Volume 1
Capítulo 80: Fado dos Descendentes
Os quatro são paralisados no ar, ao mesmo tempo, por uma magia poderosa, revelando um homem gordo com trajes nobres, um mestre de maldição do Império de Cristal, que não dá tempo para os quatro reagirem, pois solta uma grande carga elétrica neles, a dor é grande, mas o uso dessa magia enfraquece o que os mantinha paralisados.
Com poucos movimentos, Júlio usa uma magia, mas o mestre de poder é mais forte e, além de desfazê-la, ele contra-ataca com uma mais forte, que o faz desmaiar. Doug novamente se preocupa.
— Júlio?
— Acha que tem poder para combater um lorde do Império? Vou matar os quatro!
Com esforço, Rupert pega um pergaminho mágico que retirou do arsenal do Império e o joga, o mestre de maldição tenta se defender, mas o pergaminho é poderoso e age rápido, ele desfaz a magia ao redor e gruda na barriga do mestre, deixando-o tonto e temporariamente incapaz de usar magia.
— Como vocês tiveram acesso a isso?!
Os quatro caem, e todos se esforçam para se segurar em algum lugar para não caírem direto.
— Júlio?
Doug Consegue resgatar Júlio, que está inconsciente, mas se machuca um pouco.
— Doug, você está bem?
— Sim!
— Vamos ajudar, estamos quase no fim.
Rupert e Meena ajudam a carregar Júlio e descem os últimos andares pela escada comum. Ao chegarem ao térreo, Rupert usa um item mágico que também roubou do arsenal do Império, uma esfera que quando destruída gera uma nuvem cinza, com vários vultos falsos, para distrair os inimigos a fim de que não saibam para qual lado que eles foram.
— Isso deve nos dar tempo... Meena! Sabe dizer onde está a sala que Khan falou para a gente ir, se algo desse errado?
— Agora eu não sei, fomos jogados aqui! Não sei nem em que parte do castelo nós estamos ou se realmente ainda estamos no castelo.
Eles olham ao redor, imaginando uma possibilidade boa para seguirem; Meena se lembra de algo e comenta:
— Leste! Vamos seguir para o leste... Doug?
— Um momento!
Doug olha por uma janela e localiza o leste, eles seguem e se arrumam para não parecerem fugitivos. Barulho e correria são ouvidos, e eles evitam todo contato com outras pessoas.
— Estamos indo bem, continuem em alerta.
Júlio fica melhor e anda por si só, melhorando a locomoção do grupo.
— Ótimo, vamos sair em breve!
Ao passarem por uma porta, eles se veem em um corredor enorme cheio de estátuas e armaduras, o corredor é bem iluminado por ter várias janelas e possui uma aura estranha.
— Esperem, tem algo forte aqui.
Meena pega a última poção que estava com Júlio para se fortalecer e se prepara.
— Essa sensação eu conheço, é a armadura negra!
Através de uma fumaça negra, um Guerreiro Caos de seis chifres se forma no meio do corredor, ele está armazenando energia, e, percebendo isso, o grupo resolve agir rápido.
— Deixem comigo!
Meena avança, concentrando energia com o efeito potencializado da poção que tomou, Rupert vai atrás dela para ajudar no ataque, e Júlio usa magia para canalizar o poder de Doug e o seu para Meena, assim ela desferirá um golpe superior e à altura do inimigo, que é poderoso.
— Tem que ser rápido, antes que ele nos anuncie!
Meena olha fixamente como se seu olho e ego brilhassem.
— Será rápido!
Meena avança com um único soco, o Guerreiro Caos se defende, usando seus braços, o soco dela faz um grande estrondo e a armadura desaparece em fumaça negra, os outros três ficam surpresos e ela, sorrindo, diz.
— Eu falei que sou uma mulher de elite!
Ela olha para trás, para ver se Júlio e Doug estão bem, e Rupert elogia.
— Muito bom, Meena... Vocês dois, vamos!
Eles entram em outros corredores, ficando distantes da busca que os soldados estão fazendo; em um lugar mais calmo, Júlio comenta:
— Estamos aqui, o centro de todo poder, e ainda não nos encontraram.
