Arbidabliu: Infantes Brasileira

Autor(a): Magnus R. S. Alexandrino


Volume 1

Capítulo 60: Johnny Roe II

Realgar dá um soco no rosto de Gon e o chuta jogando-o na cama.

— Mais respeito traidor, você tem sorte de ainda estar vivo, e sabe disso.

— Então acabe com essa sorte logo.

— Idiota!

Realgar ameaça matá-lo, mas se controla; ele respira fundo, olha para Doug e ordena:

— Você! Veja o que consegue... Essa área é “Livre”, faça o que quiser com ele, contanto que descubra algo útil.

Realgar sai da cela com o outro guarda em direção à outra testemunha mencionada anteriormente, deixando Doug com total autonomia para agir como bem entender.

“Ele me deixou livre para interrogar, mas preciso ter certeza de que isso não é uma armadilha ou que estou sendo vigiado”.

Doug mostra que está interessado em inspecionar o lugar e rodeia a cela, olhando atentamente para todos os cantos e usando uma magia simples para tentar localizar algo. Quase no final de sua verificação, Gon fala com Doug:

— Você está verificando o seu próprio território? Ou você não é do Império?

— Não seja tolo...

— “Tolo”? Essa é a sua ofensa para mim?

Gon ri e demostra mais tranquilidade, ele se senta de uma forma mais despojada em sua cama e diz sorridente.

— Qualquer um dos homens do Império teria o prazer de me bater, cuspir e me xingar, eu lutava antes, mas não faço mais...

Doug fica sem saber o que dizer, e Gon o questiona.

— Você não sabe quem eu sou?

— Estou aqui para descobrir isso...

Gon olha atentamente para Doug e pega em sua mão, uma corrente de energia passa por Doug, que exclama.

— Magia benéfica!

“Onilda sempre me falou que eu tenho empatia, uma aptidão maior em detectar ações pacíficas e amigáveis, assim como Ray também tem”.

Doug fecha os seus olhos e sente paz e uma aura calma. Gon pressente que Doug é um homem bom e afirma:

— Você não é do Império!

— Como você pode usar magia?

— As prisões do Império bloqueiam magias, não os mágicos, tem alguns “truques” que são raros e superiores a esse bloqueio... Infelizmente todos nós somos alimentados com “veneno mental”, assim enfraquece o poder de todos, muitos são escravizados ou coagidos a seguirem o Império.

Gon fica fraco e cai em sua cama, ele se mantém firme, mas trêmulo. Doug se preocupa com Gon ou se alguém pode chegar.

— O senhor está bem?

— Sim, mas usei o que podia para ver se você era realmente “amigo”.

— Você arriscou muito...

— Eu já perdi tudo, não há o que arriscar... Mas foi bom que deu para descobrir que você é de Pronuntio.

— Você viu minha mente?

— Não, não tenho tanto poder mágico assim, mas senti seu ideal, um amor forte por algo bom, você é um jovem com um coração apaixonado e puro, só não entendo o que você faz aqui no Império, você pode ser descoberto a qualquer momento e morrer só por ser quem você é.

— Você também sabe que eu sou um Descendente de Ivo?

— Sim... Meu filho também era...

Gon fica triste e diz:

— Você veio matar alguém do Império? Pegar algum item ou descobrir algo?

— Descobrir.

Gon dá risada, tosse e comenta:

— Seria tão bom se fossem as três opções.

Doug está com receio de que alguém os ouça, e Gon, percebendo a preocupação dele, comenta:

— Você não deve ter percebido, mas há um homem com problemas mentais em uma das celas próximas, que, sempre que vê alguém do Império, ele balbucia algo em alto som, então eu uso isso como um vigia para saber quando estão se aproximando, podemos conversar e ficar atentos a isso.

— Entendi...

— Eu sou Gon Wind, antigo herói do Império de Cristal, eu sobrevivi a muitas batalhas e até comandei algumas... Sim, eu era um homem mau, atacava e matava todos sem questionar, era uma lealdade cega, isso sempre foi visto com honra e glória aqui no Império, mas, quando me apaixonei, comecei a ter noção da vida e do verdadeiro significado dela, não só a minha, mas a vida de todos ao redor. O amor transforma.

