Juiz Rúbeo Brasileira

Juiz Rúbeo

Capítulo 11: A REVELAÇÃO

Na frente da casa, Pietros estava absorto, observando o céu estrelado.

As quatro luas brilhavam com intensidades semelhantes, embora tivessem tamanhos diferentes.

Ele tomava lentamente sua bebida de milho fermentada, uma cerveja local, quando ouviu passos se aproximando. Virando-se, viu Sanis se aproximando.

Sanis parou ao seu lado, segurando uma caneca de cerveja, e comentou com um sorriso:

— Você deve estar muito orgulhoso do filho que tem.

Pietros sorriu, olhando para o céu por um momento antes de responder:

— Sim, estamos. Mas não é por causa da Revelação Divina ou do poder que ele recebeu. O que realmente importa é o amor que temos por ele.

Sanis assentiu, com um olhar pensativo.

— Eu entendo. Já vi muitos pais que, mesmo com filhos agraciados com grandes poderes, não os amavam. Às vezes, o contrário era o que acontecia. Mas Rubreos foi abençoado muito antes de qualquer Poder Celestial. Ele foi abençoado pela família que teve. Pelos pais e irmãos que o amaram.

— Sim, ele foi mesmo... Todos nós fomos. –– Pietros sorriu, seu olhar se suavizando com as palavras.

O tom da conversa mudou de repente, ficando mais sério.

— Você sabe que, daqui em diante, Rubreos começará a ser desafiado, não é? –– perguntou Sanis, com uma expressão grave.

— Sei... sim. — Pietros respondeu com um aceno, já esperando por esse tipo de conversa.

Sanis olhou para ele com seriedade e começou a contar uma história.

— Há algum tempo, eu e Rubreos passávamos pela praça central da cidade, e vimos um desses desafios acontecendo entre dois feiticeiros.

Pietros virou o rosto para Sanis, ouvindo com atenção.

— Eu aproveitei a oportunidade para explicar para Rubreos como esses desafios funcionam... Eles podem acontecer a qualquer momento, em qualquer lugar. Muitas vezes, por motivos fúteis ou para exibir poder. Nesse caso, o motivo foi uma ofensa entre os feiticeiros, que resultou na perda de um importante livro místico. –– Sanis fez uma pausa e tomou um gole da bebida, antes de continuar. –– Eu expliquei também que, ao redor, os encapuzados vestidos de preto eram os Tributos e o Juiz. Eles são convocados por meio de círculos místicos, para testemunhar o desafio e garantir que o resultado seja justo.

Pietros assentiu.

— Sim, eu sei. Isso acontece frequentemente dentro dos próprios Clãs... até mesmo para que alguém possa subir de status ou ganhar novas insígnias.

Sanis confirmou com um leve aceno, antes de continuar.

— Exato. Mas, ao contrário do que aconteceu naquele desafio, Rubreos não tem um Aprendiz de Juiz para desafiá-lo. No entanto, ele pode ser desafiado por outras classes, especialmente agora que tem a mesma idade que outros jovens com habilidades similares. Quando alguém chega aos dez anos de ciclo de vida, os desafios se tornam permitidos.

Ele deu mais um gole na bebida, pensativo, e então falou com mais gravidade:

— E há outro detalhe. Muitos estão de olho na sua Arca Mística. Ela é extremamente valiosa, e Rubreos já mostrou um pouco do seu poder ao invocá-la. Não importa a classe, a espécie ou o gênero do desafiante... Se tiverem a mesma idade, e com a presença dos Tributos e de um Juiz, o desafio pode acontecer. E se ele se recusar a participar, terá que arcar com as consequências, que podem ser muito pesadas.

Pietros permaneceu em silêncio por um momento, refletindo sobre as palavras de Sanis.

O peso da responsabilidade de Rubreos estava apenas começando a se revelar.

As palavras de Sanis deixaram Pietros ainda mais apreensivo, embora ele continuasse ouvindo atentamente.

— Mas eu confio em Rubreos. —disse Sanis, com uma confiança tranquila. — Ele não vai se esquivar de nenhum desafio. Ele aprendeu muito, tanto comigo quanto com vocês. Ele é inteligente e sábio para a idade dele, e poucos sabem o que ele é capaz de fazer. O treinamento dele, os encantamentos, as conjurações... E sem falar nas armas e artefatos místicos que ele tem à disposição, incluindo a sua Arca Mística, que só aumenta seu poder.

