Infernalha Brasileira

Autor(a): San


Volume

Capítulo 20: Pequenos Detalhes.

 O sol poente tingia o horizonte com tons de laranja e rosa enquanto os lordes regressavam pela enorme fenda, agora de volta com Garrik. Seus passos ecoavam no grande salão, onde Kagura, agora com uma armadura de cavaleira e carregando o brasão de Hexoth, os aguardava com uma mistura de ansiedade e tristeza nos olhos. Ao ver Hexoth, seu pai, seu rosto se iluminou em um sorriso caloroso, e ela se aproximou para abraçá-lo.

— Hexoth, você voltou! — exclamou Kagura, apertando-o com força.

 Hexoth retribuiu o abraço e a ergueu no ar, agradecendo silenciosamente por ter retornado ao lar. Seu olhar, no entanto, expressava uma sombra de confusão. Rameel, antes sempre descontraído, aproximou-se com uma postura séria.

tá bem, cara? — perguntou Hayakaz, preocupado.

— Gente… eu tenho péssimas notícias — anunciou Rameel, mantendo a compostura.

Os lordes se reuniram, atentos às palavras do mascarado. Rameel respirou fundo antes de proferir a notícia que esmagava seus pensamentos.

— O Dartanham… ele tá morto! — declarou ele, as palavras ecoando como trovões no salão.

 O choque silenciou a atmosfera, congelando a alegria que deveria ter permeado o reencontro. Hexoth soltou Kagura, seu olhar refletindo a preocupação que pairava sobre todos ali. As mentes dos lordes giravam em confusão, incapazes de processar completamente o ocorrido.

— O Dartanham?! Aquele que encheu a gente de porrada?! — disse Hayakaz, tão assustado quanto preocupado.

— Isso é um grande problema, ele poderia ter sido útil para nós — concluiu Garrik, mantendo a serenidade em seu olhar.

— Como isso aconteceu? — Hexoth se sentou à mesa, convidando todos a fazerem o mesmo.

 Rameel explicou os detalhes do ataque surpresa que havia ceifado a vida de Dartanham. O surgimento inesperado de Adão e a brutalidade da batalha foram descritas em detalhes, cada palavra aumentando a tensão e preocupação dos três.

 Determinados a testemunhar a verdade com seus próprios olhos, os lordes se dirigiram à prisão, onde a destruição era evidente. Os corredores antes imaculados, agora eram apenas uma imensa cratera, marcada por vestígios de um combate feroz. Ao verem tamanha desgraça, a visão diante deles cortou como uma lâmina afiada.

 Nem mesmo o corpo inerte do traidor jazia no chão. O silêncio era profundo, apenas quebrado pelo murmúrio suave do vento. No entanto, algo capturou a atenção dos lordes: um dos chifres de Dartanham, arrancado durante a luta, estava ali, uma prova concreta de sua morte.

 Hayakaz ajoelhou-se diante do chifre, seus punhos cerrados. A tristeza e a raiva dançavam em seus olhos enquanto ele processava a perda de um aliado que, de alguma forma, se transformara em um traidor. Os outros lordes apenas se mantiveram em silêncio, respeitando a distância que sempre tiveram do ex-servo.

— Por que tudo tem que ser tão difícil? — perguntou Hayakaz, erguendo-se com lágrimas em seu rosto.

— Nós precisamos acabar com isso de uma vez… — jurou Hexoth.

— Adão é um grande problema, mas nós temos uma prioridade agora. — Garrik relembrou os dois, com um olhar severo em seu rosto.

— Do que cês tão falando? — Rameel recolheu o chifre e o colocou em um círculo mágico, como um espaço imaginário.

— Nós descobrimos para que a igreja roubou a espada de Garrik. Eles pretendem a usar como catalisador um ritual de invocação — disse Hexoth, dando as costas para a cratera.

— Invocação? Entendi… É bom vocês irem mesmo, pode dar um problemão. — Rameel rapidamente se pôs em frente aos lordes, parando-os. — Aliás, não vão agora! Tem umas coisas que eu to preparando pra vocês. Aproveitem o tempo pra treinar, sei lá!

— Que “coisas”? — Garrik apontou seu olhar desconfiado para Rameel, o causando calafrios.

— Uns bagulhos aí… — Devolveu ele, esquivando rapidamente da pergunta. — Enfim, vão treinar, depois a gente se fala. — Rameel logo desapareceu diante dos três.

— Que escolha a gente tem? É você que abre os portais, babaca! — Hayakaz suspirou, se direcionando ao campo de treino.

 Os três lordes então se reuniram no campo de treinamento, decididos a aprimorar suas habilidades para os desafios que aguardavam. Kagura, com sua lealdade inabalável, insistiu em acompanhá-los, sua determinação refletida nos olhos enquanto ela se juntava ao grupo.

 Eles então começaram o treinamento, Hexoth e Hayakaz foram os primeiros a trocarem golpes, cada movimento calculado e preciso. O bater da manopla com a espada tilintava gerando faíscas, em um impacto capaz de ferir facilmente uma pessoa.

