Infernalha Brasileira

Autor(a): San


Volume

Capítulo 21: Rei Orgulhoso.

 Um novo dia raiava, iluminando a belíssima catedral, que mesmo sustentada por estacas de madeira e passando por diversas reconstruções, se mantinha de pé.

 O líder dos bispos caminhava em meio a seus soldados, expondo toda a polpa de suas roupas como se fosse um desfile de gala. Ao seu lado caminha outro soldado, dessa vez um guarda costas pessoal do próprio bispo.

— Como está indo o ritual, meu caro soldado? — falou o bispo, em tom de superioridade.

— O ritual já está em andamento, senhor. Supomos estar no meio do processo total — respondeu o soldado, sem fazer qualquer contato visual.

— Hohoho! Que grande achado eu consegui, não é mesmo?

 “Chato pra caraca”, pensou o guarda, não deixando nenhuma emoção escapar de sua face séria.

 Ao chegarem ao local do ritual, os dois se depararam com a quantidade enorme de guardas, portando espadas até lanças, rodeando o local, formando uma barreira imensa e intransponível.

— Veja! Temos centenas de guardas! — gritou o bispo, se vangloriando de seu feito.

— Sim… o grande Papa enviou uma grande artilharia para proteger o ritual.

— Temos o maior exército do mundo ao nosso lado, ninguém conseguiria nos parar agora, nem mesmo os…

— Os Lordes Demônio! — gritou um dos arqueiros que estavam na retaguarda.

— Oh! Eles mesmo. Como sabia o que eu diria? — O bispo coçou o queixo

— Os Lordes Demônio estão aqui! Todos a seus postos! — O arqueiro irrompeu, anunciando a chegada da catástrofe.

 Em questão de segundos, a entrada da catedral foi completamente destruída, centenas de guardas se puseram no caminho, apenas para no fim serem arremessados para longe com os golpes dos três. Hayakaz avançava com uma ferocidade indomável, investindo impiedosamente contra cada guarda que cruzava o seu caminho. Sua abordagem era reminiscente da selvageria de uma fera descontrolada. Hexoth, com sua espada aprimorada, avançava de forma elegante, desferindo golpes precisos contra tudo ao seu redor. Cada movimento era executado com uma maestria que transformava o campo de batalha em um palco de uma dança morta. Enquanto isso, Garrik, munido de suas pistolas, agia com uma destreza incomparável, transformando a área ao seu redor em um cenário caótico. Sua habilidade era evidenciada pelos infinitos disparos, uma chuva de projéteis que atingia os guardas com uma força avassaladora, deixando pouco espaço para qualquer forma de resistência.

— Mas que droga tá acontecendo! — O bispo não exitou em se afastar da área de combate, se aproximando do centro do ritual, onde a maioria dos guardas estava.

— Ei! O do chapéu pontudo! — Hayakaz gritou, apontando para o bispo, que apontou para si mesmo confuso. — Isso! Tu memo!

— Eu não tenho assuntos com demônios… — O bispo recuou, colocando guardas entre ele e os lordes, que apenas avançaram como se nada estivesse em seu caminho.

— Revela-nos do que se trata isto! — Garrik invocou seu arco, mirando uma flecha na direção do bispo.

— Talvez nós pouparemos você se colaborar… — disse Hexoth, enquanto partia um guarda ao meio com sua espada.

 O bispo observou a situação em que estava, os mais poderosos inimigos da igreja bem em sua frente e o ritual mais importante de sua vida em suas costas.

— Tsc! Até parece! — Ele rapidamente sacou um par de cimitarras e partiu para cima dos lordes, se mostrando notavelmente forte, podendo afastar Hexoth e Hayakaz juntos.

— Olha só, ele não é pouco bosta não… — Hayakaz ergueu um sorriso no rosto.

Maldição Desperta! — Hexoth e Garrik falaram ao mesmo tempo.

 Os golpes entrelaçavam-se, criando um espetáculo de luz e escuridão, enquanto o bispo lutava para manter sua compostura. O medo surgia em seus olhos, pois a verdadeira extensão do poder dos lordes se revelava de maneira avassaladora. Diante de seus olhos, Hexoth e Garrik mudaram de forma, se tornando guerreiros tão poderosos que faziam a catedral tremer apenas com suas presenças.

Henklaus!

Mecha-Lodon!

Quimerificação!

 O bispo girou suas cimitarras com destreza, criando um redemoinho de aço cortante ao seu redor. O orc avançou com força bruta, sua espada bicolor desafiando as lâminas do bispo.

