Arbidabliu: Infantes Brasileira

Autor(a): Magnus R. S. Alexandrino


Volume 1

Capítulo 81: Dias de Paz

Após a saída de Ian Nai, Júlio arruma melhor os corpos desacordados de seus amigos para que fiquem mais confortáveis, pois só tem duas camas grandes na cabana. Júlio fica agradecido por ainda estar vivo e ver seus amigos se recuperando rápido com o poder que Ian usou na capa.

— Que magia interessante... Atrevo-me a dizer que deve ser magia de nível Electi... Fantástico...

Júlio respeita o lugar, evitando vasculhar ou mexer nos itens da cabana, mas ele analisa tudo de perto, é uma cabana de tamanho comum e simples, um pouco empoeirada e com itens comuns para se viver ali. Olhando pela janela, Júlio estranha ao ver que a cabana está entre o muro que divide o Castelo de Cristal do primeiro nível da cidade de Sodorra.

— Essa cabana deve ser importante por estar aqui nesse lugar...

Ele também avista o lugar que Ian Nai mencionou antes, uma passagem simples e pequena usada só para trabalhadores comuns do Império.

— Ali é nosso caminho para casa!

Júlio faz comida e prepara bebidas quentes também para os quatro, nesse período ele ronda um pouco mais a casa, vigia seus amigos e reflete:

 

“Ian Nai é realmente poderoso como todos diziam, nas histórias dos Octoniões mencionava-se o quão bom ele era, e agradeço a Deus que isso ainda exista nele, infelizmente em um nível baixo e quase nulo, mas isso é sinal de esperança. Bom que nós estamos vivos, e mesmo sendo teimosos em seguir para a direção do perigo, Deus o coloca ou toca aqueles que estão em nosso caminho para nos dar outra ou até outras chances. Não podemos mais abusar da sorte e do dom do divino, finalmente sairemos de Sodorra e desse lugar horroroso... Essa cabana também me intriga... Como algo desse tipo ainda está aqui? Ainda dentro dos limites do castelo que é tão luxuoso e amplo, os itens indicam que duas pessoas viviam aqui, uma delas foi Ian Nai, isso é claro, mas quem viveu com ele? Será que tem a ver com o que ele falou... De qualquer forma, eu agradeço muito a ele por ter nos poupado. Deus, por favor, perdoe meu inimigo, ele está perdido, precisando ser achado pelo amor, amor à vida e amor ao Senhor.”

 

Ainda cedo, nesse mesmo dia, Rupert, Meena e Doug acordam.

— Onde estamos?

Júlio os alimenta, fazendo de tudo para que descansem o máximo possível e se certifica de que os ferimentos estão sendo curados.

— Não se preocupem, pois eu vou cuidar bem de vocês.

Doug fica preocupado com a saúde de Júlio, mas ele o tranquiliza dizendo que não está tão machucado quanto eles. Enquanto eles se alimentam, Júlio conta tudo o que aconteceu depois que ficaram desacordados, pontuando que mesmo depois de tudo ele viu uma bondade e apreço em Ian Nai.

— Se não fosse você contando, eu não acreditaria...

Os três olham ao redor, vendo a cabana e lembrando-se da batalha anterior, Rupert está desconfiado e questiona Júlio:

— Você revistou esse lugar?

— Pouco, não quis tocar ou...

Rupert o interrompe bravo.

— Não quis o quê? Usou magia para ver a fundo?

— Por que usaria?

— Pode ser uma armadilha, Júlio! Presta atenção!

Doug estranha a atitude de Rupert, mas, antes de dizer algo, Júlio se aproxima de Rupert e diz calmamente:

— Estamos vivos, porque ele quis assim, se ele podia nós matar antes, por que ele nos colocaria em um lugar como esse?

— Ele pode ser um louco como o rei dele...

— Rupert, eu sei que está com medo e fraco, não foi fácil o que todos nós passamos, mas, por favor, reflita também e tente ficar calmo.

Rupert se cala e demostra dor no corpo, Júlio respira fundo, sorri para Doug e diz:

— Rupert, descanse, eu queria poder fazer mais, o foco da minha magia poderia ser revistar, mas prefiro direcioná-la a cuidar de vocês para que saiamos o mais breve possível daqui.

— Entendi...

