Arbidabliu: Infantes Brasileira

Autor(a): Magnus R. S. Alexandrino


Volume 1

Capítulo 66: Winton Vitório

A noite está fresca e tranquila, com o céu aberto, que deixa a luz das luas banhar o reino fazendo-o ficar mais deslumbrante. A rotina noturna da população de Edo é reservada e caseira na maioria das noites, e esse é um dia mais silencioso e calmo. Romanze, olhando pela janela, elogia:

— Edo é bem interessante, calma...

Taikuri o abraça e, olhando pela janela, comenta.

— Mas tem dias de comemoração que quebram esse ar “reservado” deles.

A vista da janela do quarto é ampla, podendo-se ver boa parte da área Tokonoma do reino; por ser uma área alta, o vento que entra deixa o clima gelado.

— Sim... Estamos em uma noite boa, vista boa, e um quarto adequado para nós.

— Em vista dos últimos lugares, eu diria que esse quarto e ótimo.

O quarto é grande, confortável, bem arejado, limpo, e organizado, há poucos moveis só o essencial; no lugar de uma cama grande com estrados, cabeceira e pés, tem um estofado grande com travesseiros, em cima de uma placa de madeira grossa e maior que o estofado. Romanze colocou algumas velas, que comprou no reino, em vários locais no quarto, e Taikuri trouxe na viagem alguns cremes e óleos para a pele e músculos.

— Vamos aproveitar essa noite antes que comecem os dias de diplomacia, estudos e turismo do reino antes dos tratados de aliança.

Romanze acha engraçada a forma como Taikuri está reclamando da missão deles e comenta:

— Não está sendo tão ruim assim.

— É ruim dependendo do lugar, já passamos por lugares chatos, estressantes e, o pior de tudo, sem tempo para esses momentos que nós tanto amamos... Não?

— Verdade.

Taikuri despe Romanze e o coloca deitado na cama, ao perceber que o frio agora incomoda seu parceiro, Taikuri usa magia para fechar a janela, e para iluminar o quarto ele energiza suas mãos e, ao abri-las com os braços, ele conjura:

— Bioluminescência!

Esse encantamento cria pequenas esferas luminosas flutuantes pelo quarto, que parecem vagalumes mágicos, ao gosto e imaginação do conjurador, elas podem adquirir várias cores e até formas diferentes.

Por Taikuri querer criar um ambiente romântico, ele faz com que o encantamento adquira cores calmas e com intensidade de luz baixa, algumas delas se transformam em chamas e acendem as velas que Romanze colocou no quarto. Taikuri usa creme e óleo no corpo de seu amado para massageá-lo.

Romanze usa magia para vedar o som do quarto e para trazer na lembrança dos dois sons tranquilos de floresta, cachoeiras e dos pequenos animais que vivem nesse lugar, com isso eles sentem como se estivessem no meio da natureza. Taikuri sorri ao ver que o som traz boas lembranças.

— Nostalgia...

Depois de um ar de satisfação, Taikuri observa.

— Eu me lembro desse dia, fenomenal! Eu fico feliz em saber que esse dia também marcou para você.

— Sim, foi nossa primeira vez “romântica”.

— “Primeira vez romântica”? Sempre fazemos com romance.

Romanze ri e diz, fazendo gestos com as mãos, lembrando algumas brincadeiras sexuais que os dois já fizeram, e conclui:

— Isso não é romântico!

Taikuri rebate, tentando passar seriedade, mas não consegue.

— Para mim é romântico, sim, tudo com você é romântico.

— Sei...

Taikuri usa magia para ativar melhor as prioridades do creme e do óleo, deixando Romanze em um estado de relaxamento total. Romanze sente até seu poder mágico se ampliar e seu corpo a formigar com o efeito, a massagem tira o formigamento e o faz descansar ao ponto de sonhar.

O clima preparado pelos dois faz com que o sonho seja breve, tranquilo, e com Taikuri presente nele. Taikuri está feliz por saber que está deixando tudo bem e gostoso para seu amado; mesmo dentro do sonho, Romanze consegue dizer consciente dos seus sentimentos e emoções.

— De tantas coisas que já estudamos... Vimos, ouvimos e lemos... De tanta coisa ruim e trágica... Eu agradeço por você ter me encontrado... Ter insistido para que ficássemos juntos...

— Bom que você sabe que eu estava certo e você, errado, em começarmos esse amor.

— Eu achei que você só queria... “Acasalar” comigo.   

— Não diz isso, é “fazer amor”... E você gostou muito desde que começamos.

— Eu te amo.

Taikuri fica surpreso pela declaração sem rodeios e diz, enquanto vira o corpo de Romanze e o beija.

— Eu também te amo... Meu Pândego!

— Bom ter alguém que melhore meu humor, minha saúde mental, física... Você... Bom ter você para aumentar minha moral e me fazer sonhar mais e mais, sentir melhor os sentidos da vida... Viver mais grato e com mais otimismo... Incrível como é amar alguém cheio de defeitos... E de virtudes...

