Arbidabliu: Infantes Brasileira

Autor(a): Magnus R. S. Alexandrino


Volume 1

Capítulo 65: Joe Roe III

O brilho se expande por toda a Orbis e a cancela, deixando também seu conjurador desnorteado.

“Quanto tempo eu fiquei preso nisso?”

Fora da magia, Júlio se vê em outro lugar: uma sala grande com homens mortos presos nos cantos, a sala está repleta de instrumentos de tortura, sangue, mau cheiro, sujeira e alguns guerreiros do Império.

Entre esses guerreiros, está um homem caído, de vestes nobres e um cajado, o que indica ser ele o mestre de maldição que mantinha Júlio preso.

“Funcionou! Ótimo... Meu poder continua ativo e consigo ver que não estou na mesma torre que entrei... Juno também está aqui e tem outros homens presos que podem me ajudar em uma rebelião.”

Ao se levantar, Júlio age rapidamente, usando magia para chamar a atenção de todos os guerreiros e através dela despertar e potencializar todos os presos, inclusive Juno, que também está na sala.

— Ataquem!

Os guerreiros avançam contra o ataque, Júlio sente fraqueza, mas se mantém firme, ele se esquiva e se defende de alguns golpes, evitando gastar energia em atacar. Em pouco tempo os prisioneiros têm capacidade de agir e entram na luta, gritando para que outros, em outras celas, ajam em favor de uma revolta.

“Infelizmente eu não posso ficar, pois serei descoberto, infelizmente estou usando esses homens para fugir. Desculpem-me!”

O número de prisioneiros é maior que dos guardas, dando vantagem para Júlio sair sem problemas, ele ainda ajuda um e outro prisioneiro em sua luta contra os guerreiros e corre até a saída da sala. Fora de perigo, Júlio vira, reverencia os homens que lutam freneticamente e diz com culpa:

— Me desculpem...

Uma onda de energia acerta Júlio e o joga no corredor. Ele bate na parede, o que causa um dano considerável, deixando-o imobilizado por alguns segundos.

— O que foi isso?

O mestre de maldição aparece na porta da cela e diz:

— Eu falei que ia matar você, abominação nojenta!

Ao energizar um poder entre suas mãos para acertar Júlio, o mestre de maldição é atacado por Juno, que chega pelas suas costas e usa as correntes para neutralizar seu poder e para prendê-lo, puxando-o também para dentro da sala.

— Abominação nojenta? Você está falando da sua mãe? Não pode falar assim dela, mesmo ela tendo culpa em ter te posto no mundo.

— Você e sua raça já deveriam ter sido exterminadas há muito tempo!

Uma aura sombria toma o corpo do mestre de maldição, formando um Guerreiro Caos espectral com uma foice grande nas mãos, essa aura joga Juno longe e atrapalha a luta dentro do salão.

“Um mestre de maldição com especialidade e com a alma entregue ao Caos, um raro Amaldiçoado, não imaginei que encontraria alguém assim para enfrentar.”

Júlio recupera seus movimentos e se levanta, quando vê uma boa oportunidade para fugir antes de ser pego ou morto, já no corredor onde ele está há muitos prisioneiros que estão incontroláveis, bagunçam e atacam todos os guerreiros do Império.

“Os guerreiros do Império estão com medo, mesmo sabendo que os prisioneiros estão fracos. Os gritos de guerra e motivação de todos deixam muitos confusos, ao ponto de suspeitarem se serão capazes de contê-los, tendo menor número.”

Dentro do salão, o Amaldiçoado olha para Juno e os outros prisioneiros que estão ganhando dos guerreiros do Império e diz com raiva e sadismo:

— Por crimes contra ao Império de Cristal e com muito prazer, eu condeno todos vocês à morte!

Um prisioneiro ataca o Amaldiçoado e é morto rapidamente pela lâmina da grande foice negra, o homem vinculado com o Caos fica insano, gritando.

— Massacre! Carnes, sangue! Hoje teremos um massacre!

Ele avança e ataca outro prisioneiro, que escapa com ajuda de Juno, um dos golpes do Amaldiçoado liberta Juno das correntes permitindo-lhe que use magias.

— Agora teremos mais chances!

