Intangível Brasileira

Autor(a): Richard P. S.


Volume 1

Capítulo 32: Tomada de assalto: Parte 3

Jessiah, em reflexo, ergueu a espada e bloqueou o golpe. O impacto reverberou pelo aço com um baque seco. A mão do homem que o atacara tremeu ao sentir a força do paladino.

Com um giro rápido, Jessiah desarmou o agressor. A barra de ferro voou e cravou-se no chão de terra dura. Num só movimento, o atacante caiu de costas, atordoado.

— Calma, todos! — gritou Jessiah, a voz firme cortando o alvoroço. — Não estamos aqui para machucar inocentes. Só queremos garantir a segurança!

O homem no chão olhou para ele, os olhos ardendo em raiva e desespero.

— Vocês acham que são heróis? Só vêm aqui pra ferrar nossa vida!

Jessiah fechou os olhos por um instante. Respirou fundo, o peito subindo e descendo sob a armadura pesada.

Estendeu a mão, oferecendo ajuda para que o homem se levantasse.

— Sei que parece assim. Mas estamos aqui para fazer justiça. Estamos tentando proteger, não destruir.

O homem deu um tapa seco na mão de Jessiah e se levantou por conta própria.

— Justiça? — gritou uma mulher no meio da multidão. — Invadem nossas casas, matam nossos vizinhos, assustam nossas crianças... e ainda falam de justiça? Isso aqui é nossa casa!

Ela ergueu um punho fechado, o olhar inflamado. O tumulto aumentava em volta.

— E a casa de vocês está cheia de criminosos! — retrucou Jessiah, a voz firme como aço. — Essa favela virou esconderijo de todo tipo de problema.

Ele apontou para um corpo estendido no chão, um traço de sangue seco se espalhava pelo cimento quebrado.

— Até druida tem aqui. O que acontece aqui embaixo está envenenando Jillar. Não vamos permitir que isso continue.

— Só podia ser! — berrou um homem mais velho, o rosto marcado por rugas de fúria. — Vocês só aparecem quando dá merda na cidade grande e chamam isso de justiça? Essa favela é a única coisa que temos!

Outro morador, magro, com olheiras profundas e olhar tomado pelo ódio, empurrou um soldado e avançou.

— Quem é você pra decidir o que é digno pra nós? Se se acha melhor, tenta a sorte!

Jessiah ergueu uma mão, num gesto pedindo silêncio. Seu semblante estava impassível, mas os olhos brilhavam de tensão.

Retirou um pergaminho dobrado de dentro da armadura. O selo da Ordem estava intacto.

— Aqui estão os nomes dos criminosos que sabemos estarem entre vocês. Paramos de contar depois de vinte. Isso precisa acabar agora.

O tumulto hesitou por um momento. O papel parecia mais pesado que qualquer arma naquele instante.

— O paladino tem razão! — gritou uma mulher, apertando uma criança contra o peito. — Já passou da hora de fazer alguma coisa com esses drogados que andam por aí como se fossem donos do lugar!

— Isso é preconceito com o povo catador! — rebateu outra mulher, a voz cortante. — Vocês estão exagerando!

Ela apontou o dedo na direção da outra, os olhos faiscando.

— Fala isso por causa do seu filho! — retrucou a primeira, com o rosto em lágrimas. — Você sabe o que ele anda fazendo!

As vozes se cruzavam, o ar pesava com acusações e medo. Alguns moradores defendiam seus vizinhos. Outros sussurravam concordando com Jessiah.

— Queria que fosse exagero — disse o paladino, encarando todos ao redor. — Mas muitos aqui aproveitaram o caos para cometer crimes graves. Vamos acabar com isso ainda hoje.

O homem magro, o mesmo que havia avançado, cerrou os punhos. A respiração dele era irregular, o peito arfando de raiva.

— Vão acabar como? Vão matar todo mundo? Isso aqui é uma matança, porra!

Murmúrios subiram das fileiras da multidão. Algumas pessoas começaram a se afastar, mas outras pegavam paus e pedras do chão.

— Para trás! — gritou Jessiah, com a espada erguida, o olhar cortando a multidão como uma lâmina.

