo e guardou em uma grande bolsa de couro, feita de um material nobre.
Em seguida Pietros o acompanhou até a porta da sala e ali se despediram calorosamente.
Enquanto Pietros fechava a porta, Niria se aproximou dele e perguntou, um tanto preocupada:
— Porque ele não quis ficar para almoçar? Aconteceu alguma coisa errada?
— Pelo contrário, minha amada esposa. Deu tudo certo! — respondeu Pietros, com um sorriso de satisfação. — Rubreos não vai precisar ir para uma escola distante de nós!
Niria o olhou surpresa e Pietros explicou: com um brilho nos olhos:
— Aqui na cidade não existe um Clã de Juízes para dar os ensinamentos e treinamentos necessários, mas ele nos garantiu que um mestre qualificado será enviado, o que significa que Rubreos poderá seguir seu treinamento com segurança, e nós não precisaremos nos separar dele.
E aos poucos, Pietros foi explicando tudo para sua esposa Niria, que, ao ouvir os detalhes, também ficou extremamente feliz com a notícia.
Era um alívio saber que Rubreos não precisaria se separar da família e que seu treinamento seria bem encaminhado.
Naquela mesma noite, na hospedaria onde estava instalado o representante do Clã dos Juízes, Talles estava em seu quarto, terminando de redigir seu relatório.
Ele sabia que o trabalho que havia feito era meticuloso, mas estava determinado a enviá-lo o mais rápido possível.
Quando terminou, guardou o pergaminho selado e, antes de descansar, deu uma olhada em outra mensagem que havia recebido daquele Clã.
Era um pergaminho também selado, mas com uma mensagem distinta.
Dizia-lhe que todos os preparativos estavam feitos para um futuro aprendiz de juiz e que a revelação de Rubreos havia sido bem aceita.
Porém, havia uma parte da mensagem que chamou sua atenção e o deixou preocupado: "— Tome muito cuidado pelas estradas... principalmente à noite. Estranhos acontecimentos têm ocorrido nas terras de Iriarnes... especialmente na região onde se encontra."
Ele ficou pensativo por um momento, ponderando as palavras do Clã.
Em outra parte da cidade de Zelanes, o chefe Casares da Casa Hansa também estava recebendo uma mensagem.
Um pergaminho chegou até ele, vindo do grupo misto de Beligerantes que havia sido enviado para investigar os estranhos acontecimentos nas Montanhas Nebulosas e arredores.
A mensagem dizia que, até aquele momento, não havia nada de perigoso para relatar.
No entanto, o grupo de beligerantes permaneceria mais algumas auroras na região para investigar mais a fundo.
Casares leu com atenção, mas sua expressão indicava que ainda havia uma sensação de inquietação em seu coração. "Aguardemos mais informações...", pensou ele, enquanto se sentava pensativo em sua cadeira de madeira nobre, dentro de sua sala pouco iluminada.
Na aurora seguinte, com o céu claro, mas ainda com ventos frios que cortavam a cidade, Talles passou mais uma vez pela casa de Pietros e Niria.
Agora, ele estava acompanhado de Rubreos, o jovem futuro aprendiz de juiz.
Pietros e Niria os receberam com um sorriso caloroso, e, juntos, começaram a conversar sobre os próximos passos que seriam dados.
A jornada de Rubreos estava apenas começando, mas as incertezas nas estradas e a ameaça de eventos misteriosos pairavam no ar.
Talles entregou os pergaminhos que estavam com ele e informou que havia enviado um mensageiro para a cidadela capital de Sophianes.
Era capital das terras de Iriarnes, com o relatório e a solicitação de um mestre juiz para o jovem aprendiz.
Ele também confirmou que o Clã dos Juízes já estava ciente da revelação de Rubreos e agora aguardava o retorno da mensagem que acabara de enviar.
Pietros e Niria ficaram visivelmente satisfeitos com as boas notícias. Havia muito a ser feito, mas as coisas estavam avançando conforme o esperado.
