Volume
Capítulo 19: Maresia.
O sol finalmente voltava a revelar sua luz, cobrindo todos como um grande manto de proteção, proteção essa que não seria suficiente para parar a ira de Garrik, agora coberto por uma uma armadura metálica com a cor azul marinho, uma máscara de tubarão martelo cobria seu rosto completamente, porém não havia nenhuma calda, suas mãos se tornaram híbridos entre barbatanas e garras, igual a seus pés.
— Essa coisa… — Hayakaz mal conseguia se mexer, a pressão da mana o prendia ao chão.
— É igual ao que aconteceu na prisão de Earthbring… Essa é a maldição do lorde mais forte… — falou Hexoth, lutando para ficar de pé.
Garrik continuou parado diante do ancião, que receiosamente recuava observando a presença assombrosa em sua frente.
“O que é essa coisa?”, pensou Crimsembell, antes de Garrik desaparecer e ressurgir em sua frente com a mão em seu peito.
Garrik, com uma agilidade surpreendente, concentrou uma esfera extremamente densa de água em sua mão, liberando-a com uma precisão mortal diretamente no peito do ancião. O impacto foi devastador, lançando o ancião contra os destroços circundantes com uma força equivalente à explosão de uma bomba.
Naquele instante, tanto Hayakaz quanto Hexoth perceberam a verdade desconcertante: aquele não era mais Garrik. Era uma entidade vazia, uma casca desprovida de humanidade, cuja única função era aniquilar tudo em seu caminho. Hayakaz, ágil como uma sombra, tentou desesperadamente imobilizá-lo, mas só conseguiu um disparo doloroso em seu ombro.
Garrik, agora transfigurado, exibia uma velocidade extraordinária em comparação aos outros lordes. O Passo Angelical era executado por ele com uma facilidade quase sobrenatural, e ele podia desencadear uma série de Disparos Marinhos apenas com as pontas dos dedos. A combinação desses elementos fazia dele um dos adversários mais formidáveis que os lordes já haviam enfrentado.
— ¡Mundo de los sueños! — Hayakaz agiu com uma velocidade surpreendente, desencadeando uma onda de nuvens verdes fluorescentes que formaram uma cúpula ao redor de Garrik. À medida que Garrik permanecia dentro dessa cúpula, uma mudança gradual se apoderava dele, tornando seus movimentos mais lentos a cada momento e mergulhando Garrik em um estado de aparente letargia.
— Será que isso vai segurar ele? — perguntou Hexoth, empunhando sua espada de guarda alta.
— Eu… não sei… mas… mas não consigo… manter… — Hayakaz arfava, criar tantas nuvens de uma vez não era uma tarefa simples, mesmo para ele.
— Temos que pensar em al… — Antes que Hexoth pudesse terminar, a cúpula foi destruída instantaneamente, revelando que seu efeito não foi o suficiente para Garrik.
— Esse desgraçado tá roubando… — falou Hayakaz, com um olhar cansado no rosto.
Enquanto o caos rugia no campo de batalha, a mente de Garrik se via envolvida por um oceano profundo e sombrio, uma vastidão insondável onde ele afundava cada vez mais. Uma personificação da maldição demoníaca repetia incansavelmente: "Pecador! Pecador!", reverberando nas profundezas do seu ser.
— Devo pagar por meus pecados... — sussurrou Garrik, cuja mente era assombrada pela imagem de Sebastian sendo golpeado, um espectro que o afundava ainda mais. Mesmo que ele tentasse, de maneira vacilante, nadar em direção à superfície, mãos negras, semelhantes a algas poderosas, o puxavam para baixo, envolvendo seu corpo em uma dança sinistra.
— Se eu não fosse amaldiçoado… — terminou Garrik, se perdendo na imensidão do oceano.
Rapidamente, algo socou o rosto de Garrik, tanto em seu corpo físico, quanto em seu corpo espiritual.
— Ga… — Uma voz abafada tentava se comunicar com Garrik. — Garrik…
— Essa voz… Quem…? — disse Garrik, desnorteado.
— Garrik, acorda…
Em um instante, a imagem de Sebastian veio à mente de Garrik, como num flashback.
— Se… bastian?
“Pecador! Você deve pagar por seus pecados!”, disse a maldição, o afundando em seu mundo.
No mundo real, Sebastian se aproximava lentamente de Garrik, seus ferimentos não eram fatais, mas eram grandes o suficiente para impedi-lo de correr.
— Garrik… Essa coisa está tentando te enganar! É isso que ela faz! Você precisa lutar contra!
— Eu… eu… eu… — De repente, uma voz pode ser ouvida de dentro da armadura de Garrik.
— Desculpe… eu sempre te tratei como um criminoso. Sempre coloquei as regras acima da nossa família. — Sebastian abaixou sua cabeça, não conseguindo conter as lágrimas.
