Arbidabliu: Infantes Brasileira

Autor(a): Magnus R. S. Alexandrino


Volume 1

Capítulo 69: Pastor de ovelhas

Eles voltam para a parte dos visitantes, Tokonoma, satisfeitos pelo dia e esquecem a desavença que tiveram no castelo. Entrando no hotel, Romanze comenta com Taikuri:

— Já que a tarde foi agradável, poderíamos deixar a noite prazerosa, o que acha?

Taikuri olha com malícia e responde:

— Gostei... Prazer não para a mente, mas também para o meu corpo.

Os dois sobem animados e, sem ver ninguém no caminho, eles dão alguns beijos e agarradas no caminho até o quarto. Entrando no quarto, eles encontram Winton que os espera. Taikuri desanima pela interrupção e questiona bravo.

— O que faz aqui?

— Me desculpem. Eu estava esperando vocês voltarem, preciso muito da ajuda de vocês.

— O que houve?

— Vejam!

Winton mostra vários pergaminhos e alguns livros que está organizando e explica.

—Tokei Tensho me confidenciou esses documentos, que mostram a magia deles, a magia de proteção que vocês mencionaram na reunião.

— O que tem ela agora?

— Ele também tem receio da forma que ela foi feita e pede que o ajudemos, entendendo melhor como ela age e como podemos deixá-la mais forte.

— Tenha cuidado, Winton, e se formos usados para aprimorar esse poder e depois eles nos traírem e nos matar?

— Eu pensei nisso, já que saberíamos de um segredo tão importante do reino. A nossa existência e conhecimento podem trazer perigo e desconfiança, mas também é uma forma de mostrar vínculo e aliança.

— Otimista como sempre.

— Temos que ser. Por favor, me ajudem, eu conheço sobre magia e encantamentos, mas a visão de vocês, que são especialistas, ajudará mais, irá agilizar o processo.

— Está tão tarde...

Taikuri olha chateado para Romanze, sabendo que eles iriam brincar à noite, se envolvendo mais em suas intimidades.

— O que você acha?

Romanze não vê alternativa e concorda:

— Vamos ajudá-lo, é o melhor a se fazer agora.

Winton fica muito agradecido e os informa da conversa que teve com o rei Tokei, depois da saída deles. Eles veem que Winton os defendeu e os elogiou, para que a visão do rei fosse mais limpa e sem preconceitos.

Winton fala seu plano de aliança e comenta mais pontos que ouviu dos conselheiros sobre a magia e o artefato pego do Império. Os três passam a noite conversando e analisando os dados passados pelo rei para que entendam melhor o poder de defesa do reino e como podem melhorá-lo.

Com o tempo esse trabalho fica cansativo e monótono, eles verificam datas, itens, rituais, entrada e saída dos mágicos, conselheiros e guarda no reino, além de analisar encantamentos comuns e do Antigo Mundo usados para incorporar o poder defensivo de Edo.

Eles descansam um pouco pela manhã e acordam no início da tarde para ter outra reunião.

— Agradecido, rapazes, a ajuda de vocês é sempre crucial.

— Estamos aqui para isso... Só me diga que vamos resolver isso o quanto antes.

— Com tudo que achamos, isso deve acabar hoje...

— Ótimo!

— Vamos comer algo antes...

— Sim! Um desjejum reforçado.

Assim que Winton sai do quarto, Taikuri se joga em cima de Romanze.

— Até ele pedir a comida, podemos desjejuar outra coisa!

Romanze não está muito animado e rebate:

— Estou cansado, trabalhamos muito e estou sem comer nada.

— Sabe dos rituais sexuais que já fizemos, dá para de dar energia, motivação e prazer, tudo no mesmo “ato”!

Romanze reverte as posições deles, coloca Taikuri imobilizado e diz, chegando a seu ouvido.:— Você está querendo tanto isso? É?

Taikuri coloca sua língua para fora e umedece seus lábios, indicando que deixará outras coisas úmidas.

— Sim, eu quero...

Antes que faça algo, Winton entra no quarto com muito entusiasmo.

— Esqueci que ontem eu já tinha pedido comida para nós, já está pronto, rapazes!

Os dois se soltam sem que Winton perceba a agarração deles, e antes de Taikuri ofender Winton, Romanze intervém, passando ânimo.

— Que bom! Vamos comer, então, obrigado Winton.

