Arbidabliu: Infantes Brasileira

Autor(a): Magnus R. S. Alexandrino


Volume 1

Capítulo 72: Pedro, Donny e Jake

Manhã, 9 de setembro 1590 – Amici Mei, Cachoeira da Vila Aissur.

Na ilha Amici Mei, uma das dez ilhas que cercam o Grande Continente e que é regida por um dos dez Electi da geração atual, há a vila Aissur, ela é famosa por ter uma bela e grande cachoeira, que quebra a água em outras cachoeiras menores, criando águas termais ou rios com uma grande variedade de peixes.

Para manter o bom estado delas e a preservação da natureza ao redor, os moradores fizeram uma casa de banho para que viajantes e até habitantes da ilha aproveitem o ambiente, além de existirem boatos que dizem que as águas trazem boas vibrações e positividade.

— Incrível como essa água é limpa, mas não é estranho? Pois quem vem aqui, se banha e usa essa água e acaba sujando ela.

— Sim, mas antes que a sujeira atinja a natureza ou o mar, eles a tratam com poções e até magia para mantê-la limpa.

— Legal!

— Por isso eles cobram muito ouro ou mão de obra, com isso eles usam para manter esse lugar “sustentável”.

— “Sustentável”? “Fenomenal, rapaziada”, quanto mais próximos vocês dois ficam, mais elegantes e inteligentes se tornam.

Donny sai de baixo da água e questiona alto:

— Pedro Flavum elogiando? Ou é sarcasmo?

— Não pode ser os dois? Fica a reflexão?

Pedro, Donny e Jake estão nus em uma área reservada na cachoeira, eles estão relaxando e se banhando, depois de alguns eventos arriscados que passaram antes de chegar à ilha.

— Amici Mei... Finalmente chegamos...

— Bem, e com tempo para esse lazer “fenomenal”!

Eles riem, e Jake comenta.

— Saudades do nosso mestre de luta, ação e animação.

Essa área reservada deles é pequena, assim como a maioria das áreas para comportar um número bom de clientes, os três têm um bom espaço, mas Donny e Jake ficam mais próximos e quase sempre se abraçando e rindo baixo. Pedro fica analisando de longe e questiona:

— Não tem ninguém olhando, por que vocês dois ainda fingem esse “casamento”?

— Já nos acostumamos com essa aproximação, e você é culpado por isso!

— Eu, por quê? Eu só vi um futuro rentável na chacota que faziam de vocês dois, por sempre viverem juntos.

— Você vivia com a gente e não era citado.

— Por que eu revidava e batia com quem mexia comigo, com o tempo vocês só ouviam e não revidavam.

— O valentão! Isso mudou até, você está mais “civilizado”.

Jake zomba, dizendo:

— Está mais humanizado!

Donny e Jake riem, e Pedro diz.

— E vocês não pregavam peças e armadilhas para os outros alunos não? Vocês falam como se só eu fosse bagunceiro.

— Nós, alunos de Onilda? Jamais.

— Nessa época, sim, e mais quando mudamos de mestre, não se façam de idiotas.

— Foi uma coisa e outra...

— Sei... Mas até que vocês evoluíram, o que houve?

Donny pensa com ar de seriedade e diz:

— Nosso casamento nos mudou.

Jake bate em Donny, enquanto Pedro ri alto e diz.

— Faz sentido... Mas vejam, desde que iniciamos nossa missão, eu vejo a gente tomando atitudes diferentes do que o nosso comum, deve ser algo bom.

Jake coloca a cabeça de Donny debaixo da água, como quem quer afogá-lo como punição pelo que ele disse, e fica pensativo com o que Pedro falou.

— Não tinha reparado nisso... Mas de fato estamos tendo ações mais admiráveis do que de costume.

Donny escapa, joga Jake para fora da água e diz:

— Nós crescemos, normal agente agir como adulto.

Donny sai da água e corre atrás de Jake para jogá-lo na agua e “afogá-lo” também. Jake corre, escorrega, reclama e responde:

— Verdade, amadurecer faz parte do crescimento.

Nessa correria, Pedro diz com ar de desapontado:

— É... Me enganei, vocês continuam imaturos.

Donny e Jake pulam em cima de Pedro, que reclama após sair da água.

— Infantis! Bobões!

— “Bobões”? Você já foi melhor em ofensa.

Pedro faz gesto como se fosse atacá-los, e eles recuam.

— Certo, certo, não está mais aqui quem falou...

— Vamos para a etapa final desse lugar, antes de continuar nossa missão.