 Garrik, ágil como uma folha ao vento, lançou feixes de água com precisão surpreendente. Cada disparo buscava encontrar sua marca no bispo, testando sua habilidade de esquiva. Enquanto isso, Hayakaz saltou em cima do bispo, direcionando centenas de socos, cortes e chutes ao mesmo tempo.

 A área ritualística tornou-se um palco de caos mágico, com lâminas cortando o ar, feixes de água dançando entre os combatentes e o som estrondoso dos golpes de Hayakaz. O bispo, embora desafiado, manteve-se firme, adaptando-se aos diferentes estilos de seus oponentes.

 "Só mais um pouco...", ecoou o pensamento do bispo, enquanto atacava seus oponentes e, ao mesmo tempo, mantinha uma distância segura para evitar possíveis contra-ataques. A precisão de seus golpes era notável, cada movimento calculado como uma enorme equação.

 Com maestria, o bispo se afastou dos lordes, retornando à área do ritual. Lá, empunhou suas cimitarras de maneira ameaçadora, demonstrando que a batalha estava longe de terminar. Foi nesse instante que um espetáculo de luz celestial surpreendeu a todos, um feixe de intensa luminosidade cortou os céus e atingiu a espada roubada de Garrik como um meteoro celestial.

— Mas que… — começou Hayakaz, interrompido pelo poder avassalador do feixe de luz que emanava da espada. Um pulso de energia irrompeu do centro do ritual, afastando todos os presentes e aumentando ainda mais a tensão na arena.

— É isso… É isso! Eu consegui! Eu vou me tornar uma lenda! — exclamou o bispo com triunfo. A perplexidade e a raiva se misturavam nos olhares dos lordes, enquanto Garrik, rapidamente, apontava seu arco em direção ao bispo, pronto para contra-atacar.

— O que fizestes, maldito!

— Eu? Hahaha! Eu salvei este mundo! — proclamou o bispo com orgulho, caminhando confiante até o centro do ritual. Lá, a espada de Garrik brilhava intensamente, e o bispo então revelou seu plano. — Contemplem, demônios nefastos! Contemplem e curvem-se ao herói mais forte da história da humanidade! O senhor de Camelot! O grande Rei Arthur!

 Ao ouvirem esse nome lendário, um calafrio percorreu o corpo dos três lordes. Conheciam a lenda do Rei dos Cavaleiros e compreendiam que a ameaça que se anunciava era a mais formidável contra o reinado demoníaco em todas as eras. Hayakaz tomou a iniciativa, saltando na direção do ritual, tentando impedi-lo a qualquer custo, apenas para ser arremessado para trás por um novo pulso de mana.

 Enquanto isso, a espada de Garrik passava por uma transformação impressionante, assumindo uma forma humanóide e erguendo-se diante de todos junto ao brilho solar. Ao fim do esplendor luminoso, uma figura monumental se revelou. Um homem de pele enegrecida, herdeiro dos povos antigos. Seus cabelos escuros como a noite se entrelaçavam em enormes e longas tranças, se esticando de sua cabeça até sua cintura. Seu corpo robusto exibia pinturas tribais, e ele ostentava uma deslumbrante armadura dourada adornada com o brasão do, atualmente caído, reino de Camelot.

— Não… Impossível… — Hayakaz recuou, desacreditado do que acabara de acontecer.

— Hayakaz… — sussurrou Hexoth, se aproximando do amigo. — Eu vou lutar com ele!

tá louco, Hexoth?! É a desgraça do Rei Arthur! — sussurrou Hayakaz, apavorado com a sugestão.

— Se não lutarmos, morremos, se lutarmos, temos uma chance baixa de vencer!

— A gente precisa de um pla…

— Três, dois…

— Hexoth! cal…

— Um! — Hexoth rapidamente saltou na direção de Arthur, com a ajuda da chuva de disparos de Garrik, que, sem pensar duas vezes, se juntou ao combate

 Hayakaz, vendo que Hexoth e Garrik estavam convencidos de que poderiam vencer, percebeu que não havia mais espaço para elaborar um plano estratégico. Com uma decisão instantânea, ele abandonou a cautela e se lançou diretamente em direção ao guerreiro dourado, movido por uma mistura de urgência e coragem.

 A resposta ágil de Arthur à ofensiva foi surpreendente. Como se antecipasse cada movimento, ele desviou dos disparos calculados de Garrik e dos cortes afiados de Hexoth. Em um piscar de olhos, uma espada dourada, colossal e imponente, materializou-se instantaneamente em sua mão. Sem hesitação, Arthur golpeou o orc com a parte não afiada da lâmina, utilizando o cabo maciço para desferir um golpe que o fez recuar. Em um movimento subsequente, ele surgiu diante de Garrik e o socou violentamente contra a parede, demonstrando uma agilidade e força impressionantes.