As correntes perdem seu poder, mas ganham um novo encantamento orquestrado por Juno, que enfeitiça a corrente de todos os prisioneiros, e as faz voar em direção ao Amaldiçoado, atacando-o com força. O Amaldiçoado diz, enquanto se defende de uma a uma:— Libertação dos escravos? Nunca gostei desse capítulo da história!

Quando as correntes entram em contato com a aura negra, elas acabam enferrujando e caem sem causar dano. Com a foice, o Amaldiçoado ceifa vidas facilmente, matando até os guerreiros do Império em seu caminho desenfreado por morte.

— Guerreiros inúteis e covardes também merecem a morte!

Juno, com mais de seu dom mágico restaurado, sente que outros seres poderosos do Império se movem em direção a essa torre de prisioneiros e comenta baixo, ao sentir uma presença boa e similar à de Júlio.

— Tem outros nos ajudando?... Quem será?

O Amaldiçoado concentra toda sua atenção e poder para neutralizar Juno assim como seus poderes.

— Preto medíocre!

Juno é lançado contra parede e é atacado com a foice mirada em seu peito, antes de atingi-lo a foice é aparada por magia, um poder de proteção conjurado por Júlio, que se aproxima e ataca o Amaldiçoado, que não se abala com o ataque pelas costas.

— Acha mesmo que sua presença faz alguma diferença?

Juno vê que Júlio voltou para ajudá-lo, mas o aconselha:

— Rapaz, fuja! Essa luta está perdida...

— Não fale assim.

O Amaldiçoado ataca Júlio com a foice, focando em um golpe que irá matá-lo em um único acerto; surpreendentemente, Júlio apara cada golpe desferido pela aura do Caos, mas ele demonstra se esforçar e fadigar sempre que faz uma defesa bem-sucedida. Vendo isso, o Amaldiçoado se gaba.

— Tenho mais poder que você, aceitará a morte facilmente depois que se esgotar?

Alguns prisioneiros entram na cela e atacam o Amaldiçoado, mas todos acabam mortos um a um, nesse tempo Júlio também ataca, mas sem sucesso de ferir seu oponente.

— Ele é realmente poderoso.

“Juno, ele tem um plano, então preciso ajudá-lo.”

Juno alerta Júlio:

— Não ataque!

— Vou seguir seu plano.

— Não siga esse velho derrotado, saia vivo daqui!

— Juno! Eu estou com você assim como todos que estão contra o Império, juntos nós vamos ganhar!

Juno sente a vontade e um poder oculto em Júlio, algo além da capacidade física, mas um poder infinito da alma como o “Desejo do Criador”, novamente ele se lembra dos dizeres que ouviu de um aldeão, crente que a salvação chegaria em breve.

— “... Os descendentes ignorados e rejeitados por todos são também descendentes do Criador e de seu poder, mesmo Ivo quanto Adéa são filhos do pai e irmãos do todo, eles não são a destruição e, como qualquer outro, são a salvação...”.

Júlio paralisa todo o salão por uns instantes, ganhando a atenção de todos, e no fim entra em uma Orbis Absolute com o Amaldiçoado que se enfurece ao se ver dentro da magia sem sua aura sombria.

— Como ousa? Você não tem poder e tamanho para me prender aqui!

Júlio criou um cenário igual a Pronuntio, perto da praia, assim ele se sente mais confortável e otimista em lutar em sua amada casa. Ao tentar desfazer a magia de Júlio, o Amaldiçoado sente uma eletricidade forte correndo pelo seu corpo, que o enfraquece temporariamente.

— O que foi isso?

Júlio voa em sua direção, o arremessa depois de um soco forte envolvido em energia pura e explica.

— As correntes que Juno usou para te atacar estavam enfeitiçadas! Você gradualmente está perdendo seu poder e o mais importante, a percepção de magia.

“E agora dentro da Orbis ele não tem capacidade e tempo para desfazer o que Juno fez, preciso acabar com ele aqui, enquanto Juno acaba com o físico do lado de fora, que provavelmente está sendo defendido pela aura do Caos; mesmo se eu perder, esse Amaldiçoado perderá.”

O Amaldiçoado sente que seus sentidos apurados estão fracos ou até nulos.

— Aquele preto imundo!