Meena fica em silêncio o dia todo e segue a orientação de Júlio, descansando o máximo possível, ela está triste e pensativa, em sua mente ela reflete sobre tudo o que já passou até chegar a Sodorra e comenta consigo mesma em seu pensamento:

 

“Desde Pronuntio eu sou subestimada, até os lugares que falam de paz fazem separações e são descuidados com os sentimentos de todos os seus. O Império de Cristal é ruim, mas não está muito longe dos outros lugares que o têm como pior inimigo... Essa missão em chegar ao centro de toda essa guerra só me fez ver que não nasci em um lugar pacífico também, há guerra e batalhas em todo lugar, agora mesmo sinto uma guerra interna dentro de mim... Ian Nai é tão ruim que me deixou viva, preferia morrer a continuar viva sentindo e vendo tudo isso. E agora? voltarei para Pronuntio como uma derrotada, marcada na história que segui para o castelo em Sodorra e saí como uma covarde, ninguém acreditará que o tão maldoso e tirânico Império de Cristal me deixou ir embora por bondade ou pena, e, se acreditarem nisso, seria mais humilhante ainda, Ian Nai foi mais cruel em me deixar viva do que seria em ter me deixado morrer com honra.”

 

Rupert também teve seu momento profundo de reflexão sobre tudo o que aconteceu e o que poderia vir à frente.

 

“Humilhado... Tudo que eu ouvi foi provado, Ian Nai é realmente poderoso, mas eu me pergunto como alguém tão poderoso e historicamente importante está onde está, um grande e fiel general do Império de Cristal, será que ele sabe de algo que nós não sabemos? Ou tem algum poder maior que o dominou... Não posso me sentir diminuído, eu cheguei até aqui com muito esforço e dedicação, faltou pouco para concluir a última missão, imagino se Ian Nai não estivesse aparecido, me imagino salvando tudo e a todos. Rupert d'Alba salvou o Grande Continente! Seria épico e justo, mas agora devo voltar com a derrota, como aquele que entrou e saiu recuado do Império por pena. Talvez eu possa ganhar algum destaque por ter enfrentado Ian Nai e sair vivo... Vivo e fraco, triste... O que eu devo... O que nós devemos fazer agora? Júlio disse que devemos ir embora logo, está muito cedo para discutir outras possibilidades sobre tudo isso, e é melhor esperar um pouco e ver que caminho tomar.”

 

Doug reclama da dor de cabeça que sente e uma fraqueza intensa, que o deixa desanimado. Júlio tenta animá-lo e confortá-lo sempre, dando carinhos, atenção e assistência em tudo, desde comer, beber a banho.

Por Rupert e Meena estarem sempre na cama, pensativos e quietos, Doug acaba ficando sem timidez e deixa Júlio cuidar dele como ele quer, mimando-o mais do que nas outras vezes. Doug aproveita e relaxa mais, tendo mais otimismo.

— Você está exagerando nos cuidados, não precisa de tudo isso.

— Para você nunca é exagero, quero cuidar de você em todas as situações, só descanse, por favor, pois será um longo caminho fora daqui... Infelizmente ainda não estamos seguros.

— Obrigado por tudo.

— Obrigado por estar aqui ao meu lado e deixar que eu cuide de você.

Doug relaxa em um banho delicioso e excitante a sós com Júlio; em seguida, Júlio volta para preparar a cama para os dois, nesse tempo Doug pensa como se falasse diretamente com Deus.

“Obrigado, Deus, depois de tudo que ousamos fazer, ainda estamos juntos e a salvo, muitos acreditam que o criador é contra seres como eu, mas eu sinto que só o Senhor, Criador de Mundos e do Universo, pode ter colocado alguém como Júlio para ficar comigo, sinto que ele vem do amor puro e real com que o Senhor fez tudo e a todos. Fico triste em ver seres realmente fazendo mal para os outros e para a natureza, horrores contra a criação em geral. Triste em ver que seres como eu têm que levar a culpa e a direção do ódio e desapreço até daqueles que dizem ser devotos a Deus, mas acredito que isso mudará um dia, o amor de Deus tocará todos e viveremos em paz... Obrigado, Deus, por eu estar vivo hoje e peço que nos guie para a saída daqui, e me desculpe se eu fiz algum mal nessa viagem difícil e conturbada, que é esse Império pecaminoso, mas prometo que não vou abusar do destino e da sorte, a missão está oficialmente acabada, agora eu só desejo poder chegar sã e salvo em casa e retribuir todo esse amor e carinho que vem do maior presente que o senhor me deu, Júlio.”

 

Doug prefere não falar muito sobre a dor e o desconforto que está sentindo, devido ao golpe que recebeu de Ian Nai; além da dor de cabeça e fraqueza, ele se sente ansioso e nervoso para sair o quanto antes de Sodorra.

Júlio percebe a instabilidade de Doug com tudo e sabe que ele não irá descansar facilmente. Júlio acende a lareira com uma dificuldade por estar muito tempo sem uso e prepara a cama deles perto do fogo, para trazer um clima mais tranquilo e acolhedor para Doug que fica surpreso com todo o esforço de Júlio.

— Lindo... Mas não precisa fazer tudo isso... E os outros?