— “Cheio de defeitos”?!

— Aquela sensação de estar completo é verdade quando estamos com alguém assim, como você, Taikuri Valta.

— Eu também amo você, Romanze Kraft, meu amado “cheio de defeitos”!

Romanze desperta e agarra Taikuri. Entre carícias e beijos, ele também despe Taikuri e massageia as partes intimas de seu amado com o óleo que está em seu corpo.

— Já que tudo que fazemos é romântico, está na hora de romantizar mais esta noite.

Taikuri gosta da atitude de Romanze e o agarra com mais força.

— Certo, vamos deixar essa noite mais quente.

Ambos se beijam e massageiam seus membros, que cada vez mais atingem o auge do prazer e desejo deles.

— Isso! Vamos nos amar agora e sempre.

Os movimentos, beijos, olhares, carícias e sons dos dois são mais calmos do que o de costume, ambos focam em relembrar momentos mais românticos e simples que viveram, sentindo mais o prazer de estarem juntos do que o prazer carnal em si e isolado.

— Tantas aventuras... E você sempre fazendo parte e me ajudando a passar por elas.

— Graças a você a felicidade é dobrada e a dor diminuída... Estar com você é sentir que Deus fez um mundo para sermos felizes... E amar...

— Sim... Queria que todos pudessem sentir esse amor e carinho que temos um com o outro...

Taikuri costuma dizer palavras mais ousadas e safadas nesses momentos íntimos, mas o clima também o deixa mais tímido e reservado, até as buscas e a exploração do corpo do companheiro é mais delicada e afetuosa, gerando mais sorrisos e aconchego do que prazer intenso.

Eles fazem amor, e, mesmo de uma forma mais inocente, Taikuri usa seu conhecimento do seu prazer e de Romanze sem abusar de posições ou gestos mais depravados; tudo é bem confortável e extenso dando-se mais apreço aos beijos e olhares que eles oferecem um para o outro, beijos que dizem que um quer o outro agora e sempre, e olhares que dizem muito do passado, presente e o que querem do futuro.

Até o óleo que Taikuri trouxe facilita no envolvimento do seu prazer junto ao do seu amado, que elogia:

— Você podia usar esse óleo e essa forma sempre... Quase não sinto dor.

Taikuri olha com mais ousadia e diz, com tom prazeroso.

— Não! Tem certas “dores” que trazem mais prazer e “conquista”... Compartilhamos tudo, você também gosta. Dominação, amor, prazer... Quando for a sua vez, eu também vou gostar dessa “dor”.

— Não vejo a hora disto...

Ambos passam um momento incrível e mágico juntos, o clima do reino e da missão traz lembranças boas e fazem querer criar mais delas.

Depois de mais juras de amor, carinho e prazer, eles gozam e se banham em seguida, tendo mais um momento doce e meigo antes de dormir.

 

Tarde, setembro 1590 – Edo. Tokonoma.

Na manhã seguinte Romanze e Taikuri se beijam, olham a boa vista de Edo pela janela e vão até o quarto ao lado do deles, batem na porta e chamam:

— Winton? Você já...

— Sim, podem entrar.

Os dois entram e veem que Winton já está pronto para a sua programação do dia.

— Ótimo, vamos levá-lo até a reunião, vai precisar de algo a mais?

— Não, eu estou bem... Espere, pensando bem, vocês dois poderiam me acompanhar?

— Você diz, na reunião?

— Sim, eu sei que no início eu falei que não precisavam ir às reuniões, mas nenhuma das cidades ou vilas vocês quiseram. Como esse reino é importante, e eles buscam seu reconhecimento na grande reunião dos líderes do Grande Continente, será importante a presença de vocês lá.

Romanze e Taikuri não estão muito animados e reforçam o questionamento.

— O senhor acha mesmo?

— Sim, seria uma boa forma de dizer que Pronuntio os apoia inteiramente, devem saber que pequenos gestos mostram grandes significados.

— Você e seus dizeres diplomáticos, mas... Certo, iremos acompanhá-lo na reunião.

— Eu fico grato por isso... Vamos?

Winton é um homem, humano, preto, idade aparente de cinquenta anos, estatura média, porte físico comum, cabelos crespos e bem curtos, barba rala e bem desenhada com navalha, olhos escuros, e possui marcas e cicatrizes em seus punhos, mostrando que foi acorrentado por muito tempo há muito tempo atrás.

Suas vestes são simples, mas com características nobres, de material comum entre aldeões, mas de corte e costura conforme o estilo de roupas de alto nível social, o único ornamento que ele possui é o Karpanen, o anel grande e pesado do clã Karpanen, esse anel tem uma joia azul em forma de mosca com asas de ouro, que emana um poder singelo e que está conectado com Romanze e Taikuri.

— Eu não estou familiarizado com a comida deles, mas com o tempo devo apreciar melhor.

Os três saem do hotel e seguem para o seu destino. Romanze volta a comentar:

— Muita pimenta, pouca carne, muita mistura, muito caldo...