— O que você quer dizer com isso?
Júlio olha para Doug, que também já entendeu que tem algo a mais acontecendo, pois, em um lugar tão perigoso, não é tão fácil fugir, Júlio sorri e comenta mais animado:
— Precisamos nos separar e teremos mais chance de sair vivos.
Doug entende o plano de Júlio e conclui.
— Sim, com magia Júlio os distrai enquanto vocês dois seguem para outro lado.
Rupert e Meena estranham, mas veem uma boa oportunidade, mesmo assim Meena questiona.
– Vocês têm certeza disso?
– Sim, eu e Júlio vamos até a ala nobre do castelo enquanto vocês preparam nossa fuga.
– É muito arriscado.
– Sim, mas é necessário, é a nossa missão.
Os quatro se abraçam forte, e ainda abraçados, Rupert comenta:
– Saudades do Ray.
– Sim, pena ele ter ficado doente.
– Será que ele vai se recuperar?
– Sim, com certeza, ele sempre foi assim... Lembra-se de quando caímos na competição?
– Sim, uma pequena queda deixou todos nós muito machucados, e Ray se recuperou mais rápido que qualquer um de nós.
– Ele também é otimista, sempre nos dando moral e nos motivando falando que um dia faríamos algo importante para o mundo igual aos pais dele.
Eles ficam em silêncio por um tempo, quando o soluço do choro toma conta do silêncio deles. Segundos depois eles dizem:
– Te amamos, Ray, nosso irmão e amigo... Não sabemos se nos veremos algum dia novamente e se sairemos vivos dessa missão, mas espero que você saiba o quanto você é importante para nós.
Meena ri e comenta, limpando as lágrimas de seu rosto:
– Ray diria “Parem de bobeira, claro que nos veremos de novo”.
– Bem o jeito dele mesmo... Ray...
Eles param de se abraçar, e Rupert fala:
– Júlio e Doug, se a gente não chegar até o horário combinado, vocês devem seguir.
– Não...
– Sim! Poderá nos considerar como mortos, nós já sabemos sobre relíquia e o poder que ela pode dar, precisamos descobrir se o Império sabe mais detalhes ou até sabotar algum plano, como aquele da prisão em Oratio ou da arma biológica.
– Ou avisar uns dos líderes do continente sobre esses planos.
Todos entram em outro corredor grande e se despedem por hora, Júlio e Doug abraçam forte Rupert e Meena, e voltam pela porta por onde entraram, antes de passar por ela, eles olham para trás para ver Rupert e Meena, que acenam para eles.
— Não olhem assim, vamos nos encontrar o mais cedo possível.
Júlio e Doug se assustam e gritam:
— Cuidado!
Meena e Rupert olham e veem que no fim do corredor está Ian Nai.
— Inacreditável!
Ian Nai está sério e bravo, ele os encara e anda em direção a eles. Meena aproveita seu momento de glória anterior e, com o poder ainda correndo em seu corpo, ela avança da mesma forma que fez contra o Guerreiro Caos, ela recebe novamente o apoio dos outros e dá mais de si mesma. Ela se anima e se encoraja mais, dizendo alto como um grito de guerra:
— Infantes!
Ian Nai avança mais rápido e combate o soco dela com o soco dele, ao se colidirem, um estrondo forte é solto com uma onda de energia que cobre todo o corredor. A dor é tanta que Meena não consegue gritar, o ombro dela se desloca, o braço quebra e vira para trás, além de ela ser arremessada alguns metros também. Rupert vem atrás dela para ajudar no ataque e fica paralisado de espanto ao ver a cena.
— Meena!
Doug fecha os olhos e abraça e Júlio, que caminha chocado e lentamente para tentar ajudá-la.
— Meena... Eu estou indo!
Ian Nai olha com desprezo e anda em direção a ela e saca sua espada, indicando que irá matá-la, Rupert se coloca à frente dela e joga um pergaminho mágico em Ian, o pergaminho gruda em sua armadura e queima, não causando nenhum efeito ou ativação. Rupert indigna-se.
