Volume 1
Capítulo 76: O Jardim Electi
— Incrível... Mesmo não tendo dons mágicos, eu posso sentir a imensidão do poder e da energia desse lugar.
Os três olham ao redor, vendo a imensidão de cores em que estão, cores que formam um enorme jardim, os olhos ofuscam com tantas cores, brilho e tranquilidade, e é preciso esperar seus olhos e sentidos se acostumarem com o lugar.
O céu está lindo, poucas nuvens deixando, o sol fazer todo o seu trabalho; há grandes elevações de terra, gramas, pequenos e grandes lagos, muros e cercas vivas revestidas com plantas e matos, corredores com vários tipos de flores, pequenas estradas de tijolos vermelhos, bancos, vasos para flores diversas, arcos de flores, fontes, chafarizes mágicos, vários arbustos cortados em formas geométricas e de mamíferos.
O local tem poucas árvores próximas, mas belas árvores no extremo do jardim, podendo se ver uma floresta ao longe, algumas elevações de terra formam pequenas colinas com algumas nascentes de água pura e cristalina, que formam um rio pequeno, que passa por todo o jardim.
Há pedras pequenas e grandes espalhadas que parecem estar lá de propósito, pilastras em vários pontos, variando entre segurar vasos com flores e fontes para passarinhos, grandes portões feitos de árvores vivas, um pequeno labirinto de flores e arbustos grandes, algumas imagens lapidadas nas pedras, pilastras, bancos e fontes, pequenos barcos flutuando nos lagos cheios de flores e plantas exóticas, pequenas pontes bonitas e bem detalhadas nos pequenos rios e nos lagos, ligando também a uma pequena ilha no centro do lago maior.
— Incrível...
Eles andam pelo grande jardim, admirando cada detalhe, observando e sentindo o vento passar, o sol iluminar, os insetos em suas vidas rotineiras, abelhas, vespas, percevejos, borboletas, libélulas, formigas, minhocas entre outros, um pequeno mundo longe de tudo e sem a mão da civilização hostil.
— Tudo isso é natural, ou é pura magia?
— Magia deve ajudar a manter, olhem quanta variedade e cores... Ali!
Eles veem uma gema Summa sobre uma pilastra diferente das outras, essa gema emana uma aura rosada, que toma parte do jardim, abençoando tudo que toca.
— Já estudamos sobre essa gema antes...
— Sim, mas não lembro o nome dela.
Olhando no meio da ilha que está no centro do lago maior, Pedro vê ossos de um animal antigo e grande, os ossos estão cobertos por grama e algumas flores.
— Um grande animal antigo...
Donny e Jake acham bonito o labirinto de planta e, se aproximando dele, eles são abordados por uma figura bem chamativa.
— Humanos... Mais mortais buscando o mais alto poder...
Ele é o Electi, aparenta ter uns quarenta e cinco anos, estatura alta, passando dos dois metros, porte físico forte, a cor de sua pele é escura, sem cabelo e barba, aparência agradável, bonito e com um belo sorriso.
Ele está usando um colete leve e simples, com tranças feitas de plantas enroladas em uma parte do traje, braceletes de prata em suas mãos grandes e dois anéis em sua mão direita, a parte inferior de seu corpo está protegida por uma armadura que começa na cintura e se estende até suas pernas e pés; a armadura parece ser simples, mas é brilhante, é ainda mais no sol forte que ilumina o jardim, nas mãos dele tem uma tesoura dourada e grande.
Os três o reverenciam, e Pedro se apresenta.
— Eu sou Pedro Flavum, e esses são meus amigos, Donny Rubrum e Jake Aurantiacis, nós estamos aqui no Jardim Collins para nos mostrar merecedores do poder Electi, pedimos humildemente a oportunidade de passar no teste, Jason, o Electi da ilha Amici Mei.
Jason observa atentamente os três e responde, sem muita expressão ou confiança nas habilidades dos três:
— Se chegaram até aqui, então devem ser dignos de “tentarem”, se sabem das consequências de suas ações e estão cientes das regras, vocês podem entrar no labirinto...
Ao apontar, as folhas do labirinto se mexem como se ouvissem Jason e se preparassem para receber os três. Os três estão confiantes, e Jason termina.
— Lembrem que não falo das suas ações hoje, ou nesses dias... Pensem em tudo que vocês já viveram... E tentem não estragar ou matar os seres vivos do jardim, eles são importantes.
