Infinity World Brasileira

Autor(a): Infinity World


Volume 1

Capítulo 11: Entre Lobos

As pedras ecoavam sob os passos apressados do homem encapuzado.

O som abafado das botas misturava-se à respiração pesada. O sangue escorria da perna ferida, tingindo o chão com manchas escuras que se espalhavam pelo musgo entre as rachaduras da rocha. Apoiado nas paredes para não cair, sentia os dedos escorregarem na pedra lisa e úmida, deixando rastros vermelhos em sua passagem.

Ele ergueu o olhar, forçando a vista contra a penumbra e o brilho trêmulo das tochas. Mesmo com a visão turva, sabia exatamente onde pisar. Cada desvio, cada degrau, cada gotejamento ecoando do teto. Era como voltar para casa, mas com pressa.

Atrás dele, o silêncio. Nenhum som de passos. Nenhuma voz. Mas o silêncio não era consolo. Era precisão. Eles não erraram nenhum tiro.

O cheiro de sangue queimava as narinas. A dor no ombro latejava. Quando a silhueta da porta surgiu no fim do corredor, o coração deu um salto. Larga, reforçada com placas de ferro e hastes cruzadas — era um alívio duro, bruto, quase cruel.

Chegou até ela cambaleando, e bateu com força, três vezes, com o punho coberto de sangue.

— Sou eu! Abre! — a voz saiu rouca, cheia de urgência.

Por um segundo, nada respondeu. Então, a trava deslizou com um estalo seco, e a porta rangeu ao abrir.

O ar quente da sala o atingiu como um baque. A luz tremulava no teto baixo, lançando sombras em todas as direções.

— Kassim…? Você voltou cedo! — exclamou uma voz masculina, surpresa, antes mesmo que a porta se abrisse por completo.

Ele tentou dar mais um passo. O joelho tremeu — só um aviso, mas o suficiente. No seguinte, a perna cedeu de vez. Caiu de joelhos, arfava, vencido, o corpo tomado por espasmos involuntários.

O homem que abrira a porta estacou. Por um instante, a mente recusou-se a entender o que via. Então, como se algo se partisse por dentro, atirou-se de joelhos ao lado de Kassim e o segurou com urgência.

— Santo inferno… Kassim, fala comigo! O que aconteceu?! — seu grito ricocheteou pelas paredes da sala, arrastando os olhares de todos os presentes. O clima até então morno da caverna se quebrou.

Cartas voaram. Conversas morreram no ar. Copos pararam no meio do caminho.

O velho largou as cartas antes mesmo de entender o que via. As cicatrizes no rosto não tremiam — mas os olhos, sim. Em silêncio, se levantou.

— Oliver! Não fica aí feito poste! Corre e pega o alforje com os curativos! — rosnou ao mais jovem, que disparou para o fundo da sala sem hesitar.

Tirem as mesas do caminho! — gritou outro.
Ele tá sangrando muito!
Peguem água quente!

Kassim tossiu sangue. O gosto metálico encheu sua boca, o peito arfando em espasmos descompassados. Ainda assim, sua voz saiu firme.

— Invasores… dois. Me seguiram pela rota leste. Entraram na Seção 3. Estão presos… mas não foram pegos desprevenidos. Não sei quem são. Mas… sabiam atirar.

Por um instante, o silêncio tomou conta da sala.

A tensão não veio em explosão, mas como um fio de aço sendo esticado no escuro, pronto para romper. Um dos homens, ajoelhado ao lado de Kassim, o ajudando a se sentar, foi o primeiro a reagir.

— Dois? — repetiu, com a voz embargada pela incredulidade. — Você tá dizendo que foram só dois? Dois guardas?

Outro homem, mais velho, de sobrancelhas grossas e uma cicatriz que cortava o maxilar, se levantou devagar. Ele falou baixo, mas sua voz encheu o salão.

— Isso não bate. Guardas não sabem desse lugar. Fizemos o trabalho direito. Queimamos rastros. Fechamos passagens. Ninguém fora do grupo conhece a Seção 3.

— Então como é que explicam isso?! — explodiu outro, franzino, nervoso, os olhos arregalados como os de um rato encurralado. — Kassim voltou sangrando que nem porco, porra! E vocês querem agir como se nada tivesse acontecido?!

— E quer fazer o quê, então? — rebateu um homem sentado ao fundo, com um lenço sujo no pescoço e o olhar cético. — Abandonar tudo por causa de dois invasores? Dois!

— Dois que deixaram o Kassim desse jeito — murmurou outro, mais jovem, quase sem voz, mas com peso. — Já viu ele voltar assim antes?

As vozes começaram a se sobrepor. A discussão virou ruído. Vozes sobrepondo-se, teorias nascendo e morrendo em segundos. Um passo do pânico.

Foi quando a porta rangeu.

Não com violência. Com lentidão. Com autoridade.

Uma silhueta preencheu o vão. Alto, ombros largos, passos firmes que não apressavam nada. O chapéu de aba larga projetava sombra sobre o rosto, mas a cicatriz que o cortava de cima a baixo era inconfundível. O cachecol vermelho, empoeirado, destacava-se no mar de cinza que vestia. Os olhos, quando surgiam, eram de aço.

O efeito foi imediato. As discussões cessaram.

O sujeito caminhou até o centro da sala. Não sacou arma. Não ergueu a voz. Apenas ficou de pé, braços cruzados, enquanto todos o observavam, esperando sua ação.

— Vamos todos manter a calma aqui — disse ele, enfim. A voz era grave, sem pressa, mas carregada. — Brigar agora só ajuda nossos inimigos. E não é pra isso que estamos aqui.

Silêncio.

Ele virou-se ligeiramente para Kassim, sem se abaixar.

— Eles sabiam onde estavam?

Kassim, pálido e ofegante, assentiu com esforço.

— Sabiam exatamente onde pisar... um deles me acertou no escuro.

O homem inspirou devagar, os olhos fixos em algo que só ele via.

— Você os trancou na Sala Enferrujada?

— Tranquei. A armadilha prendeu os dois... mas...

— Mas não vai segurá-los por muito tempo — completou o sujeito.

Mais olhares se cruzaram. Sussurros se transformaram em tensão acumulada.

Um dos homens se aproximou, quase num passo de ré.

— Donavan... o que a gente faz agora?

Ele virou o rosto sem pressa, atento aos olhares ao redor. Não havia pressa, nem esforço em se impor — apenas uma calma estranha, quase desconcertante. Quando falou, a voz era baixa, mas firme, carregada de uma certeza que dispensava explicações.

— Não vamos fugir de dois oponentes. Não seria a primeira vez que enfrentamos coisa pior. Mas... se encontraram esse lugar, então ele já não é mais segredo. Nem seguro. — andou lentamente até a ponta da sala, olhos nos homens um a um. — Reúnam o essencial. Armas, comida, dinheiro. Preparem as carroças. Partiremos pela rota do Santuário. Hoje à noite.

Houve um murmúrio. Ninguém discutiu.

Os outros se apressavam ao redor, mas Kassim manteve o olhar firme em Donavan. Não disse nada, não precisou. O que havia ali era claro: um pedido mudo, talvez arrependido, talvez apenas honesto. E Donavan entendeu.

Ele se abaixou levemente, um leve sorriso duro no canto da boca.

— Descansa meu amigo… Vou convidar nossos visitantes a se retirarem da festa.

Donavan permaneceu mais um instante ali, os olhos ainda cravados em Kassim. Depois, sem dizer palavra, virou-se e saiu da sala, os passos firmes ecoando no corredor abafado. A porta se fechou atrás dele com um estalo seco.

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