Dentro desse mesmo estabelecimento há uma casa a vapor, uma sauna para os clientes, poções mágicas são usadas para deixar o ambiente agradável e com propriedades curativas, além de melhorar a pele e o sono.

— Realmente... Maravilhoso.

— Pronuntio deveria ter algo assim... Divino...

A casa a vapor é bonita e grande, ela é dividida para seres do sexo masculino e feminino humanos, e outros setores para atender raças diversas do mundo. Em pouco tempo nessa casa, os corpos ficam temporariamente mais relaxados, brilhosos e, com isso, mais atrativos. Donny aproveita esse efeito temporário e elogia:

— Jake, seu treinamento deu resultado mesmo, quem diria que um músico seria forte e com um corpo tão atraente.

— Você também, para quem falou que nunca teria um corpo de dar inveja, está bem definido.

Pedro olha bravo e diz:

— Nem aqui vocês param com isso! Parem de se bajular.

Ambos riem, mostrando que estão fazendo isso para provocar Pedro. Jake senta-se no colo de Donny e opina:

— Melhor ficarmos assim para sobrar espaço.

— Sim... Além de deixar o clima mais quente.

Os dois riem, e Pedro tampa seu rosto com uma toalha, como se fosse dormir no lugar de ver toda essa zombaria deles.

— Prefiro enfrentar um mar em fúria novamente ou outra missão longa como essa a ver esse melaço de egos carentes de vocês.

Jake levanta e escorrega. Caindo novamente no colo de Donny, mas acerta suas partes baixas, fazendo-o gemer de dor.

— Desculpe...

Jake massageia a área afetada, por impulso, para que diminua o desconforto, e Donny ri, afastando-o.

— Não, não precisa fazer isso! É melhor parar...

Um homem bem forte e alto tinha entrado na área deles sem ser percebido, ele viu o acontecimento, se aproxima dos dois e diz bravo.

— Mulheres têm que ficar na área delas!

Ao olhar para cima, o homem vê que Jake é um homem com belos cabelos compridos e fica mais bravo ainda.

— Um homem? Você é um daqueles nojentos que ficam com outros homens do Grande Continente?

Donny e Jake ficam bravos, mas, antes de responder, Pedro joga a toalha de seu rosto no homem, fica em pé na pedra em que está sentado, para ficar da altura do homem, e diz num tom forte e de briga.

— E se forem? Qual o seu problema com isso?

O homem se aproxima querendo brigar e diz.

— Você está com eles? Bicho feio.

Em resposta, Pedro bate na garganta do homem e em seguida dá um soco no rosto; por ser forte, o homem aguenta bem e contra-ataca. Donny e Jake o ajudam, derrubando o grandalhão, que retruca:.

— Então vocês querem briga de grupos.

O homem mira seu golpe em Jake, mas Donny recebe o golpe por ele, Jake contra-ataca e afasta o homem, que chama outros para ajudá-lo. Um grupo de cinco homens se aproxima e Pedro os aborda antes de iniciar a luta.

— É isso? Os moradores de Amici Mei zombam de nós e ainda querem nos agredir?

Um deles parece mais sensato que os outros, além de ser o mais velho e baixo do grupo. Esse senhor faz sinal para que todos parem e questiona o grandalhão.

— O que houve?

— Eles me ofenderam, exibindo essa imundície estranha do Grande Continente.

Pedro fica nervoso, com vontade de avançar e bater no grandalhão, mas ele se segura e questiona:

— Explica para eles como aconteceu, e o que você diz como “imundície estranha”?

— Calado, maldito!

O senhor do grupo está desconfiado de Pedro e se aproxima dele. Ele diz sério e encarando-o.

— Aqui na ilha temos métodos mais claros para resolver situações parecidas. Se você se acha injustiçado e realmente não fez nada de ruim, nós podemos colocá-lo no nosso tribunal, você aceita passar pela magia “antimentirosos”?

Sem pensar duas vezes e com rapidez, Pedro afirma, encarando o grandalhão.

— Com certeza! Seria um prazer conhecer esse poder de detecção de mentira, mas será que seu amigo quer passar por isso?

O senhor olha o grandalhão, que recua e se cala, mostrando que ele que iniciou a confusão.

— Entendo...

O senhor olha com decepção, se aproxima, pede para que o grandão se abaixe um pouco e bate na cara dele.

— Não temos tempo para brigas inúteis! Voltem.

— Mas eles...

— Eles o quê? Vai contar o que realmente aconteceu?