Taikuri fica de cara fechada todo o tempo, mesmo com Winton sendo amigável. Ele traz muita comida e bebida para eles, entre elas, uma bebida doce, “Nom Yen”, bebida típica da Floresta de Pando, uma forma de agradar mais seus guarda-costas. Winton percebe que os dois estão distantes nos pensamentos e expõe uma dúvida enquanto comem.

— Sabem... Passamos semanas juntos, eu percebi o receio que você tem dos humanos, mas eu não sei a causa disso, exatamente.

Taikuri e Romanze se olham, e cada um fala algo, complementando a resposta.

— Claro que sabe. O fato de eles tratarem uns aos outros como lixo, sendo que todos são. Isso nos causa revolta, ainda mais os que são mais lixos que outros.

— E! Por sempre odiarem o que temem ou não entendem. Veja os gays, por exemplo, entre tantas outras formas de vida, sempre terá um ódio desnecessário em cima do que é diferente deles, todos têm que seguir o que eles querem.

— Entendo. Então o problema maior são eles não aceitarem “vocês”?

— Podemos dizer que sim, Deus, o criador deveria ter feito melhor as coisas.

— Me desculpem confrontá-los com isso, mas não vejo em Deus o “culpado”.

— Não queríamos dizer isso, sabemos que existe muito além da visão mortal, e esses humanos não ajudam.

— Sim, mas é sempre bom tentar enxergar essa visão divina e imortal das coisas... Eu entendo o que vocês sentem contra vários seres e coisas do mundo, mas eu sou convicto de que, se andarmos na direção certa e poder levar todos possíveis conosco, o mundo será um lugar melhor de se viver.

— Sim, muitos pensam assim, e como saber qual o caminho certo? O desejo de Deus?

— Isso! Vocês sabem a resposta, por que não abraçam melhor essa ideia de mundo?... Ou menos, por que não abraçam a ideia desse plano que foi colocado para vocês?

— Estamos dando o máximo de nós, ou não?

— Estão sim, mas eu sinto que vocês não veem esperança nisso, não veem amor ou não fazem com amor.

Taikuri resmunga baixo:

— Eu queria fazer amor, mas você atrapalhou.

— O quê?

Romanze esbarra em Taikuri e volta ao assunto principal.

— Taikuri quer saber do senhor, como nós poderíamos ter uma visão “melhorada”? mais otimista, assim como a sua.

Winton pensa um pouco, olha pela janela e, sorrindo, diz.

— Já sei, vou contar como eu fui ensinado, por favor, apresentem a atenção, pois é confirmado por Electi.

— Certo... Diga.

— Pense no Criador como algo mais simples, um pastor de ovelhas, por exemplo.

— Analogias agora não.

— Por favor, me permitam explicar assim.

— Certo, continue.

— “Pastor de ovelhas”, acredita-se que esse pastor, que criou e fez essas ovelhas, “saiu”, se afastou, e as ovelhas com o tempo foram se multiplicando mais e mais surgindo, entre elas mais diversidade. Variáveis delas, não só brancas, não só brancas e negras, mas ovelhas de todas as cores por toda parte. Agora vejam! Elas não podem sair do cercado, pois coisas ruins podem acontecer com elas... Vocês, por serem devotos do pastor e por ele ser superior, vocês não o ajudariam? Vocês não ajudariam o pastor em sua causa de cuidar? Por ele ter lhe dado a vida? Ou simplesmente por amor a ele?

— Sim, parece justo, mas não é tão simples assim.

— E não é! Bom que estão entendendo o que eu quero passar... Agora vejam a realidade por trás do “achismo” de muitos. Há realmente várias ovelhas diversas ali, mas não existe cerca, pois o pastor as fez para serem livres, e o pastor nunca foi embora, ele sempre esteve e estará lá para as ovelhas. E, por mais incrível que vocês passam imaginar, eu não sou e nem me acho superior, eu também sou uma ovelha como todas as outras... Infelizmente algumas se sentem mais importantes que outras, mas somos todos iguais... Eu sou a ovelha que direciona as outras para próximo do pastor, pois há muitas outras que criam, sim, cercas que deixam presas elas mesmas e muitas outras, fazendo com que essas fiquem pobres de mente, corpo e até de alma.

— Você diz que fomos colocados em uma cerca?

