Infinity World Brasileira

Autor(a): Infinity World


Volume 1

Capítulo 9: Masmorra Silenciosa

A noite descia como um véu frio — a temperatura caía à medida que a lua alcançava seu auge no céu escuro. O canto das cigarras, grilos e outros insetos reverberava por toda a floresta, preenchendo o ar com uma sinfonia contínua. De tempos em tempos, o som abafado de uma coruja cortava a escuridão, ecoando entre as copas altas. As folhas das árvores balançavam suavemente com o vento. 

O céu estava coberto por nuvens espessas, ocultando completamente as estrelas. Ainda assim, o brilho da lua, intenso e prateado, atravessava pequenas frestas entre as nuvens — o suficiente para banhar parte da floresta em uma luz pálida. Entre os troncos e galhos, vagalumes flutuavam como pequenas luzes vivas, espalhando-se pelos cantos escuros com um brilho intermitente.

Suu-Yuky e Greg continuavam adentrando a floresta.

O ar estava denso e úmido, com a mistura da temperatura fria e da alta umidade, o que tornava a sensação térmica ainda mais gelada. Cada respiração parecia condensar-se no ar noturno, tornando o ambiente ainda mais opressor. No entanto, os passos de Greg e Suu-Yuky, leves e ágeis sobre a mata seca, não vacilavam — continuavam. Rapidamente. Silenciosamente.

— Yuky, você não está com frio, não? Eu tô morrendo de frio aqui — murmurava Greg, enquanto se enroscava no próprio cachecol, as mãos apertando-o com força, os olhos fixos em Suu-Yuky.

— Será que estamos perto? — perguntou Suu-Yuky, desviando o olhar do mesmo e focando nas árvores à frente.

Greg levou a mão à bochecha, franzindo a testa em confusão, e pensou:

"Estranho... Estou com o pressentimento de algo" 

Eles continuaram a caminhar, passo a passo, enquanto a vegetação densa ia gradualmente cedendo lugar a uma área mais aberta, com poucas árvores.

À distância, uma montanha se erguia, suas paredes rochosas ascendendo verticalmente, formando uma linha imponente contra o céu. Sua altura ultrapassava os mil metros, e o terreno à sua base era irregular, marcado por grandes pedras espalhadas. A montanha avançava em direção ao alto, até onde os olhos conseguiam alcançar, mas o pico permanecia oculto, perdido entre as nuvens que começavam a se adensar com a o ápice da noite. À medida que o terreno se aproximava das falésias, a rocha exposta tornava-se cada vez mais rugosa e crua — sem qualquer sinal de vegetação, sem suavidade ou curvas. A formação imponente se impunha, desprovida de ornamentação.

— Bem, chegamos. É aqui que nossos camaradas nos esperam! — exclamou Greg, com um sorriso discreto no rosto. Seus olhos pareciam pulsar de empolgação.

Greg olhava em direção a uma abertura um pouco acima da base da montanha, onde uma rocha não tinha a ponta. Um detalhe que poderia passar despercebido por olhos desavisados. Mas ele fixava os olhos em uma marcação no papel, que parecia coincidir exatamente com a descrição da rocha.

— Tá... Mas a gente vai demorar muito escalando, ou cabeça de vento — murmurou Suu-Yuky, lançando um olhar desconfiado para Greg, enquanto apontava para a rocha sem a ponta. Quase suspirava de decepção.

— Saca só!

Com uma rapidez impressionante, ele puxou sua arma, que brilhava intensamente com um tom azul-claro. Em um movimento quase hipnótico, a arma se transformou, o ferro do cano começando a se moldar até adquirir a forma de um gancho. Greg segurou Suu-Yuky e, com um movimento ágil, lançou o gancho em direção à rocha. Ele se fixou firmemente nela, e, com um puxão brusco, ambos foram arrastados em direção à mesma.

— Viu como é que se faz? — disse Greg, rindo levemente, quase em tom de deboche.

Quando chegaram à rocha, Suu-Yuky continuou encarando Greg em silêncio, mas um pensamento cruzou sua mente:

Uau… Que exibido.

— Eu te amo, Drakus! Você nunca me deixa na mão, meu xodó! — falava Greg, a voz abafada pela emoção, enquanto seus dedos deslizavam com reverência pela superfície fria da arma. Com um sorriso bobo no rosto, ele apertava o cano contra a bochecha, sentindo o metal gelado contra a pele quente. Ele a abraçou com força, fechando os olhos por um momento.