Gon olha para Doug que está concentrado na história e observa:

— Você deve saber o que é isso... Sinto paixão e amor em você, essa paixão tem alguém como luz e caminho a seguir.

Doug fica tímido, e Gon continua sua história.

— Esse amor gerou um belo filho, um ótimo significado da multiplicação do amor...

— Além deles, você tem outros familiares?

— Não havia parentes da parte da minha mulher, e uma boa parte dos meus foram mortos nas batalhas que o Império travou contra “todos”, outra perda grande para mim foi minha irmã... Margaret Wind, uma grande inspiração para mim...

Gon para sua história com um olhar depressivo, Doug se preocupa e questiona:

— O que houve com ela?                                                            

— O Império a “levou”...

— Sinto muito... É por isso que você está aqui?

— Não... Depois de ter casado eu me aposentei, mas, pela honra ao Império, eu permaneci próximo para tentar “mudar” algumas coisas... Enquanto houver pessoas boas em um lugar ruim, sempre haverá a possibilidade de melhoras. Infelizmente minha amada foi assassinada por alguém do qual eu já havia matado a família; foi difícil, mas acabei aceitando aquilo como um pagamento pelos meus crimes, claro que, se eu pudesse escolher, eu morreria no lugar dela... Por fim meu filho, fruto desse amor, cresceu e descobri que ele era um Descendente de Ivo...

— Era?

— Sim... O Império ao qual eu tanto me dediquei “sacrificou” meu único filho e lembrança do meu amor, alegando que essa “raça” é amaldiçoada e traria desgraça a todos... Foi a primeira vez que lutei contra o Império, e aqui estou...

— Achei que o Império matasse todos seus prisioneiros.

— São boatos, muitos são usados para planos, magias estranhas ou atos desumanos, dessa forma ninguém mais os vê, e assim são declarados mortos. O único motivo pelo qual eu ainda estou vivo é porque eles sabem que eu descobri algo em uma exploração que eu fiz em Oratio Tenebris.

— Ouvi pouco sobre esse lugar.

— Melhor que continue assim, pois tudo que é de ruim do Império está sendo migrado para lá, como outro centro de perversão e horror.

— Realmente, o futrespurco está se expandindo para fora de seu território.

— Como disse?

— Desculpe, eu costumo chamar o Império assim “futrespurco”.

— Gostei, continue chamando-o assim, sempre mencione esse lugar com desprezo.

— Sempre...

— E sim, o “futrespurco” iniciou essa expansão por esse antigo templo, assim não seria facilmente notado e sem brigas territoriais, mas o principal foco de vasculhar esse lugar é encontrar a tão aclamada relíquia que pode mudar tudo.

— “Relíquia de um Sangue Espirituoso”, então o Império nunca a teve?

— Nunca! Mas esse lugar tem pistas de um pacto maldito em que o Império tem forte ligação... Xarles, o “futresco”, tem uma aliança secreta com algo muito ruim e obscuro, eles aguardarão o surgimento da relíquia para agirem.

— Você está certo disso?

— Do pacto, sim, mas, do momento em que eles devem agir, é uma suposição minha.

— Entendi... E a relíquia, não tem pistas dela nesse templo antigo, ele era o antigo lar do Electi de Aquário.

— Exato! Mas não achamos nada referente à relíquia, apesar de que soube que Libryans sabe de algo.

— Ouvi algo similar de um prisioneiro.

— Sim, mas não é qualquer lugar, tem uma praça em especial na qual circulam informações secretas de todo o Grande Continente.

— A “Praça que tem casas”?

— Não entendi...

— Ignore... Mas você sabe onde ela fica exatamente?

— Não, fui preso antes de tentar descobrir isso.

— Mas se você descobrisse, contaria para o Império?

— Não! De forma alguma... Mas eu levaria essa informação para algum reino aliado e com potencial para o bom uso dela.

— Clã de Maslow?

— Em Pando tem... Maslow? Por que acha que eu contaria com eles?

— Esse clã “secreto” vem crescendo aos poucos, achei que você seria integrante desse grupo quando disse que queria mudar a forma que o futrespurco age.

— Esse grupo ainda leva o nome do futrespurco consigo mesmo, não significando ameaça para ninguém; ele demonstra omissão a muitos assuntos.