— Espere, por favor... Senhor Jason... Nunca tivemos próximos de um Electi, podemos cumprimentá-lo?
Jason olha para os três e sente a admiração real vinda deles, ele sorri e se aproxima.
— Claro... Poucos pedem por algo assim, mas saibam que isso não os ajudará no julgamento do desafio.
— Sabemos, senhor, e viemos aqui para passar pelo teste, provando do que somos capazes.
— Ótimo... Gostei de vocês, têm mais alguma pergunta? Aproveitem que estou com bom humor hoje.
Pedro então questiona.
— O senhor já teve orgulho de condecorar alguém que passou do seu desafio? E quem são eles?
— Esperto, mas você me fez duas perguntas...
Donny reverencia e diz.
— Eu também estou curioso, se o senhor também me permitir fazer uma pergunta, a minha pode ser o complemento da dele.
— Um grupo unido. Gostei... Certo... Poucos passaram pela Magia Electi ou pelo jardim, não posso revelá-los, mas posso dizer que foram um “Aurem”, um “Sodam of Smart”, e dois “Humanos” assim como vocês...
— Humanos?
— Sim, era uma dupla atraente e muito carismática, diga-se de passagem, existia algo amoroso entre eles, esses dois vieram de Pando, conhecem?
— Sim! Então o clã de Pando está fazendo os desafios Electi.
— Muitos estão fazendo, lembre que eu só citei os que passaram...
— Certo...
Jake olha, admirando o jardim e questiona.
— Jason, senhor... Todos que estão presos aqui são seres que falharam no teste?
Donny e Pedro ficam nervosos com uma pergunta dessa, mas Jason responde sem problemas.
— Sim, com exceção de um, eu acho...
— Um? Quem?
— Sim... “Qui-nura”, “Quinora...”... Knorra! Senhor Knorra, ele também era de Pando, desse clã que vocês mencionaram... Ele foi banido do clã e, desde então, ele corre por uma aceitação interna, há um sentimento de culpa enorme nele, vocês devem entender o que é isso futuramente...
— Estranho... Um homem banido de Pando...
— Sim, recomendo que tomem cuidado quando vocês forem para essa floresta. Pando contém mais segredos que o próprio Império de Cristal...
Os três ficam espantados, e Jason ri olhando para uma borboleta que passa perto dele.
— Segredos e mistérios... “Tempo” ardiloso.
Pedro vê que Jason está amigável e pensa em aproveitar isso para perguntar algo a mais, mas Jason olha sério para ele e diz:
— Realmente nunca viu um Electi, e tome cuidado para que esse momento não seja o último, caro mortal.
Jason desaparece, e a porta do labirinto fica maior e mais florida, chamando mais a atenção. Ao entrarem, Pedro faz um sinal para que eles verifiquem com ele informações iniciais do labirinto. Jake começa a tocar suavemente e através de magia ele identifica algumas coisas.
— Realmente o labirinto tem magia nível Electi, não consigo identificar o tamanho dele ou sua periculosidade, existe muita “vida” nele, e não parece ter só insetos ou plantas.
Donny usa todos os seus sentidos para também achar informações do labirinto, ele toca, cheira e tenta ouvir através das paredes revestidas com folhas e algumas flores. Vendo que é seguro, ele até usa seu paladar para verificar algo mais específico.
— Se o labirinto está encantado com Magia Electi, então nada, além disso, pode passar pelas paredes. Essas plantas são hostis, não fiquem muito próximo delas, e as flores são bem sensitivas, devem servir para vigiar tudo o que acontece aqui dentro. Sem sinal de algo tóxico e venenoso por enquanto.
Pedro agradece aos dois e finaliza depois de alguns testes e pesquisas que fez antes de chegar à ilha.
— Há uma parede invisível sobre o labirinto, nada orgânico pode passar por ela. As flores têm algumas funções além de vigiar, como alimento seguro, exalar “cheiros” para manter o labirinto vivo, comunicação e potencializar algum atributo temporariamente.
— Sério?
— Sim! Vi relatos de alguns seres que se beneficiaram comendo algumas flores que melhoraram seus dons e poderes.
— Esses finalizaram o labirinto?
— Isso não estava nos relatos, mas acredito que sim.
Donny ri, e Jake continua tocando. Pedro vê o que Jake quer descobrir e responde:
— Não tem como marcar o caminho percorrido, não adianta deixar rastro ou magia, o labirinto vai desfazer o que deixarmos como “marca”.