— Cadê aquela sua outra pistola? Não vai te fazer falta? — perguntou Suu-Yuky, olhando para o coldre vazio à sua cintura.

— Que nada! Eu deixei a ‘McGregan’ com ele. Foi a mesma que usei na nossa brincadeira contra aquele bicho. — ele retrucou, levantando seu revólver e exibindo-o com um sorriso. — Eu te apresento a ‘Drakus!’

— Você dá nomes para suas armas?

— Claro, afinal, elas não são quaisquer armas. Foram presentes de uma pessoa muito especial para mim. — Greg trouxe o revólver de volta para si e encarou seu próprio reflexo refletido pelo metal bem polido da arma. Parecia se distrair e submergir em lembranças que o consolavam, enquanto deslizava o dedo levemente por cada detalhe do metal. — Enfim, algum dia eu te conto mais sobre eles!

— Vamos logo, Greg, deixe o mundo da lua para depois! — interrompeu Suu-Yuky, voltando o olhar para a rocha. — O que precisamos fazer para entrar?

Greg guardou o revólver no coldre e puxou o papel com as anotações do bolso. Olhou rapidamente e disse:

— Acho que só temos que puxar...

Ele puxou a metade da rocha quebrada, e o som de engrenagens e metal começou a ecoar. A parede de pedra à frente começou a se abrir, revelando uma passagem secreta.

— Faz sentido... Tava meio óbvio até. — Suu-Yuky suspirou, entrando cautelosamente pela passagem.

Os dois avançaram pela entrada, que a princípio parecia bastante estreita. Mas, à medida que seguiam pelo caminho, a passagem se alargava lentamente. As paredes, formadas por pedregulhos tirados da própria montanha, eram irregulares e, em alguns pontos, afiadas. O chão, feito de mármore antigo e desgastado, estava repleto de rachaduras, marcas de séculos de desgaste. Não havia qualquer fonte de iluminação, exceto os feixes suaves da luz da lua, que penetravam pela abertura da entrada e desenhavam linhas prateadas sobre a superfície fria. O ar estava denso e abafado, e o caminho a frente era um completo breu de escuridão.

Seguiam á frente com cuidado. Cautelosos. Vagarosos.

Greg retirou um graveto amarrado com um pedaço de pano de sua bolsa. Seus dedos, ágeis e experientes, cuidadosamente manusearam o objeto. Em seguida, ele tirou uma pedra de sílex, e um palito fino, com a ponta coberta de enxofre e compostos oxidantes. Com um movimento preciso e controlado, roçou o graveto contra a pedra. O som do atrito, um raspado agudo, cortou o silêncio do ambiente, e logo uma faísca brilhou no ar, se transformando em uma chama tênue. O fogo adornando a ponta do palito.

Com a mesma destreza, ele se aproximou com cuidado, levando a chama até o pano, que rapidamente se incendiou. As chamas começaram a crepitar e a crescer, iluminando seu rosto com um brilho suave. A cada segundo, o fogo ganhava força.

— Agora, você não precisa mais ter medo do escuro, gracinha. — quebrou o silêncio, soltando uma risada baixa enquanto avançava à frente, guiando o caminho.

— Vem cá, você fugiu de um circo? — retrucou Suu-Yuky, seus olhos semicerrados, um misto de julgamento e cansaço. Uma gota de suor escorria lentamente de seu rosto. — Mas, essa sua bolsa tem tudo mesmo, não é?

— Tudo que um caçador de recompensas experiente precisa! — Greg, tentando esconder um sorriso de entusiasmo, abafava a própria voz, preocupado em não fazer barulho.

Seguiam em frente, e logo a passagem se abria para um corredor amplo e sombrio. As paredes, compostas por pedras rústicas e tijolos antigos, estavam cobertas por uma camada espessa de teias de aranha, terra e poeira. O ar era pesado, abafado, devido à escassez de saídas de ventilação. Cada som, por mais discreto que fosse, ecoava nas paredes e no chão de pedra, criando uma atmosfera desconfortante. Algumas tochas, presas nas paredes, balançavam levemente, e mal iluminando os cantos escuros ao redor. O corredor se estendia à frente, ramificando-se em vários outros, cada um com uma tocha pendurada sobre a entrada.

— E agora? Direita ou esquerda? E qual corredor seguimos? — a expressão de Greg se tornava tensa, o sorriso desaparecendo de seu rosto. Seus olhos, antes brilhantes, agora estavam fixos e inexpressivos. Ele parecia mais inquieto, gotas de suor frio desciam lentamente por seu rosto, misturando-se à poeira.

