Intangível Brasileira

Autor(a): Richard P. S.


Volume 1

Capítulo 33: Tomada de assalto: Parte 4

Dentro da tenda, o círculo luminoso usado pelos paladinos para interrogatórios brilhava intensamente. Caelinus observava o movimento ao redor e se voltou para um dos soldados.

— Tragam as mulheres e crianças das casas — ordenou com firmeza. — Com tantos paladinos, devemos encerrar tudo até o fim do dia.

O soldado saiu apressado. Um dos paladinos se aproximou de Caelinus.

— Já pintamos as cinco casas: FI, FII, I, DI e DII, conforme o senhor ordenou.

Caelinus assentiu.

— Ótimo. Comecem a trazer os primeiros.

Lá fora, os sons de passos apressados e murmúrios cresciam à medida que as mulheres e crianças eram conduzidas até a tenda. Uma mulher de meia-idade, trêmula, sentou-se diante de um dos paladinos, os olhos carregados de ansiedade.

— Vamos ver quem é leal e quem escolheu o lado errado — murmurou Caelinus, impassível, enquanto os moradores eram trazidos ao círculo.

— Nome? — perguntou o paladino, com voz calma, mas autoritária, enquanto outros ao lado também iniciavam os interrogatórios.

— Silara, senhor — respondeu a mulher, desviando o olhar diante da execução de uma jovem ao seu lado.

— Silara, você sabe algo sobre os criminosos que procuramos? — O paladino inclinou-se ligeiramente para frente, os olhos fixos nos dela.

A mulher hesitou. Suas mãos apertaram a borda do vestido ao ver uma criança ser retirada aos gritos por um soldado, para que o paladino pudesse executar a mãe dela.

— Por que vocês fazem isso com a gente? — perguntou ela, em lágrimas.

— Silara, essas pessoas ajudaram druidas — respondeu o paladino, segurando as mãos da mulher. — Eles deixaram dezenas de crianças como essas órfãs na semana passada, e não se arrependem. O círculo não permite mentiras, e é isso que está acontecendo. Por isso, peço que nos ajude.

Silara, com os olhos cheios de lágrimas, suspirou antes de finalmente falar:

— Sim, senhor. Eu sei onde Baldor Krayen, um desses da lista, se esconde. Ele não está aqui agora, mas vem muito pra cá. Eu o ouvi dizendo a outro homem onde está morando. É na cidade.

O paladino a olhou com uma expressão avaliativa.

— Isso é uma informação valiosa. Você ajudou nossa investigação. Silara, você se mostrou honesta, por isso receberá dois favores.

Silara soltou um suspiro de alívio, enxugando as lágrimas com as costas das mãos.

— Soldado, leve-a para a casa "FII" — ordenou o paladino.

Um jovem soldado a conduziu pela outra saída da tenda. Outra pessoa já aguardava do lado de fora para tomar seu lugar no círculo.

— Não se preocupe, senhora. Você nos ajudou muito e será recompensada por isso. Na casa haverá soldados preparando alimento, e receberá qualquer ajuda médica que precisar.

Enquanto Silara era conduzida, do lado de fora da tenda o som de passos apressados e comandos militares ecoava pelas ruas de terra dura. Um soldado jovem tentava acalmar um grupo de mulheres e crianças sentadas em fila no chão. Ele falava com voz baixa, mas firme.

Em meio ao caos, um garoto pequeno apertava a mão da mãe com força. Seus olhos, arregalados, percorriam o entorno com terror contido, como se a qualquer momento algo terrível fosse acontecer.

Dentro da tenda, uma jovem mulher entrou firme, segurando a mão do filho. Seus olhos demonstravam medo, mas ela mantinha a cabeça erguida e a postura decidida.

— Nome? — perguntou outro paladino.

— Lira, e este é meu filho, Jocan.

O garoto se escondia atrás da mãe, segurando sua túnica com força.

— Lira, o que você sabe sobre os criminosos? — A voz do paladino era firme, mas havia nela um traço de empatia contida.

Lira respirou fundo, hesitante. Jocan tremia.

— Eu não sei muita coisa... vi Finn Barrowfoot, um dos nomes da lista. Ele se escondia numa casa perto da minha. Mas não sei mais do que isso — respondeu ela, nervosa, enquanto ao lado, outra mulher discutia acaloradamente com um paladino diferente.

Jocan puxava a roupa da mãe, o rosto escondido.

