Arbidabliu: Infantes Brasileira

Autor(a): Magnus R. S. Alexandrino


Volume 1

Capítulo 59: Johnny Roe I

Manhã, 1 de setembro 1590 – Império de Cristal. Sodorra

“Eu, Doug Hyacin, integrante dos Infantes de Pronuntio, parceiro de J... Eu preciso me manter calmo e seguro... Firme... Para conquistar os desafios que o frutrespurco propuser. Eu vou descobrir tudo que esse lugar frutrespurco tem planejado e pretende fazer contra todos no Grande Continente. Eu me sinto estranho... Receoso talvez, essa sensação começou desde que chegamos aqui em Sodorra, sinto um mal-estar, um clima estranho e perturbador, como se o meu raciocínio fosse afetado pelo ambiente caótico e maldoso que há aqui, eu preciso me manter... Preciso manter minha mente e meus sentimentos focados em meus amigos, Pronuntio e... Júlio... Espero que ele tenha sorte em sua missão, que todos eles tenham sorte para sairmos sãos e salvos.”

Doug está no terceiro nível da cidade de Sodorra, em uma área movimentada e mais preenchida com a população comum e pobre. Os aldeões são constantemente oprimidos e intimidados para que trabalhem ao máximo, nunca se rebelem, e para que nunca questionem a vontade e o poder do Império.

“Como esse lugar é horroroso... Vou me manter afastado dos aldeões, pois, se eu tratá-los bem, eu serei notado como um traidor, minha distância pode servir como intolerância a eles, assim eu consigo justificar o meu distanciamento.”

— Ei, você! Guarde esses homens e veja se eles estão trabalhando direito.

— Não!

“Respondi por impulso, mas eu quero distância do trabalho forçado dos aldeões, eu preciso demonstrar arrogância e autoridade, mesmo não tendo nenhum dos dois.”

— Tenho mais o que fazer do que ver essa... “Gente”...

— “Gente”?

“Não posso hesitar em ofender... Pense rápido, Doug.”

— Tenho que averiguar a situações da “pseudovigia” na área carente, que diz respeito a armamento, artigos e artefatos dos novos e velhos integrantes da talvez grande tirania de um homem cujo conhecimento é falho.

O guarda que abordou Doug se sente confuso e tenta entender tudo que foi dito, Doug aproveita a chance para agradecer e seguir seu caminho sem ser incomodado.

“Não posso tentar fazer isso com todos, mas esse pareceu ter uma inteligência baixa, assim consigo despistar e confundi-lo antes que pense em algo que possa prejudicar minha missão, obrigado, mestra, pelo seu vocabulário complicado e refinado.”

Doug vê um oficial de patente alta e o reconhece. Percebe aí a possibilidade de adquirir mais aceso e chance de obter informações.

“Eu me lembro dele... Realgar, Realgar Nonuplets! Ele ocupa o cargo abaixo de Ghilber, da raça Sodam of Smart. Se eu não me engano, Realgar também é um e pode se transformar em algo, uma raça poderosa em um lugar perigoso, preciso ter cuidado, mas mesmo assim eu preciso aproveitar essa oportunidade.”

— Senhor Realgar Nonuplets?!

— O que você quer?

Realgar Nonuplets é um homem adulto, de estatura alta, porte físico comum, cabelos loiros, lisos e compridos bem amarrados, e olhos claros. Ele está com um semblante simpático, facilmente identificado como falso, ele usa roupas de alto nível hierárquico com muito pano nobre e pouca armadura, chamando a atenção para uma de suas ombreiras, que é feita de cristal corrompido e tem o formato de uma cabeça de águia, e para um item em seu peito, preso em seu peitoral, um grande anel em disco dourado com alguns escritos.

“Isso no peito dele é antigo, deve ser algo mágico ou valioso.”

— Eu estou me oferecendo aos serviços do senhor...

Realgar olha Doug de cima abaixo com um olhar desinteressado e diz:

— Soube que tinha alguns novatos... De onde você é mesmo?

