Arbidabliu: Infantes Brasileira

Autor(a): Magnus R. S. Alexandrino


Volume 1

Capítulo 97: A Dama de Cristal I

Noite, 13 setembro 1590 – Castelo de Cristal. Sodorra

Dentro do castelo, em uma área restrita, estão Meena, Rupert e Khan Mendacium, a sala é bem luxuosa e próxima de outros cômodos importantes. Khan oferece comida e bebida para os dois, que aceitam.

— Obrigado por confiarem em mim, vocês não vão se arrepender.

A sala contém muitos itens valiosos, desde o menor item, como uma colher, ao maior, como os lustres, tudo é bem caro e de qualidade. Tudo passa a impressão de que o aliado de Khan é realmente poderoso e importante.

— Essa pessoa que você quer nos apresentar irá nos ajudar contra o Império?

— Sim, não só isso, mas também irá mostrar um ponto de vista mais “real” das coisas.

Meena estranha e questiona o tom “real” de Khan.

— Como assim “real”?

Khan sempre age com educação e humildade, mas Rupert e Meena não veem ou sentem a dissimulação que há por trás de suas palavras mansas.

— Me desculpe, eu não quis dizer que vocês não veem a realidade, por favor, vocês têm que ter a mente aberta para poder entender um lado que poucos enxergam.

— E que lado seria esse?

— O lado de todos, ou melhor, o meio termo entre os “extremos”. Quando chegar a hora, vocês irão entender melhor, ela deve estar um pouco ocupada, mas já deve estar chegando.

Meena e Rupert estranham.

— Ela?

— Sim, eu não falei?

— Nós achamos que fosse o líder do Clã Maslow!

— Não existe um líder “supremo” como em todos os reinos e cidades que vocês conhecem, mas a palavra dela tem um grande peso...

Rupert sente um desconforto com tudo isso e, antes que desconfie das intenções de Khan, Meena o tranquiliza.

— Certo! Chegamos até aqui, então vamos ouvi-la, não? Rupert?

— Sim... Sim...

Khan reverencia os dois e pede:

— Obrigado, mas tenham mais um pouco de paciência, eu já volto.

Khan sai da sala, fechando a porta e trancando-a, Meena levanta-se, ronda a sala e questiona Rupert, que está pensativo.

— Você está confiante da escolha que tomamos?

— Não... E sim...

— Imaginei... Mas, contudo, se houver algo “ruim”, podemos atacar todos igual a uns loucos e dizer que estamos fazendo isso por algo ou alguém.

— Não! Não podemos agir assim, isso pode ser um ato de guerra, colocaríamos Pronuntio em grandes problemas.

Meena enxerga a besteira que falou e se desculpa.

— Me desculpe... Você tem razão, não podemos ser irresponsáveis.

— Isso! Se decidirmos vir até aqui, é que acreditamos que existe uma “visão” que seja como a nossa, longe das intenções dos aliados.

— Sim! Eu nunca me senti em “casa” quando estava em Pronuntio, eu sempre sentia algo “errado” talvez, e aqui eu tive algo que Pronuntio não tem, é estranho falar isso, mas, mesmo depois de tanta coisa que vi de ruim aqui, eu ainda sinto que preciso me achar.

— Eu também... Mas eu me pergunto se Júlio não estava certo, e se for tudo influência e não reais sentimentos nossos.

— Já estudamos e treinamos sobre magias, poderes e outras coisas estranhas, não acho que eu ou até você, nós dois ao mesmo tempo, estejamos sendo levados totalmente contra a nossa vontade.

— Entendo... Somos experientes, também acho que fomos incentivados, mas não levados a isso contra nossa vontade.

— Isso! E eu sei que Khan é nosso aliado; se der algo errado, pedimos um tempo para pensar e assim sairemos o quanto antes.

— Certo... Mas sinto saudades da intuição de Júlio e Doug.

— Se estivesse com saudades, você teria ido com eles!

— Digo no sentido de saber o que fazer agora!

— O que eu falei, siga meu plano que dará tudo certo... Você é um bom líder, sempre sabe quem seguir.

— Sim... Mas não acho que sou mais um “Líder”, nosso grupo... Acabou.

— Não diga isso! Se acalme... Vamos, sente-se, coma, beba e relaxe, em pouco tempo teremos certeza do futuro.

Rupert come mais um pouco, Meena dá mais alguns goles no vinho e aguardam a volta de Khan.

— Veja, chegaram!

Rupert e Meena se levantam e mostram respeito pela mulher que acompanha Khan.

— Aqui estão! Esses são Meena Viridi e Rupert d'Alba... Essa é Scarlett Nilked!

Rupert e Meena ficam surpresos e questionam juntos.

— Nilked?

Scarlett Nilked é uma mulher aparentemente humana, com idade entre trinta e cinco e quarenta anos, alta, de porte físico comum, acima do peso, cor de pele branca, olhos escuros, cabelos pretos, lisos, compridos e trançados.

Ela mostra que é bem vaidosa por ter pele e cabelos bem cuidados. Ela usa roupas de pano nobre e de pele de animais raros e chamativos, tudo em tom claro e para o tempo frio. Ela possui vários ornamentos por todo o corpo, brincos, anéis, colares, braceletes, cintos, broches e alguns cristais em seus sapatos; nenhum desses itens é muito chamativo sozinho, mas, juntos, mostram que é uma mulher com muitas posses.

Ela está sorridente, mas tem traços tristes e bravos em seu semblante, ela tem um olhar focado e mira com superioridade para tudo. Meena se dirige a Scarlett e questiona:

— Xarles tem uma irmã?