Taikuri ri e o interrompe.

— Sabemos que você não é fã dessa comida, mas, veja, passamos por tantos lugares nesses meses, em breve estaremos longe, e você poderá comer algo do seu gosto.

— Assim espero.

— Só tente não comentar muito, estamos em uma missão diplomática, não queremos atrapalhar a vida do senhor Winton.

— Não se preocupem, rapazes. Tudo está indo bem, felizmente nenhum infortúnio apareceu desde que iniciamos a missão.

— Eu prefiro o termo “Obrigação” no lugar de “missão”.

— Já falamos sobre isso, temos mais três destinos, falta pouco. Depois disso eu darei o anel que os “Obrigam” a seguir corretamente a missão dada por Úrsula.

— Poderia nos dar antes, não confia na gente?

Romanze pega na mão de Taikuri e diz para Winton:

— Não precisa, senhor Winton, estamos bem em seguir com a missão.

Taikuri está emburrado por essa missão ser uma espécie de punição por algumas atitudes hostis e divergentes que cometeu junto a seu parceiro Romanze em Pronuntio. Percebendo que fez um comentário infeliz novamente, Taikuri se desculpa.

— Me desculpe, Winton. O clima desse lugar mais essa “Missão” me deixam “desgostoso”... Tenho receio desse lugar, a guarda que tínhamos teve que ir para o próximo destino porque aqui eles não permitem um grupo grande de guarda pessoal; além disso, armas e a maioria dos equipamentos e itens importantes ficam todos na entrada do reino.

— É para a segurança.

— Sei, mas a nossa segurança não é garantida com isso.

— Vocês dois são usuários de magias, podem fazer algo, se precisar.

— Sim, mas um item e outro na mão dão mais vantagem...

Romanze e Taikuri sempre andam um próximo do outro e involuntariamente, pela intimidade que têm, eles dão as mãos, se acariciam, cutucam, ou passam a mão em lugares provocativos, para incomodar ou chamar a atenção um do outro.

Esse gesto de afeto incomoda alguns moradores, que os olham com asco ou estranheza. Antes que Taikuri se incomode com a frequência dos olhares, Romanze olha para o céu e o questiona:

— Eu não estudo muito sobre escudos mágicos... Você se interessa mais por isso...

— Não mais que meu interesse por você.

— Sei... Como é a defesa mágica de Edo?

— Podia retribuir meu cortejo... Não?... Certo...

Winton acha carismático o jeito que um age e fala com o outro, ele sempre fica atento e aprende sobre o que eles falam sobre magias e as análises dos lugares. Taikuri dá mais uma olhada no céu e responde:

— O reino é bem magicamente, muito bom na verdade, eu analisei e é de alto nível, mas eu percebi que a fonte do poder dela é um só.

— Isso é um problema então.

Winton estranha e questiona.

— O que quer dizer que é uma fonte só de poder?

— Em um único ponto, item ou pessoa rege e tem o controle da magia que defende o reino todo, normalmente, é usado mais de um foco para evitar uma “perda total”.

— “Perda total”? Eles podem perder a defesa deles?

— Sim, não dá para localizar facilmente esse ponto de poder, mas, se for localizado e tomado, esse novo dono terá poder pleno em todo o reino.

— Seria algo bom para tratar na reunião.

— Melhor não, usuários de magia não gostam de interferência externa, muitos acham que pode ser algum golpe ou que estão menosprezando suas técnicas.

— Entendo... Tentarei achar uma oportunidade para falar sobre, é algo importante.

Eles ficam um tempo em silêncio, observando a rotina do lugar, seres e construções. Próximo do destino deles, Romanze se anima com o clima do dia e comenta:

— O dia anterior estava nublado e chuvoso, agora, com o céu limpo e com tudo mais claro, dá para ver melhor o reino... Edo é fabuloso.

— Nesse tempo que passei com vocês, eu vejo que são admiradores da natureza e das particularidades da construção de certas cidades... Mas não gostam muito dos seres que vivem nelas.

— Os bichos, sim, mas qualquer “bicho” que se ache inteligente, nós não gostamos.

— Espero que esse gosto mude um dia, mas, até lá, apreciem bem nossos destinos. Vocês não fizeram a excursão comigo, sugiro que façam hoje depois da reunião.

— Sentimos que há pessoas como nós nesse reino... Um grupo em um lugar específico.

— Sei onde é, deve ser uma taverna que eu vi, mas tentem conhecer mais do que só lugares que vocês gostam.

— O problema, senhor Winton, é a hostilidade e a ignorância dessa raça que se considera inteligente, às vezes é melhor andar só perto dos nossos.

— Eu entendo, mas estamos em território aliado, sejam mais abertos.

— Eu só sou aberto para o meu Romanze.

Winton ri por ver que Romanze é mais fechado para esses galanteios, e diz:.

— Para alguém com esse nome, você não é muito “romântico”.

— Como assim?

— Chegamos!



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