Intangível Brasileira

Autor(a): Richard P. S.


Volume 1

Capítulo 31: Tomada de assalto: Parte 2

Enquanto Jessiah organizava a linha inferior da favela, moradores em pânico deixavam suas casas. Mães agarravam os filhos; homens avançavam, exigindo explicações.

— Calma! Mantenham a calma! — gritou Jessiah. — Paladinos, círculo da justiça! Aqui, na minha frente!

Os soldados formaram um perímetro. Separavam famílias de drogados errantes. Os drogados que reagiam com violência eram mortos. Os demais, sentados no chão, formavam grupos distintos.

— Ninguém passa! — ordenou Jessiah, atento aos arredores.

Um soldado se aproximou, ofegante.

— Encontramos mais alguns da lista. Tentavam se misturar aos moradores.

Ele empurrou um pequeno grupo à frente.

— Tragam-nos! — disse Jessiah, aliviado ao reconhecer rostos conhecidos.

— Krat Gro’mak, trinta e cinco — relatou o soldado, empurrando um orc imenso de joelhos. — Sequestro, contrabando de artefatos druidas, drogas e sementes explosivas.

A expressão de Jessiah se fechou.

— E essa?

— Loritha “Sombra” Vellas, vinte e quatro — informou outro soldado, forçando uma mulher de cabelos negros, cortados em tigela, a se ajoelhar. — Suspeita de sequestro e assassinato.

— Grim Dente-de-Ferro, vinte e nove — anunciou um paladino, colocando um hobgoblin ao lado dos outros. — Ladrão, traficante. E druida.

Jessiah focou a mulher.

— Você também trafica sementes?

— Não, senhor — respondeu ela, sem erguer os olhos.

Jessiah puxou o queixo dela para cima, encarando-a de perto.

— Druida?

Ela negou com um gesto. Logo depois, começou a soluçar. O choro tomou seu rosto com força.

— Traga o outro orc — ordenou Jessiah, soltando o queixo de Loritha. Ela caiu sentada, mas logo foi posta de pé pelo soldado.

— Varg Quebra-Crânios, trinta e seis anos — anunciou o soldado. — Aquele tipo que espanca os poucos cidadãos decentes por aqui.

Jessiah assentiu. O rosto se endurecia com cada novo nome.

Os quatro prisioneiros se ajoelharam lado a lado. Paladinos formaram um círculo em torno deles. O brilho das armaduras refletia os primeiros raios do dia. O caos diminuía. Os moradores observavam em silêncio; apenas as vozes da Ordem quebravam o ar parado.

Jessiah deu um passo à frente, a voz firme.

— Em nome da Ordem dos Paladinos e das leis de Jillar, vocês serão julgados aqui e agora. A justiça será rápida. Definitiva. — Fez uma pausa. — Tragam o primeiro.

Krat Gro’mak foi puxado ao centro.

— Krat, você é acusado de contrabando de artefatos druidas, drogas e sementes de gravidas explosivas. Está diante de paladinos, dentro do círculo da justiça. Você não pode mentir. Confessa?

— Sim — respondeu o orc, a voz pesada, como forçada a sair.

— Krat Gro’mak, condenado por traição e assassinato. A sentença é a morte.

Jessiah sacou a espada azul-escura. Com um só golpe, decapitou o orc. A cabeça rolou. O sangue escorreu em círculos no chão.

— Isso foi pela minha amiga — murmurou.

— Loritha — chamou.

Ela foi empurrada para frente, mas reagiu. Deu uma cabeçada no soldado e tentou correr. Um segundo soldado sacou o pau de fogo primo e atirou. O projétil mágico explodiu em suas costas. O impacto a lançou no chão.

Quatro lanças cravaram seu corpo antes que se movesse de novo.

— Agora, o druida — disse Jessiah, virando-se para Grim. — Roubo custa uma mão por crime. Mas pisar em Jillar, sendo druida, depois do que vocês fizeram nas últimas semanas... é uma declaração de guerra. E nós não fazemos prisioneiros.

Ergueu a espada.

— Jessiah, espere! — gritou um paladino, empunhando um martelo pesado.

— O que foi?

— É druida. Druida a gente mata com martelada.

Mais três paladinos se aproximaram. Os quatro ergueram seus martelos, prontos para o ritual.

— Fiquem à vontade — disse Jessiah, dando um passo para trás.

Quatro paladinos se adiantaram, marretas em mãos. Grim soltou um grunhido de desespero, mas não havia fuga.

O som dos ossos se partindo ecoou pelo vale quando as marretas desceram. O corpo do hobgoblin foi esmagado em golpes ritmados e impiedosos. A multidão assistia, aterrorizada e hipnotizada.

Alguns moradores abraçavam os filhos. Outros apenas desviavam o olhar, com mãos trêmulas e respiração contida. Sussurros atravessavam o silêncio pesado.

Jessiah retomou a palavra, a voz sem emoção:

— Varg Quebra-Crânios. Acusado de assassinato. Seu nome fala por si. Cumpram a sentença.

