Infinity World Brasileira

Autor(a): Infinity World


Volume 1

Capítulo 10: Memórias Esquecidas

O sangue pingava em intervalos ritmados, e cada gota que tocava o chão e ecoava pelo corredor. A respiração era ofegante, quase um soluço desesperado que se misturava ao som apressado dos passos. À medida que ele corria, as tochas presas às paredes tremeluziam com o deslocar do ar.

O suor escorria incessantemente por sua testa, ardendo nos olhos, encharcando-lhe as roupas. Os olhos estavam arregalados. Os lábios, secos e entreabertos, mal conseguiam formar palavras — até mesmo suspirar era complicado.

Seu peito arfava em agonia. Cada inspiração era um esforço doloroso.

Atrás dele, o rastro de sangue serpenteava pelo corredor escuro, que denunciava seu caminho. Não importava o quanto corresse, o quanto lutasse contra a exaustão — estavam vindo. E não parariam.

Suu-Yuky e Greg seguiam a todo vapor pelos corredores, os passos ecoando pelas paredes estreitas enquanto o som da respiração ofegante preenchia o ambiente. O fugitivo à frente ganhava distância, mas não o suficiente para escapar.

— Greg, atira! — exclamou Suu-Yuky, ofegante, os olhos fixos nos movimentos rápidos do alvo.

— Não dá! — respondeu, enquanto olhava fixamente para o sujeito — Se eu matar esse cara, nunca vamos descobrir onde estão os outros... nem como sair desse lugar.

— Então atira na perna!

— Fica difícil acertar com ele virando nesses corredores o tempo todo... — disse, a voz rouca de cansaço. — E eu não posso contar com a sorte de não acertar um ponto vital... Mas posso tentar!

Mesmo diante da negativa, sacou a arma do coldre e tentou mirar no pé do sujeito à sua frente.

A mira da arma seguia o calcanhar do fugitivo. Greg estava prestes a pressionar o gatilho — mais um segundo, e toda a perseguição acabaria. Mas o sujeito virou bruscamente à esquerda no corredor, desaparecendo na penumbra.

O mesmo não hesitou. Seguiu-o com passos rápidos, o som de suas botas ecoando nas paredes estreitas. Logo, ambos mergulhavam em um corredor completamente escuro — não havia tochas, nem frestas, nenhuma fonte de luz além da tocha quase extinta que tremeluzia na mão de Greg. A chama vacilava a cada passo, projetando sombras nas paredes lisas, desprovidas de qualquer pilar ou ornamento.

O corredor era estreito, abafado, e o ar ali dentro parecia mais pesado, quase estagnado. À frente, o fugitivo estancava. Tinha chegado ao fim — uma parede sólida bloqueava qualquer possibilidade de avanço.

Sem saída.

— É com você, Greg — disse Suu-Yuky, tocando de leve o ombro do parceiro. Um sorriso cansado surgiu em seu rosto.

Sem hesitar, o mesmo ergueu a arma e mirou com precisão. O disparo rasgou o silêncio do lugar, o som explodindo nas paredes de pedra. Por um breve instante, o clarão da bala iluminou a penumbra.

A bala atravessou a perna, jorrando sangue pelo chão, e sangue escorria pelos lábios, ele se segurou na parede para não cair. Quase por instinto — ou puro desespero — o fugitivo tateou a parede atrás de si e pressionou uma pequena pedra saliente, mal visível à luz trêmula da tocha. O clique seco ecoou como um disparo no silêncio opressor.

— Estão onde eu queria, idiotas! Vou mandar vocês para o inferno

Antes que os dois pudesse reagir, o chão sob seus pés cedeu com um estalo surdo.

Os dois gritaram em uníssono:

— Droga!

O piso se abriu de repente e engoliu os dois. Suu-Yuky e Greg despencaram com violência, atingindo o solo de um andar inferior entre estilhaços de pedra e poeira. A tocha se apagou no impacto, mergulhando tudo em escuridão total.

Suu-Yuky reagiu no último instante. Movendo-se com rapidez surpreendente, lançou-se sob Greg e ergueu o braço para amortecer a queda. O impacto foi brutal — seu corpo atingiu o chão com força, levantando uma pequena cortina de poeira ao redor.

