Infinity World Brasileira

Autor(a): Infinity World


Volume 1

Capítulo 12: Legado de Sangue

Do outro lado da masmorra, atrás de metal corroído e trincas de ferrugem, o calor se tornava cada vez mais insuportável — crescente, lento e sufocante. O ar estagnado grudava na pele, e o cheiro de oxidação era tão forte quanto o gosto metálico que agora começava a se formar na boca.

Greg passava os dedos pelas ranhuras da parede enferrujada, guiado pelo tato. Cada falha no metal era examinada com olhos estreitos, como se qualquer fissura pudesse esconder um mecanismo, uma passagem, ou ao menos uma pista.

Do outro lado, Suu-Yuky se apoiava com o antebraço contra a parede, o corpo ainda oscilando entre o esforço e a recuperação. A respiração vinha pesada, e embora tentasse disfarçar, o peso da última luta ainda cobrava seu preço em cada pequeno movimento.

— Encontrou alguma coisa...? — murmurou Suu-Yuky, a voz rouca, arrastada pelo cansaço.

Greg não respondeu de imediato. Inclinou-se, os olhos fixos em um ponto da parede. Um feixe de luz — tênue, quase invisível — cortava a sombra por entre as frestas enferrujadas.

— Aqui... — sussurrou, mais pra si do que para o outro. Então se virou, com um brilho repentino no olhar. — Tem uma sala ao lado. A luz tá vindo de lá. Se abrirmos a parede, conseguimos passar.

Passou a manga pela testa suada, o alívio escorrendo junto com o calor.

Suu-Yuky inspirou fundo, os ombros ainda pesados da recuperação, mas o olhar já firme. Endireitou-se devagar. Os punhos se fecharam com um estalo seco, e ele caminhou até a parede indicada por Greg.

Parou diante do ponto onde a luz atravessava, avaliando o metal corroído. Por um momento.

— Deixa comigo. Afasta. — disse, sem levantar a voz.

Greg deu dois passos para trás, rápido.

Suu-Yuky girou o punho, soltou os ombros — então golpeou.

O primeiro soco fez a parede vibrar, soltando ferrugem no ar. O segundo veio mais forte, ecoando grave pelo espaço apertado. A cada impacto, o metal cedendo em estalos agudos. Suor escorria pelas têmporas, misturado ao esforço concentrado nos músculos tensionados.

A parede se desfez com um estalo seco. Suu-Yuky afastou os escombros com os ombros ainda tensos do esforço, abrindo espaço para que atravessassem. Do outro lado, a escuridão deu lugar a algo inesperado.

Eles pararam assim que entraram.

O salão se estendia em todas as direções. Alto, amplo, silencioso — como se ali dentro o tempo tivesse se esquecido de correr. No centro, uma estátua de guerreiro permanecia imóvel, espada em punho, o rosto esculpido com expressão de vigília. Mas não era uma ameaça. Parecia parte da paz do lugar, um guardião que não precisava mais lutar.

Greg respirou fundo, os olhos vagando devagar pelo teto abobadado, onde raízes azuladas pendiam. De cada uma delas, partículas suaves se desprendiam, dançando no ar antes de desaparecer, iluminando tudo com um brilho frio e constante.

Suu-Yuky deu mais um passo. O chão afundava sob seus pés, não em terra, mas em musgo — espesso, úmido, vivo. Cada passo era absorvido sem ruído. O salão parecia afogado no silêncio.

O ar era morno. Greg respirou fundo e sentiu os ombros cederem. O gosto amargo na boca sumira. O peito não pesava mais. Estava leve, quieto.

Suu-Yuky percebeu que os dedos não estavam mais fechados em punhos. Os músculos relaxaram sem esforço. A cabeça parecia mais clara. Nenhum som, nenhum movimento — e, ainda assim, não havia desconforto.

Não sabiam onde estavam, mas isso não importava. Pela primeira vez em muito tempo, apenas estavam.

Greg avançou em silêncio, os passos amortecidos pelo musgo. Não disse nada. Suu-Yuky o seguiu logo atrás, atento.

Eles pararam diante da base da estátua. Aos pés do guerreiro havia um altar baixo, coberto por inscrições finamente entalhadas, escritas em uma língua que nenhum dos dois reconhecia. Ou quase nenhuma.

No canto inferior, entre as linhas tortuosas, uma única frase se destacava com clareza. Greg se inclinou levemente, os olhos percorrendo o traço com atenção, e então falou, com um tom mais calmo do que o habitual:

— “Guerreiro da Esperança”. É isso o que diz aqui.

Suu-Yuky não respondeu de imediato. Manteve o olhar na estátua, depois percorreu lentamente o salão com os olhos. Havia algo ali, sim. Mas ele não parecia disposto a nomear o que era.

— Pode ser. Mas isso não muda nada — disse por fim, afastando-se um passo. — Se demorarmos, eles somem com a mercadoria. A gente veio aqui por um motivo. É melhor seguir.