— Mãe... vamos embora daqui.

Ela apertou a mão dele, sussurrando:

— Espera, filho.

O paladino a observou por um instante. Depois, inclinou levemente a cabeça.

— Tudo bem, Lira. A informação é útil, mas insuficiente para uma ação imediata. Ainda assim, sua colaboração será recompensada.

Ele fez um sinal com a mão para um dos soldados ao lado.

— Leve a moça e seu filho para a casa "FI".

Lira soltou um longo suspiro de alívio. Com um olhar agradecido, pegou Jocan pela mão e seguiu o soldado para fora.

Enquanto se afastavam, gritos distantes ainda ecoavam entre as ruas. Sons de tumulto e ordens militares se misturavam ao barulho das velas dos aeroplanos sobrevoando a favela.

A fila para os interrogatórios continuava.

Logo em seguida, um homem idoso entrou na tenda. A expressão em seu rosto era dura. Seus olhos semicerrados encararam a paladina como se desafiassem sua autoridade.

— Nome?

— Dhorne.

— Dhorne, você sabe algo sobre os criminosos ou os druidas? — A mulher manteve o olhar fixo no idoso. Seu instinto de paladina buscava qualquer traço de mentira.

Dhorne balançou a cabeça com firmeza. — Eu nunca me envolvi com esse tipo de gente. Por mim, que morram todos. Só quero viver em paz.

Ela assentiu com seriedade.

— Tudo bem. Você é inocente. Soldado, levem-no para a casa "I".

Dhorne foi conduzido para onde estavam reunidas outras pessoas isentas de culpa. Todas aguardavam sob vigilância, mas com a promessa de amparo e segurança.

Do lado de fora, os soldados continuavam vasculhando a favela com determinação. Em intervalos regulares, traziam mais moradores que ainda não haviam sido interrogados. Alguns eram capturados tentando fugir, outros, ao romper o cerco por pânico ou desespero.

Entre os novos detidos, um grupo de soldados arrastava um homem musculoso, com cicatrizes profundas no rosto e olhar inflamado. Os olhos dele encontraram os do paladino, transbordando ódio.

— Nome?

— Gueroni.

— Gueroni, o que você sabe sobre os criminosos?

— Eu sou um deles. — A resposta escapou de seus lábios, como se a verdade tivesse sido arrancada. — Ajudei a esconder Brakk Ironjaw depois que ele matou três crianças burguesas nos Adhunas. E quer saber? Eu faria tudo de novo.

O paladino apertou os punhos.

— “Quer saber”? — retrucou, enquanto sacava dois chackrans. — Sua sentença é a morte.

Gueroni mal teve tempo de piscar. Com um movimento veloz, fluido e preciso, o paladino girou os chackrans com destreza mortal. O corpo do criminoso permaneceu em pé por um breve instante antes de sua cabeça rolar pelo chão de lixo compactado.

Dentro da tenda, um dos paladinos cruzou os braços. No rosto, uma expressão de aprovação silenciosa. Ele se aproximou de Caelinus.

— Caelinus, Baldor Krayen foi encontrado.

Caelinus arregalou os olhos.

— Sério? Tão rápido assim?

— Os Beyaras contrataram agora há pouco um grupo de aventureiros — continuou o paladino. — Eles o encontraram escondido no porão de uma casa na superfície.

— Tudo bem — disse Caelinus, assentindo lentamente. — Imagino que o pessoal de lá vai julgá-lo, certo?

— Provavelmente.

Nesse momento, um soldado entrou apressado, interrompendo a conversa.

— Senhor Caelinus. Finn Barrowfoot estava aqui no Vale. Pegamos ele tentando escalar uma cerca perto da casa que Lira mencionou.

Um leve sorriso surgiu nos lábios de Caelinus.

— Parece que os ratos estão saindo de seus buracos.

Mas o soldado não terminara.

— Zara Stonebrook estava o tempo todo entre as moradoras. Disfarçada. Mas já foi capturada.

Os olhos de Caelinus brilharam por um instante. Ele descruzou os braços e ergueu o queixo com determinação.

— Bom trabalho, soldado. Paladino, vá com ele. Tragam todos. Quero interrogá-los pessoalmente.

Dentro da tenda, os julgamentos prosseguiam. Uma jovem mulher, de olhar inquieto, foi a próxima a se sentar no círculo. Seus olhos evitavam o contato direto com o paladino.