Um segundo depois, Greg despencou sobre ele, com todo o peso do equipamento. Um baque surdo ressoou pelas pedras, seguido de um gemido abafado.

Suu-Yuky suportou tudo em silêncio. Ele havia absorvido a maior parte da queda.

No exato momento em que os dois tocaram o chão, um estrondo metálico soou acima deles. Com um movimento brusco, uma placa de metal deslizou e selou a abertura por onde haviam caído.

O teto se fechou com um rangido seco, abafando a luz e qualquer possibilidade de retorno por alí.

— Ai... que droga... — resmungou Greg, com uma careta de dor. — Sinto como se tivesse caído em cima de uma pilha de ossos...

Ele levou a mão à cabeça e deu algumas batidinhas, fazendo sair uma pequena nuvem de poeira de seus cabelos desgrenhados. Com um grunhido, se ergueu das costas de Suu-Yuky e olhou para baixo, alarmado.

— Yuky?! Cê tá bem?

Greg puxou da mochila outro pedaço de madeira, com um pano velho firmemente amarrado na ponta. Em seguida, retirou o sílex do compartimento lateral da bolsa, ajoelhou-se e começou a riscar com precisão.

Algumas faíscas ficaram no ar, até que, com um estalo sutil, a tocha pegou fogo. A chama vacilou no início, tímida, depois cresceu, lançando uma luz amarelada que empurrou para trás as sombras do ambiente.

Suu-Yuky apoiou as duas mãos no chão, firmou os braços e, com um impulso controlado, ergueu o corpo para fora da pequena cratera formada pela queda. O esforço fez seus músculos tremerem, mas ele se manteve firme.

Seu cabelo estava coberto de poeira, assim como o resto do corpo — uma fina camada acinzentada escondia o brilho natural da pele e das roupas, dando-lhe a aparência de uma estátua recém-desenterrada.

Seu corpo estava coberto de arranhões, uma teia intrincada de linhas vermelhas que marcavam sua pele pálida. Alguns eram finos como riscos de agulha, outros mais largos e profundos. Eles serpenteavam por seus braços e pernas, e subiam pelo pescoço.

Além dos cortes, havia manchas arroxeadas espalhadas em pontos específicos. Algumas eram pequenas, como contusões discretas, outras se estendiam em áreas maiores, revelando o impacto da colisão.

— Hm? Tá tranquilo... — murmurou Suu-Yuky, a voz arrastada e despreocupada. Enquanto falava, sacudiu o corpo, fazendo a poeira se desprender em nuvens finas ao seu redor. — Mas mudando de assunto... por que você não usou o gancho pra puxar a gente?

— Não tinha onde o gancho pudesse se prender. Teria sido inútil — respondeu Greg, sério, encarando-o de cima com um olhar entre o cansaço e a incredulidade.

Coçou a cabeça e pensou:

Isso tá estranho, cara...

Os dois olharam em volta, atentos. Estavam presos em uma sala fechada por todos os lados — paredes, teto e chão formavam um único bloco de metal antigo, coberto por manchas de ferrugem e desgaste.

O ar era abafado, quase sufocante. A temperatura já era insuportável… e continuava a subir, segundo após segundo.

Greg arregalou as mangas, tirou seu cachecol, e colocou sua bolsa no chão, o mesmo estava ofegante pela temperatura, ele olhou para seu companheiro que estava calmo e ameno, ele não aparentava está preocupado com a temperatura.

— Yuky... Você não está sentindo esse calor absurdo não? — dizia, enquanto suspirava profundamente, seu corpo estava suando, e o mesmo mantinha os olhos arregalhados encarando-o

— Calor...? Que calor?

— Tá Yuky! Já chega, seja sincero comigo... O que caralhos é você? — perguntava Greg, enquanto franzia as sobrancelhas com o olhar determinado.

— Deixa de besteira, Greg... Vamos lá! Ah! — murmurou Suu-Yuky, tentando seguir em frente. Mas seu corpo vacilou e desabou no chão antes mesmo que terminasse a frase.

A queda foi rápida, quase silenciosa.

Estava exausto. Suava tanto quanto Greg agora — talvez até mais. Tentou se levantar várias vezes, os braços tremendo sob o peso do próprio corpo, mas não conseguiu. Cada tentativa terminava com os cotovelos cedendo, a testa quase tocando o chão metálico aquecido.

