Arbidabliu: Infantes Brasileira

Autor(a): Magnus R. S. Alexandrino


Volume 1

Capítulo 96: Adeus, Júlio e Doug

Júlio sente um frio por todo seu corpo e fica paralisado por alguns segundos. A cena está como um grande pesadelo: mau cheiro e muito sangue, Júlio vê pendurando entre duas árvores um dos homens que vieram com eles, o homem está morto e exposto de uma forma aterradora, braços esticados e abertos, ferimentos em todo corpo e com as costas cortadas, com as costelas separadas da coluna vertebral, para fora do corpo, formando uma figura semelhante a asas de uma águia de carne viva e ossos expostos.

Júlio percebe que os outros dois homens estão próximo do pendurado, um no chão, e o outro preso no tronco da árvore, ambos de bruços e também com as costas cortadas, com as costelas expostas. Júlio treme e cambaleia para trás.

— Que horror...

Ele tenta se concentrar e vê que cada corpo tem um amuleto mágico que enganou seu poder de identificação.

— Esses amuletos foram usados para fingir que eles estavam vivos, por isso eu não senti nada de errado...

Júlio vira, pensando em avisar Doug e se lembra de algo importante.

— Costelas fora do corpo, exibição de tortura... Água de Sangue!

Júlio usa sua energia para agilizar seu movimento, ele avança em direção ao acampamento e vê que tudo está no seu lugar, com um item adicionado: perto da fogueira está um saco de pano escuro e molhado.

Ele olha ao redor e entende que está sendo observado, ele está surpreso, mas ocultamente usa sua energia para se comunicar com Doug, pra que ele acorde e fique em alerta, enquanto isso, Júlio se aproxima do saco e vê o que tem dentro dele.

— Não... Não...

Júlio novamente fica em choque, ele suspira fundo como se fosse chorar, vê uma cabeça humana dentro do saco e se desespera com o terror psicológico que estão usando contra eles. Ainda inconformado, ele diz o nome de quem viu no saco.

— Odília... Ele matou Odília...

O poder de Júlio também acorda Eohippus, que se afasta, fica agitado e rapidamente se encolhe com medo. Júlio se assusta por ver um animal tão forte se sentir oprimido por algo.

— Eohippus? Ele está aqui? Você pode senti-lo?

Doug levanta-se com Elasmot, que ainda está sonolento.

— Julião, já é de manhã?

Um vulto passa rápido entre eles, batendo no saco e tirando a cabeça de dentro dele, deixando-a visível para todos. Por reflexo, Doug cobre os olhos de Elasmot e o pega em seus braços, Elasmot fica sem entender e questiona com medo:

— O que houve?

— Tem algo ruim acontecendo, Elasmot, por favor, fique de olhos fechados.

Júlio e Doug ficam sem saber o que fazer, pois sabem que Brent, o Águia de Sangue, é o assassino mais perigoso do Grande Continente e que trabalha fielmente para o Império de Cristal. O silêncio toma o lugar, Elasmot fica trêmulo, com medo do que está acontecendo, o que deixa Doug mais preocupado ainda.

— Tô com medo...

— Tente se acalmar, nós vamos sair daqui...

Doug se mantém forte por olhar para Júlio, que demonstra estar com ele para tudo o que pode acontecer. Júlio sente que precisa fazer algo que dê vantagens para que Doug e Elasmot fujam, ele respira profundamente e, mantendo a calma, diz alto:

— Pare com esse teatro! Apareça, Brent!

 

Brent é um Dionamuh-S, idade aparente de trinta anos, estatura média, porte físico forte, pele branca corada, ruivo com cabelos curtos e enrolados, cavanhaque pequeno, rosto bonito, olhos vermelhos como sangue em um olhar sádico, sorriso amarelo e malicioso.