— Eu vim de Mascul...

— Nome e classe!

— Eu sou Johnny Roe, eu e meu grupo éramos caçadores de recompensa, somos especialistas em matar Grandes Animais.

— Grandes Animais? Sei... Não precisamos muito disso, é bom para matar homens? Os inimigos do Império são mais fortes que esses bichos bastardos que você colecionava.

— Sim, senhor! Eu matarei todos que forem contra o Império, senhor.

Realgar analisa novamente Doug e diz.

— Certo... Vamos ver como você lida com alguns prisioneiros, preciso verificar algumas coisas, se junte a mim nessa ação.

— Sim, senhor!

“Espero que não haja nada tortuoso ou difícil de ver, esse lugar parece que nubla nossas mentes, sinto-me estranho...”.

Realgar se reúne com outros guerreiros de nível hierárquico diverso e abaixo dele, e junto a Doug caminha até o seu destino, no percurso Doug fica triste ao ver tantas pessoas sendo tratadas de formas humilhantes e até desumanas. Realgar chega a ofender e a bater em um aldeão que demostra cansaço.

— Escravo miserável! Trabalhe ou passará fome com sua família.

Doug respira fundo, disfarçando ao máximo seu desgosto e rancor pelas ações e até pelas pequenas atitudes grosseiras que o grupo em que ele está faz.

“Malditos, miseráveis, monstros... Sinto que o mais difícil não é tirar vida, mas ver vidas sendo torturadas e não poder fazer nada... Isso me dói.”

O grupo chega a uma torre bem fortificada e Realgar anuncia:

— Interroguem os prisioneiros e descubram rumores importantes sobre Libryans, precisamos saber se eles estão à frente na busca por “artefatos”.

Todos entram e se separam para investigar; o lugar está bem arrumado e limpo aparentando ser um lugar recém-construído e pouco usado, mas com muitos guardas e muitos presos, todos parecem ter sido capturados recentemente.

“Preciso ficar próximo de Realgar para descobrir coisas mais importantes, quando ele falou sobre Libryans estar na busca de artefatos, ele deve estar se referindo à grande Relíquia, preciso ter certeza disso.”

Doug usa tudo o que aprendeu em Pronuntio e principalmente em Copus Lithy para descobrir o máximo de informação possível e para manter sua identidade em sigilo. Em alguns momentos, Doug tem que expressar mais atenção e dedicação com o interrogado, para conseguir um grau de simpatia mínimo, a fim de que lhe contem coisas que não contariam para um homem do temperamento e caráter comum do Império.

“Estou no caminho certo, mas preciso continuar atento, Realgar não pode ver meu método, ele saberá que me importo com esses seres, apesar de que posso dizer que estou simulando preocupação e empatia.”

Entre os presos interrogados, há todos os tipos de seres, fatos, boatos e informações. Alguns deles agem como se estivessem em um grau de loucura avançado e outros, mesmo dizendo inutilidades ou coisas estranhas, acabam falando com convicção e acreditam fielmente no que dizem, o que torna difícil descobrir veracidade em qualquer um deles.

“Quanta gente, cada um conta uma coisa ou quer falar algo, alguns até repetem o que os outros pensam, podendo ser um sinal de verdade... Vamos ver o que eles têm a dizer.”

— Aqui! Você é muito bonito.

— Eu sou inocente, me tire daqui!

— Os animais dos arredores do Império estão se distanciando, eles devem saber de algo que não sabemos.

— Se os demônios foram banidos, por que ainda existem os Descendentes de Ivo?

— Trindade Brow governará tudo.

— Não chove há dias em Sodorra, isso é um sinal...

— Quero minha família de volta.

— Há uma prisão em que o Império reúne grandes inimigos para torturá-los e aprender com eles a ser mais poderosos e até a roubar seus poderes. O Império vai usá-los como cobaias em experimentos terríveis...

Por alguns intervalos, ouvem-se gritos, sinais de tortura e desespero vindos de outras celas e andares. Doug resolve ignorar, vendo que não pode fazer nada por agora.