Seu corpo tremia sem controle, e ele mal percebia que ofegava alto, os pulmões lutando por ar.

— Eu não sei! Eu não sei, caramba! Eu não sei de nada... — gritou, a voz embargada pelo desespero.

— Como assim você não sabe? — retrucou Greg, franzindo a testa.

— Eu não sei... — repetiu ele, ofegante. — Eu não lembro de nada. Nada das minhas memórias.

Greg deu um passo à frente, incrédulo.

— Como assim não se lembra de nada? Se isso fosse verdade, você nem saberia falar...

— Você não tá entendendo! — interrompeu Suu-Yuky, erguendo a voz. — Eu sei falar, ler, escrever... lembro de tudo que aprendi, das minhas habilidades... mas não lembro quem eu sou. Nada do meu passado. Nenhum rosto. Nenhum nome. Só... o agora.

— Entendo... — disse Greg, enquanto se aproximava. Abaixou-se lentamente diante de Suu-Yuky e o encarou nos olhos. — Eu vejo a sua confusão... e quero te ajudar, Yuky.

— Ajudar como?!

— Deve haver alguma coisa que você lembre. Qualquer coisa. Uma imagem, uma sensação... uma fagulha.

— Não. Não há nada... — Suu-Yuky permaneceu em silêncio por alguns segundos, o olhar perdido no chão. Então, quase num sussurro, murmurou: — Exceto por uma coisa...

Greg inclinou a cabeça, os olhos fixos no companheiro.

— Pode falar... qualquer coisa que vier à sua mente conta! — disse, com firmeza contida.

— É meio bobo, mas... desde que acordei, venho tendo o mesmo pesadelo. Sempre o mesmo. — suspirava Suu-Yuky, com os olhos piscando lentamente. — Mas eu não consigo lembrar de nada quando eu acordo...

Greg se animou, a expressão ganhando um brilho de esperança.

— Isso já é alguma coisa! É um gatilho, Yuky. Um ponto de partida. — Ele se aproximou mais um pouco, a voz baixa, mas firme. — Faz um esforço. Tenta lembrar o que acontece nesse sonho. Respira fundo... e só tentar vislumbrar algo.

Ele fechou os olhos e respirou fundo, pela primeira vez em muito tempo, enchendo os pulmões lentamente antes de soltar o ar com controle. Tentou mergulhar dentro de si mesmo, vasculhando a escuridão da própria mente em busca de qualquer fragmento — uma cor, um som, uma sensação.

No início, havia apenas o vazio.

Mas, aos poucos, algo começou a se formar. Uma silhueta branca — distante, embaçada, como vista através de um vidro molhado. Ele forçou o foco mental, tentando clarear a imagem.

Era um jaleco. Um jaleco branco, comprido, que parecia se estender infinitamente além do que seus olhos conseguiam alcançar, sumindo num horizonte sem chão ou céu. Aquilo não era apenas estranho… era inquietante.

Ele tentou dar alguma lógica àquela visão. O que antes parecia um jaleco quase infindo, agora se transformava em algo mais real — um simples jaleco branco, um tanto gasto, como se tivesse sido usado por horas a fio.

A figura à frente permanecia de costas, imóvel. Suu-Yuky tentou levantar o olhar para ver-lhe o rosto, mas não conseguia. Havia uma luz intensa acima dele — uma claridade branca, quase ofuscante.

Talvez seus olhos ainda não estivessem acostumados com a luz… Ou talvez, ele só não olhou para cima.

Sons começaram a emergir da escuridão, sutis no início, mas cada vez mais nítidos. Bipes intermitentes. Estalos elétricos cortavam o silêncio, seguidos por cliques secos, mecânicos.

Eram ruídos estranhos, desconfortáveis… barulhos que ele não reconhecia — ele tentava se mexer, mas não conseguia.

Foi então que uma voz surgiu, suave e amena, deslizando por seus ouvidos como um sussurro calculado.

— Levante-se, garoto expectro... ou melhor, Suu-Yuky Nitsury. — A entonação era quase provocante, como se cada palavra tivesse sido escolhida para se gravar em sua mente.

À sua frente, o jaleco da figura balançava lentamente, movido por um vento que ele não sentia em lugar nenhum. E então, aos poucos, os olhos de Suu-Yuky começaram a se fechar.