Ele está descalço, usando uma calça, camisa sem mangas e um colete comprido, que parece um sobretudo aberto. Toda a roupa está rasgada e suja de sangue fresco, alguns cintos na cintura, alguns justos no corpo e outros um pouco soltos, com várias pontas de metal e adagas guardadas, um pequeno cinto na perna esquerda, com um cassetete de metal, outro cinto pequeno no braço direito, faixa no punho esquerdo; e, perto dele, um pequeno caixote parecendo um caixão, com algumas armas cravadas nas laterais, como espadas diversas, maça pequena, facas e um bastão.

 

Júlio lembra que um Dionamuh-S é um super-humano, tendo muita vantagem contra humanos comuns como ele e Doug.

— Não estamos mais no Império, por que não nos deixa ir?

Brent olha com nojo para Júlio e Doug e replica:

— Vocês são nojentos, raça desgraçada “Ivo e Adéa”.

— Você também é como nós.

— Eu nunca serei como vocês! Não me compare a vocês, eu sou superior em “Tudo”.

Brent desaparece e surge ao lado de Doug, assustando Júlio com essa velocidade mágica; Brent olha para Elasmot e insinua:

— Esse é o outro fugitivo, interessante.

Doug se afasta dele, e Elasmot diz:

— Vamos subir no Eohippus e correr!

Brent olha para o cavalo, que está com medo dele, e diz:

— Ouvi falar desse cavalo, será que ele é tão rápido quanto eu?

Júlio se aproxima aos poucos, acumulando energia, e Doug está em alerta para qualquer eventualidade, Brent ri e diz, ainda encarando Eohippus.

— Vocês são ridículos, vocês estão tremendo de medo e acham que podem me atacar... Eu vou matar em um só movimento.

Júlio para seu movimento para não o provocar e fica apreensivo, Doug se aproxima de Eohippus, esperando uma oportunidade, e Brent diz, se afastando:

— Será interessante, vão! Subam nesse cavalo, supercavalo, e corram, será mais um marco para meu legado... Ser mais rápido que o tão poderoso cavalo de elite.

Júlio e Doug rapidamente se aprontam para sair, quanto mais preparados eles estão, mais próximo Brent fica. Ele anda lentamente, olhando cada detalhe de cada um deles, vendo e sentindo o medo e o desespero que ele mesmo está causado nos outros.

— Ótimo...

Elasmot sente que Eohippus está com medo e diz:

— Eu também estou com medo, mas Julião e o padrinho estão aqui, vamos ser fortes, Eohippus!

Brent não gosta da positividade do menino, que quebra seu lazer sádico, e anuncia alto:

— Eu vou te matar! Você, criança bastarda, e será uma pena você não ter pais para chorar no seu túmulo!

Doug abraça forte Elasmot que, segurando o choro, rebate alto.

— Você é ruim! Você que merecia não ter pais!

Brent ri, mas as palavras altas de Elasmot encorajam Eohippus, que dá uma investida em Brent, a investida contém um pouco de seu poder. Brent se esquiva, mas é acertado em seguida pelo coice, que o joga contra uma árvore.

— Bichos malditos!

Os três montam Eohippus que, em seguida, é envolvido em magia pura, com a ajuda de Júlio, e dá um disparo. Por estar com menos peso e com o auxílio de Júlio, Eohippus consegue ser mais rápido que antes e avança em direção ao destino deles. Júlio logo abraça Doug, que está abraçado com Elasmot.

— Vamos conseguir, fiquem comigo!

Elasmot, chorando, pede:

— Eohippus, corre, corre... Por favor, eu quero ir para nossa nova casa!

O nascer do sol mais aterrorizante e triste que Júlio e Doug já viram! Vários pensamentos ruins e amedrontados girando em suas cabeças. O tempo, clima, está bonito e agradável, com um belo raiar do sol, céu aberto e até animais ao longe vivendo tranquilamente, mas nada melhora o clima para eles, mesmo estando cada vez mais longe do perigo.

Os três estão tristes e com medo de que algo ruim ainda possa acontecer. Depois de algumas horas, eles ficam mais sossegados e relaxados, Elasmot questiona sobre os outros homens, e Júlio diz que eles fugiram para suas casas, os três comem algo e sentem que até Eohippus está diminuindo a velocidade.

