Arbidabliu: Infantes Brasileira

Autor(a): Magnus R. S. Alexandrino


Volume 1

Capítulo 73: Amici Mei

— Sim, mas ficou comum com o tempo essa “forma de interagir”.

Donny também comenta:

— Sim, tínhamos que fazer isso sempre quando havia público, e assim fixou... Mas tem suas vantagens, nos treinos e nas lutas essa “Mãozinha” a mais é favorável.

— Mãozinha?

— É! Você sabe...

— Não, não sei...

— É isso... Muitas coisas ficam mais práticas com ajuda.

Pedro balança a cabeça, concordando, mas questiona:

— Mas, e se aparecer uma mulher? Uma com quem vocês queiram se relacionar, casar e ter filhos, o que farão?

— Já conversamos sobre isso.

Pedro se espanta e pergunta alto:

— Em ter filhos?

Ambos respondem juntos.

— Não! Idiota.

Pedro e Donny riem, e Jake justifica.

— Claro que não, nós já falamos sobre isso, de relação íntima e amorosa.

— Fico aliviado, apesar de que, pensando mais no assunto, não seria ruim.

Donny apoia sua cabeça no ombro de Jake e concorda com um ar pensativo:

— Verdade, “papais”...

Donny ri, e Jake puxa o ombro, fazendo Donny desequilibrar-se.

— Para com isso... Vocês dois! Eu acho que sou “sem sexo”.

Pedro estranha e comenta, rindo, achando que é uma piada:

— “Sem sexo”? Um “sem adaga”, um eunuco?

— Não! Mas que não tem interesse sexual.

— Sem interesse? E existe isso?

— Acho que sim, eu não me vejo me relacionando com ninguém, sabemos que não gosto de homens...

Jake fala isso olhando para Donny, que faz cara triste e, brincando com a situação, Jake bate nele e continua:

— Eu não tenho essa atratividade que vocês têm por mulheres. Pedro mesmo fala que a gente gasta, mas eu já vi você reservando muito ouro para cortejar algumas mulheres por aí.

— Normal, e esses galanteios com presentes melhoraram minha aproximação a elas... E você, Donny? Também é “sem sexo”?

— Não, eu sou “com espada”, e uma grande espada.

Jake arranca uns pelos da perna de Donny e, depois de reclamar da dor, ele responde mais sério:

— Eu estou brincando, relaxa um pouco, quanta tensão aqui... Mas eu me sinto diferente também, eu não sou “sem sexo”, mas, se pudesse escolher, eu queria ser “tudo”.

— “Tudo”? Tudo o quê?

— Não depender do “gênero”, gostar de homem ou mulher, poder ter atração pelos dois, entende?

Pedro olha para a bebida, como se estivesse bebido muito, e fala:

— Como assim? Vocês inventaram tudo isso?

— Não, não podemos ser assim?

— Um de vocês ser “diferente” sim, tudo bem, pode acontecer, mas vocês dois? Que grupo mais doido é esse?

— Falou o ser mais normal de Arbidabliu.

— Não! Mas mesmo assim é bem “novo” isso que vocês estão falando.

— Sim, nem sei se tem um nome para isso, mas nos sentimos assim.

Pedro se aproxima dos dois, falando mais baixo.

— Olhem! Já tínhamos antes um cuidado por vocês encenarem ser um casal Descendente de Ivo... Mas devido a esses últimos dias, começo a ter minhas dúvidas se isso não é realmente real...

Pedro ri e olha a cara que Donny faz, zombando do comentário como se concordasse que é real. Jake faz cara de poucos amigos e diz:

– Desprezíveis... Isso era para ser sério?

Pedro segura o riso e logo fala com mais seriedade.

— Desculpe, é esse idiota que não para de brincar... Mas é sério o que eu quero falar, muitas das civilizações massacram o que é “novo”, vejam que até hoje os Descendentes de Ivo sofrem, mesmo sendo aceitos e até elogiados por alguns, é melhor vocês não comentarem isso mais, esperem até a gente ver mais informações sobre isso. Certo?

— Certo... Mas o que você quer dizer com “ver mais informações”?

— Estamos em uma das dez ilhas de Electi, temos permissão de ir para algum reino aliado, podemos nos informar, já imaginou ter outros como vocês...

— Seria interessante mesmo.

— Sim! Assim podemos entender melhor e até questionar se existe um “Nome” para essa “diferença” de vocês, quem sabe naquela floresta misteriosa e tão famosa tem mais explicação.

