Arbidabliu: Infantes Brasileira

Autor(a): Magnus R. S. Alexandrino


Volume 1

Capítulo 75: Prioridades

— Estamos com você, vamos ajudar.

Senda ouve e, sorrindo, diz:

— Ótimo... Vou me retirar, então, uma boa noite para vocês e se cuidem.

Senda ainda conversa com o grupo de refugiados, explicando mais sobre as regras e a situação em que todos eles se encontram, não deixando nenhuma dúvida sobre o que acontecerá com cada um deles nesses dias, o tratamento é preventivo e bem-feito, o lugar em que eles estão é uma espécie de vila cercada por muro alto, casas simples e confortáveis.

Comida e bebida estão sendo colocadas e estocadas para eles. Ainda antes de Sanda sair, Pedro a questiona:

— Nos chegamos à ilha e não fomos analisados.

— Eu perguntei se vocês estiveram na vila Aissur, certo?

— Sim...

— Então vocês foram analisados... Boa noite.

Os três se olham e riem, em seguida pensam em como ajudar o grupo de refugiados. Donny e Jake estão cansados da apresentação que fizeram, mas Pedro pede que deixem a maior parte do trabalho pesado para ele, como arrumar, consertar, conversar e até ajudar na guardado lugar. Uma das crianças não para de chorar.

Ao ser questionada, a informação triste é revelada, os pais morreram no ataque que sofreram do Império, a dor da perda é compartilhada por outros ao redor, mas, sendo o mais jovem do grupo, além da dor ele ainda terá que passar pelo entendimento do que é a morte e a saudade de quem se foi.

Ao ouvir de uma forma racional o que é a morte, essa criança fica mais triste e se isola dos outros; pouco tempo depois. Jake comenta com Pedro e Donny:

— Aquele menino, eu estou triste por ele.

— Nós também, mas o que podemos fazer? Estamos fazendo essa missão para impedir esse tipo de sofrimento.

— Eu sei, mas pense, e as pessoas que já sofrem?

Donny concorda com Jake e corre para fora do lugar. Antes de sair de vista, ele diz:

— Eu lembrei algo, já venho!

Jake faz companhia para o menino que demonstra uma grande solidão, ignorando e não respondendo às perguntas de Jake, mesmo assim, Jake não desanima e insiste em ficar junto do menino, nem que seja para o menino saber que tem alguém com ele.

Pedro tenta ajudar, mas sua paciência em situações assim não o ajuda. Pedro se afasta e vê Donny chegando com o instrumento musical de Jake.

— Aqui! Isso deve ajudar.

Jake olha, balança a cabeça e questiona:

— É isso que você lembrou?

— Sim, lembrei que você é mestre nisso...

Donny pega na mão de Jake e faz com que ele pegue.

— Vamos lá, faz sua magia acontecer.

Jake ainda fica pensativo, olhando para o menino, que observa de canto. Donny está com os olhos animados e esperançosos, incentivando Jake, que diz:

— Você ganhou.

— Isso!

Pedro ri e comenta para si.

— Até eu sou fã desses dois, mesmo sabendo que é um “romance falso”... Eles mudaram mesmo... E acho que eu mudei também...

Pedro olha para os outros refugiados, sente uma grande emoção mais dentro de si e diz bravo para si mesmo.

— Mudei até demais...

Pedro sai de vista enquanto Jake começa a tocar. Ele começa com um toque suave e usa sua energia para encantar sua música, para que traga boas vibrações e calmaria, Donny sorri e, olhando para o garoto, começa a cantar ao toque de Jake, a letra da canção diz sobre família, amigos e amor, e como tudo isso evolui e cresce quando alimentamos com carinho, lealdade, dedicação e compreensão.

Donny e Jake focam em atrair a atenção do menino que perdeu os pais e, no meio da canção, eles conseguem a atenção que queriam. Através de magia e de um líquido encantado, Donny faz aparecerem borboletas coloridas que, cada vez que o menino pega em uma delas, elas se dividem em mais com cores diferentes, colorindo e causando um afeito mais bonito na apresentação, Jake toca mais alto e mais forte, podendo ser ouvido por todos os refugiados e até pelos guardas que observam ao longe por trás do muro.