— Ele deve estar cansado...

Eohippus fica em uma velocidade de um cavalo comum, para dar um descanso a sua energia, Júlio vê que Eohippus foi ferido e usa seu poder para amenizar a dor e curá-lo.

— Foi tudo tão rápido, que aquele monstro feriu Eohippus sem a gente perceber, mas eu vou cuidar de você, amigão.

Elasmot se sente mais animado e diz otimista:

— Isso foi incrível! Mas me deu medo... É esse tipo de aventuras que vocês já passaram?

— Sim... Mas é bom você sempre ficar longe de confusão.

— Quero ser corajoso igual a vocês!

— Você já é corajoso e “Incrível”!

Elasmot dá um grande sorriso, que conforta Júlio e Doug.

— Em breve chegaremos, veja!

Eles veem a floresta de Pando ao longe, faltando pouco tempo para chegar.

— Falta pouco...

Os três são surpreendidos, Brent aparece em pé junto a eles, em cima de Eohippus:

— Morram, abominações!

Brent está sem o seu caixote, mas está bem equipado. Em uma mão está uma maça e na outra, com uma espada, por reflexo, Doug o ataca, Brent se defende e, em três movimentos, ele fere Doug e o empurra. Júlio usa sua energia para afetar Brent e se joga para segurar Doug, fazendo com que não caia de Eohippus.

Tudo é muito rápido e apavorante, o desejo sádico de Brent é claro, deixando todos com medo, dando a oportunidade de fazer um golpe certeiro e mortal; por Elasmot não apresentar perigo, Brent faz um corte em seu rosto e o empurra, para dar espaço para atacar Júlio e Doug.

— Saia, pivete, você vai vê-los morrer primeiro!

Elasmot se segura e pega um item dentro da mochila, ele enche a mão com toda a gosma que tinha guardada e joga em Brent, acertando-o em seu rosto.

— Toma isso, seu monstro!

No mesmo instante, Brent sente seu rosto adormecer e logo seu corpo fraquejar.

— O que é isso?

Júlio puxa Doug, que logo avança contra Brent; em uma sequência hábil, Doug se fere novamente, mas bate forte em Brent, que exclama:

— Não me tirou sangue? Vocês são fracos mesmo!

Júlio pega o bastão de Elasmot e, com ajuda de Doug, empurra Brent para fora de Eohippus. Como contra-ataque, Brent fere uma das pernas de Eohippus, fazendo todos caírem; por impulso, Júlio e Doug se abraçam ao redor de Elasmot, para que ele não se machuque.

— Feche os olhos!

Júlio e Doug se ferem. Para deixar Elasmot seguro, Júlio usa sua energia para que Eohippus se levante rapidamente de modo que eles prossigam, e Doug fica entre eles e Brent, que caminha apontando sua espada.

— Vão morrer...

Brent bate em Doug, passando por ele e batendo em Júlio em seguida, ambos cambaleiam e se aproximam de Eohippus para fugirem. Eohippus tenta atacar novamente Brent, mas ele se esquiva do coice e da investida, fazendo outro ferimento em outra das pernas de Eohippus. Mesmo sabendo que não conseguiu encantá-la totalmente, Júlio arrisca algo.

Superbus Magister!

Júlio usa o poder da joia Teresa, a joia rosa de sua família, o poder dela é grande, mas Brent escapa, se movimentando rapidamente ao redor deles. Toda vez que ele tenta se aproximar, a joia ataca, fazendo com que recue.

Nesse tempo, Doug pega Elasmot e, com um grande salto, monta em Eohippus, Júlio vê que o poder da joia está acabando, então monta Eohippus, com a ajuda de Doug, para fugirem.

— Vamos!