— Não, mas infelizmente vocês tiveram que criar a própria cerca, por segurança, por medo, por obrigação, porque muitos que acham que entendem o amor divino “acham” que vocês são inferiores ou indignos, sendo que a decisão e julgamento sempre estarão na mão do pastor. Por isso não somos superiores, somos diferentes! E a diferença é a beleza da criação, é só ver a flora e a fauna, acha que os seres pensantes ou, como vocês mesmo dizem, “Os seres que acham que pensam”, seriam diferentes? Sempre iguais e se limitando.

Eles ficam em silêncio, refletindo sobre a conversa, e Winton continua.

— Muitos de vocês, por pressão, acabam acreditando que é são criações que deram errado, ou que foram criados por outro ser e não pelo “pastor”. Tolos, tolos aqueles que acham que o livre arbítrio está só nas suas ações. Ações do ser em seu estágio adulto, em um ser formado e completo, não. Esse é um grande engano, pois o livre arbítrio vem também das ações, escolhas e consequências de quando estamos nos formando, por quem está nos orientando ou criando, e várias possibilidades estão abertas já na formação do ser, com seu progenitor e genitora, podendo ter ou não tudo que um ser precisa para viver bem, ser ou não igual à maioria. Essas variedades de poder, raças e criaturas, todas elas, todas estão e saíram do livre-arbítrio determinado pelo pastor que, assim como eu, não quer que se afastem dele e que não odeiem uns aos outros.

— Sim... Entendemos, mas como abraçamos aqueles que nos querem mal?

— Infelizmente não podemos dar o que não temos, se alguém não tem amor, ele não pode dá-lo...

Taikuri e Romanze ficam impressionados com as palavras de Winton, que sente a positividade que está causando, e continua com mais animação:

— Eu sei que vocês têm muito potencial, sabedoria, amor, entre outras virtudes que podem ser compartilhadas e multiplicadas através do “Desejo de Deus”, não é fácil, é difícil mesmo, às vezes até parece impossível. Nessa missão em que estamos, vocês viram quantos desaforos eu tive que ouvir e continuar calmo e humilde, para atingir um pouco de bom senso daqueles que estão fechados para o mundo ou até para eles mesmos.

— Não gostamos de admitir, mas você tem um bom ponto e argumentos fortes, vemos como converteu tanta gente até aqui...

— Por favor...

— Certo, faremos o máximo agora para entender melhor e agir conforme seu plano e tudo isso que você falou... Ouvir e tolerar mais esses seres sem mente ou amor para dar.

— Podemos até preenchê-los com amor e torná-los bons e trazê-los até o “pastor”.

— Concordamos, agora vamos sair dessa analogia de ovelhas e “pastoril”.

Winton fica feliz e os abraça forte.

— Obrigado, fico feliz por estarmos nos familiarizando mais.

Taikuri olha o anel de Winton e questiona.

— Já que estamos melhores amigos, você poderia nos dar o anel, não?

Winton ri e comenta, apontando o dedo para eles.

— Não abusem! Vocês sabem bem qual foi o combinado com Úrsula.

— Sim, mas não custava tentar...

— Vejo que estão com o humor melhor, querem ir para a reunião comigo e já pôr em prática o que vocês acabaram de concordar?

— Não! Vamos prometer para o próximo lugar, pode ser?

— Próximo?

— Sim! Já não fomos com a cara daqueles conselheiros, e no que lemos nessa madrugada vimos que alguns erros foram cometidos, não queremos mais desconfianças, lembre que estamos sem dormir, podemos ficar de mau humor rápido e gerar confusão.

— Viu! Vocês também são bons de lábia.

— Não, só queremos um momento mais “confortável”... O senhor Winton Vitório pode nos dar isso essa tarde, à noite, ou melhor! Amanhã você comenta como foi a reunião e quando partiremos.

— Vocês fizeram um ótimo trabalho na noite passada, podem ficar tranquilos por hoje, só os incomodarei se tiver algum imprevisto.

— Que o “Desejo de Deus” ajude a não ter nenhum imprevisto.

Winton ri e, se arrumando para sair do quarto com os itens da cozinha, comenta.

— Não se preocupem. Vocês irão descansar bem, eu pedi para colocarem algo especial no desjejum, assim vão dormir mais fácil.

Taikuri força o sorriso e comenta, sabendo que isso atrapalhará a intimidade que tanto quer ter com Romanze.

— Hoje não é o meu dia...



Comentários