— Impossível...
Rupert ataca Ian, usando a espada que roubou, mas ela é quebrada no primeiro movimento do adversário. Rupert se afasta um pouco e diz com a voz trêmula:
— Júlio e Doug, corram...
Rupert recua, pega a peça de cristal que estava com Meena para se defender e antes de agir é atacado por Ian. A espada de Ian cria uma energia em forma de lâmina, que atravessa a peça e o corpo inteiro de Rupert, que sente uma dor interna muito crítica; ele ajoelha, cospe sangue e cai no chão inconsciente. Meena está em choque pela dor e fica ainda mais assustada por ver Rupert no chão naquele estado.
— Rupert... Rupert... Me responde...
Doug pega Júlio e opina por fugir:
— Vamos!
Júlio segura forte e resiste.
— Não podemos deixá-los!
— Lembra o que conversamos? A missão!
Ian Nai aparece atrás dos dois e os ataca com um soco, Doug usa a sua palma dourada, que apara o soco de Ian, um estrondo menor é feito, mas o poder parece ser maior. Para que o braço de Doug não seja afetado igual ao de Meena, Júlio se coloca atrás de Doug e segura seu braço e ombro, para resistir ao ataque, além de usar magia para amenizar o dano. Ian olha para Júlio e o ataca usando sua espada. Por reflexo, Doug grita e age.
— Não!
Doug ainda está segurando o punho de Ian com uma mão e com a outra ele segura o braço com a espada, para amenizar o golpe do outro contra Júlio, que se defende usando magia e a joia Teresa.
Eles não sofrem dano, mas o golpe com a espada de Ian libera uma onda de energia que os empurra; logo, ao caírem no chão, Ian avança rapidamente e ataca novamente com sua espada em um golpe de ponta contra Doug.
— Você será o primeiro!
Júlio concentra o que resta de sua energia e segura a espada com as mãos limpas, ele apara o golpe, mas suas mãos sangram, tendo risco de perder seus dedos com essa ação defensiva, Ian estranha, mas por reflexo ele o chuta, afastando-o de Doug, que tenta se levantar.
— Tenho que ser forte...
— Fique aí!
Ian bate com o cabo de sua espada, forçando Doug a se manter no chão e coloca a ponta de sua espada na testa de Doug.
— Infelizmente sua missão vai contra a minha, e eu cumpro com as minhas missões!
Uma energia forte percorre a lâmina da espada, atinge a testa de Doug e fere seu cérebro, a dor e o dano são grandes, fazendo seu corpo inteiro ficar parado como se estivesse morto, sem exprimir tamanha dor que sente em sua mente e alma. Antes de dar o golpe final, Ian é abordado por Júlio:
— Me mate primeiro...
Ian acha que ouviu mal, para seu golpe e questiona:
— Como disse?
— Por favor... Não me deixe vê-lo morrer, me mate antes!
— Então quer dizer que vocês dois estão...
Ian avança em alta velocidade com sua espada. atendendo ao pedido de Júlio, mas ele para ao ver que sua espada está novamente sendo segura, mas agora por Doug, que tenta defender Júlio. Ian termina sua frase e se espanta.
— Estão juntos... Como ele chegou aqui?
Ian vê que Doug tem um flash de consciência e veio ajudar Júlio que o segura, chorando.
— Não... Doug...
Ian tem um lampejo em sua mente e se afasta.
— Vocês estão juntos... Vocês são amantes?
Júlio puxa Doug para perto de seu rosto, ignorando Ian, que fala mais alto.
— Me responda!
— Sim! Sim! Nos amamos... Está feliz? Acabe logo com isso...
Ian olha para os outros que estão desmaiados e volta a olhar para Júlio e Doug.
— Vocês são enviados de Pando? Isso é um truque orquestrado por aquele maldito?
— Somos de Pronuntio, você mesmo falou isso... Nunca estivemos em Pando...
Ian se aproxima e mira no fundo dos olhos de Júlio, que o olha triste.