Em resposta à ofensa, Júlio usa seu poder para atrair o corpo do Amaldiçoado até ele e o soca novamente, jogando-o longe; antes de cair no chão, o Amaldiçoado se transforma em um guerreiro Caos com uma foice e avança em direção de Júlio.

— Aquele preto pode matar meu corpo, mas eu destruirei sua mente!

Júlio se preocupa ao sentir que sua energia está se esgotando, além de tentar disfarçar a dificuldade que está sentindo em se manter de pé.

“Doug, farei tudo para manter minha promessa! Perdoe-me se eu falhar!”

Júlio coloca suas duas mãos à frente, e um bastão peculiar aparece, em cada ponta dele tem uma mão fechada esculpida e, com ela, ele se defende dos golpes do Amaldiçoado. Cada golpe da foice que encosta no bastão destrói a lâmina, mas o poder do Amaldiçoado é forte, fazendo com que os fragmentos voltem a formara lâmina novamente para dar outro ataque.

Toda vez que a lâmina é reconstruída, os fragmentos tentam atingir Júlio, que se afasta ou se defende com escudo mágico. O escudo de Júlio é quebrado quando a lâmina da foice volta a ficar completa e energizada. Percebendo que a alma e a fé de Júlio são mais fortes que a dele, o Amaldiçoado se enfurece.

— Como uma abominação como você tem essa força? Você não deve viver!

Espinhos negros saem da armadura como flechas, mirando em Júlio que, com saltos mágicos, se esquiva e escapa dos projéteis. Em uma segunda manobra, o Amaldiçoado usa magia através de seu elmo, de dentro dele saem feixes, bolas e ondas de fogo; sempre que as chamas não acertam Júlio, o Amaldiçoado faz movimentos com as mãos, controlando o fogo para que cerque Júlio e tente queimá-lo ou acertá-lo por outro ângulo.

“Uma grande variedade de magia, preciso aproveitar que esse território é meu e agir.”

Júlio tem poucos ferimentos e consegue se defender e escapar da maioria das chamas; das águas da praia sai um enorme cervo, como se fosse da raça dos Grandes Animais, só que feito de água e gelo, esse cervo corre em direção do Amaldiçoado que contra-ataca.

— Um veado?

Depois de um encontrão, eles batem seus chifres, criando um impacto mágico, tomam distância e fazem o mesmo novamente com mais força, esse embate gera uma explosão de energia, após a qual se faz chover.

Júlio faz vários movimentos com as mãos e com o bastão, e consegue, através de magia, que as gotas que caem nele se tornem sólidas, formando uma armadura com traços parecidos com a do cervo de água que acabou de ajudá-lo.

“Se alguns nos veem assim, então é assim que eles verão nossa vitória.”

As gotas também enfraquecem um pouco a resistência da armadura negra do Guerreiro Caos e apagam todo o fogo que ele conjurou e ainda quer conjurar.

— Eu sou o Mestre de Maldição do Império de Cristal! Não vou perder para um Veado!

O Amaldiçoado joga sua foice envolvida em um encantamento forte, em seguida ele inicia uma conjuração extrema, com grande concentração de poder, essa conjuração faz que suas mãos e elmo brilhem e aqueçam muito, chegando a quase derreter. Esse poder extremo mostra que é o suficiente para destruir toda Orbis Absolute e a mente de Júlio.

— Matarei você e ainda escaparei para matar aquele escravo desgraçado!

 Júlio corre rápido, chegando a voar até o Amaldiçoado; no caminho ele destrói a foice e se machuca seriamente pelos fragmentos dela, que voltam para atingi-lo.

“Uma armadilha! Eu deveria ter suspeitado disso!”.

A energia do Amaldiçoado tem um atraso inesperado, e ele sente ser o efeito do poder usado por Juno fora da Orbis, nisso ele dá um urro de dor e conclui:

— Eu estou morrendo...

Do lado e fora da magia, o Amaldiçoado é atingido e morre, mas o seu vínculo com o poder caótico permite que continue na Orbis Absolute, para que lute até o fim.

— Só minha mente existe... E muito dela está se perdendo...

Tanto Júlio quanto o Amaldiçoado sentem muita dor e exaustão.

“Devo cancelar a Orbis... Não consigo... Ele me prende agora em meu próprio poder... Era de se esperar que um mestre de maldição fizesse algo desse nível... Doug...”.