Depois de admiração e elogios, todos se calam para ouvir uma parte lenta da música, em que Donny e Jake cantam como um dueto, a letra da canção diz sobre perda e como é ruim dar adeus àqueles que mais amamos e queremos por perto, isso toca a todos, até mesmo aqueles que nunca sentiram ainda a dor da perda.

Pedro chega com uns guardas a quem pediu ajuda para que carregassem tudo que ganharam no show para doar para os refugiados, Pedro fica tocado e emocionado com a música e através de gestos pede para que todos se juntem e se abracem.

A canção chega a dizer sobre acolher o próximo, e o final dela pede para que todos deem a chance de criar novos laços, nova família e um novo amor, mas nunca esquecendo o que já tiveram, pois nenhum substitui o outro, mas que todos eles se completam e agregam a vida.

Todos ficam felizes e mais calmos, o menino ainda está triste, mas conversa e ouve melhor os outros ao redor, dando chance de aprender a suportar o que está passando. Donny e Jake ficam felizes e só percebem que estão fortemente abraçados quando muitos os olham fixamente, eles ficam tímidos e se separam para voltar a ajudar.

Senda surge inesperadamente e aborda Pedro, que se espanta com a presença dela tão tarde.

— Senhora Senda? Desculpe minha reação, não esperava a senhora.

— Tudo bem... Eu iria dormir, mas fui chamada para ver algo bonito aqui, e realmente eu achei lindo o que eu vi e ouvi... Vocês estão de parabéns.

— Eu sou só um ajudante, a fama é dos dois, eles merecem.

— Que humilde... Mas sinto que você não era assim antes.

— Não, infelizmente, não...

— Bem, nunca é tarde... Uma coisa, eu acredito que pedi para que trouxessem tudo que essas pessoas precisassem, mas vocês trouxeram muitos itens, eu me esqueci de algo?

— Não, senhora, todos aqui já têm o necessário...

— E então?

— Esses aqui são itens que ganhamos, é um “extra”, uma forma de tentar agradá-los, dar mais conforto... Queríamos dar mais, mas nem se dermos tudo que temos, não compensará a perda que eles tiveram...

Pedro fica triste ao compartilhar e trazer para si o sentimento de seus amigos. Senda sente essa boa vontade vinda dos três e, pegando na mão de Pedro, diz:

— Não pense assim Pedro, vocês estão dando amor e isso já conforta um coração triste, eu agradeço pelo que estão fazendo, mesmo sacrificando dias da sua jornada.

— É um prazer, aprendemos em Pronuntio que, além da nossa missão, temos como dever ajudar quem precisa.

— Bom saber que Pronuntio está treinando bem seus aventureiros e artistas, mas eu peço, descansem, pois hoje está bem cansativo.

— Sim, obrigado...

Jake perde sua força, chegando a desmaiar, Donny segura Jake antes que caia no chão e o leva para a cama, em uma cabana improvisada na área restrita dos refugiados. Pedro o segue para que descansem. Antes de pegar no sono, Donny pede para Pedro:

— Desculpe, sei que você é focado em horários, atrasamos nossa missão.

— Não se preocupe com isso, só não se desgastem tanto assim, senão, nós que precisaremos de ajuda.

— Certo... Será que iniciaremos a missão amanhã?

— Por quê? Você quer ficar mais tempo e ajudar mais?

— Sim...

— Você quer ou o Jake quer?

— Você sabe que ambos queremos...

Pedro ri e comenta, olhando para os dois dividindo o chão forrado com coberta, pano e feno.

— Eu falei uma vez para vocês dormirem assim para chamar a atenção para a relação falsa de vocês, mas até hoje vocês dormem “juntos”.

— Costume, é estranho assim?

— Sim... Não... Eu nem sei mais... Certo, vamos dormir.

Poucos dias se passam com os três dedicados a ajudar os refugiados, eles auxiliam desde tarefas simples como plantio, limpar e arrumar, até em ocupações mais cansativas, como consertar coisas, ajudar na análise de cada indivíduo e servir como apoio emocional para os que precisam, aprendendo mais sobre a vida com essa ação.