“Queria poder ajudar, mas muitos aqui também são criminosos... Não quero me distrair, devo continuar a centrar em coletar informações.”

— O fim já passou, estamos todos mortos já!

— O pior estar por vir, Electi do Caos, Electi do Caos!

— Não faz sol há dias em Sodorra, isso é bom?

— Eles atacaram a universidade atrás da relíquia, o Império nunca teve a relíquia em seu poder... Mas quando tiver, será o fim dele mesmo.

— Eu já vi uma barata dourada, ela existe, sim! Senão, não me prenderiam aqui.

— O clã “oculto” quer evoluir o Império, pois vê potencial nele...

— Todos os itens valiosos e confiscados ficam em uma das torres, ela não é muito vigiada, mas não se pode tocar em tudo que há lá.

— Os Electi salvaram o mundo, os mortais que desgraçam tudo que tocam.

— O bater de asas de sangue ceifará vidas... Corra!

— Sinto cheiro de viajante de Coniuro... É um bom lugar para se viver...

— Aquele que brinca com corpos dos mortos está de volta! O Império tem que agir.

— Vou escapar e matar todos vocês!

— Dizem que a relíquia está em posse de Libryans, senão, com certeza essa cidade sabe onde ela está.

— Aquário! No lugar de água, ele está cheio de sangue e irá transbordar...

— Hostium! Hostium!

— Saudades de Caelum, um paraíso de lugar.

— O mestre dos tentáculos tentou matar os “Imortais”, ele fará o mal novamente!

— Tem uma praça, e nessa praça tem casas, uma delas é uma taverna, essa taverna fica em Libryans, e nesse lugar sabem de “tudo”, e quando eu digo “tudo”, é “TUDO!”... Não me entendeu? Então vá para essa praça, pois nessa praça há casas...

— Eu juro que eu não sei de nada! Sou só um viajante buscando trabalho...

— Esse lugar não é uma prisão, é uma torre de loucos!... Ou somos todos sábios presos pelos loucos?... Eu nem sei mais...

— Os Imortais já nos salvaram antes, eles nos salvarão novamente.

— Amigos de verdade nunca traem!

— Não! O pássaro vai morrer! O pássaro vai morrer!

— Fico triste por Dakar e Otoko, já leu essa história? Eu recomendo... Lendo ela eu penso... Espero que Hanna e Oulan não tenham um destino parecido.

— O Império coloca toxinas e magia nas bebidas e comidas para nos fazer “mal”... Cuidado, você é um alvo fácil.

— Os Electi salvaram Arbidabliu uma vez, eles farão novamente, esperem e verão.

— O Império está acima de tudo e todos, só os tolos vão contra ele.

— Um dos piores males do Império não é “o homem que usa a coroa”, mas “a mulher que usa o anel”.

— Você é feio! Como todos os homens do Império!

— Uma criatura poderosa ronda o Império, o monstro cinza e gosmento tem que ser domado ou morto.

— Fico trise pelas mortes que acontecerão, “A mulher que mata”, “O homem fiel ao amor não correspondido” e a “Amiga libertada de seu antigo corpo”.

— Os contos do Grande Continente são bons, você já leu? Eu posso te contar algumas histórias se quiser.

 “Dia cansativo, muita cautela, receio, muitas coisas ditas e até gritadas, entre elas há as úteis, duvidosas, estranhas e até engraçadas, agora saber quais são quais, é tudo tão claro quanto o homem da praça que tem casas... Alguns desses seres parecem sensatos, mas até os que parecem loucos dizem coisas que eu não duvido que seja verdade, difícil alinhar tudo e saber o que fazer... Bem... Amanhã, com o grupo reunido, eu verei o que faremos... O importante por agora é coletar e depois avaliar com o que eles também descobrirem.”

