Arbidabliu: Infantes Brasileira

Autor(a): Magnus R. S. Alexandrino


Volume 1

Capítulo 83: Amor ou Ouro

Amor ou Ouro

Jiating foi um dos treze anciões mais poderosos de Arbidabliu, séculos depois sua linhagem se tornou Sodam of Smart, humano com capacidade de se transformar em uma criatura metade humana metade animal, isso deu mais poder para a linhagem de Jiating.

Tempos depois, essa linhagem fui mudada, pois uma paixão de um chefe por uma mulher de outra linhagem fez com que seus futuros três filhos nascessem humanos comuns, gerando uma grande decepção na família.

Esse chefe se tornou rei com o crescimento de seu território, esse rei era meu pai, rei de um reino em expansão e precisava de um herdeiro à altura de tal responsabilidade, no entanto, meu pai teve três filhos, três possíveis sucessores.

Eu, a filha do meio, por ser mulher e não atender à beleza desejada e imposta pela minha cultura, fiquei impossibilitada de herdar o poder de comandar o reino, mesmo assim, eu sempre me dediquei a cuidar de meus irmãos e servir o ideal deles para com o reino, sempre estudando, aprendendo e me dedicando a tudo para aconselhar e tentar guiá-los para o sucesso; infelizmente só hoje eu vejo que foquei só em ajudá-los no futuro e não no caminho deles para o futuro, sendo um pouco ausente no crescimento e desenvolvimento deles. Meu irmão mais velho é um homem com todas as virtudes de um bom rei, mas ser um Omosessuale o afasta do trono.

Em minha cultura, os Omosessuale só são respeitados se tiverem muitos bens materiais, cargo elevado ou título de respeito, só assim provam o poder de “escolher” ser diferente dos outros, meu irmão era um pouco rebelde e superficial, já que, para ser aceito, ele precisava ostentar toda sua riqueza e fortuna, que usou para seus desejos e lazeres. Antes que ele se aprofundasse em vícios e mais pecados, ele achou outro homem como ele, só que pobre, meu irmão então fez um acordo, que daria muito ouro e poder para esse homem, se ele ficasse com ele como um “esposo”.

O homem aceitou de imediato para sair da zona de massacre e preconceito em que vivia, eu achei isso repugnante, mas relevei por ver que esse tal “esposo” o trouxe de volta para as virtudes que eu admirava no meu irmão.

Até que eles tinham uma relação boa, sempre via meu irmão feliz e inspirado, mas eu ainda olhava seu parceiro como um ser inferior, pois era claro que ele estava se aproveitando e vendendo amor para meu irmão, ouro e status que sumiam rapidamente, eu mandei espioná-lo e nunca vi um ouro sequer guardado, foi aí que suspeitei de que ele gastava tudo que ganhava para continuar a viver do comodismo que meu irmão proporcionava.

Eu já via o dia em que esse homem largaria meu irmão por uma proposta melhor ou o trairia, jogando-o na desgraça. Meu irmão mais novo sempre foi distante da família e sonhava em ser rei, além de ter grandes ambições em seu coração, ele tendia a ser pacífico, ele não era rebelde, mas vivia causando desentendimento nos outros, ele seduzia e enganava mulheres bonitas, tirando suas virgindades e sujando o nome de suas famílias, sem criar um vínculo amoroso com ninguém; mesmo sendo o mais novo, ele sempre se colocava como o futuro rei e cobrava isso de nosso pai.

Ao perceber que a regra do primogênito seria cumprida, ele fez de tudo e manipulou a mente do nosso irmão para que renunciasse à coroa, o argumento principal era que nosso reino não seria bem-visto tendo o primeiro e único Omosessuale como rei, lembrando-lhe que ele não poderia casar com quem ele quisesse, podendo matar a linhagem de nossa família.

Meu irmão aceitou, depois que foi oferecido muito ouro e título para que ele vivesse feliz e bem com seu esposo. Quando eu descobri tudo que meu irmão fez para conseguir reinar, eu fiquei chateada e com mais ódio do companheiro de meu irmão mais velho, pois só trouxe desgraça para ele e coincidentemente para o reino e nossa família. Meu irmão foi para o lugar acordado e assim viveu por alguns anos.