Scarlett dá uma risada baixa e forçada, e responde:

— Obrigada, mas eu não sou irmã do “rei”, eu sou esposa dele.

— Existe uma rainha de cristal?

Khan da ênfase enquanto prepara o assento para Scarlett.

— Sim, “Rainha de Cristal”!

Scarlett se senta com ajuda de Khan e diz, simulando vergonha.

— Rainha não, eu sou mais uma dama, “Dama de Cristal”.

Scarlett fala com certa humildade, mas seus gestos mostram o contrário, pois tudo ela aponta ou faz gesto com a mão, para que Khan faça ou apanhe para ela, desde pegar algo para beber, comer, e até quando ela precisa de um pano para limpar a boca é ele que pega para ela e se livra do objeto depois do uso.

Mesmo com tanta superioridade, Scarlett manifesta um grande interesse em Meena e Rupert, olhando para eles como se fossem dois itens valiosos, cobiçados e únicos.

— Khan me falou muito sobre vocês dois, pontuou até alguns eventos desde os encontros com vocês em Pronuntio, Coniuro e Copus Lithy... Fiquei ansiosa por encontrar com vocês dois pessoalmente. É um privilégio que estejamos aqui reunidos para tratar de coisas importantes, não só para nós, pessoalmente, mas para um grande grupo de pessoas e seres vivos.

Scarlett faz gesto para que os dois se aproximem, Khan os ajuda a aproximar as poltronas com a poltrona de Scarlett, que pega as mãos dele para ter mais familiaridade com os dois.

Nessa aproximação, um dos anéis de Scarlett se destaca, não por seu valor, mas pelo seu contraponto entre todas as suas joias. Esse anel tem um pequeno fragmento de um cristal corrompido branco, encravado em um anel de madeira velha e escura, sendo a peça mais escura que Scarlett está usando.

— Vendo vocês de perto, eu posso sentir que vocês são realmente o que eu estou procurando, e imagino que vocês também precisam de um lugar, um lugar com que vocês se identifiquem, não só fisicamente, mas mentalmente e espiritualmente.

Meena e Rupert concordam, balançando a cabeça, e Khan comenta.

— Eles sempre foram talentosos, veja! Eles têm o emblema de Ian Nai com eles, prova de suas habilidades.

Scarlett pega o emblema de Rupert e diz, entregando-o para Khan.

— As habilidades de vocês devem ser grandes, isso é importante nessa época que o mundo está passando... Desculpem-me, mas, antes de iniciar o assunto, eu acho que vocês querem fazer algumas perguntas antes, fiquem à vontade, aqui somos todos aliados e não devemos guardar segredos.

Meena olha desconfiada e comenta, olhando para Scarlett e para Khan:

— Nunca ouvi falar que tinha uma rainha, como Xarles nunca... Como os reinos não sabem de você?

Khan fica aflito, achando que Scarlett vai ficar brava pelo modo ousado como Meena fala, mas Scarlett transparece paciência e responde sem preocupação.

— Minha cara, todos os reinos sabem de mim, eu já vi alguns dos líderes atuais, inclusive, mas, como você já deve saber, esse Império não tem destaque para mulheres. Eu, na verdade, só sirvo para gerar herdeiros para o “rei”.

Rupert acha interessante e entra no assunto.

— Herdeiros? A senhora está...

— Não! Nosso “rei” é estéril, mas como vocês já devem imaginar, a culpa recai sobre mim... Toda a culpa por ele não conseguir ter filhos é minha... E, concluindo a resposta da pergunta de Meena, eu sou só uma figura para preencher formalidades.

— Foi uma escolha?

— Não, mas hoje eu vejo que foi algo vantajoso, pois devemos ver e tirar oportunidades até das situações ruins, aqui eu consegui contatos e conhecimentos, enquanto o “rei” acha que eu vivo só de luxo, eu vivo de luxo e também de aprendizados, aprendi muito e hoje sei qual o caminho seguir.

— A senhora descobriu o clã Maslow?

— Descobri?

Scarlett ri e pega algo para beber, Khan ri com ela e se senta, por ver que não precisa mais servi-la.

— Meena, eu sou um dos fundadores de Maslow.

Rupert e Meena ficam surpresos com a revelação, e Rupert interfere:

— Não é o clã liderado por homens?

— Não, há mulheres também, ou metade disso, talvez... Enfim, de qualquer forma, novamente as mulheres caem no buraco do anonimato enquanto os homens ganham total destaque e credibilidade. Em breve isso irá mudar... Foi e ainda é horrível ser esposa daquele homem, contudo, ser a “Dama de Cristal” me aproximou de grandes lordes e, juntos, criamos o “Clã de Maslow”.

— Qual a diferença entre vocês e Xarles?

Khan tenta intervir, mas Scarlett o para, fazendo sinal com sua mão.

— Não se preocupe, Khan, eu sei que eles não estão acostumados com a realeza e suas formalidades.

— Não é isso. Nós...

— Eu sei, eu sei... Eu sou a “Desconhecida”, eu preciso provar minha sinceridade e ganhar credibilidade, saibam que é por isso que eu estou aqui, disposta a falar tudo que vocês precisam saber, e sem guardas. Vocês continuam ocultos aqui e sem perigo, tudo para mostrar que confio em vocês.

— Entendemos.

— Ótimo... Eu estou com o tempo curto, então irei resumir a história dessa união dos lordes e eu.

— Certo...



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