Sua voz não carregava frieza, apenas foco. Para ele, a estátua podia guardar mil significados — mas nenhum deles resolveria o problema fora dali.

Greg permaneceu em silêncio por um instante, ainda encarando a estátua. Mas ao ouvir as palavras secas de Suu-Yuky, seus ombros se ergueram. Virou-se de uma vez, os olhos acesos pela indignação e pela empolgação mal contida.

— Caramba, Yuky... você não está nem um pouco interessado nesse lugar? — perguntou, quase ofendido, os braços abertos como se quisesse mostrar tudo ao redor de uma vez. — Estamos diante de uma figura histórica, talvez lendária!

Ele caminhou de volta até o altar e apontou para as inscrições com o brilho nos olhos de quem vê além da pedra.

— Um dia eu quero ser exatamente desse jeitinho. Quero ter estátuas minhas, que guardem minhas histórias e aventuras. — ele riu, mas havia algo sincero por trás do tom leve. — Assim como meu avô.

A luz azulada das raízes tocava seu rosto, destacando o contraste entre o entusiasmo juvenil e o peso do sonho que carregava. Não era só vaidade. Era desejo de deixar algo para trás. De ser lembrado.

Suu-Yuky permaneceu em silêncio por alguns segundos, observando Greg com aquele brilho nos olhos.

— E o que faria com isso, Greg? — disse, sem ironia. — Uma estátua não vive por você. Não sangra, não se arrepende. Só fica parada. Bonita. E muda.

Houve um intervalo breve. Não havia desprezo nas palavras, apenas um peso discreto, como se viessem de alguém que já pensou sobre isso tempo demais.

— Seu avô... ele te contou todas as aventuras dele, ou você soube por outros? — Suu-Yuky virou o rosto em direção à estátua. — Porque no fim das contas, são as histórias que importam. As pessoas. A memória viva.

Greg olhou para a estátua com os olhos brilhando, mas sua voz perdeu um pouco da empolgação barulhenta. Tornou-se mais baixa, quase reverente, confessando algo importante não apenas a Suu-Yuky, mas também à própria sala silenciosa e à figura diante deles.

— Sabe, quando eu era criança, meu avô me contava histórias antes de dormir. Só que, diferente das outras crianças, eu não ouvia contos de reis ou monstros inventados. Eu ouvia sobre patrulhas noturnas, perseguições em telhados, sobre enfrentar canalhas que os outros tinham medo até de nomear. Ele não era só meu avô… era o Vigilante Escarlate.

Greg deu um pequeno passo à frente, parando ao lado do altar. Seus dedos passaram pelas bordas do entalhe, quase sem perceber.

— Ele foi uma lenda, sabia? Nunca reconhecido pelos nobres… mas nas vielas, nas tavernas esquecidas. Escarlate, por causa da capa que usava, e porque sempre aparecia no momento em que o sangue estava prestes a ser derramado.

Greg respirou fundo, a voz agora carregada de algo mais pesado. Saudade, talvez. Um toque de melancolia escondida sob o orgulho.

— Ele escolheu ser algo que ninguém mandou. Ele podia ter se calado, fechado a porta e vivido em paz. Mas não. Ele viu o mundo se desmanchando e decidiu: “Não enquanto eu respirar.” Isso me marcou. Me ensinou que coragem não é o que você mostra na frente dos outros, mas o que você faz quando ninguém tá olhando… quando você sabe que pode morrer, e mesmo assim vai.

Greg se virou para Suu-Yuky com um sorriso que misturava bravura e fragilidade.

— Então quando vejo uma estátua como essa, um símbolo de luta e esperança, não consigo evitar… eu penso nele. E penso em mim. E no tipo de história que quero deixar pra trás.

Suu-Yuky escutou em silêncio. Por um momento, o homem permaneceu quieto, seus olhos fixos na escuridão. Era como se buscasse, dentro de si, uma resposta que não fosse apenas fria e prática.

— Se o que você quer é deixar uma marca… então preste atenção em cada passo. Até mesmo agora. Porque histórias não são feitas só de estátuas. É feita de decisões.

Greg, em silêncio, assentiu. O peso daquelas palavras se somou à reverência que já sentia pelo avô e, agora, por aquele parceiro de capa suja e passado nebuloso. As histórias que ouvia quando pequeno — sobre coragem, sobre honra, sobre homens que se recusavam a cair — não pareciam mais distantes. Estavam ali, caminhando ao lado dele.

Os dois seguiram em frente, cruzando a escuridão da nova passagem como dois vultos guiados por propósitos distintos, mas igualmente ardentes. A umidade do ar parecia mais densa, o cheiro de musgo e terra antiga invadindo os sentidos. Era um lugar velho, quase sagrado.

E sem olhar para trás, eles sumiram entre as sombras.

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