— Achei que eles quisessem evoluir o Império.

— Sim, mas será que para melhor? Melhor para quem?

— Entendi...

— Eu conheço alguém em especial que demonstra...

Ambos são interrompidos por Realgar, que rapidamente entra na cela e, usando magia, joga Gon contra a parede.

— Eu sabia!

Doug pensa em agir, mas percebe que Realgar não o tem como alvo, tanto que o elogia, ao se certificar que tem Gon em seu controle mágico.

— Fique atento, soldado, ele pode tentar reagir.

“O plano de vigilância de Gon não funcionou, e agora o que eu devo fazer?”.

Gon não reluta e com seu olhar diz para Doug que está pronto para morrer.

— Faça logo o que você quer!

Realgar o encara e diz o que descobriu.

— Seu fiel braço direito finalmente nos contou tudo, tudo que realmente foi descoberto em Oratio. Libryans, no clã de Pando, e outras vilas na costa...

Gon fica desapontado por saber que o Império descobriu mais coisas sobre os inimigos dele e tenta confundi-lo.

— Será que ele contou tudo? Ou contou tudo falso?

— Não tente usar esse método velho comigo, tudo foi confirmado graças a alguns truques de mestres de maldição fiéis ao Império.

— Se você já sabe de tudo, do que mais você precisa de mim?

— Nada!

Realgar usa seu poder e joga Gon no chão perto de Doug e ordena:

— Mate-o!

“Essa palavra não soou com o peso que deveria em minha mente, o que está havendo? Que sensação é essa?”

Gon tenta se levantar, mas Realgar avança, o chuta e saca uma espada com escritos estranhos nela.

— Pelos crimes contra o Império, você, Gon Wind, deve morrer!

— Traidor? Tantos anos de servidão para isso?

— Você que jogou tudo fora ao questionar e não a obedecer.

— Você faz assim?

Realgar o chuta novamente e ordena mais alto para Doug.

— Mate-o! É uma ordem! Por que você ainda está parado?

“Gon agiu contra o Império, é um traidor! Meu plano é seguir as ordens do Império para não comprometer a missão! Tenho que fazer tudo a favor da missão.”

Doug se coloca em posição de ataque à frente de Gon, ele conjura uma aura em suas mãos, deixando-as douradas, o que o faz ganhar a admiração de Realgar.

— Interessante...

Gon fecha os olhos, esperando o golpe mortal.

— Até que enfim...

Um momento de silêncio toma a cela, segundos que parecem minutos nos pensamentos de Doug, em sua mente vêm lembranças, uma imagem e voz calorosa vêm em sua mente.

“Doug? Sabe o que eu mais admiro em você? É a forma a qual você olha o mundo e as pessoas, você é puro, bom e gentil, eu fico com medo de pensar se essa jornada mudará você, prometo te amar sempre e serei compreensivo com qualquer escolha que você faça, mas peço desde já que sempre procure agir como você sempre agiria em situações comuns, nosso amor está acima de qualquer coisa, e de cima vemos o amor que falta ao nosso redor, eu sempre estarei com você, Doug... Você estará sempre comigo?”

Um lágrima escorre no rosto de Doug e ele diz:

— Júlio...

Doug dá um suspiro alto e olha atentamente para Gon, mas vendo em sua mente várias imagens de seu passado e trajeto até o agora.

“Sim! Sim! Eu sempre estarei com você...”.

Gon abre os olhos e fica sem entender o que está acontecendo, Realgar sente uma energia emanando da mente e uma mais forte do coração de Doug, e fala:

— Um Descendente de Ivo?!

Realgar aproveita o tempo distraído de Doug e o ataca pelas costas; com um reflexo sobrenatural temporário, Doug se esquiva e, ainda com suas mãos emanando energia, luta contra Realgar, seu primeiro movimento é desarmar e imobilizar. Realgar escapa da imobilização, mas perde sua espada, e com magia ele revida por meio ondas de energia.

“Ele não tem alto nível mágico e nem físico, preciso ser rápido antes que alguém escute ou que ele chame por ajuda.”

Doug apara as ondas, usando a energia dourada de suas mãos, uma sequência longa de golpes se inicia, e Realgar diz animado com a luta.