Garrik apontou seu dedo indicador para Sebastian, canalizando uma esfera densa de água e mana.
— Pe… cador… Eu… Pe… cador… — repetia ele.
Sebastian abriu seus braços, aceitando seu destino diante da morte, e então, envolveu Garrik em seus braços.
— Desculpe… sniff, sniff… eu disse coisas tão terríveis para você! Sniff, sniff… Eu não quero que você carregue esse fardo… sniff, sniff…
“Esse fardo…”, pensou Garrik, no que lhe restara de sanidade.
— Não deixe essa maldição decidir o seu destino!
Naquele instante, Garrik lembrou da rebelião que fizera anos atrás, o motivo de cada um lutar ao seu lado, não como meros soldados, mas como seus amigos. Garrik lembrou das lutas que partilhou com os outros lordes, a euforia que sentia em cada combate. Ele lembrou quem era o verdadeiro culpado de tudo isso: o ancião Crimsembell!
Em menos de um piscar, o oceano que afundava Garrik se iluminou com o brilho do sol, se tornando nada mais que uma mera praia.
“Pecador! Pecador!”, a maldição desesperadamente se prendia a Garrik, tentando prendê-lo.
— Você perdeu, maldição… Eu não vou abaixar minha cabeça pra um verme como você… — Garrik direcionou um olhar de nojo para as mãos que o puxavam, as destruindo aos poucos.
“Pecador! Pague por seus pe…”, repetia ela, até que uma das mãos foi agarrada por Garrik.
— Você ousa me dar uma ordem, ser inferior? — Garrik de repente se tornou um vulto imenso de olhos vermelhos.
A maldição podia ser a manifestação de toda a maldade dos demônios, não tendo medo de quase nada, mas naquele momento, ela descobriu pela primeira vez o que era sentir medo de verdade.
No mundo real, Garrik foi coberto por um enorme pilar de água, alterando sua aparência. Agora, toda sua armadura era semelhante às escamas de um tubarão, mas com partes metálicas espalhadas por toda sua extensão, o azul de seu metal agora era claro como o céu, e a mana que exalava de seu corpo já não era espessa e apavorante.
— Mecha-Lodon! — falou Garrik.
— Finalmente voltou a si mesmo? — perguntou Hayakaz, em tom irônico.
— Tsc… Obviamente, fraquejar é algo do seu perfil, não do meu — respondeu Garrik, com um sorriso no rosto.
— Tu já querendo briga, só podia ser você mesmo.
— Vocês dois, chega! Parece que ainda temos um grande problema… — Hexoth apontou para os escombros onde Crimsembell foi arremessado, revelando que ele agora levantara e se preparava pra um segundo round.
— Eu sou o líder de Flammendorf, eu nunca cairia com algo tão fraco! — Ele rapidamente invocou uma armadura de chamas, saltando na direção dos quatro.
A lua dava lugar ao sol resplandecente enquanto a batalha se desdobrava. Crimsembell, com seus punhos flamejantes, conseguia pressionar os três lordes. O campo de batalha estava iluminado pelas chamas dançantes e pelas silhuetas dos guerreiros imponentes.
Garrik, coberto por sua Mecha-Lodon, deslizava pelo campo de batalha como uma correnteza impetuosa. A maquinaria se movia com uma elegância surpreendente, guiada pela habilidade precisa de Garrik. Seus socos eram uma dança coordenada de potência e agilidade, envolvidos por uma aura aquática que irradiava sua presença. Cada impacto desferido por Garrik enviava ondas de poder em direção a Crimsembell, desafiando as chamas que rugiam ao seu redor.
Hayakaz, com garras afiadas e um corpo ágil, deslocava-se pelo campo de batalha como uma sombra mortal. Sua destreza era notável, cortando e socando com uma precisão impressionante. O bater de suas asas criava uma ventania furiosa, enquanto ele esquivava dos ataques de Crimsembell e retaliava com golpes furiosos, sua presença marcada por uma agitação letal.
Enquanto isso, Hexoth brandia sua Henklaus com mestria, cortando o ar com golpes calculados. Cada movimento dele era uma dança intricada de habilidade e força, desafiando o fogo que se erguia em sua direção. A espada bicolor de Hexoth brilhava com uma aura que oscilava entre a luz e a escuridão, adicionando uma camada de complexidade à sua arte marcial.
A batalha se desenrolava como uma coreografia mortal, com ataques e esquivas perfeitamente coordenados. Os Lordes Demônio mostravam, a cada momento, sua determinação inabalável de superar o ancião Crimsembell.
— Eu não morrerei aqui! Karbonisierung! — bradou o ancião, desencadeando uma imensa onda de calor que engolfou todo o campo de batalha.