Durante todo o tempo na torre, Realgar inspecionou seus subordinados e fez alguns interrogatórios longe da vista dos outros. Doug ficou longe dele para ter mais proximidade com os prisioneiros e, depois da conclusão dos interrogatórios, Doug retorna para Realgar e conta tudo o que descobriu. Doug pensa em filtrar algumas informações, mas sem perceber ele acaba contando tudo que ouviu. Depois de uma refeição abundante com o grupo, Realgar elogia Doug longe dos outros.

— Muito bom, soldado! Vejo que é bom no interrogatório, foi um dos poucos que me trouxeram sabedoria util.

— Obrigado, senhor!

— Venha comigo, tem um lugar específico que eu quero que veja.

Realgar chama mais três homens com Doug e entram em uma passagem secreta no térreo, revelando mais prisioneiros que estão machucados, fadigados e desmoralizados, demostrando muito medo de Realgar e de seu grupo.

“Quem são esses? Por que o próprio Império teria alas ocultas? O que ele esconde dele mesmo? Ou dos novatos...”.

Analisando melhor o lugar enquanto caminha, dá para se notar que o lugar é antigo, sujo e com mau cheiro.

— Vocês dois! Vejam o que conseguem com “aquela mulher”...

Um prisioneiro interrompe Realgar, pegando em suas vestes por trás das grades e diz, fixamente olhando para ele.

— O Império está destinado a cair, por que vocês não veem?

— Me solta, velho louco!

A situação é estranha, os homens de Realgar ficam parados, olhando, e acham que ele se soltará facilmente de um homem velho, mas Realgar está parado, ouvindo tudo que o velho tem a dizer como se fosse obrigado a isso.

— Criaturas poderosas, grandes mestres de poderes, exércitos de diversos tipos, todos estão vindo...

— Você já foi sábio, agora é só um louco!

— Terá aquele que unirá todos essas gotas de chuva e formará uma tempestade que irá não só limpar, mas devastar todo o Império do mundo...

— Você está me testando? Me solta!

O velho olha para Doug, que sente um calafrio, e continua a dizendo.

— Um mestre, um fundador... Onde o tempo e a balança sagrada...

Realgar parece se livrar do que o mantinha parado e mata o velho sem pensar duas vezes, ele olha para o corpo do velho e demonstra preocupação por alguns segundos. Ao perceber que todos o olham, ele diz:

— Odeio desses aldeões que, além de trair o Império, agem desejando o mal dele.

Realgar cospe no corpo do velho e arruma suas vestes enquanto Doug reflete rapidamente sobre o que viu.

“Será que ele era algum tipo de mago? Isso não me pareceram desejos, mas previsões do que pode acontecer... Ele iria falar ou daria pistas de quem será esse ser que unirá os inimigos, ou essas gotas são aliados.”

— Vocês dois! O que ainda fazem aqui? Vão logo!

— Sim, senhor!

— E vocês dois, venham comigo!

— Senhor, esse caminho nos levará...?

— Sim, nós veremos o nosso aclamado “herói-traidor”.

“Herói-traidor? Quem será esse homem, se ele é contra o Império, pode ser um aliado?”

Doug foi selecionado para ir com Realgar, eles entram em uma cela grande, longe das outras, essa cela contém um ar mágico, que toma além da cela o corredor de fora. Dentro dela há cama, cadeiras, mesa, armário, mapas e um banheiro improvisado no canto, tudo está em condições simples, sendo o lugar mais adequado dessa área da torre, mas, mesmo que seja adequado para se viver, há sujeira e mau cheiro.

— Gon Wind! Faz um tempo que não o vejo.

Gon Wind é um homem, humano, velho, de estatura média, aparência e porte físico comum, olhos e cabelos escuros, cabelos bem curtos com sinal de calvície, sobrancelhas grossas, barba e bigode ralos. Ele está usando roupas simples de aldeão rasgadas e limpas, diferentes das dos outros presos.

Algumas cicatrizes recentes mostram que ele foi maltratado e até torturado, Doug vê a aura de um homem honroso, que está quebrada, e sente isso também no ar da cela. Gon é sério, frio e de fala comum, tom sarcástico e desapontado, enquanto caminha até Realgar.

— Pena que esse tempo acabou...



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