Um paladino avançou. Empunhou a espada com firmeza e cortou a cabeça do orc de lado, abrindo o crânio como uma fruta madura. Outro completou a decapitação com um segundo golpe.

Os pedaços da cabeça rolaram entre os corpos caídos. O som seco do corpo tombando veio em seguida.

***

Os primeiros raios do amanhecer refletiam na armadura de Aelia. Espada em punho. À sua frente, Joren — uma muralha de músculos — projetava sua silhueta gigantesca sob a luz fraca da madrugada.

Ele sorriu com desdém e saltou sobre ela. Dois golpes consecutivos foram bloqueados com precisão assustadora, como se Aelia já tivesse repetido aquele movimento milhares de vezes.

— Ousada demais invadindo aqui assim, Beyara — disse ele, os olhos faiscando de raiva.

Aelia permaneceu em silêncio. Joren avançou novamente, as adagas rasgando o ar. Ela se esquivou para o lado e girou a lâmina, bloqueando.

As armas colidiram. O impacto quase a desequilibrou, mas Aelia fincou os pés no chão.

— Rápida... Mas isso vai te salvar? — provocou ele, com um sorriso zombeteiro.

As lâminas se tocaram e, nesse instante, Joren ativou suas adagas. Uma corrente elétrica percorreu o corpo de Aelia.

Ela gritou, caindo de joelhos, a espada ainda erguida em uma disputa de forças. Joren, maior e mais forte, tentava subjugá-la.

Ele gargalhava enquanto seu corpo pressionava o dela, e Aelia mal conseguia se mover por causa da eletricidade. Pequenas feridas começaram a abrir-se em sua pele.

— E agora, garotinha? Onde está toda aquela velocidade?

Aelia soltou um grito, os dentes cerrados. Ela se ergueu e, com um movimento ascendente, sua espada atingiu o rosto de Joren. Seu olho esquerdo virou um buraco numa cicatriz aberta.

— O... O que você fez, sua cadela?! — Joren recuou, atordoado.

Aelia não desperdiçou a chance. Avançou. Quando ele tentou bloquear, ela desviou e cortou seu flanco com um golpe ágil.

Joren recuou, mas não a tempo de evitar uma estocada profunda na barriga. O sangue jorrou como uma cascata sobre o chão de lixo compactado.

— Maldita! — rugiu ele, avançando com fúria renovada. As adagas buscaram Aelia, mas ela já antecipava o ataque.

Com um giro ágil, desviou as lâminas e abriu espaço.

— Vou te mostrar que não sou só rápida! — gritou Aelia, desferindo um golpe poderoso.

Joren foi trespassado novamente. Cambaleou. O sangue restante tingia ainda mais o chão.

Os olhos dele se fixaram nela.

— Espere... — murmurou, a voz falhando.

Joren encostou-se a uma parede. Suas adagas caíram no chão.

— Se me poupar... eu conto onde Doo está... Eu sei tudo o que ele fez.

Respirava com dificuldade. As mãos pressionavam os ferimentos.

— Doo? — Aelia hesitou. — Vai... entregá-lo? Fale agora, e viverá!

Joren, os lábios manchados de sangue, esboçou um sorriso. Com a mão livre, fez um gesto fraco para que ela se aproximasse, como se não tivesse voz para vencer o ruído ao redor.

Aelia se aproximou.

— Aquela casa... ali... — apontou com dificuldade.

Ela seguiu o olhar dele por um instante, distraída.

Foi quando Joren se moveu. Num último ato desesperado, pegou a adaga caída e se lançou contra ela.

— Morra, vagabunda!

O mundo pareceu desacelerar. Aelia viu a adaga em movimento, sentiu a urgência do momento. Com reflexos aguçados, girou o corpo e ergueu a espada.

O ataque de Joren parou de repente.

Sua lâmina atravessava o corpo dele de lado a lado. As adagas caíram das mãos.

Os olhos de Joren se arregalaram — primeiro em choque, depois em dor.

Ele caiu.

A respiração de Aelia estava pesada. Ela limpou o suor da testa com o dorso da mão e olhou para o corpo sem vida no chão. O sangue havia se espalhado, formando uma poça espessa no chão do vale.

Com movimentos lentos, guardou a espada e puxou o comunicador.

— Jessiah. Joren está morto. Ele mencionou Doo antes de me atacar. Não consegui mais informações. Prosseguindo com a missão.

Aelia guardou o cristal, o corpo coberto de queimaduras. Lançou um último olhar ao cadáver de Joren e seguiu adiante.

As ruas devastadas ainda ecoavam sons da batalha. Ao se aproximar da área cercada, viu as flechas das balistas cravadas nas posições inimigas — agora escombros fumegantes. O cheiro de destruição ainda pairava no ar.

Soldados feridos eram socorridos, enquanto outros mantinham a vigilância. Aelia se aproximou de um grupo que organizava prisioneiros e corpos.

— Novidades? — perguntou, avaliando a cena.

Um soldado, sujo de poeira, apontou para os escombros.

— Encontramos alguns da lista. Dois mortos e um gravemente ferido.

— Quem são?