Sanis sorriu com segurança, ciente das habilidades de Rubreos, e de como o jovem era especial. Pietros, ao ouvir isso, se sentiu um pouco mais tranquilo, mas Sanis não terminou por aí.

— De qualquer forma, eu expliquei tudo novamente ao Rubreos sobre os desafios. — continuou Sanis. — Ele saberá como agir, seja contra quem for: Herói, Gládio, Guerreiro, Feiticeiro, Mago, Caçador ou qualquer outra classe.

Pietros o olhou com uma expressão pensativa e perguntou:

— Foi por isso que você deu aquela Vestimenta Mística para ele?

Sanis sorriu, com uma expressão de cumplicidade.

— Sim, exatamente! A vestimenta vai ajudá-lo muito. Ela tem propriedades que evoluem com o tempo, com ele. Quem sabe, um dia, ela até possa dar a ele asas.

Pietros estranhou e pensou consigo mesmo: “— Asas? Será que ele realmente poderá voar?”. Mas antes que pudesse refletir mais sobre isso, Sanis mudou de assunto.

— Você e sua esposa sabem sobre a revelação que está por vir, certo? — perguntou Sanis, com uma expressão mais séria.

Pietros o olhou e respondeu com uma leve preocupação.

— Sim, sabemos. Já se passaram mais de cem ciclos desde a última vez que apareceu alguém que seria considerado o mais poderoso dentro de um Clã. O último foi uma Maga muito poderosa.

Sanis assentiu e continuou:

— Sim, dizem nos antigos escritos de Iriarnes... A cada cem ciclos, nasce alguém de um determinado Clã com poderes extraordinários... alguém capaz de realizar feitos maiores que seus antecessores. Esse ser tem a chance de ingressar no conselho superior do Clã e ficar registrado nos pergaminhos da história. Não importa onde nasça, de que classe seus pais sejam, ou até mesmo de que terras distantes venham. Ele fará prodígios por onde passar.

Pietros olhou seriamente para Sanis, com uma expressão tensa.

— Você acha que meu filho é?

Sanis ficou em silêncio por um momento, antes de responder com cautela:

— Eu não tenho certeza, Pietros. Mas há muitos sinais... O último Grande Juiz apareceu quase mil ciclos passados, e desde então, surgiram outras classes. Há até rumores de que pode ser um Feiticeiro ou Feiticeira. Mas, por enquanto, são apenas relatos fracos.

Pietros ficou pensativo por um instante, absorvendo as palavras de Sanis, quando ele foi interrompido pelo sorriso do amigo.

–– Minha caneca está vazia, e a sua? — perguntou Sanis, mudando o tom da conversa.

Pietros olhou para sua caneca e percebeu que ambos haviam bebido sem perceber.

— Parece que sim! — respondeu ele, sorrindo. — Então vamos reabastecer!

Com um sorriso compartilhado, os dois entraram na casa novamente, onde se juntaram ao restante do grupo.

A festa continuou por muitas horas, com risos e conversas até o amanhecer.

Auroras e auroras se passaram. Rubreos, agora com sua nova Vestimenta Mística, que se adaptava perfeitamente ao seu corpo, treinava incansavelmente.

Não importava se o sol estava escaldante ou se uma chuva fria caía sobre ele; ele continuava a praticar suas artes místicas, às vezes utilizando artefatos místicos que ampliavam ainda mais seu poder.

Pelas manhãs, Rubreos se dedicava aos estudos teóricos.

Mergulhava em diversos livros, recebendo orientações de seu mestre, e fazia muitas anotações para não deixar passar nenhum detalhe importante.

À tarde, ele se concentrava em praticar os encantamentos e conjurações que aprendera pela manhã.

Era um trabalho incessante, repetindo os feitiços até que cada um se tornasse natural.

Além disso, também treinava com armas e fazia exercícios físicos, sempre acompanhado de perto por seu mestre.

A rotina na casa de seu mestre se tornara cada vez mais familiar.

Algumas vezes, ele ia às bibliotecas sozinho, agora que tinha permissão para isso.

Essa era a vida de Rubreos até aquele momento, uma rotina de aprendizado e disciplina.

Mas algo estava prestes a mudar, e um novo passo em sua jornada começaria a ser dado...