Volume 1
Capítulo 57: Richard Doe I
Manhã, 1 setembro 1590 – Império de Cristal. Sodorra
“Eu Rupert d'Alba, líder dos Infantes a serviço de Pronuntio, preciso adquirir mais força e poder para conquistar o Império de Cristal e descobrir tudo que ele tem em mente. Desde que cheguei aqui em Sodorra eu sinto um clima estranho, não só o lugar e a cultura, mas os meus pensamentos são afetados e até o meu humor muda constantemente de uma forma negativa, preciso manter o equilíbrio e me focar. Finalmente tenho uma oportunidade de investigar mais o subterrâneo sem escolta ou supervisão rígida. De perto o Império de Cristal não parece tão inteligente como dizem.”
Rupert está determinado e preparado para agir, ele vai até uma das áreas restritas no subterrâneo do reino e é abordado por um guarda.
— Você é um dos novos, o que você pretende fazer lá embaixo?
— Eu sou Richard Doe e preciso falar com Arsênio sobre Mascul.
— Mascul?
— Sim, sou um informante de lá.
“Soldado inútil, ele me olha com desconfiança, mas vejo que irá liberar minha entrada mesmo assim.”
— Certo! Pode entrar.
Rupert age com arrogância e com semblante mal-humorado para exibir r ser um soldado típico do Império.
“Descobri recentemente que informações mais o nome de alguém de algum cargo elevado dão acesso a vários lugares aqui. Arsênio Nonuplets está responsável por colher dados de Mascul, e sabendo disso, eu vou me aproximar dele, dando alguns dados para trocar com o que ele sabe, espero descobrir mais coisas do que eu já sei.”
Rupert anda por algumas bifurcações que dá acesso a alas e salas de assuntos diversos de guerra, quanto mais adentro, mais ele vê que o subterrâneo é amplo e bem utilizado. No trajeto ele admira e analisa alguns pontos de seus dias até agora.
“Se o Império fosse mais organizado e humanizado, ele seria realmente dominante no Grande Continente, eu já ouvi falar dessa área subterrânea do Império, mas, vendo com meus próprios olhos, percebo a grandiosidade do lugar e do seu potencial junto a tudo que já há em cima. Equipamentos, forjas, alquimia, entre outras fontes ótimas que mantêm o Império onde está, mas esses homens e essa cultura mantêm tudo odioso, afastado de boas evoluções.”
Rupert vê lugares sujos, malcuidados e muita hostilidade, com xingamentos e brigas, tanto lutas de treinos brutais em que os guerreiros podem morrer ou brigas geradas por egos inflados ou por mau humor, gerando mortes desnecessárias, mas que agrada à maioria que assiste.
“Ninguém para isso! Tudo é visto como o poder e o objetivo da masculinidade, como animais irracionais mostrando sua força... Bestas!”
Ao ver mais cenas, Rupert comenta para si:
— Tem animais se comportando melhor que isso...
“Preciso focar! Esse estilo de vida deles nos distrai... Foco, foco! Ali! Seguindo o que eu ouvi no refeitório, o lugar que me dará respostas valiosas é por ali.”
Rupert se esquiva de objetos lançados e até de golpes não direcionados a ele, percebe que até nos corredores é um lugar comum de batalha e confusão. Ele se mantém distante das brigas e das áreas de treino, e sempre que é visto, demonstra gostar do que está observando e grita com a maioria.
— Sangue! Sangue!
Depois de algum tempo, ele avista um guarda conhecido e o questiona.
— Você! Sabe onde está Arsênio Nonuplets?
— Richard? O que você quer com Arsênio?
— Ele está em busca de documentos sobre Mascul, eu tenho algumas coisas para reportar de lá e de Copus Lithy também.
— Copus... Copus! Sei do que você está falando, é um reino inimigo... Bom, siga por aqui que você irá encontrá-lo.
O guarda aponta para um portão grosso de ferro e cristal corrompido, Rupert anda até lá, passa pelo portão, analisa as pessoas dessa área e pensa:
“Alguns deles parecem distraídos para a possibilidade de terem espiões por perto, mas alguns dissimulam estarem desligados com os acontecimentos ao redor, sendo os mais atentos. Eu preciso ser cauteloso.”
— Estou aqui para falar com Arsênio Nonuplets.
— Richard? Siga!
“Por sorte fiz alguns contatos desde que cheguei aqui em Sodorra, assim consigo menos suspeitas ou perguntas comprometedoras.”
Rupert entra mais a fundo no grande salão de guerra, nesse salão há mesas, armas, armários, comidas, bebidas, mapas, muitos pergaminhos, livros e documentos aparentemente importantes em uma mesa grande com ouro.
“Primeira vez que entro em uma sala assim, ela parece bem equipada e com muitos armários, esse é um lugar com muita informação valiosa. Finalmente eu tenho contato direto com Arsênio.”