No entanto, Garrik, envolto em sua armadura de tubarão, deslizou pelas ondas de calor com uma graça impressionante, como se o elemento ígneo fosse mera ilusão. Encontrando uma abertura na defesa de Crimsembell, Garrik avançou.
— Curve-se ao Lorde Demônio das Marés, plebeu! — proclamou Garrik, seus socos combinados com a força das marés que invocava superaram as chamas de Crimsembell.
Num espetáculo de água e vapor, Garrik emergiu como o vitorioso da batalha. Crimsembell, o ancião, jazia no chão, carbonizado e derrotado diante dos lordes demônio. A lua, uma testemunha silenciosa, destacava a silhueta triunfante de Garrik contra o céu quase noturno, marcando o fim épico da batalha.
O sol agora lançava completamente raios sobre a Flammendorf, pintando o cenário com tons dourados enquanto os lordes, unidos por Sebastian, dirigiam-se ao coração da comunidade élfica, agora composta basicamente pelos prisioneiros libertos e soldados sobreviventes. O ar estava eletricamente carregado, não de temor, mas de expectativa, enquanto os elfos observavam a aproximação dos visitantes.
Em um gesto decidido, Garrik dirigiu-se à multidão com uma voz firme e serena, anunciando que o domínio do ancião havia terminado. — Não precisam mais temer. As regras que os oprimiam não existem mais! Um novo capítulo começa para todos nós… Para toda Flammendorf!
Os elfos, inicialmente cautelosos, começaram a perceber a mudança que os lordes trouxeram. A aldeia se encheu de murmúrios de esperança e gratidão. Para celebrar a liberdade recém-encontrada, os aldeões decidiram organizar um festival em honra aos Lordes Demônio, um gesto de agradecimento pelo fim do reinado do ancião.
Enquanto os elfos preparavam os festejos, Sebastian e Garrik encontraram um momento de sossego para reflexão.
— Sebastian, você fazia parte dos Santos de Airbolg, então creio que você tem as respostas para as minhas perguntas — disse Garrik, com um olhar de seriedade em seu rosto.
— Eu não tinha acesso a todo tipo de informação, mas a grande maioria sim. Pode perguntar — respondeu ele, se preparando para o interrogatório.
— Quando fui despertado, recebi uma espada enorme e dourada, mas a igreja a roubou. Você sabe algo sobre?
Sebastian pensou por alguns segundos, e então revelou: Se for o que estou pensando, os bispos e o Papa disseram que a espada seria peça central de um ritual, destinado a invocar um herói lendário que traria o fim à guerra.
A notícia trouxe uma sombra de preocupação aos olhos de Garrik. A ideia de um herói lendário despertou receios sobre os planos que a igreja estava pondo em prática.
— Hayakaz, Hexoth, vocês sabem o que faremos, certo?
— Óbvio, senhor certinho — falou Hayakaz, com um sorriso estampado no rosto.
— Vamos com tudo, não é mesmo? — disse Hexoth enquanto afiava sua espada.
Determinados a impedir qualquer reviravolta indesejada, os lordes decidiram retornar à Airbolg, o local do ritual, para entender melhor e, se necessário, interromper o processo.
O festival desdobrou-se, e a aldeia dos elfos tornou-se um turbilhão de vida, onde a música, a dança e os risos se entrelaçavam harmoniosamente. As melodias ressoavam pelo ar, convidando todos a participarem da alegria que se espalhava como um perfume encantado. Os elfos, com suas vestes festivas e rostos iluminados, eram como estrelas brilhando na noite.
Os lordes, imersos na atmosfera festiva, absorveram a energia positiva que pulsava ao seu redor. Os sons alegres e as cores vibrantes injetaram uma pontada de otimismo em seus corações, rompendo por um momento com as sombras do passado e as incertezas do futuro. Sob o manto azulado do dia, a aldeia ganhou vida, uma verdadeira celebração de Flammendorf.
No entanto, mesmo enquanto a festividade florescia, o destino traçava linhas invisíveis de desafios desconhecidos. A jornada dos três estava longe de ser concluída; ela se estendia como um caminho sinuoso que conduzia ao entendimento mais profundo de seus deveres e responsabilidades. O otimismo que flutuava no ar era, ao mesmo tempo, uma promessa e um lembrete de que as batalhas e testes ainda estavam por vir.
O sol, silencioso e imponente, testemunhava não apenas a celebração festiva, mas também a promessa de esperança que os lordes faziam para o futuro. Em meio às sombras e luzes da festividade de Flammendorf, a dança dos lordes ecoava como uma promessa de que, unidos, eles enfrentariam qualquer desafio que se erguesse em seu caminho. O palco do meio dia se tornava o testemunho de uma nova jornada, repleta de determinação e certeza.