— Ótimo, mais um para morrer.

Realgar tira adagas escondidas de sua veste e avança com investidas, chutes, golpes de ponta de adagas e truques mágicos. Entre os poderes mágicos, Realgar aquece a lamina da adaga, eletrifica-la ou até soprar ar gelado ou venenoso para atrapalhar ou ferir Doug.

“Agora eu honro meses de treinos intensivos”

Doug, ainda usando a energia de suas mãos, se coloca na defensiva e se defende de tudo, a palma dourada absorve as magias, cancelando-as, o que dá a certeza de que Doug tem um nível de luta avançado, de modo que deixa Realgar preocupado, a cada ação defensiva dele.

— Maldita raça!

Doug está cauteloso, imaginando que Realgar possa ter alguma técnica ou encanto secreto, mas, nas próximas brechas nos ataques, ele revida.

“Preciso nocauteá-lo! Antes que ele chame ajuda.”

Realgar ameaça chamar ajuda, mas Doug, em um movimento rápido com as duas mãos, bate na garganta, barriga e boca de Realgar, calando-o e provocando muita dor.

— Desculpe, mas não posso deixá-lo estragar meu plano ou que mate Gon.

Realgar golfa saliva, tosse e se afasta, olhando com ódio para Doug.

— Acha que estou no cargo que estou só pelo nome?

Realgar usa uma magia mais forte que antes que paralisa Doug por um curto período, Gon avança usando a própria espada de Realgar para feri-lo deixando Doug preocupado.

— Não faça isso Gon!

Gon está fraco e logo é contra-atacado, Realgar toma sua espada de volta, fere Gon com magia e, antes de matá-lo, Doug intervém e o joga contra a parede, usando uma sequência de golpes com a palma de sua mão ainda energizada.

Realgar ameaça gritar, mas Gon tampa sua boca, enquanto o mata com uma das adagas que pegou no chão. A cada facada Doug tenta separá-los, mas, vendo que Realgar não tem mais chance de sobrevivência, ele pensa:

 “Fiz o possível para não haver mortes, mas nesse lugar é impossível, e com autodefesa, o mal cai no lugar de alguém de bem.”

Doug olha ao redor e questiona a si mesmo.

— O que eu fiz? Como escaparemos agora?!

Doug fica sem saber o que fazer e caminha até a entrada da cela enquanto Gon se delicia com sua vitória.

— Finalmente esse idiota ficou calado e no devido lugar que merece.

Saindo da cela, Doug ouve um som suspeito.

— O que é isso?

Ao caminhar pelo corredor, Doug se espanta ao ver uma espécie de rebelião que está afetando toda a torre. Celas estão abertas, prisioneiros soltos e lutando pelas suas vidas, uma pequena névoa aparentemente mágica está tomando o lugar pouco a pouco, som de batalha é ouvido a cada passo dado por Doug.

— Não sei o que fazer...

Doug corre de volta para ver Gon, que está se preparando para sair depois de furtar algumas coisas de Raelgar.

— Garoto! Você que tem mais chance de sair vivo, pegue isso.

— O que é?

— Um item importante da família Nonuplets.

Gon entrega o anel em disco dourado que estava na armadura de Realgar, ao pegá-lo Doug não sente nada mágico, mas o guarda mesmo assim. Gon olha para fora da cela e comenta:

— Que raridade, uma rebelião? Hoje nós estamos com sorte.

Gon faz sinal com a mão para que Doug o siga e no caminho diz seu plano.

— Eu serei capturado novamente, mas você pode seguir o plano de fuga dos guardas, passe pelos corredores naquela direção. Ao ver uma placa dizendo “sem saída”, você entra e siga para sair daqui; se for preciso, bata em algum prisioneiro na frente dos soldados, para mostrar que você está do lado deles.

— “Sem saída”?

— Sim, é uma trapaça que eles usam.

— Mas e você?

— Já que serei pego, eu lutarei novamente.

— Eu gostaria de levá-lo daqui, assim como muitos outros...

— Agradeço, mas infelizmente você não pode, não agora... Foque na sua missão e em levar as informações necessárias daqui, assim alguém poderá vir salvar a todos.

— Certo!

— Agora vá!



Comentários