— Nome?

— Mara.

— Mara, o que você sabe sobre os criminosos?

Ela hesitou. A voz saiu quase num sussurro.

— Eu... vendi algumas ervas para Dugan Stelehide, mas eu não sabia para que ele usava.

O paladino franziu a testa.

— Você ajudou um criminoso, mesmo sem saber completamente suas intenções. Isso é um desfavor. Sabia que essas ervas eram base para drogas druídicas?

— Me desculpe. Eu não sabia — disse Mara, com a voz embargada.

Um soldado se aproximou para levá-la.

— Leve-a para a casa "DI". É lá que estão os que ajudaram criminosos de alguma forma — ordenou o paladino, antes de voltar o olhar para o próximo da fila.

O fluxo de moradores que entravam e saíam da tenda era constante. Com os interrogatórios das mulheres e crianças finalizados, chegava a vez dos homens. Um a um, eles eram conduzidos para dentro da tenda, onde enfrentavam seus julgamentos.

Após receberem suas sentenças, os homens eram separados em grupos conforme os veredictos e sentavam-se no chão, nas ruas próximas. Caelinus observava tudo em silêncio.

Baldor Krayen foi arrastado para dentro da tenda. O paladino o encarou com frieza.

— Baldor Krayen, seu nome está na lista. Acusado de roubo seguido de morte. Como se declara? — perguntou Caelinus, com a espada já em punho.

Baldor apertou o queixo. Sua boca tentou negar, mas o poder do círculo, somado ao olhar de Caelinus, o fez ceder.

— Culpado.

— Sua sentença é a morte.

Caelinus avançou com a espada e atravessou Baldor com precisão. O ladrão caiu no chão, sangrando. Pouco depois, seu corpo ficou imóvel.


***

Jessiah caminhava com dificuldade pela subida íngreme que era a rua principal. Parecia uma escada, mas os degraus eram muito irregulares.

— Nem uma carroça passa aqui — resmungou ele. — Que lugarzinho...

Enquanto subia de um patamar de aglomeração de casas para outro, avistou ao longe uma figura conhecida.

— Aelia! — chamou ele.

A jovem se virou rapidamente, surpresa.

— Jessiah! Não imaginei que você chegaria tão rápido — disse ela, aproximando-se.

— Foi porque o caminho estava livre. Subi para ajudar. Precisamos garantir que todos os moradores sejam levados ao julgamento sem problemas — respondeu Jessiah, com um olhar decidido.

— Tudo bem. Os focos de resistência já foram neutralizados. Vamos em frente, então — Aelia concordou, como se ainda assimilasse a presença dele.

Juntos, conduziram o grupo pelas vielas, onde novos moradores apareciam a cada esquina. Alguns tentavam se esconder; outros, fugir. Os soldados, ágeis, já controlavam a situação e escoltavam os moradores para baixo.

O caminho pela favela era apertado. Barracos empilhados de qualquer jeito, o cheiro de lixo acumulado e o esgoto formando uma pequena cascata impregnavam o ar.

— Este lugar... — comentou Aelia, com o nariz franzido. — Como conseguem viver aqui?

— Eu não sei — respondeu Jessiah, atento aos arredores. — Mas isso tem que mudar. Sigam juntos, estamos perto do topo.

Após algumas esquinas, uma visão inesperada surgiu. Em meio ao caos da favela, uma mansão imponente se destacava. Paredes com ornamentos dourados reluziam no meio da sujeira.

Aelia olhou para a construção, incrédula.

— Isso... isso é uma mansão?

— Parece que sim — comentou Jessiah, igualmente surpreso. — O que eu não entendo é: como não conseguimos vê-la lá de baixo?

— Parece que o nosso bandido sabe como mostrar poder... — Aelia fez uma pausa, o olhar carregado de desdém. — Enquanto o esconde de quem lhe convém.

— Homens! — ordenou Jessiah, chamando todos para perto. — É a mansão de Doo, não resta dúvida. Temos que nos preparar.

Ele sacou sua lâmina. Os soldados e paladinos se espalharam ao redor da mansão, todos cautelosos.

— Chegamos ao ponto final dessa etapa — disse ele, olhando para Aelia. — Que todos estejam prontos para o que vem a seguir.

— Tudo bem — concordou Aelia. — Soldados, vamos entrar pela porta da frente. Tragam o aríete.

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