 Contudo, antes que Hayakaz pudesse chegar ao alcance de seu adversário, a cena desenrolou-se de maneira inesperada. Seus dois aliados, Hexoth e Garrik, já estavam nocauteados, caídos no chão. A visão de Hayakaz foi subitamente obstruída por uma colossal palma que se abateu sobre ele, golpeando seu rosto e esmagando-o contra o chão com uma força avassaladora.

— Viram? Hahaha! Vocês não são nada perto do Rei dos Cavaleiros! — ria o bispo, satisfeito com seu trabalho.

 A visão que se desdobrava diante deles era verdadeiramente aterradora. Apesar da destreza afiada dos três guerreiros, nenhum deles conseguiu acertar um golpe sequer, enquanto o imponente inimigo mantinha sua postura imperturbável, nem mesmo tendo sacado sua espada. A tensão pairava no ar, carregada com a incerteza do que estava por vir.

 No centro da cena, Hayakaz, agora caído e derrotado, tinha sua visão fixada na espada de Hexoth fincada no solo. A lâmina, outrora uma espada bicolor, agora se metamorfoseava em uma elegante katana. A importância do momento pesava sobre Hayakaz, ele sabia que a derrota significaria a execução imediata, um fim abrupto para todas as suas realizações até então. A esperança parecia pendurar-se por um fio frágil.

Movido por uma combinação de seus ideais resolutos e o medo iminente da perda, Hayakaz aproveitou uma oportunidade em meio à distração do guerreiro dourado, e com um movimento ágil, agarrou a espada de Hexoth, impulsionando-se em direção ao inimigo. Em pleno ar, o corpo de Hayakaz começou a irradiar uma aura amarela, uma manifestação de sua determinação intensificada, que criava uma leve pressão ao redor dele. Essa atmosfera logo se transformou em uma névoa negra, envolvendo completamente a lâmina da katana, ocultando-a na escuridão.

Corte… Sombrio! — gritou Hayakaz, enquanto executava o corte com sua lâmina, seus olhos agora idênticos aos de Hexoth.

 O corte rapidamente atingiu os dois, tanto Arthur quanto o bispo, criando uma enorme cortina de fumaça, que apenas serviu para adiar o inevitável: Arthur havia parado a espada de Hayakaz usando sua própria espada.

— Deveras interessante, Hayakaz… — O Rei dos Cavaleiros finalmente quebrou seu silêncio.

 A determinação nos olhos de Hayakaz foi substituída por uma onda de desespero. Ele logo caiu ao chão, perdendo seu último fio de esperança.

— Hahaha! Contemplem, vermes! O poder do herói mais forte! — O bispo foi até Hayakaz e começou a pisá-lo. — O maior herói está do lado da igreja agora, seus demônios imundos!

 Arthur então levantou sua espada, reunindo uma aura de energia dourada em sua lâmina.

— Oh! Então quer acabar com isso rápido? Digno do rei. — O bispo então deu as costas ao herói, observando os lordes. — Acabe com eles, meu rei!

Espectro da Excalibur! — Quando Arthur desceu sua espada, todo o local se iluminou com uma forte luz amarela, semelhante ao brilho do sol. A visão de todos foi completamente tomada.

 Quando o brilho se desfez, todos foram tomados pela surpresa. Os lordes estavam vivos, intactos, e a única coisa que estava diante deles era o corpo do bispo, partido ao meio e pulverizado, como se o sol o tivesse carbonizado.

— Para aqueles que ousam ordenar o rei, nem mesmo a morte é punição suficiente. Entenda seu pecado ao chegar no purgatório. — Arthur então se virou para os guardas restantes, agora confusos e amedrontados. — Para os tolos que não conhecem este diante de vocês, eu me apresento com nobre honra.

 Arthur então golpeou a parede com sua espada, sem usar nenhuma magia, e abriu um enorme rombo nela, criando uma rota de fuga para o lordes.

— Eu sou aquele acima de tudo e todos! O único digno de reinar neste mundo, pois fui escolhido pela espada mais poderosa de toda a existência! — Ele então fincou sua Excalibur no chão, se apoiando em sua guarda. — Eu sou Arthur Pendragon, detentor da Excalibur e portador do Pecado do Orgulho!

 Foi então que todos puderam ver o enorme símbolo de um leão cravado nas costas da lâmina de sua Excalibur. Ao se darem conta de quem estava diante deles, os guardas soltaram suas armas, caindo de joelhos e aceitando suas derrotas.



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