O grandalhão sai com outros, e o senhor, de uma forma mais amigável, diz para Pedro e os outros:

— Me desculpem o inconveniente e a suspeita, normalmente as confusões são causadas por estrangeiros.

— Tudo bem, bom que esse problema não se estendeu.

— Obrigado...

O velho sai do lugar sem comentar mais nada. Jake ajuda Donny a ver se ele se machucou, e Pedro pede.

— Vamos sair daqui e comer algo.

Em uma taverna simples, os três voltam a conversar, Jake elogia Pedro.

— Anos atrás você não agiria assim, realmente evoluiu.

— Verdade, eu era muito mais temperamental, preguiçoso, viciado em festas, bebidas e mulheres, e avarento.

Donny ri e replica.

— Você ainda é preguiçoso e avarento.

— E você continua viciado em jogos de azar.

— Eu não, Jake que é assim, eu só o acompanho.

— Mentira!

Donny e Jake trocam socos fracos em seus ombros ou braços, e Pedro diz.

— Pelo menos em batalhas vocês ficaram melhores, bem melhores.

— Você também, ou iniciou a vida sendo “o melhor de todos”?

— Não diria “melhor de todos”, mas “melhor” se encaixa bem comigo.

— Você vai pagar a comida hoje?

— Vou! Por quê?

— Então eu concordo com você, você é “fenomenal”!

— Interesseiros! Isso prova que não sou avarento.

— Você vai pagar hotel de luxo?

— Não abusem!

Donny e Jake riem, e Donny fala.

— Sempre ficamos juntos e economizamos muito, e é você que ganha e administra nosso ouro.

— Você fala como se suas apresentações dessem muito ouro.

— E dão sim! Essa época, com mais batalhas e rixas com o Império, deixa a arte e a música mais procuradas e em destaque, pois é algo diferente e atrativo. Outra coisa, nessa época tem pouca concorrência.

— Sim, mas e quanto vocês dois gastam?

Donny e Jake se olham, e Pedro diz, encarando os dois:

— Falem! Eu sei! Esses jogos a que vocês vão, hotéis de luxo, além de presentes que vocês dão um ao outro em público, para ganhar popularidade.

— Tudo para deixar nossa fama marcada e atrativa.

— Mas essa “marca” gasta uma boa parte do que vocês ganham.

— O importante é que não estamos pobres.

— Sim, porque eu cuido do ouro de vocês.

Donny e Jake levantam-se, colocam suas cadeiras uma de cada lado de Pedro e o abraçam.

— Claro, nosso líder favorito e melhor amigo cuida de nós.

— Larga, me larguem! Seus bajuladores interesseiros.

— Não fala assim da gente, até parece que você não nos ama.

— Não do mesmo jeito que vocês se amam.

— Você sabe que é tudo falso para os fãs...

— Tem momentos que eu duvido disso.

Pedro faz um olhar desconfiado, e Jake briga com ele.

— Para com isso! Você sabe a verdade!

— Eu sei?

— Sabe, sim! Aliás, foi tudo sua ideia.

Donny olha com um belo sorriso para Pedro e pede, dando outro abraço:

— Obrigado por ter nos ajudado na casa de banho.

— Somos amigos, ofendeu vocês, me ofendeu também.

Jake abraça os dois e diz:

— Depois daquele caos que passamos no mar, antes de chegar aqui foi horrível. Bom que sempre estamos juntos, obrigado, vocês dois.

Pedro olha para os dois, dá um sorriso curto e fecha a cara novamente, empurrando os dois do abraço.

— De novo, como vocês gostam de tocar e tocar.

— Você que é ríspido.

— Sou sim e estou bem com isso, agora terminem de beber porque precisamos seguir.

Depois de satisfeitos, Pedro olha Donny e Jake, que novamente fazem brincadeiras bobas com intimidade que lembra um casal. Pedro estranha e pergunta:

— Vocês realmente entraram no papel?

— O que você quer dizer?

Pedro aponta para as mãos deles e lhes lembra:

— Até para comer vocês colocam comida um no prato do outro, abrem garrafas, limpam a sujeiras, essas coisas bobas.

Eles pensam, e Jake esclarece:

— É mais um companheirismo que se criou, não é nada demais. Lembro que no começo eu achava estranho mesmo, tanto que nosso amado líder fez uma lista de gestos e coisas para se fazer na frente dos outros. Você anotou tudo do Júlio e Doug, e aqueles outros dois que esqueci o nome.

— Aqueles outros dois eram sinistros...

— Sim, mas ficou comum com o tempo essa “forma de interagir”.



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