Eu assumi o cargo de conselheira e descobri que meu irmão mais novo, o atual rei, era bem preconceituoso contra os Omosessuale, mas de um nível alto de ódio e junto a isso ele conseguiu, através de acordos e autoridade, a expulsão do nosso irmão mais velho do reino. Ao discordar e tentar amenizar a situação, eu também fui expulsa, traída, ambos jogados à miséria.

Agora, por ser um Omosessuale pobre, meu irmão só tinha desgraça em seu caminho, e, além da tristeza de seu esposo ter ido embora por medo, meu irmão ainda falava que queria ouro para trazer seu amado de volta, vi que realmente meu irmão amou a pessoa errada. Pouco tempo depois, longe do reino, decidimos seguir para o Grande Continente, achei que, se levasse meu irmão para a famosa floresta de Pando, ele seria feliz com outros iguais a ele.

Na vila dos barqueiros, um viajante nos encontrou, feliz, dizendo que nós precisávamos ir pra Amor Mei urgentemente, pois estávamos sendo requisitados, um pedido de convocação oficial estava nas mãos desse viajante; fiquei muito feliz e agradeci a Deus por ter um aliado que queria nos ajudar. Mesmo em depressão, meu irmão se animou um pouco e fomos para a ilha de um dos dez Electi atuais.

Lá tive uma surpresa, alguém que eu nunca imaginaria encontrar, o Omosessuale, que tanto julguei e amaldiçoei, estava lá. Meu irmão no mesmo instante se ajoelhou e disse que o queria de volta, mas que não tinha o mesmo ouro e poder de antes.

O homem se ajoelhou com ele e disse “Nunca foi pelo ouro, sempre foi por amor”. Descobri que ele fugiu por ameaças do meu outro irmão, o rei, e que fez de tudo para nos contatar, e que todo o ouro que ele ganhava do meu irmão ele mandava para a família dele nessa ilha, que agora era uma das famílias mais ricas e prósperas do lugar.

Eu mesma fui tratada com muito amor e carinho por essa família e pelo meu “cunhado” que, mesmo depois de tudo que falei e fazia, ele me tratava como uma irmã. Até hoje peço perdão ao divino por ter sido tão injusta com ele e admiro muito as palavras dele para meu irmão, ainda ajoelhado no momento que se viram “Não era mentira quando eu dizia que te amava, eu te amo e não por causa do que você tem, eu te amo pelo que você é, sei que perdeu seu reino por minha causa, mas eu quero que você saiba que o reino do meu coração você nunca perderá, você é, e sempre será meu eterno rei.”

Ainda fiquei furiosa por alguém tão bom se sentir culpado por tudo o que aconteceu, eu expliquei com mais detalhes sobre tudo e disse que a culpa não foi dele, mas de um homem ruim, que só almejava poder acima da própria família.

Essa dor de ressentimento contra meu irmão mais novo só foi embora ao falar com o Electi da ilha. Depois de me mostrar os caminhos que Deus nos coloca, ele concluiu “Seu irmão ainda irá pagar pelo que ele fez, sinto muito caos no caminho dele e garanto que algo muito poderoso mudará a rumo de todo aquele reino”.

 

— “Omosessuale”? Palavra diferente para definir os Descendentes de Adéa e Ivo.

— Só espero que não seja uma forma ofensiva.

— Verdade, Romanze e Taikuri usam “gay” também, mas, se ela manteve a palavra até o fim, então deve ser uma palavra comum, sem ofensa.

— Bom...

— Eu gostei muito dessa história.

— Pena que poucos acham um amor bom e leal assim.

— Sim, seja ele romântico ou familiar.

Júlio encara Doug, e murmura baixo em seu ouvido:

— Pena que nem todos têm a mesma sorte que eu em ter você.

Doug fica envergonhado e aponta para que Júlio continue a leitura.



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