— Tanto faz, todos esses corredores parecem iguais de qualquer maneira. — respondeu, a expressão mais tranquila, mas seus olhos, atentos, percorriam cada detalhe das passagens.

— Bem, sou bom de palpite... então, vamos pela terceira esquerda. — murmurou Greg em tom baixo, quase como um sussurro, e, sem esperar resposta, começou a avançar pela passagem, seus passos agora mais cautelosos e quase silenciosos.

Seguiam adentrando. A tocha que Greg segurava emitia uma luz fraca, lançando sombras sobre as pedras desgastadas do chão. As correntes enferrujadas, penduradas nas paredes, balançavam levemente, produzindo um som sutil. O ar estava impregnado com o cheiro forte de mofo, quase sufocante. Ambos estavam com os músculos rígidos e tensos, que fazia-os calcular melhor cada passo.

— Precisamos ter cuidado com as armadilhas. Deve haver muitas por aqui. — disse em tom baixo, a voz carregada de cautela.

— Sim, estou tentando localizá-las desde que entramos. — Suu-Yuky respondeu, a tensão visível em seu olhar. Suas sobrancelhas estavam franzidas, a expressão firme.

Em meio à penumbra da masmorra, algo inesperado chamou a atenção de Suu-Yuky. Por entre os corredores escuros, um brilho tênue e azulado se destacou na escuridão. Por um instante suspenso no tempo, seus olhos se fixaram naquele ponto cintilante à frente, uma luz trêmula, quase etérea. E então seus sentidos atiçaram.

Quase imperceptível, um fio fino como um cabelo se enrolou no tornozelo de Greg. Ele mal teve tempo de reagir antes que o teto acima deles se abrisse com um rangido metálico ensurdecedor, seguido de um solavanco repentino — o chão sob seus pés começou a subir com violência, como se fosse o interior de um elevador.

Suu-Yuky e Greg foram lançados para cima dentro de um estreito poço de pedra cercado por quatro paredes irregulares, subindo cada vez mais depressa. A escuridão foi sendo substituída por uma luz azulada que vazava por frestas nas rochas, enquanto o som de engrenagens antigas urrava ao redor.

— Droga! — rosnou Greg, tentando manter o equilíbrio enquanto o ar se tornava rarefeito pela velocidade.

Ao erguerem os olhos, viram o perigo iminente: no teto da câmara acima, fileiras de estacas de ferro enferrujadas e ameaçadoras os aguardavam, prontas para despedaçá-los.

No último segundo, Greg agarrou Suu-Yuky com força e, com um movimento rápido, ativou sua Drakus. O gancho disparou com um estalo agudo, serpenteando no ar até se prender com um estrondo seco a uma pilastra de pedra lateral, projetada como parte do velho mecanismo.

O puxão foi brutal.

Foram arrastados com violência para o lado, saindo da trajetória do piso que continuava subindo — e que, um segundo depois, se chocou contra as estacas com uma explosão de metal, pedra e poeira. Fragmentos voaram por toda parte. O impacto sacudiu o poço inteiro.

O gancho, enfraquecido pelo desvio súbito, cedeu pouco depois, e ambos caíram de lado sobre o chão de pedra alguns metros acima do nível anterior. O impacto os jogou contra o solo com força, deixando-os atordoados, ofegantes e cobertos de poeira.

Greg soltou um gemido rouco, sentindo o gosto metálico do sangue na boca. 

— Você teve mais sorte do que juízo agora! — exclamou Suu-Yuky, a voz ecoando com intensidade pelos corredores. Sua respiração estava pesada, os pulmões arfando enquanto gotas de suor escorriam por seu rosto, ainda visivelmente abalado pelo susto.

— Como... Eu juro que olhei para aquele local várias vezes e não vi nada... Como isso aconteceu? Como você conseguiu ver isso, Yuky? — Greg, pálido, ainda tentava recuperar o fôlego. Seu coração batia descompassado, como se estivesse prestes a saltar do peito. Ele se agachou, as mãos tremendo, a adrenalina ainda pulsando por todo o corpo.

— Eu não sou tapado igual você. — Suu-Yuky respondeu, já com a respiração quase regularizada. Ele se reerguia, retomando sua postura firme.

— Tá... tá, ok... Mas! Olha isso! — ofegava, a voz falhando, ainda com os olhos arregalados. Quando finalmente levantou a cabeça, um novo susto o atingiu em cheio.