— Não vejo ódio, não quer me matar?
— Não...
— Eu acabei de ferir seus amigos, ferimentos que os matarão! E você não quer me matar?
— Estávamos cientes das consequências... Às vezes a guerra é entre dois “bons”, que em um momento ficarão cegos para o que realmente importa.
Ian Nai sente algo diferente em Júlio, que o intriga, ele fica mais calmo e questiona.
— O quê?
— “O Desejo de Deus”...
Ambos fazem um momento de silêncio, e Ian questiona.
— Então o que vocês querem?
— Eu quero ir para casa...
Júlio ouve barulho de soldados se aproximando e pede:
— Eu imploro! O senhor já foi um dos “Imortais”, os “Octoniões”... Não nos faça sofrer mais com as torturas desse lugar, por favor, acabe com isso de forma honrosa e rápida... Agora!
Ian se afasta, pensa e respira profundamente, aponta sua espada para Rupert e a sua outra mão para Júlio, uma energia toma o corpo dos cinco e eles são teleportados novamente.
— Faz décadas que não encontro alguém como você...
Júlio se vê em uma cabana simples, pequena e com o teto de cristal, Ian tira sua capa e coloca em cima de Rupert, Doug e Meena.
— O que o senhor está fazendo?
— Atendendo ao seu pedido, deixarei vocês irem pra casa.
Júlio, ao saber que viverá com seus amigos fica otimista e mais relaxado, essa esperança transborda em lágrimas e felicidade que saem dos olhos dele. Ao ver esperança e vida nos olhos de Júlio, Ian sente algo que não sentia há muito tempo.
— Seu grupo, seus amigos... Eu vou ajudá-los.
Ian encosta a lâmina de sua espada em sua capa, que está sobre os corpos deles, e cria um poder mágico benéfico e único jamais visto por Júlio.
— Zodíaco... Ela está com você...
— Você conhece?
— Sim, li muito sobre... Então eles ficarão curados?
— Sim, mas ela não os curará totalmente, aquele ficará com a mente fraca contra magias mentais, ela precisará de tempo para recuperar o braço, e o seu líder terá sua capacidade de volta em alguns dias.
Júlio se levanta com dificuldade e ajoelha à frente de Ian Nai.
— Obrigado...
— Pare com isso!
— Não só por ter nos poupado hoje, mas por tudo que o senhor já fez, sei que não foi fácil ser um herói, sei que até hoje você ainda tem suas batalhas e é muito criticado pelo caminho que seguiu... Eu lamento por isso.
Ian olha para os amigos de Júlio e questiona.
— A propósito, “Infantes”?
— Isso!
— Qual o nome de vocês?
— Eu sou Júlio, eles são Doug, Rupert e Meena...
— Então Doug é o seu parceiro de vida.
— Sim...
— Cuide bem dele e dos seus amigos... Essa cabana tem comida e bebida, e está em uma área um pouco isolada do castelo, ela dá acesso à área dos aldeões do primeiro nível, para vocês saírem daqui.
— Não seremos identificados?
— Aqui...
Ian Nai entrega uma insígnia e diz.
— Isso mostra que vocês têm permissão para saírem do Império, só tomem cuidado com cargos altos, pois eles não respeitam esse tipo de distintivo.
— Sim, senhor.
— Percebi que vocês iam se separar, pois vocês descobriram que eu conseguia localizar vocês dois, bonito o que vocês iam fazer pelos seus amigos.
— Somos como irmãos...
— Bom... Saiba que eu não sou o único do Império de Cristal que pode “achar” vocês dois.
— Imagino...
— Então prestem atenção, não fiquem mais de cinco dias aqui, senão serão pegos... E uma última coisa que me deixa intrigado... Eu sinto grande ambição em vocês em querer concluir sua missão aqui no coração do Império, mas advirto que, se nos encontrarmos novamente, eu não serei benevolente.
— Entendido.
Ian Nai faz um gesto de respeito para Júlio pela coragem dele e do grupo, e desaparece através do teleporte, usando os cristais que forram o teto da cabana.