Arbidabliu: Infantes Brasileira

Autor(a): Magnus R. S. Alexandrino


Volume 1

Capítulo 84: Na Doença e na Saúde

Na Doença e na Saúde

Eu sou Eigil, contador de histórias da segunda era, e aqui relato algo diferente do que eu costumo escrever... Em um momento sombrio e de guerra, eu conheci alguém muito especial para mim, outro como eu que, além da mesma visão da vida, tem os mesmos objetivos e gostos, como eu o amo você, Axel! Ser um Descendente de Ivo é muito difícil, espero que décadas à frente isso seja mais amigável, pois hoje em dia e na época em que nos conhecemos, era horrível e tenebroso, o bom era que sempre tínhamos um ao outro para nos ajudar e confortar.

Nós fomos um dos primeiros a morar e até a nos relacionar de uma forma monogâmica e formal em Pando, ajudamos em muitas coisas “domésticas”, pois não éramos soldados ou portadores de grandes habilidades guerrilheiras.

Eu sempre acho que a época em que eu estou é a pior, porque sempre comparo com os fatos que eu já vivi, mas esse provável último relato é o mais difícil, pois eu e Axel estamos velhos e vulneráveis a doenças em que magias não nos salvam mais, magias e poções que só podem amenizar o desconforto e sofrimento.

Que os Electi me ajudem, eu estou em uma batalha difícil contra a doença que afeta meu companheiro, é complicado ficar próximo dele, a memória o afeta e tenho que lhe lembrar de várias coisas simples e comuns do dia a dia, brigo com ele direto, mas sempre tento me manter calmo, pois acredito que ele faria o mesmo por mim, ele coloca coisas em lugares errados, conta fatos que nunca aconteceram, erra na comida e sempre chama pessoas para virem em casa, pessoas amigas dele, que sempre veem mais o lado dele do que o meu. Eu sou compreensivo, sempre me lembro da dificuldade da idade e da doença que o afeta, mas cada vez mais eu sou desafiado pelo estresse e o cansaço.

Eu tenho saudades do meu trabalho, que mais me animava, mas infelizmente, por causa dessa doença, eu sempre tenho que ficar junto dele e não posso me dedicar muito a outras coisas. Como eu amava cuidar da floresta, dos animais, rios, lagos e dos novos moradores, tudo feito ao lado e com auxílio de Axel.

Fico feliz por ter pessoas competentes fazendo meu trabalho hoje em dia, tanto que eu sempre ouço “Não se preocupe! Está tudo andando bem e você vai superar essa fase”, Pando é um lugar muito acolhedor, acho que isso me dá forças para acolher também, pois muitas vezes eu duvidei do “amor” que eu tenho por ele.

Esse estágio e situação provam o real amor que você tem por alguém, confesso que eu olho para meu companheiro e não vejo mais o mesmo homem, ele parece um estranho para mim, principalmente quando eu acordo e o vejo sentado olhando para mim, me vigiando como se eu fosse fazer algo de errado ou fugir; até sonhos fugindo de Pando eu já tive, de tão louca que é essa situação, mas, em meio a e tantos desconfortos, há momentos de lucidez, quando ele fala que me ama, que fará de tudo por nós e que ficaremos juntos até o fim.

Isso conforta meu coração e me dá certa segurança, pois um dos novos moradores de Pando comentou com ele que tem lugares no mundo em que “sacrificam” pessoas com doenças assim, por se tornarem seres perigosos.

Eu fiquei furioso e briguei com ele, mas ele sempre diz que isso nunca será uma opção, pois ficar perto de mim é o que ele escolheu e é o que ele fará, acho lindo que, mesmo com uma doença tão grave, ele ainda consiga me ver de uma forma tão bonita, por isso eu me esforço para ser bom para ele.

Com tudo isso eu penso e vejo que, se fosse o contrário, eu iria para esse lugar de “sacrifício”, pois eu jamais gostaria de ser um fardo para ele, e mesmo assim, nessa situação, eu quero e prefiro que ele viva, pois o amor dele é maior que qualquer fardo que ele possa me dar...

 

Doug acha bonita a história e nota que Júlio está chorando, emocionado com o que leu.

— Júlio... Eu também gostei da história, Eigil e Axel realmente se amavam, pena que Axel ficou doente.

— Não, Doug... Eigil contou a história do ponto de vista dele, mas é ele que está doente, a doença não o permitia ver o seu real estado.

Doug se surpreende, e Júlio reforça:

— Eigil sempre achou que Axel estava doente, mas no fim era o contrário.

— Você tem certeza disso?

— Sim! No final diz com mais detalhes, reveja essa parte “eu acordo e o vejo sentado olhando para mim, me vigiando como se eu fosse fazer algo de errado ou fugir, até sonhos fugindo de Pando eu já tive de tão louco que é essa situação”... Eigil fugiu algumas vezes, não era sonho, e Axel passou a vigiá-lo mais depois disso.

Doug acha interessante a reviravolta que teve na história. Por ter passado um bom tempo lendo, Júlio e Doug comem alguma coisa e, para mudar um pouco o foco da última história, que leu, Júlio comenta:

— Veja o que eu achei... Relatos da família Nonuplets.

Em um pergaminho dentro do um livro, Júlio vê informações sobre uma mulher de trinta e cinco anos, com o estágio de gravidez de quatro meses, e que tinha feito um ritual proibido de fertilidade para ter de uma só vez muitos filhos. O ritual foi mais poderoso do que imaginado, mas, com muitas complicações para um ser humano comum, essa mulher teve que fazer uma intervenção para retirar quinze fetos de seu útero, onde nenhum deles sobreviveu. Essa experiência levou algumas outras pessoas a tentar a fazer o mesmo, mas em um nível menor. Entre essas pessoas, a que teve mais sucesso foi a grande mãe Nonuplets, que teve nove filhos gêmeos. No verso desse pergaminho informa que os noves irmãos brigaram e se separaram quando atingiram maior idade; entre os nove, três entraram para a armada do Império de Cristal.

— Os três que nós encontramos nesses últimos dias...

— Sim, olhe aqui sobre o pai deles.

O pai dos nove irmãos gêmeos contrabandeou um material estranho e raro, e, para não ser descoberto, ele separou esse item em nove partes, dando uma para cada filho, mas ele não sabia que os nove tomariam caminhos diferentes e longínquos. Doug lembra que pegou um item de um dos irmãos e pergunta a Júlio:

— Lembra-se do item que eu peguei?

— Sim! Verdade. Lembro sim... Cada um deles tem... Misterioso...

— O que será que todos eles formam?

— Melhor não descobrir por agora, vamos continuar o livro.

Júlio fica feliz ao ver que Doug está se distraindo e se animando, ambos agem como se estivessem em segurança e em território amigável.



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