— É isso... É daqui que vem o nome Suu-Yuky. Era só isso que eu lembrava desse sonho antes... — o mesmo balbuciava seus pensamentos em voz alta.

Um sorriso espontâneo surgiu em seu rosto, discreto, quase infantil. Havia alívio em sua expressão.

Greg se aproximou, curioso.

— E aí? Lembrou de alguma coisa?

— Obrigado, Greg... era algo tão simples, que eu nunca tinha me dado o trabalho de tentar lembrar. — Suu-Yuky ergueu os olhos, e disse — Sim. Você sabe o que é um Expectro?

Greg franziu o cenho, os olhos fixos em algum ponto distante, tentando puxar uma lembrança adormecida.

— Hm... sim. Acho que lembro agora. Meu avô me contou uma história sobre algo assim — murmurou, coçando a testa com os dedos sujos de poeira. — Era sobre pessoas que... morriam. E depois eram trazidas de volta à vida.

Suu-Yuky arregalou levemente os olhos.

— Como assim, trazidas de volta?

— Tipo... revividas, sabe? — respondeu Greg, dando de ombros, como se ainda tentasse acreditar nas próprias palavras. — Não como mortos-vivos ou algo assim... mas de um jeito estranho. Incompleto.

— O que mais você sabe? — perguntou Suu-Yuky, ainda focado.

— Só isso mesmo... Ah, é verdade! — Greg soltou uma risada repentina ao se lembrar de algo. — meu vovô dizia que algumas pessoas acreditavam que expectros podiam atravessar paredes e coisas assim. Uma loucura. Mas meu avô jurava que já tinha visto um expectro de verdade... e, segundo ele, não era nada disso.

Ele riu mais alto, balançando a cabeça.

Suu-Yuky deu uma risadinha, ainda ofegante.

— É... eu claramente não atravesso paredes. Se fosse o caso, a gente não tava preso aqui, né? — disse Suu-Yuky, lançando um olhar fixo para Greg. Seus olhos semicerraram, como se algo começasse a se formar em sua mente. — Ah, Greg... mais uma coisa. Você já ouviu falar de Nitsury?

O semblante de Greg mudou de imediato. A expressão leve deu lugar a um olhar tenso, e um calafrio percorreu seu corpo. Ele estremeceu — os pelos dos braços se eriçaram.

— É... sim. Se eu não me engano, um amigo do amigo do meu avô tinha esse sobrenome... — respondeu em voz baixa, encarando os olhos de Suu-Yuky.

Ele suspirou fundo, hesitante, e completou:

— Mas... eu não aconselho você a chegar perto desse lugar. É perigoso. Muito perigoso.

Greg desviou o olhar, fixando-se nas paredes ao redor, e piscou levemente seus olhos. Estava visivelmente pensativo.

— O quê? Por quê? Me conta mais, Greg... — disse Suu-Yuky, encarando o parceiro com as sobrancelhas arqueadas, tentando decifrar o que se passava.

Greg suspirou, o rosto suado, e passou a mão pela testa com um gesto cansado.

— Depois eu te conto... Tá quente demais aqui. Desse jeito, a gente não vai durar muito.

Ele hesitou por um momento, o olhar perdido, antes de acrescentar com um meio sorriso cansado:

— Ah, Yuky... Só mais uma coisa. Por que você é assim tão estranho? Leva um monte de pancadas... e age como se nada tivesse acontecido?

— Eu não sei... Desde que acordei, me sinto meio estranho. Como se tivesse perdido a capacidade de sentir... qualquer coisa, qualquer sensação. — Suu-Yuky suspirou profundamente, levando a mão aos olhos com esforço. Apertou-os devagar. — É algo que eu preciso entender. Quero descobrir muito mais sobre mim... quero descobrir tudo.

Greg observou o amigo em silêncio por um instante, depois sorriu, confiante.

— E eu vou te ajudar a descobrir isso, parceiro.

Ele estendeu a mão. Suu-Yuky hesitou por um segundo, depois a apertou. Greg o puxou com firmeza, ajudando-o a se levantar. No começo, os músculos de Suu-Yuky ainda estavam rígidos. Mas, pouco a pouco, os passos começaram a fluir, e ele conseguiu andar por conta própria.



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