— Esperem um minuto! Eu quero mostrar uma coisa. — falou Kagura, adentrando o campo de batalha com sua espada em punho.

 Ela se virou para Hayakaz, como se o desafiasse para um combate. O mesmo aceitou, contra os olhares ameaçadores que Hexoth fazia por detrás da garota. Foi então que Kagura, em um gesto surpreendente, revelou o controle recém-adquirido sobre sua magia de espadas de luz, invocando espadas flutuantes ao seu redor. As lâminas brilharam intensamente enquanto ela as arremessava habilmente, acertando Hayakaz em um movimento gracioso e veloz.

Durindana! — falou ela, com um olhar idêntico ao de Hexoth no rosto.

 Hayakaz, surpreso, esboçou um sorriso desafiador. — Parece que você finalmente pegou o jeito, Kagura!

— Aprendi com o melhor. — A pequena guerreira sorriu modestamente, a luz refletindo em seus olhos agora mirados em Hexoth.

 A batalha prosseguiu entre os dois, desafiando diretamente os anseios do Lorde das Sombras e desencadeando uma dança envolvente de destreza e força. Kagura e Hayakaz estavam imersos em um confronto tão espetacular quanto desafiador, criando uma cena verdadeiramente deslumbrante.

 As lâminas de Kagura, embora ainda não alcançassem o poder avassalador das de Hexoth, compensavam em quantidade e agilidade. Cada golpe era uma explosão de movimentos rápidos e precisos, tecendo uma rede de ataques que desafiavam não apenas a resistência física, mas também a concentração mental do Lorde das Bestas. O brilho das espadas de luz cortava o ar, deixando rastros luminosos que iluminavam o cenário sombrio.

 “Bola de pelos maldita!”, Hexoth observava ao longe, amaldiçoando o nyancaller e torcendo para que sua pequena garotinha não se ferisse neste treino.

 A disparidade de forças era evidente, mas Kagura revelava um potencial extraordinário. Sua destreza com as lâminas surpreendia até mesmo Hexoth, e as multidões de golpes rápidos mostravam um domínio formidável. A cada movimento, ela se aproximava cada vez mais do adversário, pressionando-o de maneira calculada.

 Ao fim do dia, os lordes finalizaram seu treino e se reuniram para se preparar para a próxima jornada. Foi então que Rameel, com um ar determinado e confiante, surgiu carregando consigo equipamentos visivelmente superiores aos atuais dos lordes. Ele entregou a Hexoth uma espada que parecia cortar o ar com sua afiação aprimorada. Para Hayakaz, concedeu manoplas mais aerodinâmicas, capazes de cortar o vento com maior eficiência. Garrik recebeu um arco imbuído em cristais, tornando-o mais resistente e poderoso.

 Hexoth empunhou a espada, sentindo sua leveza e potência. Hayakaz testou as manoplas, realizando movimentos ágeis. Garrik admirou o brilho do novo arco, sentindo a energia mágica pulsar através dele.

 Rameel desejou-lhes boa sorte, com confiança exalando de seu corpo. — Com essas belezinhas, duvido que algum beato maldito vai conseguir vencer vocês.

— Sério? A igreja é beeeem forte… — brincou Hayakaz, com um claro sorriso sarcástico no rosto. 

— Só confia! — respondeu ele, fazendo um joinha com a mão.

 Com os equipamentos aprimorados, os lordes foram em direção ao círculo de pedras, sabendo que não teriam tempo para respirar ao partirem. Rameel rapidamente executou o ritual, formando uma fenda suspensa no ar. Mesmo que já tivessem visto o fabuloso porta, ele sempre surpreendia os três lordes.

— Partiu! — Hayakaz foi o primeiro, saltando com tudo na fenda, logo seguido por Garrik.

— Você é inconsequente demais, bola de pelos! — disse Garrik, atravessando a fenda.

 Logo antes de saltar dentro da fenda, Hexoth se virou, observando o desenvolvimento Kagura exposto em seu rosto.

— Eu estou orgulhoso, pequena… Você lembra muito a sua mãe… — Hexoth rapidamente se virou em direção ao portal, se preparando para o salto.

— Eu também estou orgulhosa do senhor, pai…

 Enquanto saltava na fenda, Hexoth não conseguia esconder o enorme sorriso estampado em seu rosto, feliz como uma criança.

 Antes de se retirar, Rameel voltou-se para Kagura, a preocupação visível em sua postura.

— Você acha que eles vão ficar bem? — perguntou ele, buscando conforto na resposta dela.

 Kagura olhou na direção da fenda com determinação iluminando seu olhar. "Eu confio neles. Juntos,  eles superarão qualquer desafio que surja em seu caminho."

— Confiança, não é? Entendi… — Com um aceno de despedida, Rameel seguiu em frente, deixando para trás o campo de treinamento e o apoio de Kagura.



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