Eles olham para Rupert e Meena, que estão do outro lado do cômodo, os dois estão bem acomodados e deitados. Júlio e Doug resolvem conversar mais baixo para não atrapalharem o descanso deles, Júlio olha despreocupado e comenta com Doug:

— Eles estão bem, irão descansar o dia todo. Vamos, deite-se comigo, eu peguei um livro que eu achei aqui e vou ler algo para você ocupar um pouco a mente e a imaginação.

— Lareira, “caminha”, leitura... Estranho tudo isso “aqui”.

— Sei que estamos ainda no futrespurco, mas não significa que devemos sempre fazer os maus hábitos deles, eu avaliei melhor seu estado, sua mente ficará frágil e vulnerável por um bom tempo.

— Verdade... Eu sinto até falhas em minha memória, isso pode piorar?

— Não quero que você fique pensando em coisas como isso, não seja pessimista. Eu estou aqui com você para cuidar de sua recuperação, e o início dela é seguir o que eu digo, deite-se, relaxe e escute um pouco disso que eu vou ler para você, assim sua mente tem mais descanso e conseguirá acalmar e repousar melhor.

— Certo, farei o que você disser.

— Obrigado... Mas antes que eu esqueça, que esqueçamos novamente, a carta de Romanze e Taikuri.

— Verdade! Bom que recuperamos muita coisa nossa no arsenal do futrespurco... Vamos lê-la primeiro.

— Mesmo o futrespurco investigando nossos itens e até tirando os feitiços deles, eles não foram capazes de saber o que a carta realmente diz.

— Eles são bons mesmo, codificaram a carta na escrita também, não só na magia.

 

Doug Hyacin x Júlio Surrex

Amigos! Em missões secretas nós não poderemos nos falar com tanta frequência, e no Grande Continente, as mensagens mágicas e mentais são mais difíceis de serem concluídas, além da possibilidade de elas serem distorcidas ou até ouvidas pelo poder do futrespurco ou outro enxerido.

“Mas ninguém é páreo para as nossas habilidades, só espero que não percam nossa carta, pois deu trabalho para fazê-la”.

Nossa missão é longa e ainda estamos no início dela. Como estamos em uma cidade mais tranquila e pacífica, nos sentimos confortáveis em mandar notícias, infelizmente não podemos falar muito depois que recebemos a nossa missão, é bom para a segurança de vocês também. Até então a nossa missão não parece ser muito difícil, mas não deixa de ser desafiadora, teremos que conviver com um benfeitor e aprender sobre boas atitudes, compaixão, humildade, altruísmo e até solidariedade com aqueles para quem já temos desejo de morte.

“Úrsula ficou realmente brava conosco, e nos obrigou a ir nessa missão, tudo não passa de uma punição. O bom é que viajaremos um pouco, pois Pronuntio está ficando chato sem a nossa geração por lá, e nós dois não temos paciência com novas gerações”.

Posso adiantar que, no final dessa missão, teremos um artefato interessante, vocês devem lembrara-se do anel do mestre Maxmilliam, Karpanen, o anel do clã o qual ele derrotou.

“Outro ponto positivo é a liberdade e flexibilidade de tempo”.

Pândego não quer que eu comente, mas eu acho que vocês deveriam ter mais cuidado com as amizades de vocês, pois com certeza a missão de vocês será com aqueles dois estranhos que para mim não tem nada de amigos “Rupete e Meeema”. Cuidado, só confiem um no outro, não confiem nem nos nossos, pois os piores e mais perigosos do futrespurco são gays.

“Escolham bem seus caminhos e priorizem mais vocês dois”

Quando terminarmos a missão, nós dois queremos ir para Pando, se a missão de vocês for por perto daquela região, então nos faça uma visita, e, se não der, no final venham nos ver, será uma experiência muito boa finalmente ver Pando e mais dos nossos.

“Se vocês virem aqueles outros amigos de vocês, os chamem para Pando também, eu gosto deles, e também espero que eles tenham sucesso na missão deles”.

Vamos voltar para a nossa punição, melhor dizendo, missão.

“Boa sorte na missão de vocês, e se preparem, pois farão e verão coisas terríveis”.

Até breve, amigos, e não se esqueçam de sempre aquecer a paixão e o amor de vocês com carinho, beijo e muito “Streptopelia”.

 

— Streptopelia? Que tal?

— Não me olhe assim!

Os dois riem, e Doug continua.

— Espero que eles tenham sorte na missão deles.

— Eles são poderosos, mesmo com algum desafio no caminho, eu sei que eles são capazes.

— Bom... Depois vemos essa questão de Pando.

— Sim... Então vamos começar, não imaginei que aqui teria alguns livros interessantes e “diversos”. Olhe! Eu peguei esse, veja...

— Legal! Temos histórias de Descendentes como nós...

— Sim, algumas são, igual àquela da Guardiã que amamos tanto.

— Então essas também são de acontecimentos reais?

— Sim!



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