Pedras voaram. Algumas acertaram escudos, outras atingiram soldados desprevenidos. Um dos homens de Jessiah caiu com um grito, a testa coberta de sangue.

— Capitão, está saindo do controle! — berrou um soldado, fendendo o ar com o escudo enquanto dois moradores investiam.

— Soldado! Onde tem uma casa vazia? — perguntou Jessiah, varrendo a área com os olhos.

— Aquela ali! — respondeu o soldado, apontando para uma casa de madeira aos fundos. Jessiah ergueu o braço em um gesto claro e calculado para o aeroplano acima.

— Alvo marcado!

O aeroplano girou com precisão, e uma chuva de setas de balista caiu sobre a casa. O impacto foi ensurdecedor; as paredes explodiram em estilhaços, silenciando a multidão em choque.

— Não queria chegar a esse ponto — bradou Jessiah. — Mas isso é um aviso! Temos força, e não hesitaremos em usá-la. Estão todos detidos!

A tensão se dissolveu em medo. Alguns baixaram paus e pedras, outros apenas abaixaram a cabeça. A raiva esvaziava-se no ar.

— Homens, para aquele espaço vazio! Mulheres e crianças, para dentro das casas até os interrogatórios — ordenou Jessiah, com autoridade inquestionável.

Os soldados agiram rápido. Separaram os grupos com eficiência, conduzindo-os com firmeza, mas sem violência excessiva. Os homens logo estavam sentados no chão, olhos baixos, resignados.

As mulheres e crianças desapareceram pelas portas das casas próximas. Paladinos erguiam uma tenda no centro do pátio, montando rapidamente o que seria o centro de triagem da operação.

Jessiah parou um instante e fechou os olhos. A respiração pesada, os músculos tensos, mas o caos havia sido contido. Por ora, a ordem estava restaurada.

— Jessiah, trouxe Tharim Fieropugnus! — anunciou uma voz atrás dele.

Ele se virou e viu Caelinus surgindo com um grupo de soldados. O anão trambiqueiro vinha algemado, arrastando os pés, seguido de perto por corpos cobertos.

Jessiah se aproximou e pousou a mão no ombro de Caelinus. O gesto era firme, mas carregado de pesar.

— Eles estavam contando piadas semana passada... — murmurou Caelinus, com os olhos marejados.

— Eles não serão esquecidos — respondeu Jessiah. — Faremos justiça. Ainda faltam dez nomes. E Doo continua foragido.

Caelinus assentiu, tentando recompor a voz. — Sim. O que faremos agora?

Jessiah observou os moradores. Medo, ódio, raiva contida — todos aqueles sentimentos estavam impressos nos rostos tensos e cansados.

Alguns cochichavam, lançando olhares furtivos para os paladinos. Jessiah pegou o comunicador preso ao cinto.

— Aelia, qual é a situação aí em cima?

A voz de Aelia veio firme e clara. — Capitão, com o suporte aéreo, está tudo sob controle. Mas não conseguimos chegar até Doo.

Jessiah olhou para Caelinus.

— Você consegue continuar aqui? Interrogatórios, julgamentos, manter a ordem?

Caelinus hesitou, mas logo assentiu. — Sim. Pode ir. Farei o melhor possível.

Ele virou-se para um dos paladinos e retomou o controle com rapidez.

— O que Jessiah já ordenou?

— Separou os homens. As mulheres e crianças estão nas casas aguardando interrogatório — respondeu o soldado, atento.

— Certo. — Caelinus voltou-se para Tharim. — Vamos começar. Quero informações sobre os outros criminosos. Levem esse anão trambiqueiro para o interrogatório.

Jessiah lançou um último olhar aos corpos de seus amigos antes de partir em direção à posição de Aelia.

Caelinus respirou fundo antes de encarar os rostos tensos dos moradores.

— Soldado, todos os moradores já estão aqui?

— Não, senhor — respondeu o soldado. — Ainda há pessoas mais acima na favela.

— Certo. Tragam todos os que já estão sob nossa custódia.

— Sim, senhor.

Os soldados conduziram as mulheres e crianças de volta para a rua. O silêncio era pesado, e as pessoas se entreolhavam com medo.