Donny olha para Jake, que também está surpreso, e diz.

— Pedro Flavum? Impressionante, essa preocupação com a gente, esse menino está mudado mesmo, que orgulho.

Pedro se afasta e cruza os braços, vendo que os dois vão zombar dele. Jake apoia sua cabeça no ombro de Donny e observa:

— Ele não é mais um menino, é um homem e de mente e coração aberto.

Donny encosta sua cabeça com a do Jake e mostra a língua, depois de dizer.

— As águas da cachoeira são realmente milagrosas?!

Pedro frisa os olhos e questiona, olhando para os dois que estão com cara de bobos.

— Vocês já testaram? Já se beijaram para ver como é?

Os dois param com a graça, afastam a cabeça um do outro, e Jake responde.

— Não... Claro que não.

Pedro debruça sobre a mesa, encarando-os mais e questiona.

— Nem por curiosidade?

— Para de falar bobagem, curiosidade do quê?

Agora Pedro faz cara de bobo e continua seu raciocínio.

— Só acho que com essa certeza que vocês têm dessa “nova raça” ou “novo gênero”, vocês devem ter tido algum sinal para saber disso, um teste, uma experiência diferente... Não?

— Não, claro que não...

— Estranho... Donny não falou nada ainda sobre isso.

— Porque ele é um idiota e gosta de zombar de tudo!

Donny sorri e se pronuncia.

— Jake está certo, nunca houve nada do gênero...

— Viu?

Donny vira o rosto e comenta baixo.

— Pelo menos sóbrios, não...

Pedro questiona alto.

— O que você disse?

— Que papo sem noção! Vamos seguir?

Os três pagam a conta, saem da taverna, dão mais uma admirada na vila e saem dela, entrando oficialmente em Amici Mei, a capital da ilha.

— Enfim... Amici Mei.

Amici Mei é uma das dez ilhas que cercam o Grande Continente, o Electi que a rege abençoou-a para que tenha uma ótima flora, assim a maioria dos moradores se tornaram vegetarianos, por ter grande variedade de alimento frutífero e de plantio, sem precisar matar muitos animais.

Com uma ótima flora, a ilha é bela em questão de cores e diversidade floral; além disso, há montanhas repletas com flores e matas extensas, tudo bem guardado e preservado. Antes de se tornar Amici Mei, ela era Aissur, que hoje em dia se tornou uma vila comercial que cuida e recebe a maior parte dos estrangeiros.

Aissur é pequena, com muitos casarões e grandes comércios, e Amici Mei é muito grande, com casas simples e humildes para a população, tendo só como destaque um grande palácio com torres fortificadas.

O palácio é usado para estudos, ensino da população, armazenamento de itens importantes, lugar de adoração e oração, e para reuniões importantes. Ao longe dá para se ver o grande palácio. Pedro o olha e comenta:

— Realmente, muito bonito... E achamos que nem chegaríamos aqui.

— Sim... Aqueles malditos do Império atacaram nosso barco, que magias fortes eles têm.

— Ficamos presos por minutos naquele interrogatório estranho deles, mas juntos escapamos.

Jake se gaba e diz:

— Magia e música são uma combinação poderosa, ela pode ser sutil, ela pode ser bruta e sempre imperceptível para os tolos.

Donny o abraça e pede:.

— Não se gabe sozinho, eu também ajudei, “querido”.

Jake começa a brigar com Donny por tê-lo chamado de “querido”. Pedro empurra os dois e insinua, zombando deles.

— Então vocês dois salvaram a missão, sozinhos?

— Não! Teve os outros prisioneiros que se levantaram com a gente.

— Os outros? E eu?

— Pedro, assuma que você não nos ajudou a fugir de lá.

— Como se atrevem?!

— Você é nosso amigo, líder e criador de eventos, mas, por favor, seja sincero.

— Sim, mas quem fez tudo depois que saímos do barco deles?

Donny e Jake se olham pensativos, e Pedro questiona.

— Quem foi que nos trouxe para a ilha a salvo?

Ambos respondem juntos com desânimo.

— Você!

— Ótimo, então foi uma salvação em grupo, não só você! Não só vocês dois! Mas, sim, nós três! O grupo todo, com uma ótima liderança.

— E pensar que esse “grupo todo” era maior.

Jake concorda, fazendo sinal com a cabeça, mas Pedro diz sério:

— Estamos bem assim, vocês viram como terminou, não temos culpa!