— Lina Volaris, tráfico de drogas druídicas e extorsão. Vorrak, goblin envolvido em assaltos. Estão mortos. O ferido é Nyx Foliride, assassino e extorsionário.

— Vamos ver.

Aelia caminhou até os corpos. Lina jazia inerte. Vorrak exibia uma expressão congelada de dor. Ao lado deles, Nyx respirava com dificuldade. Aelia se ajoelhou.

— Nyx, onde está Doo?

Nyx abriu os olhos. O esforço para falar era evidente, mas antes que conseguisse responder, seu corpo estremeceu, e a respiração cessou.

Aelia fechou os olhos por um instante. Algumas gotas de sangue, vindas de seus próprios ferimentos, pingaram sobre o cadáver.

— Tudo bem, capitã? — perguntou um soldado, notando sua expressão de dor.

— Não se preocupe. Vou ficar bem — respondeu ela, tentando se levantar.

Foi então que ouviu um grito.

— Um homem ferido aqui!

Aelia correu até o local. Um soldado jazia no chão, gravemente ferido. O cabelo loiro estava manchado de sangue, a armadura coberta de fuligem.

— Eamon, não! Aguente firme! Sua irmã precisa de você.

Eamon abriu os olhos, enquanto sua mão suja de sangue tocava o rosto de Aelia.

— Aelia... Lydia... eu tentei...

— Não diga isso, Eamon. Aguente firme. Você vai contar isso a ela, hoje mesmo! — disse, apertando a mão dele. — Paladinos, aqui! — gritou.

Dois paladinos correram até eles. Ao chegarem, um deles aplicou pressão na ferida. Outro, um anão robusto, olhou para Aelia.

— Garota, a cura mágica tem seus limites. Certamente ele vai morrer. Mas vamos tentar. — As palavras do anão foram como adagas.

— O quê?

O outro paladino, um humano de pele negra, suspirou.

— O que ele quis dizer é que não garantimos que ele vá sobreviver.

Aelia cerrou os punhos.

— Façam o possível. Ele não pode morrer.

Os paladinos canalizavam magia de cura. O brilho fluía de suas mãos. Eamon gemeu de dor, lutando para manter os olhos abertos.

— Não desista, Eamon — encorajou o paladino humano.

O anão balançou a cabeça.

— Ele perdeu muito sangue.

Eamon tentou sorrir.

— Aelia... cuide de Lydia... se eu não conseguir...

— Você precisa conseguir! Prometeu!

O tempo se arrastou. Aelia o observava com os punhos cerrados, o rosto tenso. Ela respirava rápido, o sangue de seus próprios ferimentos tingindo suas vestes — uma luta contra o medo e a dor.

— Conseguimos! — disse o anão, suspirando enquanto se sentava ao lado do ferido e tomava um gole longo de seu cantil.

Aelia também suspirou.

— Obrigada.

— Ele precisa descansar. Vamos levá-lo para a retaguarda — disse o paladino humano, começando os preparativos para descer a favela.

Aelia olhou mais uma vez para Eamon.

— Bom trabalho. Continuem. Eu vou subir para garantir que não haja mais ameaças.

Ela avançou pelas vielas destruídas. O caos da batalha começava a se dissipar. Sacou o cristal de comunicação e enviou uma mensagem para Jessiah:

— Hostis neutralizados. Área segura.

Enquanto Aelia transmitia a mensagem, a voz de Caelinus surgiu pelo comunicador, carregada de cansaço e pesar:

— Estamos chegando, mas temos um problema...

— O que aconteceu? — interrompeu Jessiah, com o estômago apertado por um pressentimento sombrio.

— Lidamos com mais dois da lista. Elandra Feymoon, conjuradora... — a voz falhou por um segundo. — Ela matou três dos nossos, Jessiah. Elias, Arvin e Lilian...

— O quê?! — Aelia interrompeu, apertando o cristal com força.

— Eles eram nossa família... — continuou Caelinus, a dor evidente. — Além disso, mais cinco soldados e dez feridos entre paladinos e Beyaras.

— Caelinus... — Jessiah tentou dizer algo, mas foi cortado.

— Eu matei Elandra. — Caelinus exalou lentamente. — Cortei a cabeça dela.

Aelia respirou fundo, tentando processar aquilo.

— E os outros? — Ela tentou manter a voz firme.

— Ainda não sei os nomes dos soldados mortos, mas estamos trazendo os corpos — respondeu Caelinus, com um tremor na voz. — O outro era Dugan Steelhide. Traficante. Não deu muito trabalho.

— Estão fechando o cerco? — Jessiah interveio, focado na missão.

— Quase completo — confirmou Caelinus, enquanto o sol da manhã já dominava o céu.

Aelia, visivelmente abalada, olhou para o horizonte e guardou o cristal. O peso da batalha era tão presente quanto as perdas.

Jessiah desligou o comunicador e soltou um longo suspiro.

— Assassinos! — Um homem entre os moradores avançou contra Jessiah com uma barra de ferro, fúria nos olhos. — Invadem nossas casas, matam inocentes!

Ele atacou. Jessiah mal teve tempo de reagir antes do impacto.

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