Brent os impede, voa na direção deles e fere ambos, cada um com uma arma diferente. A energia de Júlio e Doug se conecta, gerando uma bolha de vácuo, que empurra Brent enquanto Eohippus corre para Pando. Júlio logo usa seu poder para curar Doug, deixando seu ferimento para depois.

— Nós vamos conseguir, vamos... Sim...

Júlio está sentindo seu corpo fadigar e nota que Brent utilizou um pouco da gosma que Elasmot usou nele, deixando-o fraco.

— Ele nos envenenou...

Doug nota que ambos foram envenenados, mas fica mais desesperado ao ver a ruína da sua vida.

— Elasmot!?

Elasmot foi puxado por Brent no momento do empurrão, Doug puxa a crina para que Eohippus pare e volte para buscá-lo, mas também sente seu corpo fraquejar.

— Não... Nós precisamos levá-lo para Pando!

Eohippus para, mas treme de medo, com a aura ruim que emana de Brent. Elasmot tenta correr, mas Brent machuca sua perna e o faz cair.

— Acha que aquela sujeira que você jogou em mim pode me matar? Eu sou mais que vocês, humanos... Lixo.

Júlio canaliza toda sua energia para tirar os efeitos negativos que o estão afetando, e a Doug, mas a cena é rápida e chocante, não dando tempo para que eles reajam.

— Julião... Padrinho...

Brent mata Elasmot, atravessando seu coração com sua espada, a morte é rápida, mas impossível de se ver. Por reflexo, Júlio fecha os olhos e vira a cabeça de Doug, para que a cena não o traumatize. Suas mentes reforçam uma conversa que tiveram com Elasmot para substituir o pensamento da morte e da dor do pequeno menino.

 

— Elasmot, seria um prazer adotar você, mas eu e o Júlio não estamos prontos ainda, temos algumas coisas para resolver.

— Vocês são heróis que vão a aventuras ajudar os outros?

— Não somos heróis, mas, sim, bons aventureiros.

— Que incrível! Mas um dia, quando vocês estiverem prontos, eu vou ajudar vocês a achar um filho, igual vocês que vão me ajudar a achar pais...

— Será a melhor missão que faremos.

— Viu? Para mim, isso já faz vocês “Heróis”! Heróis Incríveis!

 

Eohippus fica aterrorizado e corre para Pando, enquanto Brent limpa sua espada.

— Livrei você de viver naquele lugar de merda... Merdinha humano...

Brent encara Pando e diz confiante:

— Preciso detê-los antes que chegam ao clã... Eu vou voltar para ver seu corpo ser comido por hienas ou abutres.

Júlio e Doug se abraçam forte e questionam baixo do porquê de tudo isso ter que acontecer.

— Não entendo, eu não entendo! Era só uma criança!

— Desculpe, Doug! Eu não fui forte o suficiente para nos proteger.

— Você não tem culpa, Júlio... Aquele desgraçado tem!

Doug tenta reunir forças para enfrentar Brent, mas não consegue, até a energia que Júlio tentou reunir não ajudou muito, pois o veneno é realmente forte e age rápido.

— Estamos em Pando, conseguiremos ajuda, Doug!

Na entrada da floresta, Eohippus cai, Júlio e Doug rolam no chão, mas não se machucam muito.

— Doug, você está bem?

— Sim, o que houve?

Eles veem que Eohippus foi morto. Brent está ao lado do corpo de Eohippus, com a cabeça do cavalo cortada do corpo.

— O pescoço não é tão firme... Não é um supercavalo.

Doug levanta e se esforça para se manter de pé para enfrentar Brent.

— Maldito, desgraçado!

Júlio se aproxima de uma árvore que apresenta maior conexão mágica com a floresta e pede baixo:

— Por favor... Se alguém está me ouvindo, nos ajudem...

Júlio desmaia em seguida, e Brent alerta Doug:

— O outro caiu, ele não vai ver você morrer.

Doug recua um pouco, por estar preocupado com Júlio, mas, antes que se aproxime para ajudá-lo, Brent avança.

— Morra, lixo!



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