Arsênio é um homem adulto, de estatura alta, porte físico atlético, cabelos loiros, lisos e médios, e de olhos claros. Ele tem um ar de superioridade, usa roupas de alto nível hierárquico com muito pano nobre e pouca armadura, chamando a atenção para uma de suas ombreiras, que é feita de cristal corrompido e tem o formado de uma cabeça de cavalo, e para um item em seu peito, preso em seu peitoral há um grande anel em disco dourado com alguns escritos nele.
“Ouvi um pouco desse guerreiro, ele parece sensato e habilidoso como um lorde, mas vejo maldade e arrogância em seu olhar, típico dos líderes do Império, se sentem superiores aos outros, até mesmo a cima dos seus aliados.”
Arsênio olha Rupert atentamente e questiona, já sabendo da resposta.
— Você é um dos recrutados vindo de Mascul?
— Sim, senhor, eu sou Richard Doe.
— Doe? Esse sobrenome não me é estranho...
— É só uma formalidade, pois meu nome e minha vontade pertencem ao Império agora!
— Ótimo! É assim que todos os recrutas devem ser... Diga-me, senhor Doe, no almoço eu ouvi você comentando que tem dados importantes sobre alguns reinos inimigos.
“Eu queria falar de Mascul ou de Copus, mas terei que ampliar um pouco o que eu sei para me aproximar mais e ter mais confiança dele.”
— Sim, senhor, eu fiz um relatório e, se o senhor me permitir, desejo me juntar ao seu grupo para reunir o máximo de informações para ajudar o Império.
— Bom... Entregue o que você tem.
“É arriscado, mas agora verei a capacidade desse líder de identificar o que é falso ou verdadeiro, preciso desse teste para adquirir mais informações e ganhar confiança para acessar lugares restritos e mais importantes.”
Arsênio pega o documento de Rupert e começa a ler.
— Interessante...
“Ele está atento, mas eu acho que ele não suspeitará de nada. Eu não demorei muito para preparar essa relação de fatos, mas por precaução eu fiz três; no cenário em que estou, acho melhor mostrar tudo o que tenho, pois tenho muito a perder com um único erro... Infelizmente algumas informações são verdadeiras, mas nada tão grave que comprometa a segurança desses lugares, os dados mais importantes eu inventei, muito do que eu escrevi é falso. São relatos aparentemente importantes que, se usados para a guerra, o Império terá grandes problemas.”
Arsênio parece animado com o relatório de Rupert e diz, apontando para seus guardas.
— Certo... Vou unir isso com o que eu tenho aqui... Mas se você quer ser “promovido”, precisa mostrar suas habilidades, senhor Doe.
“Por que ele me chama dessa forma, ele não se direciona a todos assim, será que é um truque ou armadilha?”
— Senhor Doe?
— Sim, senhor! Eu farei o possível para mostrar meu potencial.
“Imaginei que não seria tão fácil, bom que estou preparado para tudo.”
Arsênio mede Rupert outra vez, mas com mais atenção do que antes, ele aponta para um de seus guerreiros como um sinal, esse guerreiro abre uma passagem secreta no próprio recinto, dando acesso a uma das salas de treino do subterrâneo.
“Uma luta de vida ou morte, imagino...”.
— Entre, Alba, e mostre até aonde você vai pelo Império.
Rupert está um pouco nervoso e em alerta com o que tem nesse lugar não prestando a atenção no que foi dito por Arsênio. Ele entra na área e vê alguns homens feridos e alguns lutando, um deles nota Rupert e se prepara para atacá-lo.
“Mesmo porte físico que o meu, não deve ser difícil”.
O homem o ataca com as mãos limpas, focando em usar socos fortes, Rupert se esquiva e contra-ataca, usando além de socos, chutes.
“Preciso lutar com cautela para ver as habilidades dele e para não deixar brechas em minha defesa ou ataque.”
— Bate mais forte, covarde!
O homem cospe em Rupert e avança com tudo, ele parece estar enfurecido e ataca freneticamente, sem se importar com sua defesa. Rupert ataca para não mostrar fraqueza na frente dos homens do Império, mas se atenta em sua esquiva e defesa. O homem acaba acertando Rupert, que o machuca ao jogá-lo contra a parede.
“Ódio! Um golpe de sorte... Ele me feriu, preciso agir.”
Rupert reverte a luta, pegando impulso na parede e jogando o seu inimigo contra ela. Depois de uma sequência de golpes, Rupert nocauteia seu inimigo, mas ao mesmo tempo leva um soco forte em seu rosto, que deixa uma grande marca de batida.
“Miserável! Ele feriu meu rosto, não imaginei que ele fosse tão forte, deve ser um lutador de alto nível.”
Os homens ao redor gritam enquanto outros continuam lutando.
— Morte! Morte! Morte!
“Ele me atacou como um bicho e tentou me humilhar na frente de todos! Essa corja do Império merece morrer mesmo.”
Um guerreiro mostra armas para que Rupert escolha uma delas para executar seu inimigo.
— Faça bom uso.
“Não estou pensando direito, só sinto raiva e vontade de mostrar para esses vermes do Império o meu poder, mas, na circunstância em que me encontro, eu tenho que fazer de tudo.”