— Estamos por conta da memória?
— Sim... E memoria não é um dos nossos fortes, mas vamos tentar memorizar em partes, dividir essa tarefa.
— Mas você é bom em memória, Pedro.
— Quando era mais jovem, sim, hoje em dia não sou tão bom assim.
Donny analisa melhor as flores depois do que Pedro disse e comenta:
— As flores são bem diversas e não existe um padrão, podemos memorizar caminhos através delas, mas temos que nos atentar para ver se elas mudam de lugar conforme andamos.
— Sim, temos uma visão inicial, vamos seguir e ver o que descobrimos mais.
— Nos relatos não tem o tipo de desafio que enfrentaremos?
— Não, alguns que conquistam a missão, não gostam de comentar ou têm suas memórias alteradas ou afetadas.
— Isso não é uma boa notícia.
— Você perguntou, então eu te falei.
— Quando for uma notícia assim, você fala: “eu não sei”.
Eles andam pelo labirinto por horas; nesse tempo, eles se perdem sem saber por onde andaram, se confundem em achar um caminho bom e conversam para que não fiquem estressados ou desmotivados. Além de assuntos aleatórios, eles focam em planos e em formas de descobrir mais sobre o labirinto.
Jake toca para tranquilizar e para deixar a mente deles mais concentrada e equilibrada enquanto Donny com a ajuda de Pedro descobrem as flores que eles podem comer sem causar nenhum efeito ruim, eles também suspeitam de algumas flores que podem potencializar melhorias temporárias.
Em uma área diferente das outras em que eles já entraram, as plantas ganham energia e atacam os três, inicialmente elas os separam, formando paredes e remodelando algumas passagens do labirinto.
Pedro não é surpreendido, se defende e se esquiva de tudo que o ataca; com sua espada ele corta rápido as raízes espinhosas que vêm mirando em seus braços e pernas.
— Cuidado! Não é ilusão.
Jake é pego e arrastado por alguns metros, ele se solta e corre em busca de pegar seu violino para contra-atacar.
— Tentem não se afastar!
No primeiro momento, a preocupação e a armadilha deixam Donny perplexo, ele se defende de alguns galhos que surgem por magia, mas não percebe as raízes com espinhos, que vão envolvendo suas pernas aos poucos; antes que se livre delas, outras raízes prendem seus braços, deixando-o indefeso ante um galho que, além de bater nele, tenta perfurar seus olhos.
— Plantação maldita! É pior do que eu pensei!
Donny concentra sua energia e se solta por alguns segundos, focando em atacar o galho, ele o quebra e volta a ficar preso. Os espinhos das raízes crescem, causando danos severos.
— Eu estou sangrando!
Donny fica com medo ao ver que está começando a sangrar. Jake ouve e lembra que Donny tem um nível baixo de coagulação sanguínea, em razão da hemofilia e esquece-se de sua própria segurança para ajudar o amigo.
— Donny! Concentre em sua energia e na música!
— Sim, mas cuidado...
Jake se concentra mais e fala baixo, como se falasse com seu violino.
— Glissando...
Jake começa a tocar seu violino, com sua mão esquerda ele escorrega o dedo sobre a corda, tocando todas as notas. Todo o som é chamativo e bento com magia e energia pura, enviando energia benéfica para Donny e para Pedro.
Jake concentra toda sua energia e atenção para isso, ficando indefeso para as raízes que sobem pelas suas pernas e tentam cobrir seu corpo com galhos e folhas. Ao chegarem ao peito de Jake, as raízes param e não conseguem prosseguir em atacá-lo, mas começam a feri-lo da cintura para baixo, elas ainda tentam derrubá-lo, mas a energia que ele está conjurando impede que seja movido com facilidade.
Donny rapidamente recebe o poder do amigo e se solta o mais rápido possível e grita em seguida.
— Eu estou bem! Foque na sua parte agora, Jake!
Pedro comenta alto, enquanto bate nas paredes que surgiram.
— Cuidado com os seus medos, treinamos para esse tipo de situação, de alguma forma esse lugar deixa nossas mentes mais frágeis... Jake! Lembre que energia pode ser usada por cima do labirinto!
Ao ter vantagem em sua parte, Pedro arremessa sua espada para cima. Ao ser vista, Jake usa energia através do seu violino para encantar e atrair a espada, ela desce em chamas, queimando e impedindo que as raízes o ataquem novamente.
— Conseguimos!