Júlio grita e usa seu poder para que a armadura volte a ser líquida e que ajude em seus ferimentos; já o seu elmo se afasta, absorvendo a água da chuva e criando novamente a forma de um grande cervo para atacar o Amaldiçoado. Antes de avançar, o Amaldiçoado ri alto, tosse sangue e comenta:

— Eu disse que mataria você... Bicha nojenta...

A forma de Guerreiro Caos desaparece, deixando só a forma do homem; a energia que ele estava conjurando se dissipa, e o cervo de água se torna negro, com os olhos em chamas. A chuva para de cair, e o solo se torna seco, sem vida e quente. Júlio se espanta e ainda se prepara para se defender do cervo, que bate forte seus cascos no chão, ameaçando avançar com tudo.

“Eles o matarão, Juno deve estar fazendo algo para me ajudar... Ou todos estão lutando ainda?”.

Júlio chega ao fim de sua energia, não conseguindo se mover ou se defender, até o trajeto de o cervo atacá-lo, ele ainda tem um segundo de pensamento.

“Não! Eu perdi tudo... Torço que meus amigos saiam vivos e que não sejam dominados pelo mal... Doug... Eu queria poder te dizer muitas coisas... Mas só me resta pedir seu perdão... Perdão por ter que sair com você desse reino...”.

O cervo negro bate em uma parede invisível, não consegue acertar Júlio. Ele fica surpreso e ouve a voz de Doug.

— Júlio? Júlio! Acorde, por favor!

Júlio sente algo nos seus lábios como se estivesse sendo beijado e grita feliz:

— Doug!

O cervo urra e bate novamente na parede, fazendo-a trincar, em seguida a Orbis Absolute é cancelada, exterminando o que restava do Amaldiçoado. Fora dessa magia, Júlio está fraco e no colo de Doug, no chão da prisão. Juno está perto e ainda se ouve o barulho da rebelião ao fundo.

— Doug? O que houve?

— Eu que pergunto! O que você está fazendo aqui no terceiro nível?

— Terceiro? Não... Talvez, eu fui trazido aqui, tive algumas complicações...

— Nós tivemos...

Doug abraça forte Júlio, criando uma situação bem calorosa e isolada, por um instante ambos se esqueceram da dor, problemas e do lugar onde estão.

“Não podia pedir mais nada para me dar força do que você, Doug”

“Júlio! Sempre me ajudando e fazendo de tudo para não me deixar só.”

— Doug, obrigado por me salvar...

— Não... Foi você que me salvou fazendo essa rebelião, guarda suas energias, temos pouco tempo para sair, antes que identifiquem nossa traição.

A rebelião está sendo contida rapidamente, e guerreiros de elite se aproximam, Juno vê como tudo acabará e diz para os dois:

— Por favor, vão! E façam o possível para terminar a missão de vocês e acabar com esse Império maldito!

— Juno?

— Me desculpem por isso!

Juno usa suas correntes encantadas e, além de afastar os dois um do outro, ele os prende pelo pescoço para sufocá-los, essa manobra chega a machucá-los um pouco e, ao gritarem de dor, Juno brada:

— Vou matar vocês, imperianos malditos!

“Não! Juno está fazendo isso para mostrar que estamos com o Império, mas assim ele morrerá. Por que essas coisas têm que acontecer?”

Guerreiros de Elite, vendo a cena, avançam e atacam sem dó Juno, que é ferido mortalmente nos primeiros golpes. Ele solta Júlio e Doug, e, mesmo muito ferido, corre e atrai a atenção para si. Doug demonstra tristeza por Juno e, antes que fale algo que possa entregar sua posição, Júlio o interrompe, segurando-o forte e falando alto.

— Soldado! Nos leve para sermos medicados... Ajude! Rápido...

“Doug, me perdoe, infelizmente não podemos fazer nada agora, também fico triste com tudo isso, mas devemos seguir.”

Mesmo não lendo os pensamentos de Júlio, Doug entende o que ele quer, pelo olhar e pelo seu semblante. Doug então pede ajuda de outro guerreiro e leva Júlio com outros para serem curados, e em seguida a rebelião é contida totalmente, tendo vários mortos de ambos os lados.



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