— Vocês sabem o que está em jogo aqui — começou Caelinus, elevando a voz para ser ouvido por todos. — Estamos procurando criminosos que ameaçam a segurança de todos.

Ele caminhava devagar, observando o rosto de cada um.

— Sei que muitos de vocês têm razões para proteger essas pessoas. Alguns podem estar se sentindo intimidados por eles, outros podem estar ganhando algo com isso.

Caelinus parou e observou a multidão em silêncio. Os rostos estavam carregados de ansiedade.

— Quem colaborar fornecendo informações será recompensado. Mas quem se recusar... — Ele fez uma pausa, os olhos frios. — Vai enfrentar as consequências.

Um homem robusto, com expressão desafiadora, deu um passo à frente.

— Preste atenção, paladino — disse ele, cruzando os braços. — Eu sou o líder comunitário, apoiador dos druidas, e sou da paz. E aí? O que vai fazer? Estou no meu direito, segundo as próprias leis impostas por vocês.

Caelinus arqueou uma sobrancelha.

— E o senhor se chama?

— Não sou obrigado a dar o meu nome, paladino opressor! — O homem apontou o dedo para Caelinus, furioso. — Onde estavam vocês na hora de colocar comida no prato dessa gente? Olha pra esse lixo todo que vivemos! Só os druidas se importam com a gente. Eles é que vão vencer e mudar essa sociedade corrupta, porque se preocupam com a natureza — ao contrário de vocês, que só produzem lixo e destruição.

Caelinus respirou fundo, os olhos estreitados. Seus lábios se contraíram ligeiramente.

— É mesmo? Vamos ver, então, se os druidas ou esses criminosos se importam mesmo com algum de vocês.

Ele se virou para os paladinos.

— Tragam ele aqui.

Dois paladinos avançaram. Agarraram o líder comunitário e o arrastaram até a frente da tenda improvisada. Os moradores observavam em silêncio tenso, enquanto o homem tentava resistir — em vão.

— Vamos fazer algo justo — declarou Caelinus, desatando o escudo de seu braço. — Vamos fazer um julgamento por combate. Até a morte!

Um murmúrio de surpresa percorreu a multidão. Caelinus fez sinal para um soldado, que entregou uma espada ao homem. O líder comunitário olhou para a arma com relutância.

— Já disse, eu sou um sujeito da paz — protestou, jogando a espada no chão.

Caelinus tirou o peitoral de aço e se posicionou.

— Você só tem uma espada, e eu também. Se alguém quiser tomar o seu lugar... Doo, um arquidruida, qualquer um, pode vir.

O homem hesitou. Olhou ao redor, mas ninguém se moveu. O silêncio era ensurdecedor.

— Eu sou da paz! — insistiu, recuando um passo.

— E quem te deu essa opção? — retrucou Caelinus, avançando. — A guerra chegou até você, e ninguém vai te proteger. Cadê aqueles que você apoia? Onde estão os agentes da revolução?

O líder comunitário olhou desesperado para a multidão. Esperava apoio, mas só encontrou rostos apáticos. Engoliu em seco ao perceber que estava sozinho.

— Eles não vão te ajudar — disse Caelinus, com desprezo. — Esses criminosos só estão usando vocês como escudos de carne.

Sem escolha, o líder pegou a espada do chão com as mãos trêmulas. Mas não havia luta ali. Caelinus era um paladino experiente, e o combate terminou em questão de segundos.

Com um movimento rápido, desarmou o homem e o derrubou no chão. E, por fim, sem hesitação, cravou a espada no coração do líder comunitário. Fim de luta.

Os moradores ficaram em choque. Muitos tremiam. Caelinus limpou a lâmina e se virou para a multidão.

— Esta é a justiça de Jillar. Se alguém mais quiser proteger esses criminosos, já sabe o que esperar. Mas, se vocês cooperarem, podemos acabar com isso de uma vez por todas.

O silêncio que se seguiu era sufocante. O medo pairava no ar, quase palpável.

Caelinus deu as costas à multidão e se dirigiu para dentro da tenda.

— Levem as mulheres e crianças de volta para as casas. Chamem os paladinos. E que comecem os julgamentos.

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