Era um lugar estranho — as paredes, formadas por uma pedra antiga de tom alaranjado profundo, quase marrom. A textura da pedra era áspera, mas seus relevos e entalhes eram intricados. Os entalhes, em tons de amarelo suave, se entrelaçavam como caules de flores, com formas que se assemelhavam a vinhas ou raízes, subindo e se curvando pelas paredes. Pilares altos e imponentes se erguiam em todos os cantos, com detalhes esculpidos nas suas bases e no topo. As tochas, feitas de uma madeira preta e envelhecida, estavam presas às paredes em suportes ornamentados, suas chamas tremeluzindo com uma luz dourada e instável. O fogo, embora suave, iluminava o ambiente com uma claridade tênue.

— Este lugar... realmente é bem diferente — disse Suu-Yuky, os olhos atentos a cada canto do novo ambiente, analisando cada detalhe das pilastras.

— Sim, é bem bonito e parece muito bem conservado — respondeu Greg, passando os dedos ao longo das paredes, sentindo a textura dos entalhes intricados nas pedras. — Vamos seguir em frente.

Os passos deles ecoavam pelo corredor, abafados pelo silêncio denso do lugar. Avançavam sem hesitação, virando à esquerda aqui, à direita ali, sem desviar o olhar do caminho à frente. No entanto, a cada nova esquina, o cenário parecia se repetir. As pilastras imponentes, feitas de pedra rústica, se alinhavam ao longo das paredes, todas com os mesmos entalhes meticulosamente trabalhados. Não importava qual direção tomassem; tudo parecia levá-los de volta ao ponto inicial.

— Você percebeu isso, Greg? — Suu-Yuky perguntou, a voz mais baixa agora, quase um sussurro. O tom de sua voz revelava a crescente inquietação.

— Percebi faz tempo... — respondeu, igualmente em um sussurro, o olhar fixo à sua frente. Lentamente, sua mão direita se moveu para o coldre, seus dedos tocando a empunhadura de sua arma.

De vez em quando, os passos que ecoavam pareciam se multiplicar. O som de um terceiro passo se fazia presente, abafado, mas nítido, reverberando nas paredes ao redor. Os ecos surgiam atrás deles, sempre na mesma direção, como se algo – ou alguém – os seguisse a uma distância de poucos metros, mas tão silencioso que era quase imperceptível.

Greg parou de repente. Seu corpo se contraiu, os olhos fixos no corredor à sua frente. Não hesitou. Com um movimento ágil, sua mão foi até a cintura e puxou o revólver com precisão. O metal frio da arma reluziu sob a luz tremeluzente das tochas nas paredes.

Virou-se abruptamente, o som do metal sendo retirado da bainha cortando o silêncio denso. Com um movimento quase instintivo, apontou a arma para o final do corredor, sem sequer desviar o olhar. A pressão do gatilho foi quase automática.

O disparo explodiu no ar como um trovão, quebrando a quietude do espaço apertado. A bala cortou o ambiente com uma violência palpável, reverberando pelas pedras e se misturando com os ecos dos passos.

A chama da tocha à distância vacilou, trepidando antes de se estabilizar, projetando uma luz fraca e instável sobre as sombras. Foi o suficiente para revelar, por um breve momento, a silhueta de uma figura encurvada no limite do corredor. A pessoa estava se contorcendo, a mão pressionando o ombro ferido, mas ainda assim lutando para manter o equilíbrio.

— Atrás dele! — gritou Greg, sem hesitar ele disparou em direção à silhueta que vacilava à frente, seus músculos tensos e prontos para a ação. O rosto marcado pela concentração, mas uma ligeira curva de empolgação apareceu em seus lábios. Suas sobrancelhas franzidas indicavam determinação, mas o brilho nos olhos traía a excitação do momento.

A figura à frente, agora ferida e visivelmente debilitada, se arrastava pelo corredor com esforço desesperado. A mão pressionava o ombro, tentando conter o sangue que se derramava, mas o ritmo de sua fuga era descoordenado, quase como um instinto primitivo. O corpo se curvava em direção ao chão, como se tentasse diminuir o impacto de cada passo, mas a dor o impedia de manter uma postura ereta.

Suu-Yuky estava logo atrás de Greg, os dois movendo-se com uma agilidade impressionante, o som dos passos abafados pelo solo que rangia sob seus pés. A perseguição os levava por corredores tortuosos, estreitos, cujas paredes pareciam se fechar a cada nova curva. O sujeito à frente, apesar de sua fuga desordenada, ainda parecia ter alguma força restante, desaparecendo em meio às bifurcações com uma velocidade inesperada.

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