Donny tenta comentar mais sobre o assunto, mas Pedro o interrompe.

— Vamos mudar de assunto, essa história já acabou há anos.

Dony e Jake demostram que sentem muito pelo que aconteceu no passado com os Infantes e continuam seu caminho com Pedro. A recepção da cidade é neutra, mas as pessoas são humildes e sempre cumprimentam com um sorriso simpático, os três andam pela cidade vendo alguns pontos turísticos, jardins, fontes, plantações, espécies raras de aves, modo de vida e ouvem um pouco sobre a história da ilha e do Electi que rege o lugar.

— Em imaginar que cada ilha tem uma história como essa, incrível...

Eles param para admirar um jogo esportivo por perto, lembram que ouviram falar que esse esporte foi inventado em Naismith, nome dado ao palácio que homenageia também os mestres de arte da época e da ilha. No final da tarde, os três chegam ao palácio Naismith e são recebidos pela regente. Os três reverenciam, e Pedro os apresenta.

— Esses são Donny Rubrum, Jake Aurantiacis, e eu sou Pedro Flavum, somos enviados de Pronuntio, reino aliado de Amici Mei, nós pedimos humildemente a oportunidade de ver o Electi, para adquirir o poder divino e provar nosso valor.

A regente tem uma guarda pequena, que aparenta ser muito experiente e forte, ela se aproxima dos três e diz:

— Bem-vindos ao palácio Naismith de Amici Mei... Eu sou Senda Berens e vou orientá-los nesse “humilde” pedido.

Senda Berens é uma mulher, humana, de oitenta e sete anos de idade, pele clara, cabelos brancos penteados em um coque bonito, com flores de cores diversas, sua altura é média, porte físico comum com sinais de que foi uma esportista quando jovem e que pratica até hoje.

A roupa dela é simples, mas com alguns sinais de nobreza, como os ornamentos, bracelete, anéis, um cinto com três joias no formato de pequenas mulheres com cores diferentes, verde, azul e rosa; e em seu pescoço um colar com um pequeno fragmento de uma gema Summa, artefato mágico que ajuda a natureza, ativando seus atributos e potencializando suas resistências.

A gema completa é muito usada para manter e aprimorar a natureza em geral. Senda caminha em silêncio com eles até a praça em frente ao palácio e questiona os três:

— Vocês foram à vila Aissur?

— Sim, senhora.

— Eu nasci naquela vila, gostaram do lugar?

— Sim, maravilhoso.

— O comércio lá cresceu muito, e chama bastante os viajantes, assim temos mais contato com as ilhas próximas e do Grande Continente... E vocês, meninos, além de aventureiros, vocês têm alguma outra “profissão”, hobby?

— Meus amigos são ótimos artistas...

— Artistas?! Que agradável! O que vocês fazem exatamente?

Jake diz entusiasmado.

— Tocamos instrumento, cantamos e até escrevemos poesias e contos.

Senda fica admirada e questiona Pedro:

— E você, não compartilha desse gosto?

— Eu ajudo a administrar e a liderar as aventuras, e também sou um fã e admirador da arte deles.

Donny e Jake se olham e seguram o riso, para não dar indícios que Pedro está exagerando nos comentários. Pedro olha feio para eles, sem que Senda veja, e comenta com ela.

— Eu percebi que vai ter uma festa ou reunião aqui na praça em frente ao palácio, se a senhora permitir, nós poderíamos mostrar nossos talentos antes da missão Electi.

Senda para, olha para eles, olha para a praça e diz:

— Não...

Ela continua o caminho e eles ficam parados sem reação, logo Donny e Jake olham a cara de bobo que Pedro está fazendo depois da negação de Senda, e riem sem parar. Ele fica bravo, mas, quando Senda olha para trás, ele disfarça.

— E sobre a missão?

Pedro a alcança e questiona novamente.

— A missão, quando poderemos começar?

Senda aponta para uma plantação perto de um morro e informa:

— Aquela plantação é próxima da costa e da floresta, muitos vêm de longe para roubar e alguns animais da floresta daqui abusam de seu próprio lar, como amamos a natureza, nós ajudamos os animais, mas alguns não têm noção de proporção de seus próprios consumos. Nessa plantação tem nosso querido “espantalho”, um guardião mágico criado por nós e aprimorado pelo Electi, para guardar a entrada da Magia Electi que você busca.



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