Donny e Jake ensinam alguns refugiados a tocar algum instrumento musical aleatório ou até a cantar. Pedro mostra suas habilidades e técnicas de lutas para ensinar àqueles que buscam ser guerreiros.

Nesses dois dias houve muita paz e harmonia, alguns nunca tinham visto Descendentes de Ivo e estranharam no início a presença e a aproximação que Donny tem com Jake, esse período os três também usaram para relaxar e se prepararem melhor para o último passo de sua aventura.

Antes do raiar do sol do dia quinze de setembro, os três já estão prontos na plantação onde se localiza o guardião da entrada da Magia Electi, eles observam o espantalho ao longe e aguardam algum sacerdote ou responsável iniciar o ritual. Donny comenta:

— Nunca pensamos em um nome para o nosso grupo...

— Depois dos “Infames”, eu acho melhor deixar assim, afinal, somos só nós três.

— Não fala assim, Pedro... Sejamos otimistas, nós chegamos longe sozinhos.

Jake está feliz e diz:

— Sim! Obrigado por essa aventura, amigos... Chegamos longe e, se der errado, eu...

— Não fale assim! Não vai dar errado, lembre que nas pesquisas esse é um dos únicos Electi que não têm “muitas” mortes em seu “teste”.

— Eu sei, mas no fundo ainda fico com medo...

Donny comenta animado:

— Lembro-me de alguns livros de histórias em que a “cavalaria” chega salvando todos, o poderoso mago branco em seu cavalo branco, sempre trazendo esperança e força para os bons...

Pedro opina desanimado:

— É uma ótima história, mas na realidade isso não acontece... Espera que alguém poderoso virá nos resgatar? Úrsula, Rei Sikdar, Ustakadat, Maxmilliam, Ynis, Dayan...

— Onilda! Já imaginou a nossa mestra vir nos salvar.

Jake entra na fantasia e diz

— Seria como esses livros que líamos em Pronuntio, no momento exato da tragédia vem a salvação de um ser que tem apreço pelos heróis, e, juntos, dão de tudo de si para a vitória.

Pedro diz com tom mais alto e de uma forma séria:

— Não se apeguem a isso! Aqui temos um ao outro e infelizmente mais ninguém, ninguém está ao longe torcendo ou vigiando a gente; se Onilda fosse sair de Pronuntio, ela salvaria os outros, não nós, e vocês sabem disso.

Donny e Jake se calam por saberem que é verdade, lembrando até de algumas situações em que eles acabaram ficando de lado, mas, mesmo assim, ambos pensam positivo. Antes que a conversa se estenda mais, eles são interrompidos por Senda, que aparece atrás deles como que por magia.

— Rapazes!

Donny se assusta e abraça Jake por reflexo, Jake bate nele para que se afaste, e Pedro questiona Senda:

— Senhora, algum problema?

Senda olha para o sol, que está nascendo e diz.

— Lindo nascer do sol...

Os três olham com ela, e Senda diz, com mais simpatia do que antes:

— Estou orgulhosa de dizer que vocês podem entrar na Magia Electi.

— Obrigado.

Senda aponta para o pilar e ele acende, indicando que eles podem entrar. Pedro se alegra e, animado, pergunta.

— E o espantalho?

— Ele serve como um guardião que vê se vocês são dignos de entrar na magia, mas o que vocês fizeram pelos refugiados prova que o espantalho não será necessário hoje... Eu, Senda Berens, alta sacerdotisa da ilha Amici Mei, digo que vocês são dignos do teste e podem iniciar o último desafio da missão de vocês.

Os três a reverenciam e olham em seguida uma aura envolvendo o espantalho, essa mesma aura emana nas mãos de Senda, que chega mais próximo dos três e diz:

— Podem ir, mas não é por vocês serem dignos do teste, que será fácil passar por ele, lá é muito mais profundo, não há charme, carisma ou histórias falsas... Diferente de muitos que já passaram aqui, eu torço por vocês, boa sorte!

De alguma forma, eles ficam tocados pela sinceridade e carinho de Senda e agradecem.

— Obrigado!

Em um piscar de olhos, os três já estão dentro da Magia Electi.

— Incrível... Mesmo não tendo dons mágicos, eu posso sentir a imensidão do poder e da energia desse lugar.



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