Rupert pega uma arma aleatória, sendo ela um machado, ele mira no pescoço do seu alvo e grita.
— Pelo Império!
Ao matar seu inimigo, Rupert é reverenciado e logo é medicado por um homem com roupas e de postura de um mágico.
— Você é realmente poderoso, volte para tratar melhor os assuntos com Arsênio.
“Essa devoção que eu merecia em Pronuntio, o Império só tem de ruim os homens que comanda, pois a moral dada aqui é muito boa.”
Arsênio o recebe de braços abertos e com um sorriso alegre.
— Que incrível, senhor Doe! Você é realmente um guerreiro nato! De elite, devo dizer... Não me disseram que ganhamos um bom grupo de guerreiros de Mascul... Venha aqui! Sente-se e vamos tratar de conversar.
Com magia, Rupert é medicado e se sente melhor sem ferimentos, mas ainda tem um pouco de dor.
“Essa marca vai demorar a sair, essa magia de cura poderia ajudar nisso.”
Rupert se aproxima de Arsênio, que diz, sentado em uma grande mesa com comida:
— Você deve estar cansado e precisando reabastecer energias, beba e coma comigo, Richard, você merece...
— Obrigado, eu vou aceitar.
— Claro! Sente-se e me ajude a alinhar as informações que temos.
Rupert senta-se com Arsênio, com o mágico que o ajudou com seus ferimentos e outros alguns guardas que aparentam ser da elite de guerreiros do Império também.
“Tem muitos homens nessa sala, todos olhando e analisando documentos, pergaminhos e dados internos e externos do Império de Cristal, preciso aproveitar bem essa oportunidade. Mirarem documentos mais importantes para saber mais.”
— Aqui, deixe esse comigo.
— Richard, eu preciso que você me ajude com esses aqui também.
Com manha e boa interação, Rupert tem uma boa relação com todos que estão na mesa. Ele pesquisa e vasculha informações. Mesmo não gostando muito dos alimentos e bebidas oferecidos, Rupert ingere o necessário, pois precisa se alimentar depois de uma briga. Horas passam nesse mesmo cenário sem muita conversa ou situação chamativa, nesse tempo Rupert ficou com mais fome e começou a gostar da comida oferecida.
“Já estou há horas aqui e não consegui muito do que eu já sei. Taylor, o lorde de Mascul foi resolver alguns assuntos em Dogma, pelo que eu vejo, ele suspeitava que estivesse sendo investigado e saiu da cidade antes de ser pego, mas não irá demorar muito para irem atrás dele. Em alguns documentos mostram de uma forma oculta que alguém aqui em Sodorra ajuda esses lordes, atrasando as investigações e dando mais credibilidade diante do Império, diminuindo as suspeitas de que esses mesmos lordes fazem parte do clã de Maslow, quem será?”
Rupert se perde em seus pensamentos e é abordado.
— Richard?
— Senhor?
— Suas informações batem com os de outros espiões, os reinos Coniuro, Copus Lithy, Libryans e as montanhas de White Irene possuem integrantes desse clã oculto no Grande Continente.
— Sim, senhor, o clã Maslow parece que está se expandindo aos poucos.
— Preciso saber mais sobre esse clã, saber se ele poderá ser um possível inimigo ou aliado do Império.
“Um pouco que pesquisei sobre esse clã mostra que ele está atualmente neutro, e por suas características e boatos de como são seus integrantes, eu imagino que ele será um grande inimigo do Império atual.”
— Mas, senhor, há outros reinos que suspeito que também ajam da mesma forma e façam parte desse clã, não podemos parar só nesses reinos.
— Sério? Quais as suas suspeitas?
— Os moradores da Floresta de Pando e as vilas e cidades do clã Sulzi são possíveis...
Arsênio interrompe Rupert, ri alto, e depois comenta, ainda achando tudo engraçado.
— Você deve estar de gozação, Pando? Sulzi?
— Por esse clã estar espalhado pelo Grande Continente, é possível que ele também esteja dentro desses territórios.
— Não! Com certeza, não, Floresta de Pando é um grande mistério e bem “exclusivo”, ao contrário do clã pobre do Grande Continente. Mesmo assim o clã Sulzi só parece estar bem, mas por dentro está definhando, seus parentes são seus próprios malfeitores e espiões.
Outros riem com Arsênio, que acrescenta.
— Se quiser saber mais, tem um relatório sobre alguns espiões que mandamos para esse lugar, foi perda de tempo.
— Vocês já tiveram sucesso em mandar espiões para Pando?
O nome Pando faz alguns ficarem sérios e voltarem aos seus afazeres, Arsênio também para de rir, pensa um pouco e responde.
— Não, lá é um território muito hostil e infectado por aquela raça estranha.
“Vejo aqui em alguns pergaminhos pistas de que Pando tem uma ótima defesa e é impenetrável. Estranho ver essa atitude recente, décadas atrás esse clã era agressivo, e hoje em dia toma uma postura mais reservada e defensiva, talvez ele também esteja planejando algum plano de ação.”