Como orientação, Talles pediu a Niria que, em momentos oportunos, começasse a ensinar Rubreos a arte dos encantamentos, já avançando do básico para um nível mais iniciante.
Ela, sem hesitar, concordou com um gesto afirmativo de cabeça.
Enquanto a Pietros, ele continuaria com os treinamentos físicos de Rubreos, pois o corpo do filho precisava se adaptar rapidamente ao poder recém-revelado.
Pietros também se mostrou disposto a seguir essa orientação.
Após esse breve, mas importante encontro, Talles não demorou mais.
Ele se despediu do casal e de Rubreos, recusando educadamente uma xícara do delicioso chá quente que Niria lhe ofereceu, já que o dia estava particularmente frio.
Montou em seu cavalo e partiu em direção ao centro da cidade, mencionando que ainda tinha algumas tarefas a cumprir e que, caso houvesse novidades, retornaria o mais rápido possível.
Talles se despediu e cavalgou em direção ao centro da cidade.
Na mesma aurora, Pietros foi até o Clã das Feiticeiras para garantir que sua esposa pudesse treinar nas áreas específicas de encantamentos que o clã possuía.
Ele não mencionou que era para o filho; achou que seria mais discreto assim. Com a autorização por escrito, ele obteve permissão para que Niria utilizasse uma área reservada, onde poderia praticar com segurança. Após isso, ele retornou rapidamente para casa.
Os treinamentos de Pietros com Rubreos não precisavam de um espaço tão especializado quanto o treinamento de encantamentos, que exigia mais cuidados e segurança.
Quando chegou em casa, Niria já estava separando alguns dos seus livros místicos.
Alguns deles eram tão grandes e pesados, de tantas páginas que possuíam que exigiam grande esforço para manuseá-los.
Mesmo assim, ela os separava com paciência.
Enquanto isso, Rubreos estava sentado no chão, folheando alguns pequenos livros de encantamentos que sua mãe lhe dava.
Niria observava o interesse do filho nas leituras, e podia ver que seus olhos brilhavam com a mesma cor do Rubi Rúbeo.
Ela estava admirada, pois nunca havia visto algo tão marcante. Saia ela que a cor da pedra de Revelação Divina poderia afetar fisicamente o indivíduo de alguma maneira, independentemente de raça, espécie ou sexo.
No caso de Rubreos, parecia que a cor da pedra havia se refletido diretamente em seus olhos, mesclando o preto com o Rúbeo.
Quando Pietros retornou para casa, entregou a Niria a autorização escrita para o uso da área de treinamento do Clã das Feiticeiras.
Ela poderia utilizá-la a partir da aurora seguinte e em algumas auroras específicas da semana.
Niria sorriu, aliviada, sabendo que agora poderia ensinar seu filho com mais segurança, sem precisar se preocupar com a falta de um espaço adequado.
A noite chegou rapidamente, e a família toda estava reunida para o jantar.
Pietros aproveitou a ocasião para contar aos filhos mais velhos, Narion e Pietras, sobre as novidades.
Ele explicou que, em breve, a mãe levaria Rubreos ao Clã das Feiticeiras para seus primeiros treinamentos nas artes místicas.
Em algumas auroras da semana, os dois irmãos também iriam iniciar seus próprios treinamentos.
Os irmãos ficaram ainda mais felizes, pois agora sabiam que Rubreos não precisaria viajar para outra cidade ou até mesmo para a cidadela, como inicialmente poderiam temer.
Mais tarde, os três filhos foram se deitar em seus respectivos quartos. Eles se despediram de Pietros e Niria, dando-lhes boa noite com sorrisos, sabendo que o futuro deles estava prestes a mudar de uma maneira ainda mais surpreendente.
Em seguida o casal também se recolheu e no calor dos corpos juntos, mais uma noite amorosa ocorreu.